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Kimi Raikkonen durante os treinos de sexta em Interlagos (Foto: Zimbio) |
O GP da China, 16ª etapa do mundial de 2007, tinha sido um
presente dos Deuses para Raikkonen. Lewis Hamilton, que naquele tempo era super
badalado por ser um novato que chegou e destronou Fernando Alonso da McLaren,
estava na ponta do campeonato e na liderança da corrida chinesa. Era uma
oportunidade de ouro para Lewis: ele tinha doze pontos de vantagem sobre Fernando
(107x95) e dezessete sobre Raikkonen (107x90) e isso lhe dava a chance de sair
de Xangai com o título nas mãos caso vencesse a prova.
A pista molhada devido à chuva que caíra antes da corrida, forçou a todos largarem com pneus intermediários. A lembrança da pilotagem
magistral de Hamilton no dilúvio em Fuji uma semana antes tinha sido reforçada
nas voltas iniciais da corrida chinesa, com ele a abrir uma boa vantagem para
Raikkonen. Desta vez, ao contrário da corrida do Japão, a Ferrari não errara em
colocar um pneu diferente para aquela condição de pista – em Fuji, com toda
aquela água na pista, eles mandaram os dois carros com pneus intermediários,
enquanto todo o grid saiu com pneus biscoito para chuva forte. Desse modo, seus
dois pilotos tiveram que trocá-los em uma das 15 maçantes voltas que o pelotão
teve que fazer atrás do Safety Car por causa da chuva. Em condições normais,
sem o Safety, a prova teria sido arruinada por inteiro. Voltando à prova da
China, Hamilton estava se se distanciando de Raikkonen e quando parou nos boxes
na volta 15, tinha em torno de oito segundos de vantagem. Uma boa diferença,
mas Kimi continuou na pista e só parou nos boxes na volta 19. Tinha
desempenhado um bom papel ao fazer boas voltas e quando voltou atrás de Lewis,
a diferença não era tão grande assim. Os quatro primeiros (Lewis, Raikkonen,
Massa e Alonso) tinham optado por não trocar os pneus apostando numa chuva que
estava prestes a cair. Naquele momento a pista tinha um trilho bem definido em quase
todo o traçado, mas com a chuva que demorava a cair, os pneus intermediários
começavam a se desgastar. Devido a sua pilotagem mais bruta, Lewis começou a
perder aderência dos pneus, principalmente os traseiros que já estavam gastos.
Raikkonen passou a pressioná-lo e Hamilton defendeu-se como pôde, até que o
finlandês assumiu a liderança na entrada da primeira curva após o inglês
alargar a entrada da curva por causa dos pneus, que nitidamente já estavam na
lona. Kimi passou e foi embora, enquanto que Hamilton tentava se equilibrar no
que restava dos pneus. O fim da linha para o garoto prodígio da McLaren foi a
entrada do box, quando ele não conseguiu segurar a escapada de frente do MP4-22
indo atolar na caixa de brita. Apesar do esforço comovente em tentar tirar o
carro dali, Lewis saiu cabisbaixo e crente que o seu primeiro “Match Point”
para o título estava perdido. Raikkonen venceu tranquilamente aquela corrida,
seguido por Alonso e Massa. Agora os três postulantes ao título estavam
próximos: Lewis tinha quatro pontos de vantagem sobre Fernando (107x103) e sete
para Raikkonen (107x100). Interlagos vivenciaria, pela terceira vez
consecutiva, uma decisão de mundial.
Aquele ano foi a minha quinta participação num GP do Brasil,
ininterrupta desde que comecei em 2003. Trabalhei naqueles três dias no PSDP
(Posto de Sinalização e Direção de Prova) e pude acompanhar, não totalmente a
fundo, porque eu tinha que desempenhar o meu trabalho, a atmosfera daquela
decisão. E o melhor é que estão muito frescas na minha memória aqueles dias em Interlagos. Um
privilégio.
A visitação, que sempre acontece de quarta-feira, estava bem
movimentada e o box mais visitado era o da McLaren. Não apenas por ter o
habitual treinamento de pit-stop, que algumas equipes realizam neste
dia, mas
também a esperança de ver Alonso ou Hamilton por ali. De quarta é bem raro eles
aparecerem no autódromo, principalmente os superstars, que estão envolvidos em
reuniões e eventos promovidos pelos patrocinadores. Mais a frente, estava a
Ferrari, também fazendo o seu treino de pit-stop, mas com um número baixo de
curiosos. Na quinta-feira, dia em que os pilotos aparecem no autódromo para
realizarem o reconhecimento do circuito, pude ver Hamilton pela primeira vez.
Ele parecia tranqüilo, bem descontraído ao lado de alguns integrantes da
McLaren, sorrindo e conversando enquanto caminhava pela pista. Não vi nem
Raikkonen e muito menos Alonso. Talvez já tivessem feito este reconhecimento
pela manhã.
A figura de Hamilton foi a que mais apareceu no pit Lane
naqueles dias. Entre a sexta e sábado era normal eu avistar o inglês conversando
com os integrantes da equipe. Ele havia ganhado a simpatia do público
brasileiro: era rápido, jovem, destemido, tinha peitado Fernando Alonso e o
tirado do sério dentro da McLaren, virando assim o queridinho e esta simpatia
aumentou ainda mais quando ele participou de uma festa na quinta a noite e
repetidamente, durante um discurso, falava o nome de Senna. Isso foi motivo de
aplausos calorosos. E Lewis nunca escondeu de ninguém que era um fã de Ayrton,
tanto que ele fez questão de ir ao túmulo do piloto. Usar o nome de Ayrton,
frente a um público que ainda o venera, foi uma bela cartada do piloto inglês
que conquistou mais alguns admiradores para apoiá-lo na batalha do título. Se
Lewis fazia uma social com o público paulistano, Raikkonen preferiu ficar na
dele, se bem que estivesse tentado a cair na noite para comemorar o seu
aniversário de 28 anos.
Como eu disse, a quinta-feira é o dia onde os astros
aparecem. Reuniões com engenheiros de provas, um caminhar pelo circuito fazem
parte do cronograma de qualquer piloto. E pelos relatos que soube, o mais
tranqüilo de todos era... Fernando Alonso, que havia chegado mais descontraído
e sorridente, bem diferente da face carrancuda e azeda que havia demonstrado
semanas antes no GP da China, quando ele acusou a McLaren veemente de está-lo
sabotando. Hamilton passou apressadamente e Raikkonen estava gelado, como
sempre. Os três, mais Felipe Massa, participaram de uma coletiva de imprensa
onde o clima continuou sereno, sem ataque por nenhuma parte. Era momento de
concentrar-se para a batalha que se seguiria pelos próximos três dias.
Na sexta-feira pela manhã, por volta de 5:30,
chegamos ao autódromo. Bandeirinhas, bombeiros, resgate e equipe médica são
praticamente os primeiros a chegarem à pista. Mas antes disso, existe a equipe
de apoio que chega uma hora antes para deixar tudo organizado nos postos de
sinalização. E esse trabalho só se encerra na boca da noite de cada dia, quando
jogos de bandeiras, rádios, fones de ouvido, capacetes, são contados e
guardados em ordem numérica que corresponde ao posto onde trabalham os
bandeirinhas. Ou seja, são 23 postos (PSDP mais os 22 postos espalhados pela
pista) que precisam ter o material totalmente conferido para não haver
problemas no dia seguinte. Pois bem, chegando ao autódromo sexta pela manhã,
uma fina chuva nos recepciona. Só me lembro de ter soltado “Hoje vai ser foda!”,
imaginando o trabalhão que seria para o pessoal de resgate a pé, que ficam
expostos no tempo, para resgatar algum carro que rodasse e/ou batesse e com a
chuva caindo forte. O meu primeiro GP do Brasil foi o de 2003, onde choveu na
sexta, fez um sol fraquinho no sábado e caiu um dilúvio no domingo. E posto
onde trabalhei? No posto 4, que fica na parte externa saída da curva do Sol e
entrada da reta oposta. Quem tiver boa lembrança e viu aquela corrida, sabe bem
o que aconteceu naquele pedaço. Fora a chuva que praticamente alagou o posto
(ele fica próximo a um barranco e o chão do posto ficava encravado na terra,
portanto a água escorria e ia para dentro) e nos forçou a abrir uma valeta com
pedaços de pau para que a água escorresse. Mas a chuva daquela sexta não era
tão forte para isso, mas molhou bem a pista e deixou as coisas mais
interessantes.
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Aproveitei a minha estadia no pit-lane para tirar umas fotos, claro. E entre elas, estas duas de Jacques
Laffite (folheando um encarte da 4 Rodas que conta a sua vitória em Interlagos 1979, que ele autografou
para mim) e também Hans Stuck, que parou uma animada conversa para que eu pudesse fotografá-lo.
Gente boa estes senhores!
(Foto: Paulo Abreu) |
O asfalto de Interlagos era novíssimo e tinha,
aparentemente, corrigido as inúmeras ondulações que era uma queixa freqüente
dos pilotos. Era normal ao final de cada de dia você ir por toda a extensão da
reta dos boxes e oposta, ver o tanto de marca amarela que ficava no asfalto
devido a raspagem da prancha de madeira. E o cheiro forte de madeira ficava
suspenso no ar fazendo-lhe sentir que estava numa carpintaria, e não numa pista
de corridas. O primeiro treino foi realizado com pista molhada e Raikkonen
dominou, com Alonso no seu encalço por meio segundo. A tarde, com a pista seca,
foi a vez das Mclarens dominar com Hamilton cravando o melhor tempo, seguido
por Alonso, Massa e Raikkonen. Acabado a F1, entrava a Porsche Cup e depois o
Trofeo Maserati, mas ainda era possível ver movimentações nos boxes com
mecânicos empurrando carros pra lá e pra cá, alguns pilotos se dirigindo para
reuniões. Hamilton foi um dos que passaram e me lembro que havia um grupo de
cinco, ou seis caras, que estavam na velha arquibancada de frente para os boxes
e que o chamaram. Era intervalo entre as categorias suporte, portanto Lewis
ouviu bem quando o chamaram e acenou. Mas os torcedores deram uma bela trollada
nele ao gritarem o nome de “Alonso, Alonso, Alonso...” e caírem
na gargalha. O inglês recolheu o aceno rapidamente e saiu cabisbaixo, aumentado
o ritmo do passo rumo ao paddock. Deve ter passado uma baita vergonha, certeza.
Outro que passou e foi ovacionado foi Massa. Ele tinha crédito de sobra com a
torcida naquela época por conta da sua vitória maiúscula no ano anterior.
Vencer naquele ano era bem provável, mas iria depender muito de como estivesse
o cenário da corrida, pois ele tinha um companheiro na disputa de um título
mundial. Com os treinos livres da Porsche e Maserati se encerrando, era hora de
arrumar as coisas e ir para casa repor as energias.
Mais uma vez, às 5:30 da madrugada, lá estávamos nós, mas
dessa vez sem chuva e com o céu limpo, sem nenhuma nuvem. E o sol apareceu
forte, mas a sombra das sete da manhã no pit-lane nos protegia agradavelmente.
Todos os bandeirinhas – ou quase todos – e pessoal de resgate, médico,
bombeiros, foram para os boxes fotografar os carros. É um momento legal, pois
todas as equipes já estão trabalhando e boa parte dos carros fica pelo lado de
fora das garagens montadinhos, esperando o momento certo para dar início ao
treinamento de pit-stop. Portanto é uma sessão de fotos por nossa parte, uma
vez que dentro da pista isso é quase impossível (se bem que sempre damos um
jeito e fotografamos). Durante esta uma hora de visitação, um amigo meu que
fala muito bem inglês, conversou com um dos mecânicos da McLaren antes que eles
começassem o treinamento. Ele perguntou como estava o clima entre os pilotos e
o mecânico, um homem negro e forte que era responsável pelo abastecimento, lhe
disse que estava bom, mas Hamilton aparentava estar mais nervoso que Alonso. Isso
até soava normal, afinal de contas o franco atirador naquele momento era o
espanhol, bi-campeão do mundo, e não o garoto que o destronou com uma pilotagem
arrojada e que agora estava a poucos pontos de ser campeão mundial. Era surpreendentemente
engraçado, mas Fernando estava mais tranqüilo naqueles dias de GP do Brasil e a
FIA, para garantir que a McLaren daria tratamento igual a suas duas estrelas,
mandou o argentino Carlos Funes – delegado técnico da entidade – para ser o
observador na equipe de Woking. Talvez aí estivesse a explicação para tamanho
sossego de Fernando.
Com a pista devidamente montada, o terceiro treino teve o
seu início e as Ferraris continuaram na ponta, tendo Massa em primeiro e Lewis em segundo. Raikkonen
aparecia em terceiro e Alonso tinha sido apenas o oitavo. De toda a forma, uma
briga particular entre italianos e ingleses. Intervalo longo, com mais de 2
horas. Momento dos bons para o pessoal relaxar, tirar um cochilo, ir ao posto
vizinho para jogar papo fora ou ir atazanar a torcida do setor G, no final da
reta oposta.
A classificação começou às 14:00 horas com a sua habitual
divisão em três partes, mas a que interessava mesmo é a Q3. Nenhuma surpresa
aconteceu nas duas primeiras partes e três protagonistas do embate, mais Felipe
Massa, passaram tranqüilamente pela Q2 que foi liderada por Raikkonen. As duas
Mclarens puxaram o pelotão na saída dos boxes, tendo as duas Ferraris em seguida. A batalha pela
pole era tensa, mas Felipe resolveu isso a favor da Ferrari com uma volta
perfeita cravando a marca de 1’11’’931, 0’’151 mais veloz que Hamilton. A
torcida veio abaixo, gritando o nome de Massa e as coisas poderiam ter sido
perfeitas para os italianos caso Raikkonen não tivesse sido atrapalhado por
Lewis em um momento do Q3, quando os dois se encontraram na pista e o inglês
não deixou espaço suficiente para Kimi na curva Chico Landi que teve de usar a
zebra de forma agressiva. Perdeu alguns décimos, mas não ligou muito para esse
fato: “Não, não foi nada. Perdi poucos décimos, talvez. Lewis poderia ter
feito a coisa mais fácil, mas acabou dificultando. Ele se desculpou. Essas
coisas acontecem no tráfego.” Respondeu ele tranquilamente após ser
perguntado se havia ficado bravo com aquele lance. Kimi tinha ficado com o
terceiro lugar, logo atrás de Massa e Lewis. Alonso, quietinho, marcou o seu
quarto lugar. O restante da tarde foi destinado aos treinos classificatórios da
Porsche Cup e Trofeo Maserati, mas o que mais era comentado é de como seria o
comportamento dos quatro primeiros na largada. Hamilton manteria a
tranquilidade? Raikkonen seria o azarado de sempre? Massa venceria ou teria que
ceder passagem para o finlandês? Ou Alonso daria o bote final? As respostas
para estas perguntas tinham hora marcada: às 14 horas de domingo!
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Todo mundo comportado: A foto oficial da Turma de 2007
(Foto: Paulo Abreu) |
Seis da manhã e já estávamos em Interlagos. Meia
hora mais tarde do que nos dois dias anteriores o que equivale há meia hora ou
uma hora a mais de sono. Muito bom, pois quando se chega ao domingo você já
está cansado pacas de todo aquele evento e para o pessoal que acha os F1
barulhentos e que com aquele barulho não se consegue dormir engana-se, pois
quando chega à metade da prova o cansaço dos outros dias bate e o barulho vira
“música de ninar” para nossos ouvidos. Mas aquela corrida era tensa,
principalmente as primeiras voltas. Numa corrida dessas envolvendo disputa de
titulo, e não digo somente com relação à F1, a atenção dos comissários de pista
(bandeirinhas) tem que ser redobrada, pois um toque entre os postulantes
durante uma disputa direta pode resolver a fatura para um dos dois lados. Se
bem que hoje com o número quase que infindável de câmeras espalhadas pela
pista, o trabalho do comissário de pista ficou relegado ao segundo plano na
parte de informar a central de provas sobre o ocorrido na pista. Mas ainda sim
a nossa informação ajuda muito, pois podemos reportar a ocorrência antes que as
imagens cheguem à direção de provas.
O sol estava mais forte do que no sábado e a previsão de
chuva era quase nula, fato que se confirmou pelo resto da tarde sem nenhuma
nuvem que trouxesse ameaça de, ao menos, uma ligeira pancada d’água. Dessa vez
não houve visitação, até porque os carros estavam no parque fechado e por volta
de nove da manhã eles foram retirados do box (não me lembro qual) e levados por
suas respectivas equipes. A manhã foi movimentada com as duas corridas suporte
da Porsche e Maserati, que foram muito boas por sinal. Com o tempo totalmente
livre, desde as 10:50 da manhã, o público teve que apreciar passeios de carros
de luxo até o momento em que os pilotos se dirigiram para a reta dos boxes, em
cima de um caminhão aberto, para a tradicional foto de fim de ano. Foi possível
ver um Massa tranqüilo, conversando animadamente com Heidfeld e Kubica; Button,
Barrichello e Coulthard faziam o mesmo e na linha de trás e Rosberg, junto do
estreante Nakajima, Sutil e Yamamoto, gargalhavam por alguma piada. Na linha de
frente, sentados lado a lado, foi possível ver que Raikkonen, Alonso e
Hamilton, não trocaram palavras. Permaneceram como estátuas. Uma pequena
correção no boné de um e de outro, mãos entrelaçadas colocadas por sobre as
pernas e mais nenhum movimento. O que tinha de descontração aconteceu no
caminhão, com Hamilton a conversar de canto com seu amigo de longa data, Adrian
Sutil; Fernando papeando alegremente com Webber, Kovalainen (estava ao lado de
um estático Raikkonen), Kubica e Fisichella. O caminhão partiu para o desfile
dos pilotos por todo o circuito e retornou aos boxes. Os pilotos desceram do
caminhão e sumiram pelo box três, mas Hamilton era o mais assediado por fãs e
imprensa junto de Felipe. Fernando e Kimi aproveitaram o embalo e
desapareceram. Agora era esperar por quase uma hora e meia até a largada, e
neste período apareceu um doido varrido com helicóptero que deu voou rasante na
reta dos boxes e depois na oposta, levantando muita sujeira naqueles locais.
Claro, um trabalhinho para os bandeirinhas em deixar a pista limpa.
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A largada para o título: Raikkonen já havia deixado Hamilton para trás
(Foto: F1 Fan) |
Faltando trinta, vinte minutos, o box foi aberto para o
alinhamento. Corre corre por parte das equipes para levar os equipamentos para
o grid e os carros já estavam rodando pela pista. Com todos eles no grid, foi
possível ver alguns pilotos se dirigindo ao banheiro para o último “pit-stop”.
Hamilton passou sisudo com seu pai o acompanhando, com passos firmes e sem
olhar para os lados. E foi assim também na volta. Alonso e Kimi passaram que
quase lado a lado, sem trocar palavras e na volta, o espanhol foi o primeiro a
passar.
O sinal de cinco minutos restantes para que todos esvaziem o
grid começa a tocar. A cada apagar de uma luz vermelha, é um minuto a menos e
uma buzina (como aquelas de caminhões) é tocada. Com o grid vazio, o sinal é
dado para a volta de apresentação. Neste momento o Claudio, comissário responsável
pelo painel eletrônico de onde é acionada as luzes de largada e representante
da direção de provas da FIA, mais Charlie Whiting, diretor de provas da FIA, já
estavam no PSDP e conversavam entre eles. Os carros chegam e logo se alojam nos
seus lugares de largada. A cada carro que para nos colchetes, a respiração e o
batimento cardíaco aumenta e isso não é exclusividade dos pilotos. Nós
bandeirinhas, principalmente na hora da largada, entramos numa grande tensão
porque, afinal de contas, aquele é o momento mais tenso da corrida onde pode
acontecer qualquer acidente de grandes proporções. Conforme Charlie apertou uma
dos botões, as luzes vermelhas foram acendendo uma a uma e os motores subindo os
giros, formando um barulho brutal. Assim que as cinco luzes apagaram, por dois
segundos os giros baixaram. A largada foi dada. Raikkonen foi esperto e pulou
na frente de Hamilton, que parecia estar pregado na sua posição. O finlandês
chegou a emparelhar com Massa na entrada do “S”, mas teve que recolher o carro
bruscamente que o forçou a tourear o Ferrari depois de uma pequena escapada de
traseira. Lewis estava na sua cola e parece não ter visto que Fernando se
colocava do lado de fora na descida do “S” e efetuando a ultrapassagem na
entrada da curva do sol. Hamilton havia perdido duas posições em poucos metros
e as coisas ficariam piores quando ele tentou passar Alonso por fora na curva
Chico Landi e escapado, despencando mais outras quatro posições. A primeira
volta terminava com Massa em primeiro, Raikkonen na sua cola e Alonso em terceiro. Hamilton
aparecia em oitavo. Uma
volta desastrosa para o novato e esperançosa para Raikkonen e Alonso.
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E Yamamoto resolveu a brincadeira com uma "voadora" em Fisichella, no início da segunda volta
(Foto: F1Fan) |
Apesar de uma pancada que Fisichella levara do Spyker de Sakon
Yamamoto, forçando o abandono de ambos, a corrida foi tranqüila até a oitava
volta quando foi visto um dos Mclarens lento na descida do lago. Imaginava-se
que fosse Alonso, mas a verdade é que tratava-se de Hamilton que lutava
loucamente com os inúmeros botões do volante. O carro tinha entrado em ponto
morto e pelas repetições da câmera on-board, parece que Lewis acionada o botão
sem querer forçando o carro a entrar naquele modo. Mais tarde soube que a
McLaren tinha inspecionado o câmbio do carro do britânico pela manhã de
domingo, para achar o problema que forçava a caixa de marchas a entrar naquela
situação. Mas parece que nada tinha sido resolvido, apesar de que falavam que
estava tudo em ordem.
Porém agora eles viam seu pupilo despencar dez posições e
perder quase que trinta segundos, até conseguir botar o carro para funcionar
corretamente. O que estava ruim tinha ficado ainda pior. E na frente continuava
a guerra de nervos entre Massa-Raikkonen-Alonso.
E assim a prova continua, até depois da primeira rodada de
pit-stops que ainda deixa as três primeiras colocações como antes. Hamilton
vinha lutando bravamente pelas posições intermediárias e já estava próximo dos
dez primeiros. Ainda era pouco. Ele precisava chegar pelo menos em quinto,
contanto que continuasse aquela formação, para garantir o seu título. Na volta
31, com toda aquela tensão dentro da pista, foi possível ver uma entrada
desastrosa de Kazuki Nakajima, que derrubou alguns mecânicos da Williams na
hora de pit-stop. Mas ao menos ninguém saiu machucado seriamente, e o filho de
Satoru pôde voltar para corrida e duelar com Coulthard e fazê-lo rodar na
entrada do “S” do Senna quando o veterano escocês tentou passá-lo.
Felipe estava mais tranqüilo. Tinha cerca de três ou quatro
segundos de diferença para Kimi, mas uma escapa em um ponto do circuito o fez
perder dois segundos e isso possibilitou a chegada do finlandês. Alonso estava
bem distante, mais de 20 segundos de desvantagem. Parecia desinteressado,
relaxado. Estava curtindo a prova enquanto que Hamilton fazia o que podia para
entrar na casa dos oito primeiros.
A volta 50 foi decisiva. Massa entrou nos boxes e fez a sua
parada e volta em
segundo. Duas voltas depois é vez de Alonso ir ao pit e
voltar em
terceiro. E Raikkonen? Este ficou na pista e cravou voltas
velozes, que lhe deram a primeira colocação quando ele voltou da sua parada na
volta 53. A
Ferrari tinha feito o seu jogo de equipe de um modo mais sutil, sem nenhuma
canalhice. E naquele momento o jogo era aceitável: Hamilton estava em oitavo,
Alonso era um peso morto na terceira colocação, mas Kimi precisava subir para o
primeiro lugar para garantir o seu título. Apesar do burburinho do final da
corrida, onde os poucos rebeldes queriam crucificar a Ferrari por mais um jogo
de equipe, a maioria acabou por concordar com o acontecido. Ah, mas ainda tinha
uma corrida pela frente. Eram dezoito voltas agonizantes que aumentavam a
tensão a cada passagem de Rosberg e Kubica, que lutavam desenfreadamente pela
quarta colocação desde a volta 39.
A batalha dos dois foi belíssima, mas para os torcedores
da Ferrari aquilo era uma tortura. Um enrosco dos dois, seguido de abandono,
daria a Lewis a possibilidade de subir para quinto (tinha herdado a sétima
colocação após uma parada de box de Trulli) e assegurar seu mundial. Mas isso
não aconteceu.
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Momentos pós vitória: a comemoração de Raikkonen, a faixa da Ferrari e o pódio,
com Alonso sorrindo feito uma criança e Raikkonen normal, como se nada tivesse acontecido
(Fotos: Paulo Abreu) |
Raikkonen seguiu forte com sua Ferrari. Faltando três
voltas, um aglomerado de pessoas da Ferrari apareceu nos boxes com uma faixa “Orgoglio
Ferrari” e se encaminhou para o parque fechado, montado com grades em
frente ao box 1. Kimi venceu a prova, seguido rapidamente de Massa que o
escoltou por aquelas dezoito voltas finais. Um tempo depois passou Alonso, que
parece ter festejado. Rosberg e Kubica apareceram em seguida lutando pela
quarta posição; Heidfeld foi sexto e Hamilton passou em sétimo e gentilmente
agradeceu os aplausos do público e Trulli fechou em oitavo. Finalmente Kimi
era campeão, por uma diferença de um ponto sobre o duo da McLaren que
terminaram empatados em 109 pontos. Um desfecho surpreendente.
Kimi estacionou seu carro e saiu, vibrando ao seu modo: sem
muito entusiasmo. Recebeu os cumprimentos de Massa, Alonso e depois de
Hamilton. No pódio foi possível ver que Alonso parecia o mais feliz, sempre
sorridente, enquanto que Massa não esboçou nenhum sorriso e Kimi continuou
gelado, como se nada tivesse acontecido. Receberam seus troféus, espocaram a
champanhe beberam e seguiram para a sala de imprensa. Após os festejos, as
coisas ficaram tensas quando souberam que Williams e BMW estavam sendo
investigadas por irregularidade na gasolina. Segundo os comissários técnicos, o
combustível colocado nos tanques estaria abaixo da temperatura permitida por
regulamento que é de até 10 graus Celsius abaixo da temperatura ambiente. Ou seja, caso
fossem punidas, Rosberg, Kubica, Heidfeld e Nakajima corriam o risco de serem
desclassificados. Desse modo, Lewis herdaria a quarta colocação com a
desclassificações de Rosberg (4º), Kubica (5º) e Heidfeld (6º) e o título
cairia no seu colo. Mas nada foi atribuído as equipes e assim o título de
Raikkonen se manteve.
Para nós bandeirinhas, era mais um GP do Brasil de F1 que
terminava. Agora era hora de guardar as coisas, contar as novas histórias,
trocar fotos e por aí vai. Mais um ano se passaria e Interlagos viveria
momentos mais tensos e emocionantes do que o de 2007.
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(Foto: F1 Fan) |