É claro que é um tanto tarde para falar sobre as 24 Horas de
Daytona. Uma que eu estava em Interlagos neste fim de semana trabalhando na
abertura da temporada do Campeonato Paulista de Automobilismo e outra que os
últimos dias tem sido corridos, portanto o tempo tem sido bem escasso. Tanto
que nem tive tempo de ver os melhores momentos da prova. Mas pude ler os
comentários via Twitter – assim como os vídeos por lá – e também alguns textos. A partir disso, meio
que as cegas, vou procurar ser breve no texto.
Com tanto bons pilotos bem distribuídos pelas equipes, principalmente
entre os DPi, era de se esperar uma corrida de alta qualidade e foi o que se
confirmou. Para quem presenciou as atuações de Fernando Alonso, Helio
Castroneves, Alexander Rossi, Jordan Taylor, Felipe Nasr, Pipo Derani, Kamui
Kobayashi, Juan Pablo Montoya e tantos outros, não tem do que se queixar.
Principalmente ao ver duelos memoráveis de Alonso vs Castroneves e Jordan
Taylor vs Pipo Derani em meio a um aguaceiro de fazer inveja ao dilúvio
universal. Aliás, a chuva torrencial acabou por roubar, talvez, o grande
momento que seria aquela última hora e meia de corrida num possível duelo entre
Nasr e Alonso pela ponta da corrida. Infelizmente o brasileiro acabou errando e
Fernando aproveitando bem a chance para assumir a liderança num momento que
tornaria-se crucial, já que a prova seria interrompida minutos depois. Apesar
de sabermos sempre e também lembrarmos aos demais que corridas de endurance o
conjunto é que se faz o forte para este tipo de competição, não podemos,
também, deixar de destacar quando algum piloto faz a diferença no volante. Por
tantas vezes destacamos, por exemplo, as atuações alucinantes e letais de Pipo
Derani que pilotava de forma mágica nos seus turnos finais para arrancar
vitórias marcantes e importantes. Nestas 24 Horas de Daytona foi Fernando
Alonso quem teve seu grande destaque ao fazer turnos importantes para que o
Cadillac #10 se mantivesse na dianteira da prova: o seu primeiro turno, ao
pegar o carro da mão de Jordan Taylor na nona colocação e entregar para
Kobayashi na liderança da prova em torno
de 16/ 18 segundos de vantagem para o segundo colocado – após duelar
fantasticamente com Helinho – e depois assumir o comando do carro após o turno
de Van Der Zande e andar até três segundos mais veloz que os outros que vinham
em seguida já no meio de uma chuva pesada, só mostra o quanto que o espanhol
ainda tem lenha para queimar. E claro, é que se espera dele em qualquer que
seja as condições. Mas sempre devemos lembrar – sempre – que ele não estava
sozinho no carro.
Apesar de não ter tido o resultado esperado, Alessandro
Zanardi continua a nos inspirar, queira num carro de corrida ou nos
handcycling. Ao assumir o comando do BMW M8 adaptado, Zanardi passou a ser um
dos pilotos mais comentados da prova exatamente por sua perseverança e também
pela velocidade, que não deve em nada para os demais. Infelizmente problemas no
volante – que acabou tendo que ser trocado toda a barra de direção – acabou por
limitar o quarteto. Zanardi ainda foi
extremamente elegante ao elogiar as atuações de fizeram!”. Mesmo que não tenha
as dez pernas, ainda sim é um grande piloto e claro, um dos maiores exemplos do
esporte mundial.
Por falar em Farfus,
este foi o brasileiro com melhor sorte ao vencer a prova na categoria GT Le
Mans. O BMW M8 #25 foi conduzido por Farfus, Connor De Phillipi, Philip Eng e
Colton Herta assumiu a liderança pouco antes da interrupção, quando o Ford GT
#67 de Richard Westbrook, Ryan Briscoe e Scott Dixon precisou ir aos boxes para
um rápido reabastecimento. Não apenas custou uma possível vitória, como também
o pódio ao fecharem em quarto na classe.
Ainda sobre os brasileiros, além da segunda colocação de
Nasr e Derani (e mais Eric Curran) com o Cadillac #31, Rubens Barrichello
fechou em quinto com o Cadillac #85 da JDC – isso, sem contar que tiveram um
acidente e foram recuperando. Talvez tivessem tido melhor sorte caso não
acontecesse o acidente. Na sua despedida das pistas, Christian não teve melhor
sorte por conta de problemas no seu Cadillac #5 que limitaram bastante o
desempenho do trio, deixando-os na nona colocação. Para os demais brasileiros
que estavam na classe GTD, a sorte não os acompanharam: mesmo tendo marcado a
pole na classe, com Marcos Gomes ao volante, a trinca brasileira (Gomes, Chico
Longo e e Victor Franzoni) mais o italiano Andrea Bertolini, despencaram na
classificação e se recuperaram para fechar em sétimo na classe; o Acura com
tripulação 100% feminina – que contou com Bia Figueiredo entre as garotas – teve
contratempos e fechou em 13º; Daniel Serra não teve grandes hipóteses na prova
ao ter o Ferrari #51 com a suspensão quebrada quando Paul Dalla Lana estava ao
volante.
A caminhada de Fernando Alonso
Michael Levitt/ Images LAT |
Esta conquista de Fernando Alonso em Daytona o coloca num quadro dos mais interessantes, juntando-se a grandes nomes do passado: tornou-se o terceiro campeão de F1 a vencer a clássica americana (Phill Hill em 1960 e Mario Andretti em 1972 foram os outros dois a conseguirem o tal feito); passa a ficar apenas de uma vitória de igualar A.J Foyt (que venceu as 24 Horas de Le Mans, 24 Horas de Daytona e Indy 500), isso sem contar que caso vença em Indianapolis, não apenas igualará Foyt como também Graham Hill na sua tão cobiçada Triplice Coroa (24 Horas de Le Mans, GP de Mônaco e Indy 500).
Por outro lado sabemos bem que caso ele tivesse conquistado
tudo na Fórmula-1, dificilmente veríamos o espanhol em outras praças tentando
estes feitos. Por outro lado, os acontecimentos na carreira de Alonso acabaram
lhe abrindo a mente para outras “drogas” e isso tem feito muito bem a ele e
também para o esporte: contar com um piloto de renome em provas importantíssimas
do automobilismo mundial dá aos fãs dele e também de outras categorias a chance
de conhecer melhor outros mundos. Principalmente para o fã árduo da Fórmula-1
que tem uma mente um tanto fechada para com outras categorias.
Apesar de ser chato em algumas situações o tanto que falam
sobre o Fernando Alonso, também entendo a enorme má vontade que boa parte tem
para com ele. Chega ser até engraçado – e ridículo também – ver comentários
onde pessoas chegam creditar a vitória apenas ao piloto A ou B, ignorando a performance
elogiadíssima de Alonso em Daytona. Como disse no texto anterior, ninguém ganha
uma prova de endurance sozinho já que o conjunto num todo é importante para o
sucesso da equipe e nem perde sozinho também, porém uma atuação de determinado
piloto pode sim fazer a diferença na parte final do resultado. Por mais que se
rasguem de raiva, este foi o caso do final de semana passado – mas nunca sem
desmerecer o trabalho de seus parceiros de equipe Jordan Taylor – que foi
igualmente brilhante na chuva –, Kamui Kobayashi e Van Der Zande – que sustentaram
bem o Cadillac entre os primeiros nos seus turnos.
A verdade é que Alonso continua em grande forma e em maio
terá seu desafio supremo na Indy 500, onde poderá alcançar para já ou não a sua
tão sonhada Triplice Coroa.
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