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segunda-feira, 2 de março de 2020

Fórmula 1 2020 – Incógnitas


(Foto: FIA)
Não podemos negar que existe há décadas uma tradição em querer adivinhar o que existe naqueles tempos de voltas em cada dia de testes, principalmente quando alguém crava o melhor tempo. Porém, também, existe o velho mantra de quem pode estar escondendo o jogo. Essa é uma parte ainda mais difícil de analisar, pois a ilusão criada por um Team que dominou amplamente os testes nem sempre se concretiza quando a coisas começam para valer. A Ferrari nos últimos anos é o exemplo mais recente sobre o que não pode se confiar em marcas assombrosas. Dessa forma, é uma a aventura sentar e escrever sobre algo que às vezes nos passa a perna e ainda "tira um sarro" assim que as primeiras corridas são feitas.
Nesta pré temporada de seis dias realizadas religiosamente no Circuito da Catalunha, as coisas pareceram ainda mais confusas se repararmos nos que as equipes apresentaram: Mercedes ainda é a equipe a ser o alvo, porém os problemas de motor fizeram ascender o alerta na equipe alemã. A carta na manga que eles apresentaram na primeira semana, o DAS, pode ajudar bastante, porém ainda não se sabe quantas vezes vão usar nas corridas desta temporada - uma vez que o sistema já está com os dias contados, já que será banido para  2021. A Ferrari foi bem diferente do que acostumamos ver nos outros anos, onde a equipe italiana colocava as cartas na mesa e mostrava um ritmo alucinante logo de cara, porém nem sempre era traduzido em resultados concretos e a equipe morria na praia. O duro golpe de 2019 os fez adotar uma postura mais metódica nestes testes, focando num melhor entendimento do seu SF1000 para que este tenha um melhor manuseamento para o uso de Sebastian Vettel e Charles Leclerc. As voltas não foram alucinantes, mas mostram um ritmo de corrida bem melhor. As falas de Mathia Binotto em torno do desempenho do carro, onde ele diz que estão atrás de Mercedes e Red Bull, mostra o quanto que a postura foi mudada. Mesmo assim, com a equipe mais comedida, os fãs não transbordam de confiança - afinal de contas, gato escaldado tem medo de água fria. A Red Bull mostrou ter sido a que mais aproximou da Mercedes. Sabemos bem que o maior problema da equipe energética desde os tempos que usava o motor Renault era o seu atraso inicial frente a Mercedes e Ferrari, e isso era um fator que prejudicava as suas ambições. Era sempre comum ver Max Verstappen comboiando os primeiros sem ter grandes chances de vencer na primeira parte do mundial, para aparecer uma melhora significativa na parte decisiva onde o holandês mostrava o verdadeiro potencial. Agora a jogada é marcar de perto a Mercedes - e quem sabe a Ferrari, também - para não ter o atraso dos últimos anos. O desempenho de Max Verstappen e Alex Albon nos testes traz uma luz de esperança de uma luta acirrada desde as primeiras corridas.

O meio do pelotão desfragmentado?
Racing Point e Mclaren durante os testes em Barcelona
(Foto: FIA)
Se teve algo na Formula 1 que fez sucesso nos últimos anos, foi o pelotão intermediário onde as equipes com orçamento mais próximo sempre apresentaram um equilíbrio impressionante levando essa turma a receber o apelido de "Fórmula 1 B". Mas dessa vez as coisas podem ser diferentes com o desgarramento de dois ou até três times para um bloco a parte. A Racing Point é a equipe que pode ser a sensação da temporada pelo simples fato do RP20 ser praticamente a cópia do campeão W10 da Mercedes. Apesar do esperneio de alguns, essa prática é normal e os benefícios que pode trazer a equipe de Lawrence Stroll são bem interessantes, isso se eles souberem trabalhar bem esse carro já apelidado de "Mercedes Rosa". Sergio Perez e Lance Stroll ficaram animados e confiantes com o carro, apesar de ainda ser um mundo novo para eles e equipe de engenheiros que procuraram entender melhor o comportamento desta nova jóia que pode levá-los ao quarto posto entre as equipes - existe uma confiança enorme levando-os acreditar que podem estar até mesmo à frente da Ferrari. Apesar de achar um grande exagero, as simulações de corrida mostraram um ritmo bem próximo entre as duas equipes, mas este tipo de resposta virá em breve quando as coisas forem feitas nos conformes. A McLaren é de quem se espera mais, principalmente pelo que foi apresentado ano passando quando saíram do limbo para uma excelente quarta colocação no Mundial de Construtores, ganhando o título moral do "resto". Mas nestes testes a McLaren não chamou tanta atenção quanto podiam esperar com seus dois pilotos trabalhando com um carro imprevisível - principalmente nos dias de vento forte e devemos lembrar que também não brilharam nos testes do ano passado, reservando o melhor para o decorrer da temporada de 2019 onde conseguiram bons resultados e a conquista do quarto lugar entre os Construtores. O que a McLaren tem a comemorar é a confiabilidade do motor Renault, que não refugou em momento algum dos seis dias. Mas em relação ao carro, este sim é algo que precisarão trabalhar intensamente. A Renault leva o asterisco da incógnita, apesar de Daniel Ricciardo ter feito um bom tempo na manhã do último dia de testes, mas a exemplo da McLaren, a fábrica francesa não impressionou e o carro parece difícil de ser entendido por Ricciardo e o novo recruta Esteban Ocon. Mas a durabilidade de seu motor, o único a não apresentar problemas nestes testes, é algo a ser comemorado. Apesar de ser uma equipe nova, toda a estrutura da AlphaTauri é herdada da Toro Rosso e isso sugere que eles estarão na luta pelo meio do pelotão. O AT01 pareceu ser bem manejado por Pierre Gasly e Daniil Kvyat e o motor Honda não apresentando grandes problemas, darão as eles a oportunidade de tentarem reviver alguns dos bons resultados que conseguiram em 2019. A Alfa Romeo foi a única a usar o piloto de testes com Robert Kubica que fez a melhor marca do quarto dia de testes, repetindo o feito de Kimi Raikkonen que fez a melhor marca no segundo dia. Mas a Alfa não impressionou em mais nada e isso sugere que a equipe ainda precisa entender muito mais sobre o seu novo carro para que possa dar a Kimi Raikkonen e Antonio Giovinazzi oportunidade de lutar com as demais do seu pelotão. A Haas é a outra incógnita para esse ano, afinal 2019 foi terrível para equipe que enfrentou problemas aerodinâmicos no seu carro - e quando as coisas podiam ir bem, Magnussen e Grosjean davam um jeito de estragar. Por conta de um 2019 abaixo da expectativa, estes dias de testes foram de concentração para tentar achar possíveis defeitos que passaram despercebidos nos testes do ano passado e que atormentaram a equipe. Talvez, por isso, a impressão que ficou após estes seis dias é que o carro deste ano não seja bom o suficiente e a Haas passe a lutar contra a Williams na rabeira do grid. Falando na Williams, a mais querida das equipes certamente espera um 2020 muito melhor que os últimos que tem passado, principalmente o de 2019. Os problemas no motor Mercedes atrasaram um pouco o cronograma, mas mesmo assim a equipe conseguiu uma jornada convincente sendo a única equipe a melhorar seu desempenho de tempos em relação ao teste de 2019, conseguindo uma melhora de 1,3 segundos. Mesmo assim, George Russell confessou que o carro ainda é lento.
Apesar de ficarmos tentados sempre em colocar a nossa opinião na mesa e bancar o adivinho, sabemos bem que as respostas virão após o encerramento da prova de abertura e até lá apenas a imaginação é que vai trabalhar a espera do início da 71a temporada da história da Fórmula 1.

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