Quando Sebastian Vettel foi recrutado pela Red Bull para
ingressar na sua equipe principal para a temporada de 2009, ele se deparou com
a presença de Mark Webber naquele team que já durava desde o ano de 2007. Mesmo
com a sua impressionante temporada a bordo de um Toro Rosso, carro qual ele
conseguiu levar a uma vitória inesperada no GP da Itália e conduzir a equipe a
terminar à frente da filial, a suas credenciais podiam ser postas em cheque
naquele futuro confronto contra o já veterano Webber. Se ele contava com o seu
talento natural para conduzir brilhantemente os carros de corrida, ele teria
que confrontar-se com a velocidade e bravura do piloto australiano.
Como costumo dizer, Vettel foi a peça que faltava na
engrenagem para fazer a máquina de conquistas da Red Bull girar
vertiginosamente, mas para isso, além dele aparar as arestas em relação aos
seus erros que viriam (e vieram com o tempo), ele também teve que lidar com os
inúmeros problemas que o privaram de conquistar o título em 2009 e também com a
pressão exercida por Webber. E as coisas se repetiriam de forma mais intensa em
2010, quando Sebastian teve inúmeros erros e contratempos e somados com uma boa
forma de Mark, quase colocaram o jovem alemão em parafuso. Mas nada como uma
atuação inteligente na corrida da Itália e uma arrancada fenomenal na parte
final do campeonato que lhe garantiu o primeiro título, para que a Red Bull se
encantasse por ele. Não que a equipe não acreditasse em Sebastian, muito pelo
contrário, tinham muita confiança de que uma hora ele acertaria o passo e seria
o piloto que eles esperavam. De imediato ele passou a ser o piloto por
excelência da equipe rubro taurina. O molde de como teria de ser os novos
garotos que quisessem ingressar em uma de sua equipes: sorridente, gente boa,
alegre, rápido, inteligente, fora de série... e por aí vai. Nessa toada ficou
fácil para perceber que Mark Webber, queira ou não ajudou a equipe na época em
que era apenas um time médio, tinha perdido totalmente o espaço – ou o resto
que ainda tinha – para Sebastian. E o que vimos a partir de 2011 foi uma lavada
histórica de Vettel sobre Webber, com mais três títulos embolsados pelo alemão
e Mark penando para tentar alcançar no mínimo um pódio nas corridas que
Sebastian arrasava a concorrência sem piedade. Pobre Mark... tanto que ele se
encheu dessa vida e foi para o Mundial de Endurance onde é muito mais feliz.
A chegada de Daniel Ricciardo, oriundo da Toro Rosso assim
como Sebastian, levou a maioria acreditar que este seria uma versão mais jovial
de Mark, sendo uma presa fácil. A verdade é que quando você é alçado para um
lugar de destaque como ele foi, ainda mais ao lado de um cara que ganhou
“apenas” os últimos quatro mundiais, você acaba criando um ânimo absurdo em
querer igualá-lo ou até mesmo derrotá-lo – confesso que esperava muito mais da
primeira opção –, mas o que se viu foi totalmente o contrário de quase de 100%
dos prognósticos: Ricciardo não apenas igualou Vettel logo de cara, como
dominou o tetra-campeão de um modo impressionante ao ponto de fazer Sebastian
ouvir em duas ocasiões a já difamada frase “Is Faster Than You”. O RB10 não foi
o grande primor das últimas temporadas, principalmente pela fraqueza do motor
Renault e também pelas novas configurações aerodinâmicas, que deixaram os
carros com menos downforce. E isso para Sebastian, que nitidamente se divertia
com as suas “garotas” antecedentes, colocando-as onde queria por causa da
enorme carga aerodinâmica que elas geravam, foi um duro golpe e enquanto ele
procurava achar o ponto de equilíbrio que o levasse de volta a sua velha forma
– tanto que ele trocou de chassis duas vezes na temporada – Ricciardo ia
brilhando cada vez mais a ponto de vencer três corridas e protagonizar uma
série de ultrapassagens que arrancavam aplausos. Do mesmo modo que Vettel
contra Webber, agora era a vez de Ricciardo fazer o mesmo com Sebastian:
aniquilando-o e conquistando a equipe de forma arrebatadora, a ponto de ouvir
de Vettel em algumas ocasiões de que “a equipe o havia abandonado”.
Comparo estas situações na Red Bull como a de uma criança
que, ao ganhar um brinquedo novo, mais moderno e interessante, abandona de cara
aquele que ela já estava enjoada de brincar. Sebastian foi esperto o bastante
para ver que era hora de partir de lá e talvez, para não criar uma animosidade
num local onde ele conseguiu construir uma história tão fantástica, foi o mais
correto mudar de ares e encarar um novo desafio.
A verdade é que enquanto a Red Bull estiver na F1, a
tendência é que isso aconteça com certa freqüência. Não estranhem se caso
Daniil Kvyat conseguir suplantar Ricciardo já em 2015 e for alçado como novo
superstar da casa. Será apenas o curso natural de como as coisas acontecem por ali.
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