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quinta-feira, 15 de junho de 2023

Foto 1032 - James Hunt, GP da Holanda 1973

 



James Hunt durante os treinos livres para o GP da Holanda de 1973, então 10ª etapa. A parte interessante nesta foto é o piloto britânico fazendo uso de um capacete de face aberta, algo que já era totalmente raro naquele estágio da década de 1970.

James teve um final de semana positivo, tendo largado em sétimo e ficado por toda a prova entre os cinco primeiros. Subiu na classificação com as desistências de José Carlos Pace - que saiu de oitavo e já estava em terceiro na primeira volta, mas o desgaste dos pneus de seu Surtees é intenso a troca é inevitável, fazendo com que caia para 17° na classificação após a parada. Pace acabou por fazer uma bela prova de recuperação, terminando em sétimo - e de Ronnie Peterson, que parecia estar intocável na liderança até a quebra do câmbio.

Infelizmente essa prova é a que marcou a morte de Roger Williamson com o acidente na oitava volta.

Para James Hunt essa foi o seu primeiro pódio e da equipe Hesketh, exatamente onde dois anos depois eles venceriam o seu primeiro GP.

Hoje completa exatos 30 anos da morte de James Hunt após um infarto. 

domingo, 24 de outubro de 2021

GP do Japão de 1976: Muito além da decisão


A largada para uma prova para lá de cáotica em Fuji
(Foto: Motorsport Images)

Quando a Fórmula-1 chegou ao circuito de Fuji para a derradeira etapa da temporada de 1976, a única coisa que se passava pela mente dos demais era sobre a decisão de um campeonato que havia mudado de feição em algumas oportunidades: primeiramente esperava-se que Niki Lauda e Ferrari tivessem o campeonato sob total controle, mesmo com a crescente da Mclaren e James Hunt durante o certame. Porém, o terrível acidente de Lauda em Nurburgring deu ao mundial novos rumos: Hunt aproveitou-se bem da melhora do M23 da Mclaren e partiu para tirar a confortável vantagem de seu rival que ainda lutava pela vida. O retorno de Lauda no GP da Itália e mais a sua quarta colocação nesta prova - aliado ao abandono de Hunt -, mostrava que o mundial ainda estava na rota do austríaco, mas as duas corridas seguintes em Mosport (Canadá) e Watkins Glen (EUA) foram vencidas por James enquanto que Lauda marcava apenas quatro pontos nessas duas etapas. A diferença de 17 pontos que separavam os dois pilotos após o GP italiano, agora estava por apenas três pontos à favor de Lauda (68 x 65). 

Fuji seria o grande palco para esta decisão, mas ao mesmo tempo teria a sua própria história o que daria tons ainda mais dramáticos para uma corrida extremamente tensa.

Bernie Ecclestone no comando

Esta prova no Japão era a segunda a estrear no calendário daquele 1976: Long Beach foi o palco da terceira prova do campeonato e fez a sua estréia na categoria, realizando um sonho antigo de Chris Pook que promoveu a corrida e desenhou o traçado que recortava a bela cidade californiana - era a vontade de Pook em transformar essa prova em uma "American Monaco" e que de certa forma ganharia uma bela popularidade no decorrer dos anos, até que a ganância de Bernie Ecclestone colocasse tudo a perder quando quando exigiu mais dinheiro de Chris para renovação do contrato a partir de 1984. 

Bernie Ecclestone já era um pilar importantíssimo na categoria naquele período ao assumir o controle dos interesses das equipes particulares desde o inicio dos anos 1970. Por conta disso, sua figura não era bem vista pelos homens da FIA/ CSI e acabaria por desencadear uma batalha pelo controle dos contratos com os organizadores dos GPs, coisa que Ecclestone, muito astuto, passou a representar as equipes - é claro que as equipes particulares sempre ficaram escanteadas quando os contratos com os organizadores de GPs eram feitos na presença da CSI e Ferrari. Portanto, a guerra pelo dinheiro que entrava nos contratos assinados para levar a Fórmula-1 era o grande pano de fundo. 

A corrida no Japão não foi diferente e em julho de 1976, durante o final de semana do GP da França, Bernie reuniu-se com os representantes japoneses e exigiu deles algumas garantias, como o pagamento de todo transporte para Fuji. Caso isso não fosse possível, as equipes integrantes da F1CA (Formula 1 Constructors Association) não iria para a corrida - uma artimanha que ele usou por muitas décadas e funcionando em quase todas. 

Um pouco antes disso, numa tentativa de colocar alguém que pudesse confrontar Ecclestone, Pierre Ugeux, então Presidente da CSI (Commission Sportive Internationale) achou em Patrick Duffeler essa figura que podia fazer frente a Bernie nas negociações. Sua escolha era a melhor, diga-se: Duffeler esteve a frente da entrada da Marlboro na Fórmula-1 via BRM, para depois desembarcar na Mclaren onde começou a render frutos com a conquista de Emerson Fittipaldi em 1974 - também é preciso ser dito que o nome de Duffeler foi indicando em conjunto com Fritz Huscke von Hanstein, ex-piloto e um dos conselheiros da CSI, que nutria nenhuma simpatia por Ecclestone. Outro ponto interessante é que Patrick era amigo de Bernie e chegou tentar levara a Marlboro para patrocinar a Brabham já em 1973, mas a negociação, que foi tratada como tensa, acabou fracassando na ocasião. 

Voltando às tratativas para a prova no Japão, a primeira cartada de Duffeler foi aconselhar os japoneses a não aceitar o que foi pedido por Bernie. Porém, o outro braço de Bernie, Max Mosley, entrou em ação para negociar com Patrick - sem que Pierre Ugeux soubesse - uma situação que fosse boa para ambos os lados. Mas com a corrida para ser feita dentro três meses e levando em conta a possível ameaça de Bernie, os japoneses acabaram aceitando pagar um pouco mais para realizar o GP pela primeira vez. Uma cartada e tanto do inglês... 

Mais a frente, quando corria-se o final de semana do GP dos EUA em Watkins Glen, Bernie Ecclestone tinha a crença de que aquele mundial seria definido apenas na derradeira etapa - justamente o GP no Japão - e se ateve a isso para que o evento em Fuji fosse televisionado. O que acontece é que houve algumas discussões em torno da longa viagem para lá e também por conta das propagandas de cigarros e bebidas - isso já havia causado uma certa confusão no GP de Mônaco daquele ano quando a TV francesa se recusou a transmitir a etapa. Mas desta vez, talvez calejado por aquele problema em Monte Carlo, Bernie jogou com a possibilidade de se ganhar muito com aquelas propagandas sendo mostradas, afinal um público estaria atento para a decisão do campeonato - e também - com um certo potencial de consumo.  

A European Brodcasting ficou responsável pela geração das imagens e a BBC, que confrontou a ideia inicial, acabou cedendo e transmitiria a prova. 

Apesar das inúmeras críticas que possam ser feitas a Bernie Ecclestone, o seu faro comercial jamais pode entrar nessa conta. Era um negociante nato. 

Teste secreto, cascalhos e grades para a Ferrari

Alastair Caldwell, Teddy Mayer e James Hunt em 1976
(Foto: Motorsport Magazine)

A Mclaren estava a face de disputar pela terceira vez em sua história um título mundial na Fórmula-1. Havia provado este gosto em 1974 com Emerson Fittipaldi e passado perto em 1975 novamente com o brasileiro, mas desta vez esbarrando numa simbiose fortíssima entre Niki Lauda e Ferrari - já vista em 1974, mas dificultado devido os inúmeros problemas que enfrentara. Agora, em 1976, as coisas pareciam indicar mais um título para o duo austro-italiano até que os acontecimentos de Nurburgring dessem outros rumos para o campeonato. Porém, após o retorno de Lauda em Monza e confirmação da desclassificação de Hunt no GP da Grã-Bretanha - ele se envolveu num acidente com Jacques Laffite (Ligier) e Clay Regazzoni (Ferrari) logo na largada e acabaram sendo excluídos inicialmente por não terem completado a primeira volta. O apelo da torcida (leia-se revolta) em ver Hunt de fora foi levado em conta e tanto ele quanto Regazzoni e Laffite foram autorizados a largarem. Mas ninguém imaginaria que James venceria a prova e isso causou confusão quando Clay e Jacques foram desclassificados, mesmo após terem abandonado a prova. Ferrari, Tyrrell e Copersucar pediram a exclusão de Hunt e isso foi levado para os tribunais mais tarde, quando a decisão pela desqualificação foi oficializada no final de semana do GP do Canadá. 

Com esta decisão e estando 17 pontos atrás de Niki Lauda com três corridas para serem feitas, o desânimo bateu forte na equipe inglesa. Alastair Caldwell, então gerente da equipe Mclaren na ocasião, confirmou que a ideia de vencer o campeonato foi deixada de lado e isso o fez libertar James Hunt de suas amarras de "bom moço" do qual ele havia tornado durante aquela temporada. Mas as coisas seriam bem diferentes quando as duas corridas da America do Norte foram realizadas: James venceu ambas - com direito a uma bela noitada na véspera do GP canadense - e somou os 18 pontos necessários que o trouxe de volta para o jogo e que também foi ajudado pela baixa pontuação de Lauda que foi de apenas 4 pontos do terceiro lugar em Watkins Glen. 

Com tudo isso, não é para menos que a Mclaren tenha se animado para aquele GP final em Fuji. A equipe usou de uma velha artimanha de treinar no circuito e foi para lá uma semana antes da realização da prova para conhecer o circuito e já se ambientando ao local. Juntando isso ao fato de James Hunt ter ido para o Japão dez dias antes, foi um trunfo e tanto: uma equipe já bem adaptada ao local, sem jetlag e conhecendo cada metro de um circuito novo para eles, era uma vantagem importante para aquela decisão.

Mas, num período de uma semana o que uma equipe teria a fazer mais após tantos testes? Alastair Caldwell, apenas para se divertir, chegou a dizer para um jornalista que a "pista era boa, mas tinha muito cascalho pelo traçado", uma maneira de jogar uma pressão para cima dos demais que estavam chegando à pista ainda durante a semana. E as coisas não pararam por aí: no embalo da história dos cascalhos, Caldwell cehgou pedir que seus mecânicos colocassem grades para proteger as entradas de freios e radiadores. “Como estávamos entediados e não tínhamos mais nada para fazer, os mecânicos fizeram coberturas de malha para todas as entradas de ar do carro, para 'proteger' os dutos de freio e as entradas de ar.", comentou Alastair que ainda completou com uma pequena história sobre a presença de Niki Lauda, que sempre que podia estava nos boxes da Mclaren para conversar - e claro - espionar: “Niki veio ver o que tínhamos feito com os carros, pois ele também era um espião. Então eu disse aos mecânicos, 'por engano', para tirar as lonas dos carros para que você pudesse ver as grades em todas as entradas. Eles fizeram isso e então colocaram de volta rapidamente enquanto eu 'parecia aborrecido'."

A trolagem por parte de Alastair e toda Mclaren surtiu efeito: Lauda comentou sobre o que havia visto na equipe inglesa e relatou a Ferrari, que de imediato tratou de ir atrás de grades para colocar em seus carros. Pouco tempo depois, quando a equipe italiana havia conseguido e já instalado todas as grades em seus carros, pode-se ver que os da Mclaren - inclusive o carro reserva - não tinha mais as tais grades. Automaticamente Niki Lauda desceu furioso e soltou um "Bastardos de merda!" assim que avistou os Mclaren sem as grades. E claro, ele voltou aos boxes da Ferrari pedindo para que tirassem as peças. 

E a Mclaren havia achado um modo bem sarcástico para pressionar a Ferrari em meio a toda tensão que aquela corrida japonesa estaria sujeita em poucos dias.


Um GP para lá de confuso


James Hunt, Niki Lauda, Bernie Ecclestone e Ronnie Peterson, durante o vai ou racha sobre a 
realiazção do GP do Japão
(Foto: Mclaren)

Essa prova em Fuji não recebeu o nome de "Grande Prêmio do Japão": este pertencia às provas locais, mas especificamente a Fórmula-2, e a prova da Fórmula-1 levou o nome de "Campeonato Mundial de Fórmula-1 no Japão". Mas isso valeu apenas em terras locais. 

Para um ano que foi tenso tanto fora quanto dentro das pistas, a derradeira corrida não seria diferente: em meio a batalha entre a F1CA e FIA/ CSI, Patrick Duffeler estava preparando um contra-ataque as intenções da F1CA - leia-se Bernie Ecclestone - onde uma entidade representaria os organizadores de GPs para discutir os acordos dos GPs com a F1CA. Uma bela cartada visto que o campeonato de 1976 estava para acabar e que a de 1977 começaria já em janeiro - a entidade chamaria-se WCR (World Championship Racing) e aumentaria ainda mais a tensão entre as partes. 

O que poderia piorar ainda mais o clima tenso do que uma batalha política e uma decisão de título? A chuva se fez presente em Fuji e embaralhou as coisas naquele início de prova. Houve muita conversa, especialmente entre a GPDA (Grand Prix Drivers Association), Bernie Ecclestone e a direção de prova sobre realizar ou não a corrida. Os pilotos, liderados por James Hunt, Niki Lauda e Ronnie Peterson, estavam relutantes a não correr naquelas condições, enquanto do outro lado os organizadores do GP tinham enorme receio de que esta não fosse realizada e perdessem todo dinheiro - este também era o medo de Ecclestone, uma vez que neste momento ele estava em situação bem critica já que respondia pelos pilotos de sua F1CA e também pelos japoneses. O dinheiro que estava em jogo era bastante e ainda tinha os contratos com as TVs para a transmissão dessa prova. A cada minuto que se passava, mais complicado ficava.

Algumas equipes como a March, Surtees e Shadow sinalizaram que queriam correr, enquanto que outras, como a Ferrari, indicavam que não gostariam e isso levou Bernie a dizer que quem quisesse correr ficaria a vontade, porém este GP não contaria pontos para o mundial. Havia também a pressão por parte da FIA/CSI, representado por Paul Metternich (Presidente da FIA) e Pierre Ugeux (Presidente da CSI), para que a prova acontecesse. 

Depois de um período conturbado entre realizar ou não a corrida, esta foi feita assim que a chuva diminuiu e quando os carros alinharam já não havia quase chuva. Porém alguns pilotos decidiram não continuar assim que a largada foi dada e algumas voltas foram realizadas. 

Larry Perkins, que estava a serviço da Brabham naquele final de semana e foi um dos pilotos a abandonar a corrida, relata a sua impressão sobre aquele GP: "Não queria acreditar quando soube que o diretor da corrida decidiu levar a coisa por diante. Quando os carros começam a “acquaplanar” na reta, está demasiado molhado para correr. Mas esta aconteceu e eu parei após uma volta. Disse ao Bernie: “Eu até posso continuar, mas depois destruo o teu carro num despiste, logo, não vejo a utilidade em continuar por ali”. Não abandonei porque tinha medo, era jovem e não me preocupava com a minha segurança. Parei porque não queria estragar outro dos carros do Bernie Ecclestone. E na volta seguinte, Lauda decidiu retirar-se. E isso foi bem dramático, posso-te dizer.". Além de Perkins, Niki Lauda, Emerson Fittipaldi e José Carlos Pace foram os outros que abandonaram a corrida dentro das primeiras 10 voltas. 

A atitude de Niki Lauda em abandonar a corrida foi vista como heróica algum tempo depois, principalmente após o ocorrido em Nurburgring e todo processo a seguir, mas dentro da Ferrari, não foi bem vista. Há de ser dito que isso já vinha desde o inicio da temporada após a vitória de Clay Regazzoni em Long Beach, onde Lauda acredita que Danielle Audetto, então chefe de equipe da Ferrari, preferiu ver Regazzoni vencedor naquela prova. O acidente que austríaco sofreu de trator, quando este trabalhava numa lavoura em sua fazenda e que quase lhe custou a vida, foi um dos momentos críticos entre eles e que se estendeu até Enzo Ferrari - e sempre inflado pela apaixonada e falante imprensa italiana via Gazzeta Dello Sporte, que já indicava uma campanha para que algum piloto italiano substituísse Lauda. Apesar dos temores de Lauda não participar da prova na Espanha, então quarta etapa de 1976, o austríaco contrariou a previsão de seis semanas para recuperar-se e estava ao volante do Ferrari em Jarama para conquistar um honroso segundo lugar, com a vitória ficando para James Hunt. E claro, depois veio o acidente em Nurburgring...

John Watson foi um dos que comentaram sobre aquela decisão de Lauda em abandonar o GP japonês na segunda volta: "Houve muitas razões pelo qual ele decidiu abandonar. Os eventos no Japão mostraram até que ponto as condições eram ou não aceitáveis. Niki abandonou porque as condições eram inaceitávelmente perigosas, mas também porque ele tinha problemas em controlar um canal lacrimal, que tinha sido danificado por causa do incêndio. E também ele jogou com a situação, lançando os dados: James tinha de acabar em primeiro, segundo ou terceiro para ser campeão do mundo, e naquelas condições, não havia a garantia de que ele iria conseguir. A decisão do Niki era baseado no que aconteceu na Alemanha, mas também no seu pragmatismo. Ninguém conseguiria prever o que James iria fazer durante a corrida. Chegaria em terceiro? Ou poderia ter um acidente ou uma falha mecânica? Naqueles tempos, as falhas mecânicas eram bem mais frequentes do que agora. Não tinhas garantias de que irias acabar a corrida. Então, Niki Jogou os dados e… perdeu." . 

Todos os desdobramentos após a desistência de Lauda aconteceu logo após ele voltar para a Europa: Enzo Ferrari teria cogitado dar a Lauda um cargo de Diretor Esportivo - a cabeça de Audetto estava à prêmio já que ele teria sido incapaz de dar ordens para que Clay Regazzoni, que terminou em quinto, tentasse atrapalhar a escalada de Hunt após o pit-stop. Lauda reclinou na ideia e de imediato usou uma cartada de que se transferiria para a Mclaren e isso funcionou: a Ferrari recuou e assinou o contrato com ele para 1977. A verdade é que as relações já estavam desgastadas demais e ao final de 1977 isso ficaria muito claro. 

A corrida no Japão foi vencida por Mario Andretti e mais atrás James Hunt terminava em terceiro para conquistar o seu título mundial, mas ele não sabia que havia chegado ao triunfo: “Ele não olhou para a placa e quando entrou nos boxes começou a gritar com a gente, porque não sabia o que acontecia. Ele foi incrivelmente irritante no dia. Ele pilotou magnificamente, manteve-o na pista - esse é um ponto de vista. Do meu ponto de vista, foi o dia mais frustrante - eu poderia ter acertado ele com um taco de beisebol!" comenta Alastair Caldwell que ainda disse que voltaram para a Europa sem tocar no assunto, com ele os demais membros da equipe ainda chateados. Mas de toda forma, o título de pilotos estava com eles pela segunda vez em três temporadas. 

O GP do Japão voltou a ser realizado um ano depois e desta vez com o tempo seco: James Hunt venceu aquela prova, o que foi a sua última na categoria, mas a prova não deixou de lado o caos quando Gilles Villeneuve decolou sobre o Tyrrell de Ronnie Peterson e acabou indo de encontro a área de escape onde tinha algumas pessoas. O acidente acabou custando a vida de duas pessoas. Em 1978 prova seria realizada em no mês de abril, mas acabou sendo cancelada. 

Demoraria dez anos para a Fórmula-1 voltasse ao Japão, desta vez em Suzuka. E de uma forma muito mais organizada.

O pódio com Hunt (terceiro) e Mario Andretti, o vencedor. Patrick Depailler foi o segundo.
(Foto: Motorsport Images)




O link com a entrevista de Alaistar Caldwell para a Motorsport Magazine: 

https://www.motorsportmagazine.com/articles/single-seaters/f1/f1s-great-drives-james-hunt-1976-japanese-grand-prix

O link com a entrevista de Mario Andretti, Jody Scheckter, John Watson e Larry Perkins sobre aquele GP do Japão de 1976: 

https://continentalcircus.wordpress.com/2013/09/10/a-dramatica-corrida-de-fuji-contada-por-quatro-dos-pilotos-que-estiveram-la/

terça-feira, 15 de junho de 2021

Foto 969: James Hunt, Paul Ricard 1976

 

James Hunt com a sua McLaren M23 durante o GP da França de 1976, de onde saiu com uma importante vitória.
(Foto: Motor Sport Magazine)


Este GP da França, o oitavo da temporada de 1976, apresentou um embrião que colocaria a categoria em ebulição nos próximos anos: com Bernie Ecclestone já a frente dos interesses das equipes - tendo fundado a FOCA (Formula One Constructors Association) em 1974, esta já não era bem vista pela autoridades da FIA/ CSI. Para isso, Fritz Huschke von Hanstein, ex-piloto da Porsche e vice-presidente da CSI, colocou Patrick Duffeler - ex-diretor de markenting da Phillip Morris - para este trabalhasse ao lado dos organizadores dos GPs no que se diz respeito aos contratos com a FOCA. 

O primeiro embate foi sobre o GP do Japão que integraria o calendário já naquele ano: Bernie pediu garantias para os japoneses sobre cobrir as despesas do envio dos materiais ao Japão. Isso logo chegou aos ouvidos de Duffeler, que logo interveio à favor dos japoneses que pediu a eles para não atenderem a pressão de Ecclestone - que já ameaçava não levar a categoria ao Japão caso não tivessem as despesas pagas. Apesar do esforço de Duffeler, os promotores japoneses acabaram aceitando e o antigo diretor da Phiilip Morris - que já conhecia Bernie desde as negociações frustradas que ambos tiveram em levar a Marlboro para a Brabham em 1974 - viu que jogo de negócios na categoria era bem mais pesado, mostrando que a CSI ainda não estava preparada para enfrentar a FOCA nas negociações. 

Enquanto que as rusgas entre FOCA e CSI acontecia, outra batalha, esta nas pistas, estava a todo vapor com Ferrari e McLaren batalhando pelos títulos de pilotos e construtores naquele ano. A Mclaren tinha revisto seus refrigeradores de óleo e entregado a James Hunt e Jochen Mass um M23 muito melhor, enquanto que do outro lado da trincheira a Ferrari levava para a pista francesa novos motores com mais potência. Mas uma atitude esnobe da Ferrari em testar estes novos propulsores sairia bem caro para eles naquela tarde em Paul Ricard. 

Niki Lauda e James Hunt abriram o duelo já com a disputa pela pole. Neste o inglês da McLaren venceu o primeiro round ao marcar a pole com o tempo de 1'47''89 contra 1'48''17 de Lauda, vencendo seu rival austríaco por 28 milésimos. 

Mas a largada mostrou um Niki Lauda muito mais esperto ao assumir a liderança já nas primeiras curvas e imprimir um ritmo alucinante, a ponto de abrir cinco segundos para Hunt em cinco voltas. Um desempenho impressionante do sempre veloz Lauda, que parece fazer questão de mostrar toda a superioridade do 312T2 ao aumentar um segundo por volta sobre James. Mas a mancada - ou soberba - da Ferrari em não realizar testes com estes novos motores, aparece na volta nove quando o Ferrari de Lauda estaciona em Sainte-Beaume com o virabrequim arrebentado. Foi o termino de uma grande sequência de provas sem abandonar de Niki Lauda. 

James assumiu a liderança, mas isso não significava que ele estivesse com tudo sob controle: a presença de Clay Regazzoni com a outra Ferrari ainda daria um bom trabalho para o inglês pelas próximas voltas, mas, assim como Lauda, o motor Ferrari de Regazzoni também falha e obriga o suíço abandonar. Uma tarde desastrosa para a equipe de Enzo Ferrari. 

Hunt apenas administrou - e aumentou - a diferença para Patrick Depailler para vencer o GP francês e assumir o segundo lugar no mundial de pilotos com 26 pontos - o mesmo número de pontos de Depailler - , mas ainda bem longe de Lauda que tem 52 pontos. 

Um fato a se destacar nesse final de semana de GP da França foi a prova da Fórmula Renault, que foi suporte da F1, onde uma futura promessa venceu. Seu nome: Alain Prost.

Hoje completa 28 anos da morte de James Hunt. 

 

sábado, 9 de janeiro de 2021

Foto 901: James Hunt, GP da Holanda 1975

 


James Hunt comemorando a sua primeira vitória na Fórmula 1, assim como a da Hesketh, no GP da Holanda de 1975. Além da grande exibição de Hunt num período de tempo variável, onde conseguiram fazer uma leitura perfeita das condições da pista ao colocar pneus slicks quando o circuito estava começando a secar e depois aguentando a pressão de Niki Lauda por vinte voltas, a conquista daquele resultado teve uma pitada de sorte ainda no sábado quando uma quebra no carro aconteceu durante o classificatório, que foi realizado sob chuva. Como não teve warm-up na manhã de domingo, é bem provável que o problema acontecesse durante a prova.
Uma dose de sorte - mais competência - que selou o destino para que acontecesse a grande vitória de Hunt e Hesketh naquele GP holandês. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Video: Vittorio Brambilla, Áustria 1975

A famosa chegada de Vittorio Brambilla no chuvoso GP da Áustria de 1975, que marcou a sua primeira e única vitória na Fórmula-1. A batida após a bandeirada é a marca registrada do "Gorila de Monza". A corrida foi encurtada de 54 voltas para 29 por conta das fortes chuvas.
Completaram o pódio James Hunt e Tom Pryce.
Hoje completa exatos 45 anos.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Foto 819: GP da França, 1975


Uma das belas fotos de Paul Ricard. A foto do post é do grid de largada do GP da França de 1975, disputado em 6 de julho. Niki Lauda lidera o pelotão, com Jody Scheckter em segundo, James Hunt em terceiro, Jean Pierre Jarier em quarto, José Carlos Pace em quinto e Tom Pryce em sexto. Pace e Pryce abandonaram por problemas na transmissão, enquanto que Scheckter fechou em nono e Jarier em oitavo.
Niki Lauda venceu este GP - a quarta até então naquela temporada - seguido por James Hunt - que chegou ameaçar a conquista do piloto austríaco - e na terceira colocação Jochen Mass, que fechou em terceiro e fez a melhor volta da corrida.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Foto 205: Rush!

A foto de Niki Lauda e James Hunt na largada para o GP do Brasil de 1976. O piloto inglês cravou a pole com o tempo de 2'32''500 contra 2'32''520 de Lauda, mas o austríaco virou a primeira curva na liderança e no final ganharia o GP de abertura, seguido por Patrick Depailler e Tom Pryce. Hunt abandonaria na volta 32 por problemas na bomba de combustível.

sábado, 25 de maio de 2013

Hunt em Mônaco, 1975

Trabalho como banderinha há quase 11 anos e a principal instrução que é nos dada quando um piloto abandona uma corrida, em qualquer circunstância que seja, é de não tocá-lo em momento algum afinal de contas o cara está com a cabeça a mil e qualquer revide dele a qualquer movimento que você faça em direção dele, mesmo querendo ajudá-lo, pode dar em um empurrão ou algum sopapo.
Tem um vídeo do James Hunt onde ele desfere um soco na cara de um comissário de pista quando este vai tentar lhe falar algo, ou ajudá-lo, mas dias atrás achei este onde ele acaba de abandonar o GP de Mônaco de 1975 após tocar rodas com Patrick Depailler na entrada da Mirabeau e indo parar no guard-rail e já fora do carro e extremamente furioso, por pouco não sai na mão com um bandeirinha quando este tentar tirar ele da rota do Hesketh que estava sendo resgatado.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Vídeo: Hunt e Sheene

Dois dos caras que mais souberam aproveitar da fama que o mundo dos motorsports pode lhes proporcionar. James Hunt e Barry Sheene aproveitaram tudo e mais um pouco naquele período da segunda metade dos anos 70, e mais famosa delas foi quando fizeram uma "festinha" com 33 aeromoças da Bristish Airways nas duas semanas que antecederam a prova de 1976 no Japão. Sem contar o álcool e a cocaína que foi consumidas durante este período.

*Sua preparação era pouco convencional, para dizer o mínimo. Ele havia passado as duas semanas anteriores à prova em uma farra de álcool, cannabis e cocaína com seu amigo Barry Sheene, que havia sido o campeão mundial de motovelocidade naquele ano.
[…]
No Japão seu playground era o Tokyo Hilton, onde cada aeromoça da British Airways era deixada na recepção para uma folga de 24 horas. Hunt fazia a abordagem no ato do checkin e as convidava para uma festa em sua suíte – elas sempre aceitavam.
Não era incomum que ele e Sheene fizessem sexo com todas aquelas mulheres, normalmente juntos.
[…]
Quando Hunt chegou ao aeroporto de Heathrow, 2.000 fãs estavam esperando para recebê-lo. Ele cambaleou bêbado pelos degraus do avião em direção aos braços de sua mãe, Sue, e sua bela e sofrida namorada Jane Birbeck.
Ela estava saindo com ele havia quase um ano, mas não fazia ideia de que ele havia dormido com 33 comissárias da British Airways e inúmeras fãs japonesas durante sua estada de duas semanas em Tóquio.

E abaixo fica o documentário apresentado pela Playboy em março de 2012, onde a história de Hunt e Sheene é contada.


*Extraído do livro Shunt: The Story of James Hunt

domingo, 31 de março de 2013

Foto 187: A terceira Brabham


"Mas Bernie, trê carros?"
"Sim, três carros. Pilote-o e não discuta mais!"
E naquele GP da Alemanha de 1976, que ficou marcado pelo acidente que quase vitimou Niki Lauda, a Brabham teve um terceiro carro na pista. O Brabham BT-45/ Alfa Romeo foi destinado à Rolf Stommelen naquele fim de semana. Na realidade Stommelen iria correr pela equipe RAM, que competia com os velhos Brabhams BT44, mas uma ação judicial movida pelo piloto Loris Kessel onde estes carros foram retirados do evento durante as sessões de treinos pela polícia. Deste modo, Stommelen acabou indo pilotar um dos Brabhams e formar trio com os "Carlos", Pace e Reutemann.
Rolf conseguiu qualificar o Brabham #77 na 15ª colocação, enquanto que Pace levava o seu carro ao sétimo posto e Reutemann ao décimo. No final da corrida, vencida por James Hunt, Stommelen terminou em sexto, duas posições atrás de José Carlos Pace. Reutemann abandonou na volta antes de completar a primeira volta, devido um problema no sistema de combustível.


sábado, 26 de janeiro de 2013

Vídeo: O acidente de Bobby Deerfield

Bobby Deerfield foi um filme feito por Sidney Pollack e que estreou em 1977 e teve como estrela Al Pacino, que representou um piloto de Fórmula-1 (Bobby Deerfield).
A sinopse do filme mostra Bobby, que é um piloto bem sucedido nas provas de F1, que acaba presenciando um grave acidente de um concorrente e a partir deste momento muda visão com relação a morte. Deerfield acaba conhecendo Lilian Morelli (Marthe Keller), uma suiça que está com uma doença terminal, numa visita ao rival acidentado e assim ele acaba se envolvendo Lilian. Apesar das fortes critícas na época, devido ao excessivo romance melodramático, Pacino foi indicado ao Globo de Ouro como melhor ator.
O filme é retratado durante a temporada de 1976 e como vocês verão no vídeo, José Carlos Pace foi o "dublê" de Al Pacino nas filmagens com a sua Brabham BT45. O mais interessante é que este filme foi lançado em 29 de setembro de 1977 e o tão aguardado filme de Ron Howard, que também retrata a temporada de 1976, mas sobre a disputa Lauda vs Hunt, também estreará neste 2013 em 20 de setembro. Quase que 36 anos depois a temporada de 1976 da F1 voltará aos telões do cinema.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Revista Speed, Edição 4

A quarta edição da Revista Speed trás este mês 80 páginas dedicadas a F1 e ao Endurance. Paulo Alexandre Teixeira, com a sua coluna "O Grande Circo", fala sobre o momento de baixa audiência das corridas de F1 aqui no Brasil. Além da desta coluna, ele fala também sobre os 35 anos da chegada de Gilles Villeneuve na F1 e os relatos do GP do Canadá de 1977, disputado em Mosport, onde também ele reservou um texto sobre James Hunt que resolveu dar um soco num fiscal de pista exatamente nesta corrida.
O mundial 2012 de F1 tem o seu espaço, onde Daniel Machado disseca as corridas da fase asiática que deu ao campeonato uma reviravolta à favor de Sebastian Vettel e Red Bull.
Bruno Mendonça e Patricia Sayuri escreveram sobre a etapa brasileira do WEC, que foi disputada em setembro. Enquanto que Bruno falou sobre a magistral primeira vitória dos japoneses no campeonato, Patricia esteve por dentro do evento trazendo a sua visão sobre esta primeira corrida do Mundial de Endurance sob a chancela da FIA. E o Bruno ainda escreveu sobre a carreira de Wurz, dos seus tempos de F1 até os atuais, onde ele divide o belo Toyota TS30 Hybrid com Nicolas Lapierre.
Não esquecemos, claro, de Alessandro Zanardi e Sid Watkins. O italiano emocionou e fez história em Brands Hatch, aos levar 3 medalhas paralímpicas nas provas de Handycycling da Paralímpiada de Londres. Bruno Mendonça escreveu sobre Sid Watkins, que faleceu no dia 12 de setembro.
Além do texto de Zanardi, eu também assinei o texto que conta a trajetória do primeiro e único título de Raul Boesel no Mundial de Marcas, a bordo do belo Jaguar XJR-8, que completou 25 anos no mês passado.
Pois bem, com essa apresentação, deixo com vocês o link da revista e desejo-lhe boa leitura!

http://speedrevista.wordpress.com/

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Entrevista F1 Racing: Gilles Villeneuve, 1979


Início da temporada de 1979 da F1. Ligier e Ferrari eram as equipes a serem batidas naquele momento, mas na Scuderia havia alguém que estava chamando a atenção pela sua virtuosidade ao volante de sua 312T4. Gilles Villeneuve era o nome mais comentado da F1. Suas belas provas em 1978, incluindo uma vitória em Montreal, e o ótimo começo de campeonato em 79 (Gilles vencera duas das quatro primeiras corridas daquele ano), despertaram a curiosidade de saber de onde saíra o franzino e rapidíssimo piloto canadense. Chris Hockley colocou o gravador sobre a mesa e fez uma sabatina com o grande Gilles, que foi publicada no encarte da “F1 Racing” que acompanhava a 188ª Edição da revista brasileira “Racing”.



As Fitas de Hockley: Gilles Villeneuve Responde



Pouco pilotos são capazes de gerar tão boas lembranças como Gilles – então, se prepare para relembrar. O ano era 1979, e Chris Hockley entrevistou a sensação daquele momento na Fórmula-1.  


Chris Hockley: Há algumas coisas que eu gostaria de saber antes. Você foi campeão mundial de Snow-Mobiles?
Gilles Villeneuve: Fui campeão canadense em 1973, campeão mundial em 1974e canadense novamente em 1975.



CH: É verdade que você teve, certa vez, de vender sua casa para custear as corridas?
GV: Sim, em 1974 – meu primeiro ano na Fórmula Atlantic. Eu tinha uma vaga alugada e uma equipe nova (Ecurie Canada). Pagava cerca de U$$ 20.000 e esperava ganhar algum dinheiro durante a temporada de inverno de Snow-Mobile. Mas a grana não veio. Eu tinha um trailer que ainda não tinha sido pago, e todo o dinheiro que ganhava eu investia nas corridas. Logo, acabei com um problema...


CH: Acredito que você também tenha participado de três corridas (em monopostos) com a perna esquerda engessada – você a havia quebrado em um acidente. Isso é verdade?
GV: Não me lembro se foram duas ou três corridas. Foi uma temporada ruim de qualquer modo. Acho que tanto eu quanto o time éramos ruins naquele tempo.

CH: Quando foi isso?
GV: Eu sofri um sério acidente em julho de 1974, em Mosport (Ontário, Canadá). Quebrei a perna esquerda e pilotei, se não me engano, um mês depois com o gesso. Eu mal conseguia mexê-la para pisar na embreagem.

CH: Conte-me sobre a vitória na Fórmula Atlantic em Trois-Rivières, em 1976 – aquele foi o ponto de mudança na sua carreira?
GV: Sem dúvida. Lembro-me de ter marcado a pole por mais de 0.5s. Isso foi legal porque eu sabia que estava muito bem, no limite extremo o tempo todo.

CH: Você percebeu que aquela era a sua chance?
GV: Claro, mas foi igual a qualquer outra corrida. Eu sabia que James (Hunt) estava lá (pouco antes de vencer seu campeonato mundial) e alguns outros pilotos também. Mas sendo justo, para aqueles caras era mais difícil, como uma corrida simples. Eu sei que se James tivesse feito três ou quatro provas (de Fórmula Atlantic), aquela seria mais competitiva.

CH: E o resultado o levou ao seu contrato com a McLaren?
GV: Acho que foi um acordo de dois ou três anos em que eu deveria pilotar para eles em 1977 por quatro ou cinco provas, e também havia opção para 1978 e 1979. Então corri Silverstone e fui bem (classificou-se em 9º e cravou a quinta melhor volta), achando que estaria no time porque Jochen (Mass) estava em outro lugar. Mas, poucas semanas depois, eu ouvi que “se tivesse mais alguém interessado em mim, poderia ir em frente”, pois não renovariam o meu contrato por mais nenhuma temporada.

CH:  Isso deve ter sido muito desapontador.
GV: Claro, porque eu realmente achava que continuaria na equipe. Também fiquei um pouco surpreso e disse a mim mesmo: “Acho que algum outro time me chamará”. Mas, naquele tempo, James era o campeão mundial na McLaren, o que tornava aquela equipe a ideal para se estar.
Coisa de um mês depois, recebi um telefonema da Ferrari perguntando se eu queria pilotar por eles. Disse que sim, claro. Voei a Maranello para discutir os detalhes e estava pronto para assinar tudo ali mesmo. Só que eu não podia, porque meu contrato com a McLaren só terminaria em 1º de outubro. E a Ferrari não podia esperar. Então, depois de vários telefonemas, a McLaren finalmente disse que me liberaria apenas se eu assinasse com a Ferrari.

CH: Por que isso, você sabe?
GV:  Acho que se eu não assinasse, eles me dariam outro ano de opção, pois na minha opinião, eles pensavam que a Ferrari não me ofereceria coisa alguma.

CH: Isso parece algo muito estranho – especificar que teria de ser da Ferrari. Você sabe por que eles fizeram isso?
GV: Porque não queriam apenas me liberar. Eles não me queriam lá, mas, ao mesmo tempo, não sabiam o que poderia acontecer com James ou Patrick (Tambay, que assinou com a McLaren para a temporada de 1978). Essa foi a única razão pela qual eles decidiram me liberar antes de 1º de outubro. Então, logo que consegui a liberação, depois de Monza (11 de setembro), fui direto à fábrica da Ferrari, mas o acordo parecia ter sido suspenso. Eles estavam conversando com (Jody) Scheckter e (Mario) Andretti. Eu voltei para casa, pensando que não assinaria com a Ferrari. Duas semanas depois eu tinha de ir a Quebec para a última corrida da temporada Fórmula Atlantic, que eu venci e me deu o campeonato. Então, antes de viajar a quinta-feira, e sem ter recebido um telefonema da Ferrari, resolvi ligar, para o caso deles terem se esquecido. Falei com a secretária de lá e, então, recebi uma ligação de volta, perguntando se eu estava pronto para assinar. Disse que sim, claro, tínhamos um acordo. Enquanto isso, eu teria um fim de semana inteiro de corrida pela frente, por isso não disse uma palavra até que estivesse tudo assinado e sacramentado.
CH: Aquilo deve ter sido difícil...
GV: Sem dúvida.

CH: Você foi, claro, o sucessor de Niki Lauda na Ferrari. Isso o incomodava, suceder um piloto com tamanha reputação?
GV: Não, nunca me comparei a ele nem procurei seguir a sua trajetória. Claro, quero ter tanto sucesso quanto ele tem. Mas fui para a Ferrari como eu mesmo e não querendo ser comparado a quem quer que fosse. E tudo tem corrido bem.

CH: Você não sentia que devia provar algo?
GV: Não. Exceto o fato de que era meu primeiro ano e havia apenas duas corridas. Disseram-me para ir tranqüilo, mesmo que fosse o último – mas eu nunca quis ser o último, então fiz o meu melhor (no GP do Canadá, penúltima corrida de 1977). Tive um pequeno acidente nos treinos, mas não na corrida como todos esperavam.
Nos treinos, eu rodei e ao passar sobre um óleo na pista e, quando voltei, quebrei a suspensão do meu carro.

CH:  Em sua segunda corrida pela Ferrari, você sofreu um acidente trágico e espetacular no Japão (ao sair da pista e matar dois espectadores).Aquilo lhe afetou de algum modo na carreira?
GV: Na verdade, não. Claro, não gostamos de matar pessoas. Mas, para começar, as pessoas estavam em local proibido – se não houvesse gente ali, ninguém se machucaria; e aquilo não teria rodado o mundo – todos viram as fotos do acidente nas revistas. Não me agrada, mas gosto de ver o show continuar. A vida é assim.

CH: Evidentemente, muitas pessoas disseram que havia pressão para você deixar a Ferrari devido ao seu estranho contrato. Isso aconteceu?
GV: Não sei, a bem da verdade, porque continuei ouvindo que seria despedido. Então, como eu estava deixando o Canadá para viver aqui (Europa), fiquei tentado a ligar para eles e perguntar – mas desisti.
CH: Você ficou preocupado?
GV: Um pouco, quando toda a imprensa ao redor do mundo começa a dizer que você vai ser despedido... Disse a mim mesmo: “Ninguém falou que você estaria fora, e há um contrato, não tem problema”. Aí fui embora e ninguém disse nada. Comecei a trabalhar, e assim tem sido.

CH: Sempre se diz que a Ferrari tem um posicionamento muito político – que é temperamental e que pode favorecer ou “esquecer” alguém... Você sentiu isso?
GV: Toda equipe é política porque há muito dinheiro envolvido. Alguns menos, outros mais. Não acho que a Ferrari seja (mais política), mesmo nas quatro ou cinco últimas corridas do ano passado (1978), quando sofremos alguns acidentes, o motor estourou, pneus também – todo tipo de problema. Eu acho que comecei a ficar nervoso, não exatamente pressionando, mas esperando fazer melhor. Depois de Mônaco, fiquei tentado a dizer para mim mesmo: “Tudo bem, vá devagar na Bélgica e não quebre nada”. Mas, se eu começasse a fazer aquilo, teria sido lento e, provavelmente, teria batido de algum modo, devido à perda de concentração. Então, quando chegou o fim de semana, pensei: “Vou pilotar naturalmente e ver o que acontece”.

CH:  Mas houve um momento durante aquela temporada em que todos sabiam que (Jody) Scheckter entraria para a equipe, porém não se conhecia quem sairia para dar lugar a ele (Villeneuve ou Carlos Reutemann). Você ficou preocupado com aquilo?
GV: Achei que Carlos sairia.
CH:  Por quê?
GV:  Sempre senti. Ninguém me disse. Porque eu tinha um contrato de dois anos, não de um só. Você sabe, contrato é contrato. Seria estúpido da parte deles gastar todo aquele dinheiro comigo e então deixar que eu fosse embora para outra equipe, porque era óbvio que eu melhoraria com o tempo, ganhando confiança no carro. Então, Carlos sofreu um acidente nos treinos...
CH: Era uma questão circunstancial?
GV: Sim, todos diziam que eu sairia. Mas eu não me importava porque tinha ofertas de outras equipes. Boas ofertas mesmo, então se eu saísse da Ferrari, teria lugares bons para ir. Só que eu queria ficar lá.
CH: Você conversou com Carlos sobre o acontecido? Isso afetou seu relacionamento com ele?
GV: Eu falei, sim, e disse: “Você vai sair ou não?” e ele me perguntava a mesma coisa! Tínhamos um relacionamento muito bom...

CH: Você tem uma reputação, construída recentemente, de ser absolutamente destemido e de que não liga para os acidentes. Que é capaz de sofrer um e ir embora sem demonstrar nenhuma emoção. Isso é verdade?
GV: Não, absolutamente não. Acho que tenho tanto medo quanto todo mundo. Eu não sei – acho que tenho confiança...
O medo que tenho é de quebrar o carro. Não temo por mim mesmo. Às vezes, me vejo em uma situação complicada e consigo me safar. Mas quando isso acontece, digo: “Bem, você escapou de uma boa, hein?!”. Ou, no Japão, naqueles décimos de segundo que antecederam a batida, deu tempo de pensar: “Você vai ficar no hospital por uns bons meses, meu amigo”.
CH: Você lembra de ter pensado isso durante aquele acidente?
GV: Quando percebi o que estava acontecendo, pensei que ficaria no hospital. Ma eu espero por isso, sabe? Às vezes, eu sei que vou dar uma bela porrada e me machucar. Mas morrer? Nisso eu nunca penso. Dependendo do que acontecer, volto em outro carro e faço a mesma curva na mesma velocidade – sem problemas. Agora, se for um erro meu, então vai levar algumas voltas até que eu possa fazer o mesmo.

CH: Fale-me sobre sua família. Primeiro, quantos anos você tem?
GV: Tenho 27 anos (ou Gilles está brincando ou perdeu as contas – ele nasceu em 18 de janeiro de 1950, logo tem 29).
CH: Quais os nomes de sua esposa e filhos?
GV: O moleque é Jacques...
CH: Qual a idade dele?
GV: Sete. A menina, Melanie, tem cinco.
CH: E sua esposa?
GV: Jo-An.

CH: Você parece ser uma cara que gosta bem “do estilo família”.
GV: Ah, sim. Amo minha esposa e amo meus filhos. Adoro tê-los comigo na pista, pois de outra forma eu mal os vejo. Mas, na Ferrari, nós fazemos um monte de testes e vamos para os circuitos, então, acabamos nos vendo uma vez por semana.
CH: Eles vão às corridas com você?
GV: Para isso temos o motorhome que um amigo leva a todos os circuitos. Assim, posso levar meus filhos lá.
CH: Vai fazer o mesmo este ano?
GV: Não sei se vai dar, porque eles irão para a escola e perderão as três primeiras corridas. Talvez possam ir a cinco.

CH: E você, vai ficar em hotéis?
GV: Bem, eu prefiro o motorhome. Quase sempre durmo nele.
CH: Por quê? A maioria dos pilotos dorme em hotéis.
GV: Veja só, eu durmo sempre na mesma cama, com o mesmo travesseiro, no conforto. Em vez de acordar à 6h30, tomar café correndo e pegar um baita trânsito para chegar ao autódromo, posso acordar às 8h30, tomar café da manhã (do meu jeito), tomar um banho, bem à vontade, pois já estou na pista. E é a mesma coisa depois do treino - nada de trânsito para ir embora. É como estar em casa. Meu motorhome tem mais de 10 metros de comprimento e tem tudo – fogão, geladeira, chuveiro...
CH: Estou perguntando isso porque esse esporte é tratado como “machista” e “chauvinista”, e acaba afastando as famílias. É difícil para você conciliar as duas coisas?
GV: Não quero que a minha família seja importunada pela imprensa. Mas quero que meus filhos me conheçam, acima de tudo, e que minha esposa queira estar comigo e com as crianças.
CH: Você deixa o motorhome dentro ou fora do circuito?
GV: Sempre no paddock. Depois das 21, 22 horas, está sempre tranqüilo. É como no hotel – às vezes ainda melhor, pois não tem o risco de se ter um vizinho fazendo barulho.

CH: Agora, falando desta temporada, você venceu as duas primeiras corridas (das quatro disputadas: África do Sul e EUA) e superou Scheckter em todas as ocasiões. Isso gera atrito dentro da equipe?
GV: Acho que não e espero que não. É só uma questão de Jody se adaptar ao time e encontrar seu rumo. As escolhas de pneus que fiz na África do Sul e no Brasil, de traçar antes dele, e então em Long Beach, são um exemplo da experiência que tive no último ano com a Michelin, e isso ajuda um pouco. Experiência é algo que não se compra e que ninguém lhe pode contar – você tem de passar por aquilo, é o que penso. Mas de toda forma, nós somos bem rápidos – uma hora eu sou melhor, depois ele me supera. É tudo nos décimos de segundo.

CH: E vocês se dão bem?
GV: Ah, sim. Sem problemas.
CH: Vocês são tratados igualmente como pilotos “nº1”?
GV: Oficialmente Jody é o “nº1”, mas se há uma equipe em que tudo é igual, é a Ferrari: acerto do carro, motor, pneus... tudo. A única situação em que se vale esse status de “nº1” é quando os carros quebram e só há um reserva - a prioridade é dele.

CH:  Esta é a sua segunda temporada completa na F1. Você esperava este sucesso tão rápido?
GV: Bem, eu esperava ter algum sucesso e ser competitivo, sim, na minha segunda ou terceira temporada... dependendo do carro que tivesse. Se eu estivesse pilotando um March agora, com certeza não iria querer correr... Piloto um bom carro, tenho bons pneus e tiro o melhor deles. Mas, se, por exemplo, eu tivesse um Arrows, não faria o mesmo com grande vontade.
CH: Você está sendo modesto.
GV: Os pilotos na F1 são quase todos do mesmo nível – coisa de poucos décimos de diferença. Você precisa de alguém que diga: “Bem, se você não tem um carro, não vencerá corridas”. James ou Niki venceram bastante nos últimos anos, mas eles sempre tiveram carros ótimos, assim como Ronnie (Peterson) ano passado.

CH: Liderar o campeonato significa algo a você? É uma pressão a mais?
GV: Agora não significa muito... No final da temporada, seu eu continuar liderando, talvez signifique que sou campeão! Mas, ainda faltam 12 provas. Qualquer coisa pode acontecer e, mesmo na última corrida do ano, se eu precisar de apenas um ponto ou o que seja, não vou mudar meu estilo. Em cada corrida faço meu melhor e venço se posso.

CH: Você não sente mais pressão por isso?
GV: Não.

CH: Como parte da nova geração de pilotos que desafia as atuais estrelas...
GV: ...em alguns anos será minha vez...
CH: ...acha que tem algo a provar para si mesmo na Fórmula1?
GV: Não, acho que não. Fiquei muito feliz por ter recebido todas aquelas propostas no final do ano passado. Agora que tenho três vitórias nas costas e já fiz 23 corridas, penso que sou parte do circo.

CH: Você acha que pode ser campeão este ano?
GV: Não sei ainda. E não penso sobre isso. Talvez eu consiga, dependendo de como o carro se saia de uma corrida para outra. Não peço que o carro seja melhor que os outros. Só peço que ele seja tão bom quanto os outros, então, nós fazemos a diferença. Espero poder vencer o campeonato, claro. Mas não vou ficar desapontado se perder – esta é apenas minha segunda temporada de Fórmula1 e tenho muita coisa pela frente.

CH: Esta pode ser uma pergunta boba, mas eu acho que ainda precisa de uma resposta... Vencer o campeonato significa algo a você?
GV: Acho que sim, claro. Niki venceu dois, Emerson também dois e ele poderia ter levado três. Gostaria de fazer melhor que eles e para isso estou aqui.

CH: Você conseguiria se manter por tanto tempo na categoria?
GV: Me vejo pilotando até o 40 anos, nunca se sabe. Talvez em dois anos encha o saco, agora não. Eu gosto disso.

CH: Se vencer, ainda teria outras ambições?
GV: Sim, gostaria de ganhar as 500 Milhas de Indianápolis. Não é o tipo de corrida que gosto, mas eu queria experimentar.


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Foto 12: Suecos em ação

Peterson não aliviou um milímetro para o seu conterrâneo Gunnar Nilsson, e o piloto da Lotus acabou rodando, batendo nos guard-rails e abandonando a corrida na 9ª volta. Peterson completou a prova, três voltas atrás do vencedor James Hunt. A foto é do GP dos EUA de 1977, disputado em Watkins Glen.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

GP da Alemanha, 1975

Niki Lauda havia marcado o tempo de 6m58s6 para a pole nos 22,5km de Nurburgring, tornando-se assim o primeiro piloto a fazer uma volta abaixo da marca dos sete minutos. Esse domínio era refletido na corrida, onde havia conseguido largar bem e mesmo com a pressão imposta por Depailler no inicio e mais tarde com Regazzoni a persegui-lo de muito perto, Niki estava tranqüilo na liderança. As coisas melhoraram a seu favor quando Emerson, seu rival direto na luta pelo título, tinha ficado de fora na quinta volta após problemas na suspensão traseira do seu Mclaren, derivado de um estouro no pneu traseiro esquerdo.
Com Depailler e Regazzoni fora da prova, Lauda caminhava firme para mais uma vitória. Na nona passagem, após a curva Karussel, Niki apareceu lento. Um dos pneus dianteiros estava furado e assim o austríaco teve que se arrastar até os boxes para trocá-lo. Nisso ele despencou para quinto, perdendo posições para Reutemann, Hunt, Pryce e Laffite.
Mas a sorte sorriu a Lauda, quando Hunt teve uma quebra na roda traseira esquerda na volta dez e Tom Pryce teve que abrandar o ritmo devido uma fuga de gasolina dentro do cockpit na volta 11. Assim Laffite, pilotando pela Williams, subiu para segundo e Niki para terceiro.
Reutemann venceu sua quarta prova na F1, Laffite subiu a seu primeiro pódio assim como da equipe Williams e Lauda chegou em terceiro, no que acabou sendo um lucro para ele.

Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...