Patrick Tambay escreveu para a revista “F1 Racing” em 2007, ano que completara o 25º da morte de Gilles Villeneuve, um artigo sobre a sua amizade com o piloto canadense. E aqui colocarei alguns trechos deste belo texto feito pelo ex-piloto francês:
“Conheci Gilles em setembro de 1976, quando eu era piloto de Fórmula 2 Européia e fui convidado a competir na etapa da Fórmula Atlantic de Trois-Rivières, no Canadá. Aquela era uma excelente oportunidade para Gilles mostrar ao mundo o quanto era bom. Naturalmente, arrasou com todos, incluindo seu colega de equipe James Hunt, que disputava a Fórmula 1. E aquela surra funcionou porque James contou ao seu chefe na McLaren, Teddy Mayer, tudo sobre o jovem Gilles."
"Mas foi no ano seguinte que nossa amizade floresceu
realmente. E começou na Can-Am, quando eu pilotava um Lola de Carl Haas e
Gilles disputava com um Dallara de Walter Wolf. Nós nos demos muito bem. A
gente costumava sair junto para se divertir. Naquela época eu já havia
descoberto que Gilles adorava desafios insanos – algumas vezes ele costumava
acelerar seu ski-doo (uma moto adaptada para a neve com esquis) pelo meio de
compactos grupos de árvores e era realmente difícil de acompanhá-lo. No final
de agosto havia duas corridas no Canadá, em Mosport e Trois-Rivières, e no
intervalo entre elas fomos para a casa de Gilles em Berthierville, Quebec. Foi
nessa ocasião que tentou passar com sua picape por uma subida muito íngreme e
lamacenta no caminho – e atolou. Mas ele nunca desistia e passou o dia todo
trabalhando e revisando até conseguir chegar ao topo.”
“Nessa época também tivemos nossas primeiras experiências na
F1, em Silverstone. Eu consegui um lugar na Ensign enquanto que Teddy deu a
Gilles a oportunidade de pilotar o terceiro carro da McLaren. E como ele
pilotou naquele fim de semana! Gilles rodou em todos os pontos da pista, sempre
buscando o limite. E depois brilhou na corrida, o que era típico. Embora
fôssemos ‘rivais’ na disputa por um lugar na McLaren em 1978, isso nunca afetou
a nossa amizade. Também estive em negociações com a Ferrari, mas fiquei doente
no dia em que deveria me encontra com o Commendatore Enzo. Logo a seguir,
depois do GP da Áustria de 1977, John Hogan, da Marlboro, me apresentou a Teddy
em seu escritório em Londres e assinei com a McLaren. Então viajei aos Estados
Unidos para uma corrida da Can-Am e fui logo dizendo a Gilles ‘Olhe, acabei de
assinar com a Mclaren para a temporada de 1978, mas sei que a Ferrari está
buscando um novato para ser parceiro de (Carlos) Reutemann no ano que vem.
Telefone para eles.’ Gilles foi para o próximo GP (Holanda), assinou um
contrato para 1978 e já pilotou para a Ferrari antes do final do ano.”
“É claro que a gente se envolvia em coisas muito loucas –
como os rachas nas estreitas ruas de Cannes – principalmente a bordo do Ferrari
308 de Gilles. Ele o colocava de lado em todo lugar. Eu me lembro que uma vez
acompanhamos Rallye Du Var e fomos para lá num Fiat Abarth 131. Gilles estava
ao volante e absolutamente voando pelas estradas interioranas, por sobre saltos
e pontes, fazia curvas dando cavalos de pau com o freio de mão, tudo o que ele
tinha e o que não tinha direito. Acredito que estabelecemos os melhores tempos!
Enquanto isso, no banco de trás estavam Melanie e Jacques. A pequena Melanie
estava toda enrolada num canto, dormindo profundamente. E Jacques, então com
sete anos de idade, estava em pé, no chão do carro, agarrado nos encostos dos
dois bancos da frente e gritando: ‘Vai mais rápido papai, mais rápido!’ Assim
era Gilles, um sujeito verdadeiramente destemido.”
Tambay a caminho da sua emocionante vitória em San Marino, 1983, com o Ferrari 27 |
Tambay estreou pela Ferrari em Zandvoort, nona etapa daquele campeonato, e terminou em oitavo. Nas provas restantes, ele conseguiu bons resultados, incluindo a vitória no GP da Alemanha que também tinha sido trágica para Ferrari, que quase perdera Pironi durante os treinos num acidente semelhante ao de Gilles. Ao final da temporada, Patrick assinalou 25 pontos com três pódios e uma vitória. Um belo desempenho e poderia até ter discutido o título, caso não tivesse ficado de fora de dois GPs (Suíça e EUA, no Caesar’s Palace) por fortes dores nas costas.
Mas para ele a maior emoção, mesmo, foi a vitória em Ímola, onde Gilles fizera a sua corrida: “O fim para mim foi em Ímola, na primavera seguinte, um ano após a última corrida de Gilles. A vitória foi minha, diante dos tiffosi, no carro 27 que foi de Gilles, largando do mesmo lugar do grid (Gilles largou em terceiro em 1982). Eu chorei. Foi muito emocionante e, novamente, senti que Gilles estava lá.”
Ao ler este relato de Patrick Tambay e lembrar-se de outras palavras ditas por Jody Scheckter sobre Gilles, chego à conclusão que ele não era apenas especial dentro da pista, na condução de um carro de corrida, mas também era uma grande pessoa, amigo pra valer.
Imagino o quanto que eles e outros tantos choraram quando Villeneuve partiu. Salut Gilles!
Este relato de Patrick Tambay sobre os treinos de silverstone mostra que praticamente Gilles Villeneuve andava alem do limite ja no inicio sem duvida
ResponderExcluir