Chris Amon com a Matra MS120D em Clermont Ferrand (Foto: Divulgação) |
Assim como a maioria de seus contemporâneos, Chris Amon foi
um dos pilotos mais versáteis de sua geração algo que foi moldado nas mais
variadas provas que o neozelandês esteve entre os anos 60 e 70. Isso deu a ele
um profundo feeling para que pudesse transmitir as sensações dos carros para
seus engenheiros, como bem destacou Mauro Forghieri quando disse que “Amon
era o melhor piloto de testes com quem ele já havia trabalhado”. Por
outro lado, a oportunidade de correr em outras categorias lhe abriu a
oportunidade de vencer grandes provas como foram os casos das 24 Horas de Le
Mans de 1966 em parceria com seu conterrâneo e amigo Bruce Mclaren no Ford GT40
MK II, marcando a primeira conquista da Ford em Sarthe; ele voltaria a vencer
outras duas provas clássicas em 1967, quando levou as 24 Horas de Daytona e
1000km de Monza com Lorenzo Bandini em posse da Ferrari 330 P4 – e ainda ajudou
a fábrica a conquistar o Campeonato de Marcas sobre a Porsche por apenas um
ponto. Chris ainda desafiaria Jim Clark
durante o certame da Tasman Series no inicio de 1968 onde acabou por perder
para o escocês, mas conseguindo impressionar a todos pela sua grande velocidade
frente ao melhor piloto do momento – o titulo na série viria no ano seguinte. Na
Fórmula-1, apesar de seu talento ser reconhecido, Amon não conseguiu traduzir
isso em vitórias onde sempre algum infortúnio apareceu: uma quebra de
transmissão da Ferrari em Mont Treblant faltando dezessete voltas para o fim
deixou o neozelandês pelo caminho após ter liderado 73 voltas – de um total de
90 – quando apareceu o problema; ele ainda teve uma chance anterior em Brands
Hatch, mas esbarrou num inspirado Jo Siffert que suportou bem a pressão de Amon
e passou para vencer o GP britânico; tinha grande vantagem sobre Jackie Stewart
durante o GP da Espanha de 1969 quando motor do Ferrari quebrou faltando 33
voltas para o fim. Ironicamente, Chris Amon conseguiu vencer em duas
oportunidades, mas exatamente quando não valia nada para o campeonato: venceu o
International Trophy em Silverstone 1970 – vencendo pela March – e ganhou o GP
da Argentina de 1971 – pela Matra –, que serviu para homologar o circuito de
Oscar Galvez.
Em 1971 Amon seguiu para a Matra – fazendo dupla com Jean
Pierre Beltoise – onde conseguiu alguns bons resultados no campeonato como o
terceiro lugar no GP da Espanha e a pole position para o GP da Itália, onde ele
teve alguma chance de vencer caso o visor de seu capacete não tivesse caído após a tentativa do neozelandês em limpá-la, levando-o a diminuir o ritmo. Mas conseguiu salvar um sexto lugar e fechar a temporada na 11ª posição com nove pontos. Amon continuou na Matra para 1972, enquanto
que Beltoise seguiu para a BRM.
A Matra iniciou a temporada com o MS120C, uma clara evolução
do MS120 que fora usado em 1970 e que foi sendo atualizado no decorrer de 1971
(MS120B) até chegar neste que foi pilotado por Chris Amon. Mas os graves
problemas de câmbio atormentaram Amon e a Matra nas primeiras corridas da
temporada, forçando até mesmo a não participação na Argentina depois que o
câmbio quebrou na volta de aquecimento quando Chris era o 12º no grid. Salvaram
um 15º lugar em Kyalami; abandonou na Espanha com mais um problema no câmbio; e
conseguiu pontuar em Mônaco e Bélgica ao terminar em sexto nestas duas provas. Para
a próxima etapa, na França, a Matra realizou algumas mudanças sendo a principal
a estreia do novo carro o MS120D e também o uso do motor V12 do MS670 do World
Sportscar.
Após dois anos com as provas sendo realizadas em Paul
Ricard, o GP da França voltou para Clermont Ferrand que teve a última visita da
Fórmula-1 em 1970. Porém, as coisas foram nebulosas para que este GP fosse
realizado no belo traçado de Charade: a principal preocupação da CSI
(Commission Sportive Internationale) era em relação as encostas rochosas do
circuito, onde pedras se soltavam a todo momento e isso poderia causar inúmeros
furos de pneus e até mesmo acidentes. Outras exigências giravam em torno da
melhoria e implantação das barreiras de proteção (guard-rails) e também se
discutia sobre a diminuição do traçado de Charade, onde um projeto para descer
dos seus 8km para cerca de 4km. Enquanto que a pista teve as melhorias nos guard-rails, a diminuição do traçado
acabou não acontecendo – isso viria a ser feito uns bons anos depois. Ainda
foram feitas novas bancadas e restaurantes para acomodar – e agradar – os espectadores
e convidados, e ainda foi feita um pequeno alargamento da reta da estreita reta
dos boxes.
Os treinos mostraram certo equilíbrio entre a Mclaren de
Denny Hulme, a Tyrrell de Jackie Stewart, a Matra de Chris Amon e a Ferrari de
Jacky Ickx seguindo bem próximos na tabela de tempos desde as atividades de sexta-feira,
mas o piloto que parecia mais a vontade era justamente quem tinha tido mais
problemas nas ultimas corridas: Amon estava confortável com as mudanças que a
Matra levou para Clermont Ferrand e isso se revelou na primeira qualificação do
sábado – foram duas sessões de uma hora cada no dia – ao anotar a marca de 2’54’’7,
enquanto que Stewart foi quem chegou mais próximo ao fazer 2’55’’0. Na última
sessão de qualificação, Amon melhorou ainda mais a sua marca ao baixar para 2’53’’4
e Denny Hulme foi o único que ainda tentou chegar próximo da marca do seu
conterrâneo, ao ficar oito décimos atrás. Stewart não melhorou a sua marca e garantiu
a terceira colocação, enquanto que Ickx chegou melhorar o tempo estabelecido na
primeira sessão (2’57’’7) para 2’55’’1 ficando com a quarta posição. Para a
Matra e Amon, aquele resultado conquistado até aqui era surpreendente e
certamente lhes deram um horizonte bem animador para a corrida do dia seguinte.
No domingo o tempo estava muito bom e isso foi animador para
as equipes e pilotos, já que as pedras rolantes das encostas em Charade era
algo se considerar. Amon conseguiu partir bem e sustentar a sua liderança, mas
sempre com Denny Hulme no encalço e mais Jackie Stewart. Aliás, os três conseguiram
abrir boa vantagem para Ickx já na
segunda volta, enquanto o belga batalhava para tentar seguir o ritmo dos
líderes.
A única preocupação que Amon tinha em relação ao Matra, era
a quantidade de combustível que ele tinha de levar sendo muito mais que os
carros movidos pelos V8 Ford Cosworth. Conforme a corrida foi se desenrolando e
o Matra ficando mais leve, Chris conseguiu ampliar a vantagem sobre Hulme de
forma gradativa, mas sempre com a corrida sob total controle.
O temores sobre as pedras em Charade se confirmaram na nona
volta, quando Emerson Fittipaldi, que partira da oitava posição e estava na
quinta posição tentando alcançar Ickx, acabou passando sobre uma dessas pedras
e lançando-a contra o BRM de Helmut Marko que vinha em sexto. Para o azar do
promissor austríaco – que havia feito uma ótima qualificação ao colocar o BRM
em sexto – a pedra
Amon durante a qualificação (Foto: Motorsport Images) |
Pelas próximas voltas alguns pilotos sofreram com os furos
nos pneus, decorrentes das pedras – antes da corrida chegou ser feita uma
limpeza pelos comissários de pista, mas durante a corrida algumas se soltaram e
acabaram ficando pelo acostamento – como foram os casos de Brian Redman e
Patrick Depailler (este último fazendo sua estreia na Fórmula 1 pela Tyrrell).
Enquanto os problemas começavam aparecer, Amon continuava a sua pilotagem
precisa que aumentava aos poucos a diferença para Hulme que passava a ser
assediado por Stewart na batalha pela segunda colocação.
Na 16ª volta Amon já levava quatro segundos sobre Hulme e
quando o piloto da Mclaren foi superado por Stewart, a diferença de Chris para
o escocês da Tyrrell já subira para cinco segundos. Tirando pelo tinha sido
visto desde os treinos, abria-se a chance de uma batalha entre os dois pilotos
pela vitória, mas sabia-se, também, que até aquela altura que Chris Amon e
Matra tinham formado um conjunto fortíssimo em Charade e não seria tão fácil
tirar do neozelandês a chance de vencer pela primeira vez.
Na vigésima volta é que a velha sina de Chris Amon resolve
reaparecer: com uma boa diferença sobre Stewart, Amon deu uma pequena relaxada
e acabou acertando uma das infames pedras que de imediato furou o pneu dianteiro
esquerdo. Dessa forma, ele perdia a liderança e a chance de chegar a vitória,
mas ainda demonstraria que estava em grande dia em Clermont Ferrand: após
arrastar-se até os boxes e perder 50 segundos para trocar o pneu – onde os mecânicos
se enrolaram para soltar as porcas – Chris voltou em oitavo (pouco tempo depois
subiria para sétimo com a parada de box de Hulme) com mais de um minuto de
desvantagem para o líder Stewart, mas isso não desanimou o neozelandês que passou
a pilotar no limite e mostrar a todos que ele tinha equipamento suficiente para
chegar a conquista.
Durante a perseguição a Mike Hailwood (6º colocado), Amon
fez a melhor volta quatro segundos mais veloz que Stewart; despachou Mike na
volta 26 assumindo o sexto posto; subiu para quinto após o estouro de pneu de
Ickx, então mais uma vitima das pedras; Amon continuou a pilotar de forma
impressionante, levando-o a cravar a melhor volta da corrida de forma absoluta
em 2’53’’9 e isso lhe credencia a batalhar pela posições de François Cevert e Ronnie
Peterson que ocupavam a terceira e quarta colocações respectivamente – com o
francês da Tyrrell vencendo uma disputa que durava algumas voltas.
O ritmo alucinante de Amon o colocou na disputa direta
contra Cevert e Peterson que ainda estavam próximos. A maior velocidade e
destreza de Chris ao volante do Matra lhe deram uma oportunidade única de
atacar os dois pilotos e ultrapassá-los na volta 35 e despachá-los. Amon tinha
chegado ao terceiro lugar quinze voltas depois do desastroso furo que tirou
dele a oportunidade de vencer.
A corrida terminou com Jackie Stewart vencendo, ao se
aproveitar bem dos pneus que a Goodyear lhe colocou a disposição com bandas
reforçadas e isso, aliado ao seu cuidado na pilotagem, a escapar das armadilhas
em Charade. Emerson Fittipaldi terminou em segundo com 35 segundos de
desvantagem e oito segundos à frente de Amon, que continuou a forçar nas voltas
finais. Na volta de desaceleração e no pódio, os festejos e aplausos foram
todos para Chris Amon. Um consolo moral para aquele que, sem dúvida, deveria
ter sido o grande vencedor naquela tarde.
Para o campeonato aquela grande jornada da Matra na França
não apareceu mais durante o campeonato: Amon conseguiu ainda um quarto lugar em
Brands Hatch, quinto em Osterreichring e sexto em Mosport, chegando a 10ª
colocação do campeonato com 12 pontos – terminou empatado em pontos com Ronnie
Peterson. A Matra, que havia sentido o gosto de vencer pela primeira vez as 24 Horas de Le Mans naquele ano, resolveu
se retirar da Fórmula-1 e concentrar seus esforços no Mundial de Marcas – onde seria
bem sucedida pelos próximos anos. O GP da França não voltou mais ao magnifico
circuito de Clermont Ferrand, seguindo agora para Paul Ricard e depois em
Dijon-Prenois.
Amon continuou na Fórmula-1 vagueando por algumas equipes de
meio e fundo de pelotão e até mesmo criando a sua equipe própria, que não foi
muito longe. E dessa forma, a chance de vencer outro GP nunca mais apareceu.
Tal como Stirling Moss é rotulado de campeão sem coroa, Chris Amon foi um vencedor mas sem ter ganho nenhum Grande Prémio.
ResponderExcluirPor vezes não é preciso ter talento, é também necessário a sorte.
Abraço
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