Especiais Volta Rápida

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Apenas uma jogada


(Foto: Divulgação)

O cair da bandeira quadriculada em Hungaroring encerrou a primeira parte do mundial de Fórmula-1 e iniciou uma frenética bateria de especulações em torno de três nomes: Ferrari, Alonso e Red Bull. A visita do agente do piloto espanhol ao motorhome da equipe rubro-taurina que, segundo Abad e Horner, era para tratar sobre Carlos Saiz Jr., que faz parte do programa de jovens pilotos da Red Bull, ascendeu a luz amarela em todos os meios de comunicações que começaram a caçar todas as informações e depoimentos de todos os lados, uma vez que presença do empresário de Alonso estaria negociando uma possível ida do seu agenciado para o time dos energéticos a partir de 2014. Os elogios de Christian Horner para o piloto espanhol só aumentaram o frisson da imprensa e as reclamações de Fernando com o baixo desempenho da Ferrari na corrida húngara serviram para deixar ainda ouriçada toda a comunidade da categoria.
Apesar de que exista a velha a máxima de que “contratos podem ser rasgados”, acho difícil Alonso sair da Ferrari antes do término do seu contrato que espira em 2016. Ao contrário do que foi com a McLaren em 2007, o ambiente da “Rossa” é muito menos hostil do que existia no time de Woking. A não ser que ele faça como Prost em 1991 que chamou o carro da Ferrari de caminhão e foi “convidado” a se retirar da equipe ao final daquele ano, tanto que nem disputou o GP da Austrália. Mas nem isso, no meu ver, faria com que Fernando saísse de lá. Outra: Horner fez o certo. Foi diplomático em elogiar Alonso, mas talvez se lembre bem de quando foi procurar o espanhol na metade da década passada para integrar a então novata Red Bull e ouviu um não. Ironicamente, o “Patinho Feio” que Fernando deu de ombros há quase dez anos, virou um belo “Cisne” e o tem deixado constantemente para trás. Se arrependimento matasse... . Por outro lado Vettel também já expressou a sua opinião, dizendo que prefere Kimi do que Fernando por lá, uma vez que o seu relacionamento com o finlandês é muito melhor dentro e fora das pistas do que é com Alonso. E Sebastian sabe muito bem disso, afinal ele era um garoto que estava dando os primeiros passos na categoria quando assistiu de camarote o embate Alonso vs McLaren & Hamilton em 2007 e viu o inferno que pode se transformar a Red Bull com a presença de Fernando por lá.
A impressão que passa é que todo este cenário formado por Fernando Alonso, com relação as suas constantes reclamações, é unicamente para pressionar a Ferrari a procurar melhorar o carro que tem caído pelas tabelas. Na Hungria pôde ser visto que a equipe italiana esteve um passo atrás de Red Bull, Mercedes e Lotus e isso tem incomodado o piloto espanhol, que chegou a dizer que a quando a equipe entrega à ele e Massa um carro competitivo, ambos conseguem boas performances e o exemplo usado por ele foi exatamente a corrida da Espanha quando venceu e Felipe foi terceiro, nessa que foi a melhor apresentação da equipe na temporada. De certa forma Alonso tem razão, mas isso não vem de hoje e muito menos de 2010. Em 2009, quando as regras foram mudadas, era normal você ler e ouvir declarações de Massa e Raikkonen de como era complicado pilotar a F60 e isso ficou mais claro quando Luca Badoer e Giancarlo Fisichella puseram as mãos neste carro e passaram a frequentar as últimas posições nas corridas em que substituíram o acidentado Massa. Se não fosse a vitória de Kimi em Spa naquele ano, a Ferrari teria passado em branco. Portanto as dificuldade da equipe em desenvolver os carros vem desde 2009 e Fernando Alonso, pensando que pudesse pegar uma época de grande fase da equipe igual à década passada, acabou se dando mal. A proibição dos testes nos períodos entres as provas foram proibidos e nenhuma equipe sentiu tanto essa decisão do que a Ferrari, que estava acostumada a terminar as corridas e na segunda-feira seguinte já correr para Fiorano ou Mugello para testar novas peças ou solucionar problemas. O uso do túnel de vento da Toyota, em Colonia, não é confiável. A equipe japonesa, na sua estadia na categoria, sempre reclamava que nem sempre os resultados obtidos naquele túnel eram traduzidos na pista, sendo que durante os treinos e corridas era um verdadeiro fiasco.
Por outro lado, Alonso também não foi capaz de construir em torno de si uma equipe forte, como fizera Michael Schumacher na segunda metade dos anos 90, que mais tarde culminou num período de domínio brutal do piloto alemão que se estendeu de 2000 até 2004. Mas antes de obter todo esse sucesso, Michael trabalhou forte junto de Todt, Brawn, Byrne e outros caras da parte técnica que conseguiram ganhar quilometragem para que pudessem desempenhar cada um o seu papel, de forma a dar para a Ferrari todo o sucesso que veio em seguida. Talvez eles esperassem isso de Fernando, como também o próprio esperasse uma equipe mais bem organizada como era nos tempos de... Schumacher. Por isso que não foi à toa o puxão de orelha de Luca Di Montezemolo, dizendo que o espanhol devia "evitar polêmicas e dar com humildade e determinação sua própria contribuição, estando perto, na pista e fora, à equipe e aos seus homens". 
A Ferrari já contra-atacou e contratou James Alisson, que trabalhou na equipe entre 2002 e 2004 e esteve no comando dos projetos dos Renaults que foram campeões com o próprio Fernando Alonso no biênio 2005/06. Era uma contratação que já vinha sendo ventilada na imprensa há algum tempo, mas ele poderá trabalhar na equipe somente a partir de setembro quando estará livre do seu contrato com a Lotus. Interessante isso, pois ele entrará na equipe exatamente quando o mundial estiver com oito provas restantes e pode, quem sabe, dar um fôlego para a equipe nessa reta final. O possível regresso de Rory Byrne a equipe em 2014, deixaria mais forte a equipe técnica da Ferrari.
Com a pressão exercida por Alonso e as casa de Maranello a se mexer para tentar sair dessa crise, pode render uma boa fase para o time nos próximos anos. E se eu fosse o Alonso, não sairia de lá agora.  

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