Talvez você tenha sido um daqueles que xingaram Takuma Sato
de tudo quanto foi nome, quando ele tentou aquela ultrapassagem na última volta
sobre Dario Franchitti. Mas, naquelas circunstâncias, onde se depara com uma
chance e seu subconsciente julga ser a única, o que você teria feito? O
subconsciente de um piloto de corridas varia muito. Se fosse um Helio
Castroneves, Dario Franchitti, Scott Dixon ou Tony Kanaan naquela situação,
eles esperariam por uma segunda chance, afinal sabiam bem que tinham um carro
suficientemente bom para passar seu oponente na curva seguinte, ou então
arriscariam tudo na reta oposta num jogo de vácuo. Takuma tinha um carro assim,
mas preferiu atacar quando viu uma brecha se abrir.
Indy 500 tem aquela lógica de que não há favorito. Nem o
pole-position tem essa vantagem. Afinal são 200 voltas, 500 milhas, mais de
duas horas e meia de prova, portanto para quê arriscar-se tanto. Você pode
vaguear entre a dianteira e cauda do pelotão, e se tiver um carro bem acertado
para conseguir andar bem no tráfego e sem ele, suas chances serão enormes de
ver seu rosto e nome gravados no gigante troféu “Borg Warner” e dizer “Eu
venci”. Sato tinha um bom carro, que lhe permitiu andar bem nestas condições
que descrevi agora pouco. Tinha largado em 19º e junto do duo da Ganassi,
Franchitti e Dixon, escalou o pelotão conforme as coisas iam mudando de forma,
por causa das paradas de boxes e acidentes. Aliás, foram poucos os acidentes e
mais impressionante é que três deles os carros não sofreram danos, ou quase isso.
Fora essa estatística impressionante, a prova foi tranqüila até 160 voltas
quando a corrida realmente começou. Portanto, não adianta se matar feito um
louco em acelerar e acelerar e derrepente ficar sem carro na parte que
realmente interessa: as últimas 50 voltas.
Sato estava bem e vinha entre os cinco primeiros, seguindo
de perto uma constante troca de liderança entre os vermelhos Ganassi. Furar
aquela dupla seria difícil, mas Tony Kanaan o fez de modo esplendoroso ao
costurar o pelotão arrancando de sexto para primeiro na penúltima relargada.
Fenomenal. Talvez uma das melhores relargadas dos últimos tempos. Tony liderou
com autoridade, segurando bem o assédio de Franchitti. Takuma tinha despencado
de terceiro para sexto. Marco Andretti, que havia liderado por um bom tempo a
prova na sua parte inicial, rodou e bateu, forçando a então bandeira. Apesar de
Kanaan ter sido tragado facilmente pelo pelotão, despencando para quinto, foi
Takuma que mais uma vez reapareceu como um foguete, indo para quarto e subindo
para terceiro faltando cinco voltas para o fim. Ele não teve muita dificuldade
em passar Dixon e assumir o segundo posto. Teria coragem o japonês de arriscar
tudo naquelas voltas finais contra a raposa que é Franchitti naquele
“Brickyard”? Ou Bobby Rahal seguraria o ímpeto do japa? Sato optou pela sua
coragem habitual, aquela mesma que fez a maioria em Montreal vibrar quando ele
colocou uma surrada Super Aguri por dentro para ultrapassar um atordoado Alonso
numa McLaren infinitamente superior. Ele viu o espaço na primeira curva, na
abertura da última volta e foi na fé: carro por dentro, Franchitti diminuindo o
espaço, mas Takuma abrindo caminho onde não tinha mais; os carros se esfregam,
o de Sato se desgarra e por um fio de cabelo não leva o de Dario para muro.
Pronto, as 500 Milhas estavam decididas a favor de Franchitti pela terceira vez
na sua carreira e curiosamente em bandeira amarela, como tinham sido as duas
últimas. Dixon fechou em segundo e Tony em terceiro. Dan Wheldon, último
vencedor da Indy 500 e morto na prova final do ano passado deve ter ficado
feliz pelo pódio, como bem disse Kanaan.
Para Takuma restou apenas à fama de
ter sido ao segundo cara a jogar a vitória no muro, como fez Hildebrand ano
passado. Mas tem as suas diferenças.
Hildebrand tinha uma vitória certa, garantida e carimbada.
Era só levar o carro para a faixa de tijolos e receber as quadriculadas, mas,
no entanto descuidou-se e bateu no muro da curva quatro de forma bisonha,
tosca. Sato estava na busca por uma vitória. A sua primeira, assim como o
próprio Hildebrand. Vencer a sua primeira corrida, exatamente lá em
Indianápolis, nas 500 Milhas, seria um feito e tanto. Ele, talvez, tenha
pensado muito naqueles instantes: se eu meter o carro por dentro, sem muito
espaço, posso perder o controle e bater como também posso efetuar a
ultrapassagem e ganhar a corrida. Ou então se eu deixar para depois, na reta
oposta, será que terei chance de ultrapassá-lo? Vai saber exatamente o que
passou por sua cabeça naqueles momentos. Takuma é instintivo, brigador. Tem por
necessidade a gana de ultrapassar e tentar tudo em um lance, como se fosse o
único. E seu lance seria marcante de
qualquer forma: conseguindo a ultrapassagem ou não, como acabou acontecendo. Mas
uma coisa pode escrever: ele não vai mudar o seu estilo por causa disso. Assim que tem que ser.