E neste 15 de maio completa 30 anos do
desaparecimento de Elio De Angelis, que faleceu durante os testes em Paul
Ricard quando estava ao volante do Brabham.
Antes disso, o “Príncipe Negro” –
apelido que foi dado pelo fato de ter pilotado carros negros por maior parte da
sua carreira na F1 – fez uma análise daquele início de temporada e do
carro que todos entendiam como revolucionário: o Brabham BT55.
O texto que será reproduzido aqui foi
publicado pela Revista Quatro Rodas em junho de 1986, onde contem a análise de
De Angelis que também foi publicada por outras revistas especializadas de
diversos países.
A última corrida
Elio De Angelis
(1958-1986)
“Não
vai demorar muito... e venceremos! E espero que seja esse o tema de minha
próxima conversa com vocês.”
Foi com essa expectativa que o italiano
Elio De Angelis encerrou sua primeira coluna redigida para dezoito países,
entre as quais Quatro Rodas, no dia 2 de maio. E em nome de uma primeira grande
vitória para a Brabham foi ao circuito de Paul Ricard, na França, testar novos
pneus e escolher os melhores compostos para a corrida que seria disputada no
Bélgica no fim do mês.
Dia 14 de maio. Nos testes, De Angelis fez
a tomada da curva La Verrerie depois de passar pela reta dos boxes a 270Km/h.
De repente, o carro voou e caiu a 80 metros de distância, nas lâminas de metal
dos guard rails, incendiando-se. De Angelis teve traumatismo cervical, craniano
e torácico. Não resistiria aos ferimentos. Morreu no dia 15.
Dez dias antes de morrer, ele tinha feito
uma análise do revolucionário Brabham BT55, de 82 centímetros de altura. Estava
a um tempo decepcionado e esperançoso, como escreveu:
“Para
um carro tido como o grande ganhador de 86, as dificuldades poderiam
desestimular o seu criador, Gordon Murray. Mas ele não desistiu e transmite
para nós a visão de que será recompensado no futuro. A pessoas podem pensar que
os bons resultados estão demorando demais, mas eles logo virão.
Depois
do GP do Brasil, passamos uma semana no Rio tentando resolver os problemas do carro.
Era revoltante saber que, apesar da enorme força dos motores BMW, os éramos
40Km/h mais lentos que os outros carros nas pequenas retas, embora fôssemos
mais velozes nas longas. E, nas saídas de curvas de baixa velocidade, a
retomada de ritmo era lenta. Não sei o que ocorria, mas a potência aparecia de
repente e era difícil controlar a rotação das rodas. Será que haveria, também,
problemas na suspensão? Cheguei a pensar nisso, e o Gordon até planejou uma
nova distribuição de peso, para fircarmos mais próximos do limite do limite
mínimo de 540 quilos.
Tudo
isso veríamos depois nos treinos para os GPs de San Marino e de Mônaco. Com uma
certeza:
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A última prova de De Angelis foi em Mônaco, quando abandonou com problemas no turbo |
segundo projeções dos computadores, poderíamos ganhar 1 segundo e meio
em cada volta, por causa da maior competitividade que nossos motores teriam a
partir do GP de Mônaco.
Infelizmente,
não terminei as provas na Espanha, em San Marino e em Mônaco.
Em
Jerez (13/4),
fiquei atrás da Tyrrell de Philipe Streiff, que esparramava nuvens de óleo no
meu visor. Tornou-se muito difícil enxergar e houve até momento em que joguei Senna para fora da
pista. Foi bom que logo a seguir a caixa de câmbio quebrasse, porque eu temia
um acidente.
Em
San Marino (27/4), enfrentei alguns problemas com a embreagem. Mas estava andando bem. Depois
de quinze voltas, troquei os pneus. Depois de mais cinco, a caixa de câmbio me
tirou novamente da corrida. Mas não perdi a motivação. Para a prova em Mônaco (11/5), vamos tentar solucionar todos os
problemas.
O
BT55 é um carro excitante, um carro pioneiro. Não vai demorar a vencermos.
Espero que este seja o tema de minha próxima conversa com vocês.”
OBS: em Mônaco, Elio De Angelis parou na 38ª volta, com problemas no
turbo. Quatro dias depois, morreria na França, aos 28 anos. Não se pode
atribuir o acidente a uma falha humana. O que se sabe é que o Brabham perdeu o
aerofólio traseiro e, por isso, a aderência. De Angelis disputou 108 GPs,
alcançou duas vitórias (Áustria 1982 e San Marino 1985) e teve como
característica a regularidade: em 43 dessas provas, chegou entre os seis
primeiros.
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O que restou do Brabham BT55 de Elio |
Teve poucas pessoas no momento do acidente
de De Angelis. Ao que aparenta, dois mecânicos da Benetton estavam no local e
presenciaram o exato instante que o Brabham passou sobre um depressão do
circuito francês, forçando a quebra da asa traseira e assim a decolagem,
fazendo com que o carro voasse para além do guard rail.
O fogo logo tomou conta do carro e mesmo os
esforços de Nigel Mansell, Alan Jones e Alain Prost, não foram suficientes para
tentar retirar o piloto italiano do carro e para piorar, a demora na chegada de
alguém para tentar apagar o fogo e mais a equipe médica, foi cerca de 50, 55
minutos.
Após estes acontecimentos, a FISA tomou
medidas para que os testes tivessem o mínimo de segurança para a sua realização.
E como aconteceria anos depois, o trecho do circuito é quem pagou o pato: os
carros passaram a evitar a curva La Verrerie, entrando praticamente no meio da
gigantesca reta Mistral.