Havia certo ceticismo em volto de toda a reformulação que a
Ferrari iniciava naquele segundo semestre de 2014. Toda a troca da parte técnica
e saída de outros membros poderia soar como um processo lento, que teria um
longo caminho a ser percorrido até a chegada ao topo, mas, por outro lado,
porque não apostar em alguma cartada para 2015? Seria difícil, como já foi
dito, principalmente após as declarações de Maurizio Arrivabene ao final do ano
passado quando ele indicava que a Ferrari não estaria num patamar aceitável
para brigar na frente, devido atrasos no projeto. Porém, quando estava às
portas do início da pré-temporada, chegou algumas declarações de James Allison
sobre mudanças profundas no projeto do carro. Será que havia acertado a mão? Os
quatro dias de testes em Jerez mostraram uma Ferrari veloz e com a
confiabilidade – que já era algo muito bem conhecido por todos – em grande
forma e o passo apresentado por Vettel e Raikkonen naqueles dias, deixava os
fãs ainda mais confiantes. Mas, até onde poderiam ir? Apesar dos outros oito
dias em Barcelona onde a equipe tenha feito um bom trabalho, mesmo não sendo
vistoso como em Jerez, o carro ainda mostrava uma boa consistência. Como em
todo início de ano, as respostas viriam nessas primeiras provas.
Na Austrália uma prova muito forte de Vettel e a velocidade
de Raikkonen, apesar dos contratempos que ele tivera, que culminaram em seu
abandono, mostraram um passo bem diferente do que o de 2014, apesar de ter chegado
mais de trinta segundos do vencedor Lewis Hamilton. Apesar do muito trabalho a
ser feito, tinha algo a mais no ar.
A mágica volta de classificação de Vettel que o colocou na
segunda colocação em Sepang, foi um indício dessa melhora, principalmente pelo
fato da equipe ter estreado um novo pacote aerodinâmico nesta corrida. Os
resultados dessa melhora ficaram ainda mais evidentes nas primeiras voltas,
quando Hamilton não conseguiu distanciar de Sebastian o suficiente. O erro de
Ericsson ao final da reta dos boxes, que deixou seu Sauber atolado na brita,
mudou o panorama da competição quando as Mercedes foram aos boxes e deixou
caminho aberto para Vettel abrir uma boa distância que foi cuidadosamente
administrada de forma brilhante pelo piloto alemão, que chegou ao seu primeiro
triunfo a serviço da Ferrari, tirando ambos de um jejum de mais de um ano sem
vitórias. Uma condução perfeita, num momento em que seu carro ainda tinha um
caminho a percorrer até alcançar a Mercedes.
A verdade é que a Ferrari está em outro plano neste momento,
se compararmos aos últimos anos. Um ar mais leve e com os pés no chão,
procurando reconhecer a forças das demais equipes, mas procurando melhorar
constantemente. Temos que reconhecer, também, que a mudança na parte técnica foi
a tacada perfeita para a melhora considerável deste time. O trabalho sólido de
James Allison à frente desse projeto – o primeiro que leva a sua real
assinatura – tem um DNA forte dos Lotus que ele ajudou a projetar,
principalmente no que diz respeito à economia dos pneus que tem sido algo vital
nessa atual F1.
E sobre Sebastian Vettel, a vitória deste pode ser o início
de uma fase de grandes conquistas para ambas as partes. E como disse em um
comentário dias atrás, o fato de um piloto fora de série ter em suas mãos um
carro superior aos demais, mascara bastante o seu potencial a ponto de muitos
duvidarem do que é capaz. Mas quando está em posse de carros não tão
competitivos, seu talento passa a ser mais vistoso e isso contribui muito para
que caia os mitos que o cercavam.
Do mesmo que Senna, Schumacher e Alonso, Vettel pode ter a grande chance de
calar seus críticos aos vencer com um carro que não seja o melhor do momento. E
assim que a lendas vão se formando no automobilismo.
E gosto desta situação.
A corrida
Quem diria que a Mercedes seria derrotada logo na segunda
prova do ano, e pior: de uma forma convincente pela Ferrari. A verdade é que os
prateados erraram um bocado desde o primeiro pit-stop, adiantando o trabalho e
deixando caminho aberto para Vettel sumir e fazer com que Hamilton e Rosberg
perdessem tempo atrás de carros não tão competitivos. E os erros continuaram
quando Hamilton poderia ter arriscado andar com pneus médios e tentado
importunar Sebastian, mas isso não foi possível. Não fosse tudo isso, teriam
dificultado bastante a vida de Vettel, mas a derrota é um sinal que não poderão
perder o foco se quiserem realmente se manter no topo. Porém, ficou claro que
os erros de estratégia do passado ainda estão ali, sendo encobertados com a
excepcional jornada de 2014 e um velho inimigo reapareceu também: o desgaste
excessivo dos pneus.
Se a Williams achava que estava no encalço da Mercedes, essa
prova malaia alertou-os ainda mais ao mostrar a Ferrari um degrau acima deles. E
isso será ainda mais trabalhoso do que ano passado. As provas apagadas de Massa
e Bottas, mostram que o carro ainda tem muito o que evoluir para chegar na cola
da Ferrari.
Outro destaque é a grande performance dos carros da Toro
Rosso, fazendo lembrar a temporada que esta teve em 2008 quando esteve à frente
da filial. Agora, sete anos depois, voltam a ficar em evidência e dar a sua
jovem dupla de pilotos claras condições de lutar por pontos com mais
constância.
A Malásia revelou um novo cenário que há cerca de quinze
dias era impensável, de que a Mercedes teria um rival à altura. Talvez não
esteja (ainda) no mesmo nível de excelência da equipe alemã, mas a verdade é
que Vettel beliscará uma prova e outra dos prateados. E esse sinal já está
piscando para o duo da Mercedes.