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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Os 25 anos do Bi: O troco - Final



A volta por cima da McLaren e uma vitória para Thierry Boutsen e Williams

Os desempenhos que foram apresentados nas últimas quatro provas e mais as queixas de Ayrton Senna e Gerhard Berger, fizeram com que a McLaren trabalhasse intensamente no intervalo de quinze dias entre o GP britânico e alemão. Não podiam deixar que a Ferrari tomasse conta de um campeonato que parecia caminhar facilmente para as mãos de Senna. Revisão na suspensão dianteira, melhorias na aerodinâmica e mais a evolução que foi entregue pela Honda para o seu motor, deu a equipe de Woking a chance de ao menos confrontar a Ferrari de igual para igual numa sequência de pistas que favoreciam muito os carros italianos, especialmente em Hockenheim, Spa e Monza.
Em Hockenheim, para a disputa do GP da Alemanha, os treinos classificatórios voltaram “ao normal” tendo a dobradinha Senna/ Berger na primeira fila. De impressionar mesmo foi o ritmo alcançado pelos dois ponteiros com Ayrton a colocar 1,5 segundos sobre o Ferrari de Prost, que aparecia em terceiro, e quase dois sobre Mansell, o quarto - pelo menos na classificação o ritmo dos carros vermelho e branco tinha sido mais satisfatório. Ricardo Patrese e Thierry Boutsen fecharam a terceira fila para a Williams. Piquet saía em sétimo e Gugelmin em 14º. Roberto Moreno enfrentou uma série de problemas em seu EuroBrun, como o principio de incêndio causado por um curto circuito e mais tarde uma carenagem danificada durante a volta rápida e um furo no pneu que o prejudicaram na sua tentativa de passar na pré-qualificação.
Bem diferente do que acontecera nas etapas anteriores onde o McLaren mostrava-se instável em curvas de alta, Senna não teve problemas e conseguiu fazer uma prova tranqüila e nem mesmo a ameaça de Nannini que, por conta de uma escolha de pneus mais duros, estava à frente do piloto brasileiro quando este saiu do box e que mais tarde o superaria na briga pela vitória quando o italiano ficou sem pneus. Mas antes disso, foram 16 voltas com o Senna a estudar como passaria o Benetton afinal de contas ele não poderia ficar muito tempo no vácuo, pois desgastaria demais os pneus, aumentaria a temperatura do motor e a turbulência causada fazia com que perdesse a dianteira. A Onyx de J.J.Lehto acabou ajudando o piloto brasileiro: Nannini atrapalhou-se para tentar ultrapassar o finlandês e Ayrton aproveitou a oportunidade de passá-lo na freada da última chicane e encaminhar-se para a sua quarta vitória no ano e igualar Fangio na tabela de vitórias, ao chegar ao 24ª triunfo da carreira. Para a Benetton, mesmo com os problemas na temperatura do óleo do carro de Nannini a aumentar consideravelmente, o piloto italiano conseguiu chegar em segundo. Piquet também estava em boa situação quando abandonou a prova na 23ª volta por problemas no motor, numa altura que ocupava a terceira colocação.
A Ferrari, que tão bem andou nas últimas etapas, acabou cometendo uma série de erros que foi desde a regulagem do carro para a corrida – com o uso de asas menores para diminuir o arrasto, o motor chegou ao seu limite rapidamente fazendo com que batesse no limitador e não conseguisse usar toda a potência necessária – e falhas nas paradas de box, onde chegaram a perder até 14 segundos para trocar os pneus do carro de Alain que terminaria em quarto. Mansell abandonou na 15ª volta após uma escapada.
Senna e Nannini tiveram a companhia de Berger no pódio, enquanto que Prost foi o quarto, Patrese o quinto, e Boutsen o sexto. Gugelmin abandonou a corrida com o motor avariado na 12ª volta.
A prova da Hungria testemunhou o momento onde nem McLaren e muito menos a Ferrari foram as protagonistas: a Williams estava em grande forma como ficou evidenciado na classificação, com a dobradinha que a equipe conquistara na classificação a direito de primeira pole para Boutsen na categoria. Com Patrese saindo ao lado e numa pista de difícil ultrapassagem, as coisas poderiam acabar bem para a equipe de Frank Williams. Berger e Senna ficaram com a segunda fila, com o austríaco a tomar quase um segundo de Boutsen e o brasileiro ficando a um segundo da marca. Mansell e Alesi apareciam na terceira fila, enquanto que Prost era apenas o oitavo. Piquet ficava em nono e Gugelmin em 17º. Moreno ficava de
fora mais uma vez, barrado por problemas na EuroBrun.
A exemplo que fizera Ayrton em Hockenheim, Boutsen manteve-se na liderança desde a largada com certa folga, mas não perdera em nenhum momento o comando do GP. Teve algumas ameaças de Nannini e de Senna no final por conta do desgaste dos pneus, tanto que Ayrton tentou o bote no final da corrida, mas sem sucesso deixando assim que Thierry vencesse a primeira dele no ano e a terceira na carreira.
Senna teve uma corrida atribulada por conta do desgaste dos pneus que o forçaram parar na 22ª volta para trocá-los, e assim caiu para nono. Recuperou-se bem a ponto de ameaçar a conquista de Boutsen, mas por outro lado teve a mancha do erro devido a sua impetuosidade ao tentar passar Nannini na luta pela segunda colocação e jogar o Benetton para fora da pista quando tentou a manobra na chicane – nos dias de hoje, seria punido no ato. Por outro lado foi um resultado satisfador, já que Alain Prost não completara o GP quando escapou e bateu na entrada da reta por causa do bloqueio nas rodas. 
Berger e Mansell protagonizaram uma cena idêntica e, curiosamente, no mesmo local onde acontecera o enrosco entre Senna e Nannini. Após mais uma batalha, onde o terceiro lugar era o prato principal, Berger foi afoito e bateu em Mansell limando os dois automaticamente do GP. Melhor para Nelson Piquet que ganhou duas posições de presente e foi ao pódio. Patrese terminou em quarto, Derek Warwick garantiu mais dois pontos para a Lotus e Eric Bernard foi o sexto.     
Spa-Francorchamps, com o seu visual peculiar e traçado desafiador, deixou os melhores pilotos da atualidade com a chance de discutir diretamente a vitória naquela pista.
A McLaren monopolizou a primeira fila, sempre com Senna na pole. Prost e Boutsen ficaram na segunda fila, com Mansell e Nannini na terceira. Piquet saía em oitavo, enquanto que Gugelmin  era o 14º. Moreno sofria horrores com a EuroBrun que chegava ao ponto de não ter dinheiro para desenvolver o carro, tanto que a Coloni – que mudara dos doze cilindros da Subaru para os V8 da Ford em Hockenheim – já conseguia passar à frente. A EuroBrun só não era pior que a piada da Life, que demorou a ligar o motor por 50 minutos...
A prova teve três largadas: a primeira foi por conta de um enrosco de Piquet e Mansell, onde o brasileiro tocou na traseira do Ferrari que rodou ficando atravessado na entrada da La Source. Para completar, Nelson também levaria uma batida por trás de Suzuki e as Lotus batiam entre si. Isso forçou uma segunda largada e nessa Piquet, Mansell e  Warwick pegaram os carros reservas. Donnelly ficou de fora por conta de ter apenas um carro reserva e este estar sendo usado por Derek e Suzuki teve o carro reserva destruído no warm-up, o impossibilitava a sua participação. A segunda largada foi normal até o início da segunda volta, quando Martini e De Cesaris bateram na Kemmel e mais atrás Paolo Barilla espatifou a sua Minardi na subida da Eau Rouge, mas sem conseqüências para o piloto italiano.
Na terceira largada - essa sim sem nenhum problema - Ayrton partiu para o comando de uma prova que venceria sem maiores dificuldades. Talvez a presença de Prost pudesse ter lhe dado algum trabalho, pois o francês estava rápido o suficiente para isso como havia mostrado após superar Berger na luta pela segunda colocação e descontar uma desvantagem de cinco segundos para Senna. As paradas de box e o trabalho para superar os retardatários é que decidiram a prova à favor de Senna: enquanto que a McLaren fez um bom trabalho de pit e o piloto brasileiro soube negociar bem as ultrapassagens, Prost teve uma má paragem por conta do mal trabalho da Ferrari e quando estava para superar os retardatários, perdeu tempo com Alboreto. Somando isso ao tempo perdido no pit-stop, foram dez segundos de atraso para Senna. Este último teve apenas trabalho de administrar bem a vantagem e vencer com três segundos de diferença sobre Alain.   
Berger e Nannini travaram um belo duelo pela terceira colocação, mas antes disso a FISA, diante do que aconteceu em Hungaroring, alertou Ron Dennis que seus dois pilotos fizessem mais uma daquelas manobras seriam punidos de imediato. Talvez isso tenha deixado Berger mais comedido na luta contra Alessandro, mas ele admitiria que o Benetton era bem mais veloz em reta e por isso ficava difícil de se aproximar. Mas devido uma atrapalhada de Nannini em tentar passar por Caffi, Berger consegue emparelhar com ele e travar uma disputa que durou algumas curvas, onde o italiano conseguiu se defender bem. Mas com os pneus desgastados, ficava difícil segurar as investidas de Gerhard até que Nannini errou na Eau Rouge e o austríaco passou por ele. Piquet foi o quinto e Gugelmin chegou ao primeiro ponto no mundial, ao terminar em sexto.
As imagens que ficaram mais claras na etapa da Itália foi do acidente brutal de Warwick logo no término da primeira volta e do aperto de mão de Senna e Prost durante a coletiva de imprensa após a corrida, numa breve reconciliação dos dois rivais.Mas a verdade é que a corrida italiana foi uma continuidade da batalha que tinha sido vista em Spa quinze dias antes.
Desta vez ambos estavam na primeira fila, com um pole que Senna arrancara de Prost nos minutos finais e jogando um balde d’água fria nos tiffosi, que acabaram por aplaudir a tremenda volta que Ayrton conseguira para aquela pole. Berger e Mansell, os dois lutadores de sempre, estavam na segunda fila e Alesi com Boutsen na terceira. Piquet e Gugelmin formaram a quinta fila enquanto que Moreno, para variar, ficava encalhado na pré-qualificação.
Apesar de uma largada limpa com os dois Mclarens a pular na dianteira e Prost levar uma bela ultrapassagem de Alesi na freada para a chicane Roggia, o acidente de Warwick assustou quando ele saiu com tudo para fora da Parabólica e bateu forte, desintegrando o carro. Derek saiu sozinho e com a adrenalina a mil, saiu para pegar o carro reserva. Infelizmente ele não completaria a prova, abandonando-a
na 15ª volta com problemas de embreagem.
Na segunda largada o cenário repetiu-se da mesma forma, com os McLaren a partindo melhor e Alesi assumindo o terceiro posto. Mas o francês da Tyrrell, com a sua pilotagem extremamente agressiva, acabou rodando na primeira chicane na abertura da quarta volta quando estava aproximando-se de Berger. Alain voltou ao terceiro lugar e na 21ª volta é que passa por Berger que começara a enfrentar problemas nos freios. Daí e diante é que começou o duelo à distância dos dois postulantes, com Senna a aumentar a diferença de 3,5 segundos para 7,8 e administrar essa vantagem até o final da corrida, com ambos a fazerem a melhor volta constantemente em resposta ao outro. Porém Alain teria novamente um golpe de azar, como acontecera na Bélgica, ao perder tempo com os retardatários e desta vez foi De Cesaris que o fizera perder três segundos.
Além de Senna e Prost, Berger também foi ao pódio mesmo com os problemas nos freios, até porque Mansell, que fechara em quarto, não tinha condições de atacá-lo por problemas no acelerador. Patrese foi o quinto e Nakajima o sexto. Azar para as duas Benettons: quando Nannini foi ao box efetuar a sua parada, um problema na embreagem fez com que o motor apagasse e logo em seguida apareceu Piquet com um pneu furado e com isso o atraso foi inevitável e seus dois pilotos acabaram de fora da casa dos pontos, com Piquet em sétimo e Nannini em oitavo. Gugelmin abandonou com o motor estourado na 24ª volta.
Após um período onde a Ferrari aproveitou bem os problemas da McLaren para cravar três vitórias com Prost, Senna e McLaren reagiram a tempo e consegguiram derrotar a Ferrari e Prost em dois territórios que mais parecia favorável ao carro italiano. Isso foi mais que importante para as pretensões do brasileiro rumar ao bi-campeonato, tanto que Senna agora somava dezesseis pontos a mais que Prost (72x56) na tabela de pontos. Berger ainda era o terceiro com 37; Boutsen o quarto com 27 e Piquet o quinto com 24.


A reação de Prost, o acidente em Suzuka e o GP 500 para Nelson Piquet
          
Estoril presenciou uma prova estonteante por parte da Ferrari que pela primeira vez no ano oferecia ao seu par de pilotos um carro extremamente bem acertado, que deixou Prost e Mansell um passo à frente das Mclarens nesse GP português. A começar pela disputa pela pole, onde Mansell respondeu à altura todas as tentativas de Prost e Senna em tomar-lhe a posição de honra. A verdade é que o piloto brasileiro não estava tão à vontade com esse carro em Estoril, tanto que por mais que tentasse, não conseguiu baixar da casa de 13’6 na classificação ocupando assim a terceira posição e tendo Berger ao seu lado. Prost é quem deu combate à Mansell, mas este estava mais veloz e garantiu a sua terceira pole no ano e a Ferrari voltava a ter dois carros na primeira fila desde o GP da Grã-Bretanha de 1988. A terceira fila era dividida entre Patrese e Piquet. Mauricio Gugelmin garantiu o 14º lugar. Já Moreno, não tem muito que fazer, a não ser esperar por dias melhores...
A corrida poderia ter sido um passeio das duas Ferraris se não fosse ímpeto exagerado de Mansell a espremer Prost contra o muro no melhor estilo “Senna-Estoril 1988”, quando o brasileiro fez a mesma manobra contra Alain. Mas o “Il Leone” pediria desculpas após a corrida, mas naquele momento os estrago estava feito: as duas Mclarens cortaram por fora e viraram a curva com a dobradinha Senna/ Berger, enquanto que Mansell seguia em terceiro e Prost caía para quinto ao ser ultrapassado por Piquet. Apesar do ceticismo frente aquele cenário, Mansell – que quase pôs tudo a perder quando bateu rodas com o Ligier de Phillippe Alliot, no momento que estava a colocar uma volta nele – recobrou a sua pilotagem e passou por Ayrton na 49ª volta, numa manobra que lembrou o de 1989 quando os dois se enroscaram e saíram da prova. Mas desta vez Senna estava mais consciente e viu que não valia a pena lutar contra um carro que
naquele momento estava muito superior à ele. Prost conseguiu recuperar-se ao passar por Berger que enfrentava problemas de câmbio na 58ª volta e começou alcançar Ayrton, quando a prova foi interrompida na 62ª passagem devido o acidente de Caffi que machucara os tornozelos e ficara impossibilitado de sair sozinho do carro. Para Senna foi um alívio e para Prost uma frustração, pois havia perdido mais dois pontos para o seu rival e agora a desvantagem subia para 18 no mundial. Essa prova renderia um bocado de reclamações por parte do francês, que chegou a dizer que “a equipe não tem direção nem organização para fazer um trabalho de equipe” e completou ao falar que “estava decepcionado com a Direção Esportiva da equipe que desperdiçou todo o trabalho feito pela equipe técnica”. De fato a paciência de Prost, que havia passado tanto tempo numa equipe tão bem organizada como a Mclaren, estava a explodir na equipe italiana. Mas a verdade é que isso aconteceria um ano depois...
Berger ainda conseguiu sustentar-se na quarta colocação, com Piquet chegando em quinto e Nannini em sexto. Para a Williams a prova foi bem atribulada, dentro e fora da pista: Patrese teve uma escapada e primeira curva e precisou trocar os pneus por duas vezes e Boutsen abandonou com problemas no motor na volta trinta. A equipe ainda tomaria um susto nos boxes, quando uma explosão deixou um mecânico machucado e Frank Williams caiu de sua cadeira por conta disso.  
Na Espanha, no travado circuito de Jerez De La Frontera, o susto e preocupação deram o tom daquele fim de semana: Martin Donnelly, ainda na primeira tomada de tempos, estava em sua volta rápida quando saiu direto para o guard-rail da curva Ferrari – que era feita de pé cravado – e destruiu totalmente a sua Lotus
ao bater. A pancada foi tão forte – num guard rail montado cerca de dois, três metros da pista – que o Donnelly foi projetado com banco e tudo para o meio da pista. A cena parecia de uma de uma bomba que acabara de explodir, com o Lotus apenas com a traseira quase que inteira e a frente inexistente e mais à frente, o corpo de Donnelly ainda amarrado ao banco. Apesar de toda a brutalidade, Martin ainda estava vivo e o Dr. Sid Watkins com sua equipe médica rapidamente o imobilizaram e o levaram para o Hospital Virgen Del Rocio, em Sevilha, onde foi diagnosticado várias fraturas nas pernas, pulmão perfurado, queixo fraturado e outros problemas mais. Porém Martin acabaria por salvar-se, felizmente.
Após toda essa tensão, os pilotos continuaram a classificação e Senna, no sábado, cravava mais uma pole, a 50ª da sua carreira, enquanto que teve um Alain Prost decidido que muito pouco não ficou com a primeira posição. Mansell e Alesi, que fizera um ótimo treino, eram os donos da segunda fila. Berger e Patrese estavam na terceira fila, com Boutsen e Piquet na quarta. Gugelmin aparecia em 12º e Moreno fica na pré, mais uma vez.
A disputa entre Senna e Prost decidiu-se nos boxes, mas não antes do francês passar 24 voltas atrás do piloto brasileiro por conta de não ter pontos claros de ultrapassagem nos outros pontos da pista. Apenas na reta dos boxes é que poderia conseguir algo, mas a melhor aceleração do motor Honda dava a chance de Ayrton abrir naquele trecho. Mas quando começaram as paradas de box, é que Alain deu o bote: ele parou na volta 24 e Senna na 25, mas o trabalho da Ferrari foi mais eficiente e quando Ayrton saía dos boxes as duas Ferrari iam à sua frente, mas ainda deu tempo dele recuperar-se sobre Mansell que descuidara após
deixar Prost passar. Alain alcançou e passou por Piquet, que liderava naquele momento e foi abrindo grande vantagem sobre Ayrton. O piloto brasileiro agüentaria bem no segundo posto até que um furo no radiador deu cabo a sua corrida na volta 53, deixando caminho aberto para que a Ferrari fizesse uma dobradinha que não acontecia desde o GP da Itália de 1988. Alessandro Nannini salvou um belo terceiro lugar, seguido por Boutsen, Patrese e Suzuki. Gugelmin terminou em oitavo e Piquet abandonou na volta 47 com problemas elétricos.
A diferença entre Senna e Prost caía para nove pontos (78x69) e o campeonato teria o seu primeiro “Match Point” num terreno que ambos conheciam bem: Suzuka.
Os últimos três anos de GP do Japão tinham sido de decisões: em 1987 as coisas resolveram-se ainda nos treinos quando Mansell espatifou a sua Williams nos esses e não pôde correr, adiantando o título para Nelson Piquet; em 1988 a fabulosa recuperação de Ayrton Senna após uma péssima largada, aonde ele veio a conquistar o seu primeiro mundial; e 1989, bem... Esse todos já sabem bem de que forma terminou e a verdade é que o mundial de 1990 mais pareceu uma continuação daquele desfecho de um ano antes, do que apenas um novo campeonato que partira do zero. E mais uma vez os dois protagonistas do ano anterior estavam frente à frente para o tal duelo, mas com a vantagem pendendo para Senna ao contrário que tinha sido em 89. Agora Prost era o franco atirador.
O GP de 1990 poderia render um livro, um filme talvez, tamanha tensão e pormenores que rolou durante aquela semana a começar pela quarta-feira quando os pilotos solicitaram a mudança da posição do pole para a parte mais limpa (a da esquerda), onde a tração é muito melhor. Para a Federação Japonesa estava tudo ok, mas a FISA interveio e não permitiu a troca, o que já enfureceu Ayrton e apesar de todos os pedidos do piloto brasileiro para a tal mudança, ela foi ignorada pelos homens da FISA – leia-se Jean Marie Balestre. As coisas pareceram piorar quando os comissários indicaram aos pilotos que, se caso passassem por sobre a faixa de entrada dos boxes, os mesmos seriam punidos, e para completar o quadro de recomendações – e isso foi o que mais enfureceu Ayrton – qualquer piloto que escapasse a chicane poderia voltar pelo atalho. Para Senna foi a gota d’água! Se um ano antes ele havia feito isso e tinha sido desclassificado, porque agora as coisas seriam diferentes? Até mesmo Nelson Piquet questionou essa mudança de regras, utilizando o exemplo do incidente do ano passado. Após isso, Ayrton deixou o briefing dos pilotos, mas não chegou a ouvir a os comissários que voltaram atrás dizendo que os pilotos deveriam voltar pelo lugar onde tinham escapado.
No sábado Senna anotara a sua 51ª pole e teria ao seu lado no domingo a presença de Prost, que sairia na parte mais aderente. Mansell e Berger formavam a segunda fila, com Boutsen e Piquet na terceira. Roberto Pupo Moreno foi chamado para substituir Alessandro Nannini, que dias antes sofrera um acidente de helicóptero e tivera uma parte do braço decepado, e agora saía em oitavo. Mauricio Gugelmin largaria em 15º. Jean Alesi não participou deste GP devido um acidente que sofrera na sexta-feira, quando o Tyrrell teve problemas na suspensão e bateu na primeira curva. As fortes dores no pescoço impossibilitaram-no de continuar no resto do fim de semana e consequentemente, na corrida. Outro piloto que fazia o seu retorno era Johnny Herbert, que substituía Martin Donnelly na Lotus. Não houve pré-qualificações, pois a EuroBrun e Life estavam de fora do restante do campeonato devido a falta de dinheiro – o que não faria falta também, uma vez que estavam apenas para fazer número e mais nada. Com isso a Coloni, AGS e Osella partiram direto para a classificação, mas não obtiveram nenhum lugar no grid.
Toda aquela animosidade gerada desde o GP do Japão de 1989 parecia ter se concentrado todo no GP daquele ano. Tudo que acontecera desde aquele dia em 1989, passando pelos julgamentos que aconteceram posteriormente, com as juras da FISA em suspender Ayrton caso ele fizesse algo de errado nos seis meses seguintes – ou nos três GPs que estavam em vigência naquele período, que eram os da Austrália (89), EUA e Brasil (90) – mais todas as reuniões e que aconteceram durante aquela semana em Suzuka, foram postas naquela largada. Quando a largada foi autorizada, Prost ganhou terreno como era de se esperar, mas Ayrton ganhou velocidade até a entrada da primeira curva. Alain abriu para o tangenciamento correto da curva, Senna mergulhou por dentro... e o choque entre os dois, onde os dois carros desapareceram no meio da densa poeira da caixa de areia da curva 1. O campeonato já estava decidido daquela forma a favor de Ayrton. As frustrações e tensões dos últimos meses tinham sido resolvidas em poucos metros.
A corrida transcorreu normalmente, apesar da espera por uma batalha entre os dois melhores pilotos da atualidade ter sido encerrada de uma forma não positiva para o esporte. Berger parecia ter agora a grande chance de vencer a sua primeira corrida pela McLaren, mas escapara na mesma curva 1 devido aos destroços do acidente de uma volta atrás. Mansell assumiu a dianteira e também parecia certo de uma vitória tranqüila, devido o seu grande passo frente as Benettons de Piquet e Moreno. Mas a sua parada para a troca de pneus foi desastrosa, não por parte da equipe, mas sim por ele, que arrancou com tudo e quebrou a transmissão. O caminho ficava aberto para a vitória de Piquet, a primeira dele em três anos – a sua última conquista tinha sido no GP da Itália de 1987 – uma segunda colocação para o bravo Roberto Moreno, que havia passado horrores durante o ano com aquele carro da EuroBrun durante a fase da “degola” que eram as pré-qualificações, e agora ele tinha um carro minimamente competitivo e mostrara de fato as suas qualidades. Completando o pódio, para a alegria do restante do público que ficara após o acidente da largada, Aguri Suzuki levara o seu Larrousse Lamborghini ao terceiro lugar. Ele era o primeiro japonês a conquistar o tal feito e ainda por cima em Suzuka. Não haveria melhor lugar para esse feito. Sem dúvida foi o melhor pódio da década de 90.
Completaram os sei primeiros, Patrese, Boutsen e Nakajima, que salvou um ponto para a Tyrrell – imaginem o que teria sido caso Alesi tivesse participado da corrida, uma vez que o seu trabalho nos treinos estava excelente ao marcar um tempo que o deixaria na terceira colocação no grid. Gugelmin abandonou na quinta volta devido a problemas no motor.
Quinze dias se passariam até a chegada do GP da Austrália no belo circuito citadino de Adelaide, onde a corrida de número 500 da F1 foi realizada. Apesar dos festejos pela tal marca, onde campeões mundiais de outras épocas estiveram presentes – como James Hunt, Jackie Stewart, Denny Hulme, Jack Brabham e Juan Manuel Fangio – o assunto decorrente era sobre o desfecho do mundial em Suzuka, onde os dois protagonistas falaram sobre o caso agora com o sangue mais frio e os pensamentos mais organizados: “Depois de duas semanas de repouso ainda continuo a ver o caso da mesma forma: foi um acidente de corrida, inesperado para mim naquelas circunstâncias. Mas aconteceu, e não havia muito que eu pudesse fazer no momento em que realizei que ia dar naquilo  quando o Prost decidiu voltar para a trajetória. Foi muito triste terminar a corrida assim.
Acho que quem não poderia arriscar, o que fez na hora errada. Ele abriu e sabia que eu tinha de tentar passar por dentro. Tentei e ele fechou a porta. Sei que estava numa posição difícil. Se entrasse por fora, eu o passaria por dentro na aproximação. Se fechasse demasiado a curva sairia por fora, e eu o passaria nessa altura. Deveria ter mantido a trajetória, porque tinha um carro muito melhor que o meu e muitas voltas para ganhar a corrida.
Mas tudo começou errado quando não quiseram trocar o lado da ‘pole position’”. Essa foi a fala de Ayrton Senna durante o fim de semana do GP australiano, ainda defendendo o seu ponto de vista onde para ele o acidente foi de corrida, mas que Prost poderia ter “colaborado” para não acontecer aquilo. Alain também falou, como era de esperar: “Estou absolutamente seguro que ele me bateu deliberadamente. 100% seguro. Foi numa curva que faço de pé em baixo, em 5ª marcha, e o que ele fez foi cortar a curva e bater na minha traseira. Vejam bem que ele não me bateu na roda, mas sim no meio do aerofólio traseiro, sem mesmo bater na roda. Literalmente empurrou-me por trás! Por isso não quero falar mais a este respeito, porque de nada serve para mim, para a F1 ou para o esporte. Tudo é muito ruim. Chegou a um ponto em que é muito difícil trabalhar e, como disse no Japão, isso pode-me levar a abandonar. Tenho filhos, um com 9 anos, e será muito desagradável sentir que ele pode pensar que estou a proceder de modo errado no esporte. Quero ver como as coisas podem e como a FISA pode controlar este tipo de acidentes, para me decidir continuar, até porque gostaria muito de continuar com a equipe Ferrari.” É de entender a revolta de Prost com tudo que aconteceu em Suzuka, mas por outro lado as movimentações nos bastidores em 89 lá mesmo no Japão, poderiam ter sido evitadas e talvez as conseqüências vistas quinze dias atrás em Suzuka, jamais teriam acontecido. Como se diz, toda ação gera uma reação.
Voltando ao fim de semana de Adelaide, Ayrton fez a 52ª pole da sua carreira e a décima na temporada. Berger fechou a primeira fila para a McLaren, enquanto que Mansell e Prost monopolizavam a segunda para a Ferrari. Alesi, recuperado do acidente em Suzuka, era o quinto com Patrese em sexto. Piquet e Moreno eram os donos da quarta fila e Gugelmin era o 16º.
Teoricamente a corrida poderia ter ficado nas mãos de Ayrton Senna, que comandou a prova num ritmo alucinante por 61 voltas. Era um ritmo tão brutal, que naquela altura do GP ele colocava sobre Nelson Piquet, o segundo, 27 segundos de vantagem. Mas aquele ritmo teria conseqüências para os pneus macios que resolver utilizar para aquela prova – aliás, foi a escolha da maioria do grid – quando a borracha começou a desgastar-se e aliando isso aos problemas de freios que ele tinha há várias voltas, tudo tornou-se ainda mais difícil. Senna abandonou na volta 61 por conta dos pneus, freios e um erro na troca de marchas. Talvez uma troca de pneus tivesse lhe dado uma sobrevida naquela prova.
Piquet foi o dono da tarde em Adelaide: senão bastasse a sua ótima performance até ali, assumiu a liderança quando Senna saiu da prova e agora teria que administrar bem os pneus e tentar cuidar do ímpeto de Nigel Mansell, que vinha num ritmo sensacional após ter trocado os pneus na volta 47. “Il Leone” ganhou terreno e um erro de Nelson, ao escapar num dos trechos do circuito, permitiu a aproximação de Nigel. Foi uma batalha interessantíssima pelas quatro voltas restantes, com Piquet a conseguir domar o seu velho rival. Mas Nigel... é Nigel. Não entregaria fácil aquela derrota até que tentou numa última cartada passar Piquet e Modena – que levava uma volta do brasileiro – no final da grande reta. Mansell até que conseguiu, mas passou reto após bloquear as rodas e deixou o caminho aberto para Nelson vencesse a sua segunda prova no ano e escrevesse seu nome como mais um vencedor de provas centenárias na F1. Mansell fechou em segundo, Prost em terceiro, Berger em quarto, Boutsen em quinto e Patrese em sexto. Moreno foi o sétimo e Gugelmin abandonou após uma escapada na volta 27.
O mundial de pilotos terminou com Ayrton Senna na liderança, 78 pontos; Prost em segundo com 71; Piquet e Berger empatados com 43, mas com a vantagem para o piloto brasileiro por ter duas vitórias; Mansell o quinto com 37 e Boutsen e sexto com 34. Roberto Moreno foi o 11º com 6 pontos e Mauricio Gugelmin fechou na 18ª posição com um ponto. No mundial de construtores a McLaren chegou ao terceiro campeonato consecutivo ao marcar 121 pontos contra 110 da Ferrari; em terceiro apareceu a Benetton com 71; em quarto a Williams com 57; em quinto a Tyrrell com 16 e sem sexto a Larrousse com 11.
Por mais que o desfecho pelo título mundial não tenha sido dos mais exemplares, o mundial de 1990 foi dos melhores. O equilíbrio oferecido por McLaren e Ferrari, com breves intromissões de Williams, Tyrrell, Benetton e até mesmo da Leyton House, foram importantes para tirar monopólio – que não estava a ser insosso, muito pelo contrário – das duas grandes e dar a disputa um interesse ainda maior. São nessas situações onde os protagonistas podem perder pontos e, consequentemente, os campeonatos.
Ayrton Senna e Alain Prost estiveram em grande forma, tendo passado por problemas e por fases sensacionais sem que as desperdiçassem. Também foi importante para vermos o surgimento e Jean Alesi, que já havia feito uma corrida de estréia em Paul Ricard um ano antes com muita segurança e arrojo, que foram confirmados com sua fabulosa exibição em Phoenix e no decorrer do mundial. Seria uma atração e tanto observá-lo a partir de 1991 nos carros da Ferrari. Nelson Piquet retomou o gosto pela pilotagem, agora com um carro mais decente, após dois terríveis anos na Lotus. As suas duas vitórias no campeonato, especialmente a de Adelaide, apenas mostrava que o velho tri-campeão ainda sabia bem como comandar a dianteira de uma corrida. Para Roberto Pupo Moreno, que havia passado quase todo ano no sofrimento com a EuroBrun, as duas corridas finais foi uma bela oportunidade que ele agarrou com as duas mãos e o seu pódio em Suzuka foi o presente pelo esforço de uma carreira cheia de percalços. A
Williams começaria ali em 1990 uma evolução que seria muito bem vista em 91, com um carro com a assinatura de Adrian Newey e a bravura de um Nigel Mansell agora com o tratamento de primeiro piloto. O horizonte que se desenhava para eles era dos mais promissores.
A McLaren e Senna teriam um ano ainda mais trabalhoso para 1991.

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