OBS: O texto que será colocado aqui foi publicado originalmente na quarta edição da Revista Speed, de outubro de 2012 na altura que completava-se 25 anos da conquista de Boesel no Mundial de Marcas. Portando, apenas algumas mudanças que foram feitas em relação ao texto original exatamente para se adequar ao momento que se completa exatos 30 anos daquela conquista.
Boa leitura!
Boa leitura!
Os 30 anos do título de Raul Boesel no Mundial de
Marcas
E no ano em que Nelson Piquet conquistou
seu terceiro título mundial na F1, Raul Boesel também venceu o Mundial de
Marcas contribuindo com uma conquista histórica e inédita para o automobilismo
brasileiro.
Os anos 80 são lembrados pelos títulos brasileiros na
Fórmula-1. Os três de Nelson Piquet (1981, 83 e 87) e mais o de Ayrton Senna
(1988), são belas recordações de uma época que é considerada com uma das
melhores da história da F1 pelo fato dos incríveis motores turbo, com as suas
potências chegando a níveis estratosféricos e por ter sido um dos últimos
redutos de uma categoria mais mecânica e onde o piloto fazia a diferença. E o
ano de 1987 foi o ápice dos motores turbocomprimidos, com seus propulsores de
classificação atingindo mais de 1.500cv aonde os pilotos iam além do limite em
busca pela pole. Não é à toa que foi desse tempo que surgiu a expressão “volta
canhão”, devido o foguete que eram os carros com estes motores. Este foi o ano
do terceiro título de Nelson Piquet, que desbancou Nigel Mansell e parte da
equipe Williams que apoiava o inglês. Ayrton também esteve bem naquele mundial,
mostrando mais uma vez velocidade e vencendo corridas com a Lotus equipada com
o Honda Turbo. Em um outro campeonato, quase tão fantástico quanto a F1, Raul
Boesel também estava em grande forma e levou o belo e lendário Jaguar XJR-8, do
time de Tom Walkinshaw, ao título do Mundial de Marcas daquele ano.
Raul Boesel tinha feito uma temporada completa na Indy em
1986 pela equipe de Dick Simon e estava em negociações com a Newmann-Haas para
87. Ele seria companheiro de Mario Andretti, mas o ítalo-americano azedou os
planos de Carl Haas em levar o brasileiro para lá quando ele recusou a idéia de
ter um segundo carro na equipe. Haas avisou Boesel do acontecido a três dias do
Natal e isso pegou o piloto de calças na mão, porque não havia mais equipes
disponíveis por aqueles lados. Lendo uma revista da Autosport, ele se deparou
com uma matéria onde a Jaguar estava precisando de um piloto para fechar o seu
quadro para o Mundial de Marcas de 1987. Boesel entrou em contato com a Jaguar
dos EUA que de imediato o ligou com a matriz, na Inglaterra. Pouco tempo
depois, Raul já estava testando o XJR-8 em Paul Ricard e agradou bastante Tom,
que assinou com ele um contrato de U$80 mil por mês. Boesel dividiria o carro
#4 com Eddie Cheever e o #5 ficaria sob a batuta de Jan Lammers e John Watson.
O campeonato teve 10 corridas, sendo sete de 1000km (Jerez,
Monza, Silverstone, Brands Hatch, Nurburgring e Spa), uma de 360km (Jarama),
uma de 200 milhas (Norisring) e outra de 24 Horas (Le Mans). A pontuação
daquele mundial era parecida com o que foi usado na Fórmula-1 até tempos atrás:
20-15-12-10-8-6-4-3-2-1. As categorias eram divididas em duas: Grupo C e Grupo
C2.
A temporada começou com os 360 Km de Jarama, que foi
dominado por Lammers/Watson, mas sempre com a dupla do Team Joest, formado por
Hans Stuck e Derek Bell pilotando o Porsche 962, na cola deles. Boesel/ Cheever
discutiram a segunda posição com a dupla da Porsche, mas tiveram que
contentar-se com o terceiro posto. Na segunda etapa, os 1000km de Jerez, a
primeira vitória de Boesel/ Cheever veio após uma intensa luta contra os Porsches
do Team Joest, que além do carro de Stuck/ Bell, disponibilizou outro para
Jochen Mass/ Bob Wolleck. Stuck/ Bell terminaram em terceiro, com três voltas
de atraso para a dupla da Kremer Porsche Wolker Weidler/ Kris Nissen que
fecharam em terceiro.
Nos 1000Km de Monza, Lammers/ Watson voltaram a vencer, com
Stuck/ Bell em segundo e o trio da Brun Motorsport, formado por Jésus Pareja/ Oscar
Larrauri/ Frank Jelinski levaram o Porsche 962 ao terceiro lugar.
Em Silverstone, nos 1000Km, Boesel/ Cheever venceram a
formaram com Lammers/ Watson a primeira dobradinha da Jaguar no campeonato, e
justamente numa corrida na Inglaterra. Stuck/ Bell estiveram no encalço dos
dois carros da Silk Cut, mas tiveram que contentar-se com o terceiro
lugar.
A prova principal, as 24 Horas de Le Mans, era o grande
atrativo, como sempre. E dessa vez quem foi a desforra foi a Porsche, que
conquistou as quatro primeiras colocações na prova (a terceira colocação foi do
Cougar C20 da equipe Primagaz Competition, pilotado por Pierre Henri-Raphanel/
Yves Courage/ Hervé Rigout, mas este usava o mesmo motor Porsche dos 962).
Stuck/ Bell / Al Holbert venceram as 24 horas e o melhor dos Jaguares era
justamente o de Boesel/ Cheever / Lammers que terminou em quinto, após
enfrentarem problemas na madrugada.
Nas 200 Milhas de Norisring, sexta etapa do campeonato, o
Mundial de Marcas dividiu o fim de semana com a Supercopa Alemã. O evento foi
dividido em duas corridas de 100 Milhas (77 voltas cada) e as duplas seriam
divididas entre as duas provas, com cada um pilotando 100 Milhas.
A primeira prova teve a vitória de Mauro Baldi com o Porsche
da equipe Liqui Moly. A segunda colocação foi de Hans Stuck e terceira de Oscar
Larrauri. A Jaguar levou apenas o carro de Boesel/ Cheever para esta etapa e o
americano terminou em 12º, sete voltas atrás de Baldi. Os carros que tivessem
sofrido acidente ou avaria mecânica, não poderiam largar para a segunda bateria
e as posições de largada seriam as mesmas da ordem de chegada. Ou seja, Boesel
teria um belo trabalho pelas 77 voltas daquela corrida dois em Norisring. E ele
não decepcionou: venceu a segunda bateria, com Jonathan Palmer em segundo
(Liqui Moly) e Jochen Mass (Brun Motorsports) em terceiro. A vitória de Boesel
deixou a dupla em quarto no geral, sete voltas atrás da dupla da Liqui Moly,
Baldi/ Palmer que fizeram um total de 154 voltas, três a mais que a dupla da
Brun Motorsports (Larrauri/ Mass) e quatro a mais que a da Joest Racing (John
Winter/ Stanley Dickens). Stuck e Bell ficaram em 14º, depois que o piloto
inglês abandonou a corrida dois na 61ª volta. E com essa quarta colocação,
Boesel/ Cheever saiam com mais folga na liderança do campeonato ao chegar a
marca de 70 pontos, seis a mais que Stuck/ Bell que somavam 64 pontos. Lammers/
Watson apareciam em terceiro com 55 pontos.
Na sétima etapa, os 1000Km de Brands Hatch, Boesel, que
teve como parceiro nesta etapa o dinamarquês John Nielsen no lugar de Cheever,
que estava no GP da Alemanha com a Arrows, batalhou pela vitória contra o
Porsche da equipe Briten Lloyd Racing, pilotada por Mauro Baldi/ Johnny
Dumfries. Foi uma disputa particular entre as duas duplas, que acabou com a
vitória ficando para Boesel/ Nielsen, seguidos por Baldi/ Dumfries que chegaram
na mesma volta (238). A terceira colocação foi de Lammers/ Watson, terminando
com nove voltas de atraso. Agora Raul Boesel era líder isolado com 90 pontos,
contra 74 de Stuck/ Bell (que terminaram em quarto em Brands), 70 de Cheever e 67
pontos de Lammers/ Watson. Numa entrevista concedida ao blog A Mil Por Hora, do
Rodrigo Mattar, Boesel disse que foi nessa prova que ele teve a confiança que
poderia ser campeão: “O campeonato foi bem disputado. A Porsche do Hans Stuck colocava muita
pressão, mas a partir da vitória nos 1000 km de Brands Hatch em parceria com o
John Nielsen senti confiança e comecei a acreditar que poderia ser campeão.”
Os 1000Km de
Nurburgring foram de festa dupla para a Jaguar: além da vitória de Boesel/
Nielsen, que deixou o brasileiro mais próximo do título, a equipe também
comemorou a conquista do Mundial de Marcas ao chegar nos 138 pontos, contra 69
pontos da Brun Motorsports. Stuck/ Bell e Mass/ Larrauri completaram o pódio.
Raul encontrava-se numa situação confortável: tinha chegado aos 110 pontos,
contra 89 de Stuck/ Bell, 70 de Cheever e 67 de Lammers/ Watson, que
abandonaram a corrida na 21ª volta e agora bastava uma vitória em
Spa-Francorchamps para sagrar-se campeão.
Quinze dias
depois as equipes estavam em Spa para a realização dos 1000Km. A Jaguar levou
para esta prova três carros, destinados para Boesel/ Cheever/ Nielsen (#4),
Lammers/ Watson (#5) e Martin Brundle/ Johnny Dumfries (#6). Tom Walkinshaw
surpreendeu Raul ao dizer-lhe que estaria inscrito nos três carros. A equipe
queria a todo custo que ele fosse o campeão e caso tivesse problemas durante a
corrida, poderia
pular para o carro melhor posicionado na prova para garantir o
seu título. Porém alguns imprevistos aconteceram naqueles dias que antecederam
a conquista: Brundle e Dumfries, em dias alternados, bateram o carro #6 e os
mecânicos tiveram um trabalho quase que sobre-humano para reconstruí-lo, mas o
entregaram a tempo da dupla largar da sexta posição.
Raul Boesel, Eddie Cheever e damais integrantes da Jaguar, momentos antes da decisão em Spa. (Foto: @Chrisdwells8) |
Boesel tinha que fazer um terço da corrida em pelo menos um dos carros e entraria naquele que
estivesse mais bem posicionado na corrida para garantir o título. Aquele carro
#6, que Brundle e Dumfries haviam destruído por duas vezes entre a sexta e o
sábado, era o líder e Raul pulou nele para completar a corrida e sagrar-se
campeão do Mundial de Marcas isolado, com 130 pontos. Lammers/ Watson
terminaram em segundo e Mass/ Larrauri fecharam em terceiro.
A prova final
foram os 1000Km de Fuji e Boesel dividiu o carro #4 com Johnny Dumfries. Eles
terminaram a prova em segundo, na mesma volta de Lammers/ Watson. A terceira
colocação foi de Mauro Baldi/ Mike Thackwell com a Porsche da Briten Lloyd
Racing.
Apesar de ter
sido um título inédito para o automobilismo nacional, ele foi muito pouco
divulgado por aqui enquanto que no Reino Unido, Raul Boesel foi festejado por
levar a Jaguar a um título que eles não conquistavam desde os anos 50.
Raul seguiu
seu caminho, voltando a correr na Indy em 1988. Mas naquele ano ainda ele
defenderia a Jaguar nas 24 Horas de Daytona, quando venceu ao lado de Martin
Brundle – que foi o campeão em 88 no Mundial de Marcas – e John Nielsen.
A última
participação de Boesel pela Jaguar foi na 24 Horas de Le Mans de 1991, quando
perdeu por muito pouco a vitória para a Mazda. Naquela época ele dividiu o
carro com Davy Jones e Michel Ferté.
ESSE FOI BOTA..E ANDOU MUITO NAS MARCAS E NA INDY,,NA F-1 ERA IMPOSSÍVEL..SÓ POR MILAGRE..
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