Há 60 anos
morria em Kassel, na Alemanha, o piloto alemão Rudolf Caracciola. Considerado
como um dos maiores de sua época, ele foi o piloto oficial da Mercedes nos períodos
entre as duas guerras e foi campeão europeu de pilotos nos anos de 1935, 37 e
38. Nascido em Remagen, Alemanha, em 30 de janeiro de 1901, Otto Wilhelm Rudolf
Caracciola iniciou sua carreira automobilística em 1922 correndo com um carro
particular. Em 1925 juntou-se à Mercedes e ganhou sua primeira corrida
importante no mesmo ano, o GP da Alemanha disputado em AVUS. Sua carreira
prolongou-se por trinta anos até abandonar as pistas após se acidentar numa
corrida em Berna, 1952, quando ele estava voltando as competições depois de
outro acidente que sofrera em Indianápolis quando um pássaro lhe acertou o
rosto nos treinos para as 500 Milhas de 1946. A seguir algumas fases
importantes da carreira de Rudolf Caracciola “Caratsch” (apelido dado pela torcida alemã).
MILLE MIGLIA 1931 - Na famosa prova italiana eram os pilotos da
casa quem mandavam. Caracciola se apresentou para essa prova, ao lado do seu
co-piloto Wilhelm Sebastian, com uma Mercedes SSKL de 7.000cc e 1,5 toneladas.
Os italianos deram de ombros, afinal não colocavam fé de que os alemães fossem
páreo para os Alfa- Romeo de 2.300cc de Nuvolari, Borzacchini e Arcangeli.
Caracciola ignorou a lógica e pilotou o que pôde, andando acima do limite de
sua Mercedes para garantir uma vitória histórica para os alemães na Mille Miglia
– com direito a recorde na ocasião –, no que se configurou a primeira derrota
dos italianos nesta prova. Ele tinha calado o público.
RELAÇÃO DE PAI E FILHO - Alfred Neubauer, diretor esportivo da
Mercedes, tinha uma relação fortíssima com Caracciola de longa data, mais
precisamente de 1929, quando a Mercedes estava para sair das competições devido
a crise. Caracciola prometeu voltar à equipe assim que esta regressasse aos
grandes prêmios que aconteceu em 1934. Com o retorno da Mercedes em 1934
Caracciola só estreou no GP da França, em Montlhery, pois ainda se recuperava
do acidente sofrido em Mônaco um ano antes durante os treinos em que quebrara a
perna direita. Essa relação era tão forte que acarretou alguns problemas na
Mercedes: alguns pilotos eram proibidos de atacar Rudolf caso estivessem mais
velozes tanto que Luigi Fagioli, um dos melhores pilotos italianos na época, foi
vítima algumas vezes disso – inclusive chegando agredir Caracciola em Trípoli
1936. Ele não aguentou tal situação e no ano seguinte partiu para a rival Auto
Union.
(A foto é de Nurburgring 1939 vencida por Caracciola) |
A CORRIDA DE CARACCIOLA - Vencer uma corrida em casa é sempre
fantástica e a sensação é indescritível, mas naquela época vencer o GP da
Alemanha era obrigação. Rudolf venceu essa prova por seis vezes (1926, 28, 31,
32, 37 e 39): em 1926, 28, 31, 37 e 39 foram vitórias conquistadas pela
Mercedes, enquanto que a de 1932 foi pela Alfa Romeo, no famoso intervalo que a
fábrica alemã tomou até o seu retorno triunfal em 1934.
(A foto é do GP de Mônaco de 1936) |
REGENMEISTER- O mestre da chuva, assim era conhecido
Caracciola por sua perícia em pista molhada. A tal alcunha foi criada no GP da
Alemanha de 1926 quando conseguiu recuperar-se de uma péssima largada – seu Mercedes
teve problemas para pegar e seu mecânico Eugen Salzer precisou descer para
empurrar, mas nesta altura já haviam perdido grande terreno para os adversários.
Porém a chuva e a névoa tomaram conta do circuito de AVUS e Caracciola
aproveitou a chance para descontar a desvantagem para os demais e assumir a
liderança debaixo de um torrencial aguaceiro acompanhado pela densa névoa - essa
corrida ficou marcada pela morte de três cronometristas que tiveram a casa de
cronometragem acertada pelo carro de Rosenberger que liderava a prova. Rudolf
Caracciola, junto de Eugen Salzer, venceu o GP alemão e devido a sua fabulosa
condução naquelas condições acabou recebendo da imprensa o apelido de “Regenmeister”. Outra de suas famosas exibições na chuva aconteceu
em Mônaco 1936 quando disputou roda a roda com Nuvolari, outro gênio em piso
molhado, a vitória no GP monegasco daquele ano. Por mais que estivesse com uma
Mercedes, ele não teve sossego com os ataques de Nuvolari e sua Alfa-Romeo até
que este abandonasse a prova com problemas deixando assim caminho livre para a
vitória de Caracciola. A chuva era tanta que os pilotos da Auto Union estavam
usando a segunda marcha para percorrer o traçado todo.
OS RIVAIS- Qualquer piloto que tenha certo destaque
acaba por ter seus rivais. Caracciola não era diferente. Nos anos trinta os
mais próximos eram Tazio Nuvolari, Luigi Fagioli e Bernd Rosemeyer. Com
Nuvolari ele dividiu os carros da Alfa Romeo no ano de 1932 e acabou tendo que
entregar, em algumas situações, vitórias para o piloto italiano. Vendo que não
tinha condições, acabou comprando uma Alfa P3 e dividindo o volante com seu
amigo e piloto Louis Chiron em 1933. Na estréia dos dois no carro, Caracciola
sofreu seu grave acidente e ficou de fora da temporada até o ano de 34. Nessa
época ele voltou à Mercedes e tinha como um dos seus companheiros, o italiano
Luigi Fagioli e ambos não nutriam nenhuma simpatia um com o outro. E as coisas
pioraram quando Neubauer começou a fazer jogo de equipe favorável à Caracciola,
assim Fagioli também saiu da equipe. A outra rivalidade foi curta, mas mexeu
com a nação alemã: Rosemeyer se destacava mais e mais ao volante de sua Auto
Union e este tinha uma pilotagem muito mais atirada do que a de Caracciola, o
que acabou conquistando os alemães e isso se prolongou até 1938 quando numa
tentativa de quebra de velocidade no trecho Frankfurt-Darmstadt, Rosemeyer
morreu quando seu carro foi apanhado por ventos laterais e jogado para fora da
pista. Ele tentava bater o recorde que Caracciola tinha estabelecido horas
antes que era de 432Km/h. ( Da esquerda
para a direita as fotos: Nuvolari, Fagioli e Rosemeyer)
Mônaco 1933, logo após o seu acidente na curva da Tabacaria |
OS ACIDENTES- Na sua carreira Caracciola teve três graves
acidentes. O primeiro aconteceu em 1933 em Mônaco quando seu carro perdeu o
freio e ele bateu de frente na curva da Tabacaria quebrando a perna direita,
fazendo com que ficasse de fora do resto do campeonato. A segunda foi em 1946
quando tentou correr as 500 Milhas de Indianápolis. Durante os treinos um pássaro
bateu em seu rosto e Rudolf ficou em coma por 10 dias com sério risco de morte,
mas acabou escapando para voltar seis anos depois quando a Mercedes também
voltava às competições. Em 1952, durante um treino em Berna, pilotando o modelo
300SL da Mercedes, ele escapou e bateu de frente numa árvore que acabou por
quebrar a sua perna esquerda. Depois disso ele nunca mais voltou a pilotar.
Caracciola
retirou-se das competições definitivamente, mas continuou ligado a Daimler-Benz
como vendedor. Problemas de saúde apareceram já no inicio de 1959, que pioraram
no decorrer do ano quando foi diagnosticado com cirrose. Em 28 de setembro
daquele ano Caracciola acabou sucumbindo a uma insuficiência hepática, vindo falecer
na cidade de Kessel aos 58 anos.
Bela recordação. Por tua causa, também fiz a minha parte em lembrar esta lenda do automobilismo, especialmente o seu envolvimento com o partido Nazi - que odiou - e o seu exílio na Suíça durante a II Guerra Mundial.
ResponderExcluirObrigado, Paulo!
ExcluirEste texto tinha sido feito em 2009, quando completou 50 anos de seu falecimento. Daí resolvi dar uma "recauchutada" no texto republicá-lo.
Obrigado, meu caro!