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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Sobre as 24 Horas de Daytona e Fernando Alonso



É claro que é um tanto tarde para falar sobre as 24 Horas de Daytona. Uma que eu estava em Interlagos neste fim de semana trabalhando na abertura da temporada do Campeonato Paulista de Automobilismo e outra que os últimos dias tem sido corridos, portanto o tempo tem sido bem escasso. Tanto que nem tive tempo de ver os melhores momentos da prova. Mas pude ler os comentários via Twitter – assim como os vídeos por lá –  e também alguns textos. A partir disso, meio que as cegas, vou procurar ser breve no texto.
Com tanto bons pilotos bem distribuídos pelas equipes, principalmente entre os DPi, era de se esperar uma corrida de alta qualidade e foi o que se confirmou. Para quem presenciou as atuações de Fernando Alonso, Helio Castroneves, Alexander Rossi, Jordan Taylor, Felipe Nasr, Pipo Derani, Kamui Kobayashi, Juan Pablo Montoya e tantos outros, não tem do que se queixar. Principalmente ao ver duelos memoráveis de Alonso vs Castroneves e Jordan Taylor vs Pipo Derani em meio a um aguaceiro de fazer inveja ao dilúvio universal. Aliás, a chuva torrencial acabou por roubar, talvez, o grande momento que seria aquela última hora e meia de corrida num possível duelo entre Nasr e Alonso pela ponta da corrida. Infelizmente o brasileiro acabou errando e Fernando aproveitando bem a chance para assumir a liderança num momento que tornaria-se crucial, já que a prova seria interrompida minutos depois. Apesar de sabermos sempre e também lembrarmos aos demais que corridas de endurance o conjunto é que se faz o forte para este tipo de competição, não podemos, também, deixar de destacar quando algum piloto faz a diferença no volante. Por tantas vezes destacamos, por exemplo, as atuações alucinantes e letais de Pipo Derani que pilotava de forma mágica nos seus turnos finais para arrancar vitórias marcantes e importantes. Nestas 24 Horas de Daytona foi Fernando Alonso quem teve seu grande destaque ao fazer turnos importantes para que o Cadillac #10 se mantivesse na dianteira da prova: o seu primeiro turno, ao pegar o carro da mão de Jordan Taylor na nona colocação e entregar para Kobayashi  na liderança da prova em torno de 16/ 18 segundos de vantagem para o segundo colocado – após duelar fantasticamente com Helinho – e depois assumir o comando do carro após o turno de Van Der Zande e andar até três segundos mais veloz que os outros que vinham em seguida já no meio de uma chuva pesada, só mostra o quanto que o espanhol ainda tem lenha para queimar. E claro, é que se espera dele em qualquer que seja as condições. Mas sempre devemos lembrar – sempre – que ele não estava sozinho no carro.
Apesar de não ter tido o resultado esperado, Alessandro Zanardi continua a nos inspirar, queira num carro de corrida ou nos handcycling. Ao assumir o comando do BMW M8 adaptado, Zanardi passou a ser um dos pilotos mais comentados da prova exatamente por sua perseverança e também pela velocidade, que não deve em nada para os demais. Infelizmente problemas no volante – que acabou tendo que ser trocado toda a barra de direção – acabou por limitar o quarteto.  Zanardi ainda foi extremamente elegante ao elogiar as atuações de fizeram!”. Mesmo que não tenha as dez pernas, ainda sim é um grande piloto e claro, um dos maiores exemplos do esporte mundial.
Por  falar em Farfus, este foi o brasileiro com melhor sorte ao vencer a prova na categoria GT Le Mans. O BMW M8 #25 foi conduzido por Farfus, Connor De Phillipi, Philip Eng e Colton Herta assumiu a liderança pouco antes da interrupção, quando o Ford GT #67 de Richard Westbrook, Ryan Briscoe e Scott Dixon precisou ir aos boxes para um rápido reabastecimento. Não apenas custou uma possível vitória, como também o pódio ao fecharem em quarto na classe.
Ainda sobre os brasileiros, além da segunda colocação de Nasr e Derani (e mais Eric Curran) com o Cadillac #31, Rubens Barrichello fechou em quinto com o Cadillac #85 da JDC – isso, sem contar que tiveram um acidente e foram recuperando. Talvez tivessem tido melhor sorte caso não acontecesse o acidente. Na sua despedida das pistas, Christian não teve melhor sorte por conta de problemas no seu Cadillac #5 que limitaram bastante o desempenho do trio, deixando-os na nona colocação. Para os demais brasileiros que estavam na classe GTD, a sorte não os acompanharam: mesmo tendo marcado a pole na classe, com Marcos Gomes ao volante, a trinca brasileira (Gomes, Chico Longo e e Victor Franzoni) mais o italiano Andrea Bertolini, despencaram na classificação e se recuperaram para fechar em sétimo na classe; o Acura com tripulação 100% feminina – que contou com Bia Figueiredo entre as garotas – teve contratempos e fechou em 13º; Daniel Serra não teve grandes hipóteses na prova ao ter o Ferrari #51 com a suspensão quebrada quando Paul Dalla Lana estava ao volante.

A caminhada de Fernando Alonso

Michael Levitt/ Images LAT

Esta conquista de Fernando Alonso em Daytona o coloca num quadro dos mais interessantes, juntando-se a grandes nomes do passado: tornou-se o terceiro campeão de F1 a vencer a clássica americana (Phill Hill em 1960 e Mario Andretti em 1972 foram os outros dois a conseguirem o tal feito); passa a ficar apenas de uma vitória de igualar A.J Foyt (que venceu as 24 Horas de Le Mans, 24 Horas de Daytona e Indy 500), isso sem contar que caso vença em Indianapolis, não apenas igualará Foyt como também Graham Hill na sua tão cobiçada Triplice Coroa (24 Horas de Le Mans, GP de Mônaco e Indy 500).
Por outro lado sabemos bem que caso ele tivesse conquistado tudo na Fórmula-1, dificilmente veríamos o espanhol em outras praças tentando estes feitos. Por outro lado, os acontecimentos na carreira de Alonso acabaram lhe abrindo a mente para outras “drogas” e isso tem feito muito bem a ele e também para o esporte: contar com um piloto de renome em provas importantíssimas do automobilismo mundial dá aos fãs dele e também de outras categorias a chance de conhecer melhor outros mundos. Principalmente para o fã árduo da Fórmula-1 que tem uma mente um tanto fechada para com outras categorias.
Apesar de ser chato em algumas situações o tanto que falam sobre o Fernando Alonso, também entendo a enorme má vontade que boa parte tem para com ele. Chega ser até engraçado – e ridículo também – ver comentários onde pessoas chegam creditar a vitória apenas ao piloto A ou B, ignorando a performance elogiadíssima de Alonso em Daytona. Como disse no texto anterior, ninguém ganha uma prova de endurance sozinho já que o conjunto num todo é importante para o sucesso da equipe e nem perde sozinho também, porém uma atuação de determinado piloto pode sim fazer a diferença na parte final do resultado. Por mais que se rasguem de raiva, este foi o caso do final de semana passado – mas nunca sem desmerecer o trabalho de seus parceiros de equipe Jordan Taylor – que foi igualmente brilhante na chuva –, Kamui Kobayashi e Van Der Zande – que sustentaram bem o Cadillac entre os primeiros nos seus turnos.
A verdade é que Alonso continua em grande forma e em maio terá seu desafio supremo na Indy 500, onde poderá alcançar para já ou não a sua tão sonhada Triplice Coroa.

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