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segunda-feira, 24 de junho de 2013

24 Horas de Le Mans 2013: Sangue, Drama e Glória em Sarthe

Quando Tom Kristensen desceu do seu Audi e-tron quattro #2, ele se tornara, pela nona vez, o vencedor das 24 Horas de Le Mans. Uma marca respeitável e que reforça ainda mais o título de "Mister Le Mans" neste período de 16 anos, que se iniciou em 1997 com a sua primeira vitória em Sarthe a bordo de um Porsche WSC-95 formando trio com Stefan Johansson e Michele Alboreto. Mas havia muito mais emoção em jogo: a morte de seu conterrâneo Allan Simonsen ainda nas primeiras horas de prova, tinha tirado o brilho de qualquer conquista em uma das quatro classes que competiam. Ao tentar desviar de um dos Ferraris, que rodara na saída da Tertre Rouge, Allan perdeu o controle de seu Aston Martin #95 - que havia largado da pole na categoria LMGTE-AM - indo bater violentamente contra o guard-rail externo daquela curva. Apesar de ter sido retirado dali e levado para o hospital, as notícias vindas de lá nos davam mais conforto com relação ao seu estado de saúde, mas ao fechamento da segunda hora de prova chegou a notícia de que Allan Simonsen, que estava prestes a completar 35 anos e que disputava as 24 Horas de Le Mans pela sétima vez, morrera devido os ferimentos do acidente que ocorrera na quarta volta. Um baque para todos, que não acontecia desde 1997 com o acidente mortal de Sebastien Enjolras durante os treinos e de Jo Gartner, durante a prova de 1986.
Este era o momento em que Kristensen ainda estava nos boxes, esperando o momento que Allan McNish e Loic Duval terminassem os seus turnos no comando do Audi #2. Certamente já sabia da notícia e quando assumiu o comando do carro na sexta hora, já era líder da prova após os problemas de câmbio que foi apresentado pelo Audi #1 e o pneu furado do #3, quase que tudo ao mesmo tempo. A sabedoria e cadência do velho Kristensen, que tão bem conhece cada cada canto daquele circuito, junto de McNish - que é outro que dispensa comentários - e mais Duval, levaram o Audi #2 a uma vitória que não aparentava ser deles no início da corrida.
A Audi, mais uma vez, esteve em boa forma em Sarthe e nem os problemas nos carros #1 e #3 os abalaram, mas tiveram que ficar de olho no desempenho dos Toyotas que por mais que não fossem tão rápidos durante todo o certame, estavam com uma volta de desvantagem para o carro #2. O TS030 Hybrid #8 e #7 estiveram próximos por toda o certame, exceto na última meia hora de corrida quando o #7, pilotado por Nicolas Lapierre, bateu na barreira de pneus da curva Porsche. Para a Toyota a única possibilidade de lutar contra o poderio da Audi, repousava sobre o tempo chuvoso que deu as caras em Sarthe em algumas situações - principalmente no início da corrida, que proporcionou a equipe japonesa a chance de lutar contra o Audi #1 pela liderança naquelas primeira voltas antes da intervenção do Safety Car, devido o acidente de Simonsen, com o carro #7 de Lapierre contra o André Lotterer. Mais atrás, se beneficiando da chuva, aparecia o #8 de Anthony Davidson numa verdadeira briga de foice contra os outros dois Audis. Três voltas alucinantes. Mas com a pista seca, este cenário se reverteu totalmente para a Audi, que pôs seus três carros nas primeiras posições até que os problemas jogassem o #1 - que era pilotado por Tréluyer - para a 24ª posição, fazendo com que o trio deste carro fizesse uma corrida de recuperação até levá-lo a quinta posição no final. O #3 teve um pneu furado justamente no momento que estava prestes a assumir a liderança, o que deixou o caminho aberto para o Audi #2. Ao menos o trio do Audi #3, formado por Marc Gene/ Lucas Di Grassi/ Oliver Jarvis, conseguiu ficar com a terceira posição no final.
Na LMP2 a OAK Racing conquistou a dobradinha com os seus dois Morgan Nissan #35 (Bertrand Baguete/ Martin Plowman/ Ricardo González) e #24, mas não foi tão fácil como mostra a tabela final: o #24 ficou na liderança por um bom período até que ele tivesse um contratempo na Maison Blanc, após uma rodada - que quase levou um dos Audis junto - jogando o carro para o meio do pelotão no decorrer da sexta hora. Isso deixou o outro carro da equipe numa disputa direta contra o #26 da G-Drive - então líder - e o #38 da Jota Sport. Com o as paradas de box e intervenções do Safety Car, a liderança voltou para o comando da OAK assim como a recuperação do trio Olivier Pla/ Alex Brundle/ David Heinemeier no #24. A terceira posição foi do #26 da G-Drive, pilotado por Roman Rusinov/ John Martin/ Mike Conway.
Na LMGTE-PRO o duelo ficou restrito a Aston Martin (AMR) contra a Porsche (Team Manthey AG), que estiveram próximos durante todas as 24 Horas se alternando na liderança da prova. Coube a Porsche a vencer este duelo após a desistência por acidente de Fred Mackowiecki no #99 da Aston Martin, após bater na saída da primeira chicane da Mulsanne. E isso se estendeu para a LMGTE-AM, que viu a Porsche vencer com o carro #76 da equipe IMSA Performance Matmut, pilotado por Raymond Narac/ Jean-Karl Vernay/ Christophe Bouchut, enquanto que o único Aston que ficou presente naquela categoria, o #96 de Roald Goethe/ Jamie Campbell-Walther/ Stuart Hall, fechou em sexto naquela categoria. Infelizmente não foi uma boa jornada para os carros britânicos, que ficaram na prova a pedido - segundo nota oficial da equipe - da família de Simonsen e que estavam confiantes numa dupla vitória nas duas classes dos GTs.
Estas 24 Horas de Le Mans teve um número recorde de intervenções de Safety Car que, ao total de todas as entradas, ficou por volta de seis horas. Ou seja, a corrida teve 18 horas de disputas diretas, entremeadas por estas intervenções. Mas as mais demoradas foi por causa dos reparos nos guard-rails em três situações.
Ao final dessa corrida, as lembranças de Allan Simonsen ainda estavam vivas nas palavras de Jacky Ickx no pódio e o abraço emotivo que ele deu em Kristensen, visivelmente emocionado, só reforçou este sentimento.
Para Kristensen, que havia perdido o pai em março passado, ele dedicaria esta vitória a ele, mas o piloto dinamarquês decidiu fazer essa em homenagem a Allan: “Perdemos alguém que compartilhava do mesmo sonho, um cara absolutamente humilde e gente boa. É um sentimento misto”, comentou. “Meu pai morreu em março, e ele me disse que eu iria ganhar Le Mans este ano. Espero que eu possa ganhar outro e dedica-lo ao meu pai, porque [a vitória] este ano é para Allan Simonsen”.
Esperamos ver a décima vitória sua em 2014, Kristensen, mas dessa vez numa forma mais alegre e festiva.

domingo, 17 de junho de 2012

24 Horas de Le Mans: Um passeio da Audi e mais uma vitória no bolso



O esquadrão da Audi: 11ª vitória em Sarthe
(Foto: Divulgação)
Para quem acompanha automobilismo com certa regularidade, não era muito difícil prever uma vitória da Audi em Sarthe. Não era necessário ser uma mãe Dinah da vida ou algum Robério de Ogum para sacar que a fábrica de Ingolstadt levaria a sua 11ª vitória nas 24 Horas de Le Mans. Sem a Peugeot, que se retirou das competições no início do ano por questões financeiras, a conquista da Audi nessa prova e no Mundial de Endurance já é cantada há tempos, mas vale lembrar que mesmo correndo “sozinha” a Toyota esteve surpreendentemente próxima dos carros alemães desde os treinos. Ou seja: qualquer descuido poderia ser traduzido numa derrota vergonhosa para dois carros zero quilômetro que estavam estreando na temporada. E Audi teve duas aulas de como não menosprezar o adversário em 2010 e 2011.
Mas isso não aconteceu claro. Dr. Wolfgang Ulrich comandou mais uma conquista da Audi com mãos de ferro, mantendo seus pilotos atentos sempre. As cinco primeiras horas de prova é que foram, na verdade, as mais intensas tendo a Audi a compania da Toyota, que esteve no encalço dos quatro carros alemães por todo esse tempo. Porém os acidentes, com curto espaço de tempo, limaram os japoneses da corrida: primeiro foi Anthony Davidson que acabou sendo abalroado por uma Ferrari na freada do fim da Mulsanne, e acabou decolando seu Toyota #8 e chocando-se, com violência, contra a barreira de pneus. Apesar de ter saído relativamente bem do acidente, foi constatado, mais tarde, que ele quebrara duas vértebras. Meia hora depois, exatamente após a saída do safety car, Kazuki Nakajima resolveu jogar para fora da pista o Delta Wing, Isso lhe custou avarias no Toyota #7 que, apesar de terem sido brevemente reparadas, forçou o abandono horas mais tarde. Para o Delta Wing-Nissan, a prova terminou exatamente após este acidente causado por Kazuki e a cena de esforço de Satoshi Motoyama para recolocar o carro de volta à corrida, já virou um dos marcos dessa 80ª Edição das 24 Horas de Le Mans, mostrando bem como é o espírito dessa corrida. Mais tarde a Toyota mandou que Nakajima fosse pedir desculpas à Nissan pelo acidente.
Apesar de a corrida ter se decidido nestes dois lances infelizes para a Toyota, a Audi enfrentou alguns contratempos: antes que Davidson voasse com seu carro, o Audi #3 bateu de frente na curva Posche e Romain Dumas, que estava ao volante, desceu do carro e arrancou todos os pedaços soltos e voltou para a corrida com um dos pneus tortos. Recolheu para os boxes, arrumou as avarias e voltou para a corrida com um bom número de voltas de atraso para os dois Lolas da Rebellion. Apesar do esforço do trio formado por Dumas/ Duval/ Gené, que descontaram voltas e mais voltas entre a noite e o dia, o erro de Marc Gené quando estavam já na quarta posição, o relegaram para o quinto posto. Desse modo uma possível quadra da Audi foi desfeita.
Outros dois Audis também sofreram algum tipo de incidente: Fässler rodou com o #1 no meio da madrugada, entregando a liderança de bandeja para o trio formado pelos senhores Mcnish/ Capello/ Kristensen. Este último, por exemplo, vem seguindo a sua nona vitória desde o ano passado quando Mcnish a desperdiçou muito cedo naquele pavoroso acidente na primeira hora de corrida. Dessa vez o escocês botou tudo a perder ao bater, sem grandes danos, na curva Indianápolis. Alan é um baita piloto de endurance, veloz, mas tem nele uma impaciência que, quando vem, coloca todo um trabalho no lixo. Fora todos estes contratempos, a Audi esteve absoluta em Sarthe e o trio formado por Lotterer/ Fässler/ Tréluyer levou o bi-campeonato da prova.
Para se destacar nessa corrida previsível, o desempenho sólido da Rebellion Racing que teve um dos seus carros na quarta posição com o trio Heidfeld/ Prost/ Jani e o experiente Pedro Lamy que conduziu o Corvete, versão 2011, da Larbre Competition a uma vitória espetacular na classe LMGTE-AM, mostrando que ainda é uma dos bons pilotos de Endurance do mundo.
Essa vitória da Audi é histórica, por sinal: é a primeira de um carro híbrido, tecnologia que já está sendo preparada por outras grandes fábricas como Mazda, Lotus, Porsche para o ano de 2014. Talvez, quem sabe, mais outras montadoras não resolvam investir no Endurance e desafiar o poderio da Audi, que conquistou a sua 11ª vitória em 13 participações. Uma aula de competência e tecnologia.
A edição de número 80 das 24 Horas de Le Mans se foi. Não pude acompanhá-la como fiz ano passado, mas tive a oportunidade de ler os pedaços dela via twitter e de ótimos blogs como do Rodrigo Mattar e do Paulo Alexandre Teixeira.
E como disse no twitter, quando a prova estava a poucos minutos do fim, a saudade começava a bater. E que venha logo 2013!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O perigo oculto dos guard-rails

O acidente que Robert Kubica sofreu domingo passado durante um rali na Itália, mostrou o quanto que os guard-rails podem ser letais. Por mais que a função destes seja de proteger carros desgovernados, a sua má fixação ou posicionamento pode causar sérios danos como que aconteceu com o piloto polonês.
As barreiras de Armco (assim eram chamados os guard-rails) começaram a aparecer nas competições automobilísticas no início da década de 60, em pontos estratégicos: apenas locais onde havia um perigo eminente para pilotos e público eles eram montados. A sua aparição serviu principalmente para substituir cercas de arame farpado, que estupidamente eram usados em alguns circuitos de estrada. As árvores também eram um perigo constante em várias pistas, como Nurburgring e Spa, por exemplo, e a chegada da estrutura metálica foi bem vinda.
A construção dos guard-rails eram em pontos estratégicos, mas apenas uma lâmina era colocada para segurar os carros e por baixo ficava um espaço de mais ou menos 1 palmo, suficiente para que um carro baixo passasse por debaixo dessa. E estes carros eram os monopostos, onde a cabeça dos pilotos ficava desprotegida. Já na década de 70 as maiorias das pistas construíam os guard-rails com duas lâminas, o que melhorava a eficácia caso um carro batesse. Porém, ao invés de proteger, matavam. Se não servissem de catapultas para lançarem um carro longe, este poderia passar por baixo e decapitar o piloto. John Love teve sorte em não perder a cabeça em Kyalami, durante uma prova local. A mesma sorte teve Regazzoni quando seu Tecno, na F3, passou por baixo de um na saída da chicane em Mônaco. Mas a sorte não acompanhou o pobre Helmut Koiningg, que passou por baixo do guard-rail em Watkins Glen durante o GP dos EUA de 74. Seu Surtees saiu reto e ele bateu na lamina inferior que estava mal fixada, assim acabou por ter sua cabeça arrancada. Aliás, esse era outro mal cuidado que havia durante a montagem. Por preguiça, redução de custos, ou seja, lá o que for, alguns rails eram mal montados causando acidentes como este de Koiningg. Em 75 Emerson Fittipaldi reclinou ao não disputar a prova de Montjuich pelo fato da pista estar com guard-rails mal fixados. Ele foi para a prova e deu apenas uma volta, recolhendo seu Mclaren em forma de protesto o que foi seguido por outros pilotos. No final a desgraça aconteceu quando o Hill-Ford de Rolf Stommelen bateu em um dos rails soltos da pista espanhola, voando contra algumas pessoas que assistiam a corrida matando cinco delas. Por milagre, Stommelen saiu apenas com fraturas. Cevert e Revson também foram vítimas dos rails. Ambos os acidentes foram parecidos, (Cevert morreu em Watkins Glen 1973 e Revson em Kyalami 1974) com os carros subido por sobre as lâminas e seus corpos sendo dilacerados por estas. E ainda teve o Mcnish que varou uma dessas proteções durante os treinos para o GP do Japão em 2002, na pista de Suzuka. Por sorte saiu sem nenhum ferimento, mas os médicos o vetaram para a prova. Assim a Toyota foi com apenas uma carro para a corrida.
No caso do Kubica ele deve ter batido em uma emenda do guard-rail, que é de uma lâmina só normalmente usada em ruas e rodovias, só isso explica o fato da lamina ter entrado carro adentro. Por sorte, muita sorte,ela não tirou a vida de Robert.
Em 2005 cheguei a presenciar uma cena de como um guard-rail pode ser letal. Durante os treinos para a etapa de Vitória (ES) da extinta F-Renault, um dos carros escapou na longa reta que dá acesso à reta de largada. Ele saiu reto e foi bater nas duas lâminas de guard-rail que protegia eu e meu ajudante. O carro acertou bem no fio de corte do rail. Quando a equipe de resgate retirou o carro, a lâmina tinha quase rasgado o cockpit onde estava o piloto. Foi um descuido, pois naquele ponto, de alta velocidade, deveria ter uma barreira de pneus que pudesse vedar aquele fio de corte. Após o acidente, foi providenciado pneus para formar a proteção naquele lugar.
Hoje estas estruturas são bem montadas e inspecionadas antes de qualquer evento e por sorte, pelos menos em provas de monopostos, estes desastres não tem acontecido mais. Mas de todo modo ainda oferece algum perigo. E o acidente de Kubica só serviu para alertar.


Regazzoni abaixou a cabeça no momento certo, enquanto que...

...John Love teve a sorte do seu carro parar antes de mergulhar por baixo da estrutura.



 A mesma sorte não acompanhou Cevert, Revson e Koinigg que morreram no local, vítimas dos guard-rails

Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...