Foto: Dani Carmona/ Reuters
Deveriamos ficar maravilhados e lisonjeados por termos
acompanhado a carreira de Michael Schumacher no seu mais alto nível. Imagino o
quanto que deve ter sido legal para os mais antigos que tiveram a oportunidade
de ter visto Rocky Marciano, George Foreman, Muhammad Ali, grandes lendas do
boxe. Ou então terem acompanhado a carreira de gigantes do futebol como Alfredo
Di Stéfano, Pelé, Garrincha, Franz Beckenbauer... E até do tênis, como Maria
Ester Bueno, Jonh McEnroe, Bjorn Borg, Martina Navratilova, Steffi Graf, Monica
Seles... apenas para citar alguns dos grandes nomes do esporte. Michael Schumacher conseguiu seu lugar ao sol
numa era onde a Fórmula-1 começava a sofrer a sua metamorfose dos resquícios do
automobilismo romântico, de improvisos, aventureiros e de desafios para uma
Formula-1 de alta tecnologia, precisão, profissionalismo que beira uma chatice
às vezes que reflete exatamente no andamento da categoria, a deixando um tanto
distante das eras mais humanas de onde a categoria surgiu. Os passos de
Schumacher, com a sua frieza e poder de organização que ajudou a Ferrari a se
reerguer do caos que ela enfrentava até a sua chegada, foi um protótipo do que
vemos hoje na atual Fórmula-1.
Olhar a carreira de Schumacher após as suas duas passagens,
sendo a primeira, de longe, muito mais vitoriosa, chega ser difícil quantificar
a magnitude de seus feitos que transformaram os números da categoria em grandes
objetos de desejo, mesmo que os superstars do momento não admitam querer bater seus
feitos. Mas a verdade é que suas conquistas extrapolaram todos os prognósticos
de uma categoria que havia tido alguns recordes emblemáticos até inicio da
década passada como inalcançáveis. Falar que o recorde de títulos de Fangio
(5), os de vitória de Prost (51) e os de pole de Senna (65) fossem batidos, as
discussões e até mesmo alguma ironia seria proferida. Michael não apenas as
bateu como deu um novo sentido a estas marcas, deixando categoria, fãs,
jornalistas e até mesmo quem acompanhava de longe a F-1, abismados com números
dilatados que o piloto alemão havia os transformado. Mas para isso ele montou
um “bunker” em Maranello e orquestrou tudo junto de outros grandes nomes como
Jean Todd, Ross Brawn, Rory Byrne – isso sem contar a cabeça pensante Luca Di
Montezemolo, que já havia começado a reformulação na Ferrari quando assumiu a
presidência da marca e trouxe Todd para comandar a equipe a partir de 1993. As
frustrações passadas entre 1996 e 1999 transformaram num período frutífero que
elevou o nome de Schumacher além da estratosfera. Vencer aquele número de
campeonato, sendo dois deles praticamente um passeio sobre os rivais (2002 e
2004), mostrou que o alemão estava muito acima dos demais – e até mesmo de
outros pilotos do passado. Se algum outro piloto quiser a receita do sucesso,
os passos de Michael Schumacher estão aí para serem dissecados ao máximo.
Costumo dizer que Michael
Schumacher estava dois degraus acima dos demais. Não é um desprezo ou
desmerecer a carreira e os esforços daqueles que o enfrentaram entre 1994 até 2006, longe disso. Schumacher
estava num nível absurdamente tão a frente dos demais, que os títulos que ele
perdeu em 97, 98 e 99 - especialmente 97 e 98, já que 99 ele fez meia temporada
por conta do seu acidente em Silverstone - foram mais para os carros de seus
oponentes do que exclusivamente para o talento destes - ok, Mika Hakkinen foi o
melhor deles naquele período 1994/ 2000, mas mesmo assim o ótimo finlandês estava um degrau abaixo
do talento voraz de Michael Schumacher.
Isso faz uma diferença impressionante e no decorrer dos anos que se seguiram foi ainda mais absurdo, com um Schumacher implacável e destruidor a ponto de fazer seus rivais errarem facilmente quando viam o capacete vermelho no retrovisor. O pobre Kimi Raikkonen, ainda jovem, sofreu isso quando estava prestes a vencer seu primeiro GP na F1 quando escorregou no óleo do Toyota de Allan McNish em Magny-Cours, no ano de 2002 na exata prova que Schummy garantiu seu quinto mundial. Mas podemos dizer, também, que ele teve rivais que puderam desafiar o seu reinado e até com certo sucesso, como foi o caso de Fernando Alonso – que chegou bater o alemão em 2006, numa das melhores temporadas dos anos 2000 – os mais os desafios lançados por caras como Kimi Raikkonen e Juan Pablo Montoya, que lhe deram um calor no ano de 2003. Mesmo assim, ele estava no topo do restante dos pilotos ao fazer a sua derradeira temporada de forma esplendorosa – corridas como a da Hungria, China e Brasil comprovam isso. Porém, apesar de parecer infalível na maior parte de sua história, Michael tinha seus dias ruins: os erros em Mônaco 1996, Canadá 1999, Austrália 2005 são alguns do que podemos citar.
Nunca fui um grande fã de Schumacher, mas uma coisa que tem
de ser dito é saber reconhecer o grande piloto que ele foi. Dominar a F1 como
ele fez desde o inicio de 1994 até o final de 2006, mesmo quando não tinha o
melhor carro entre as equipes de ponta, mostrou o quanto que alemão estava
muito a frente dos demais. O seu retorno em 2010, numa forma de gratidão ao que
Mercedes fez por ele no inicio de carreira, foi mais um desfile apoteótico e
curtição do que uma busca por ampliar suas já incríveis marcas. Mas ele ainda
teve tempo de mostrar que ainda poderia render algo com a sua pole fenomenal em
Monte Carlo 2012, que acabou não dando em nada já que teria de pagar cinco
lugares de penalização após causar um acidente no GP da Espanha. De toda forma,
para quem não havia o visto pilotar, foi uma boa a sua segunda passagem para
que os mais jovens pudessem ver um pouco da sua finesse – mesmo que ele não
tenha sido aquele Schumacher de outrora.
Não dá para saber se terá acesso a todos os tributos que
serão feitos a ele neste dia que completa 50 anos, mas a verdade é que terá
sempre uma grande torcida, mesmo daqueles que não torciam por ele nas pistas.
De toda forma, as homenagens ao cara que transformou a F-1 serão imensas. E ele
merece.
#KeepFighting Michael Schumacher!
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