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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Foto 884: A primeira em Monza

 

(Foto: Alpha Tauri/ Twitter)


A vitória de Pierre Gasly nesse último domingo passa a ser uma dos melhores momentos da Fórmula-1 nos últimos anos. Uma vitória carregada de emoções e revitalizante para um piloto que passou por maus bocados em 2019 até o seu heroico pódio em Interlagos naquele ano.

Por outro lado, a sua conquista o coloca na lista de pilotos que venceram seu primeiro GP na Fórmula-1 no solo sagrado de Monza. Ele é o oitavo piloto a conseguir essa façanha e agora vamos aos outro sete que compõe esse grupo.

 


1960 – Phil Hill –
O campeonato daquele estava totalmente nas mãos das equipes britânicas, tendo vencido as oito primeiras etapas das dez programadas para aquele mundial. Para o GP da Itália, o traçado escolhido foi o completo – com a utilização do anel externo da pista de Monza. O piso de concreto utilizado na bancada do oval prejudicava bastante a performance dos carros ingleses – por causa dos fortes solavancos – e nisso acabou que as equipes oficiais da Lotus, Cooper e BRM se retiraram daquela etapa e apenas os Cooper de propriedade de alguns pilotos particulares é que participou.

Foi a deixa para a Ferrari chegar a sua primeira e única vitória naquele ano: inscreveu quatro carros, sendo três D246 para Phil Hill, Richie Ginther e Willy Mairesse e uma 156P de motor traseiro para Wolfgang Von Trips.

Hill largou da pole (a primeira dele) e passou para vencer pela primeira vez na Fórmula-1 após duelar com Ginther, que terminou em segundo e Mairesse em terceiro. Ele tornou-se o primeiro americano a vencer uma corrida oficial na Europa após 40 anos, quando Jimmy Murphy venceu o GP DA França de 1921 em Le Mans pilotando um Duesenberg. Foi também a última conquista de um carro com motor dianteiro na Fórmula-1.

Phil repetiria a vitória em Monza um ano depois, no trágico GP de custou a vida de Von Trips e que era seu rival na disputa pelo titulo em 1961. Hill acabou por ser o campeão.

 


1965 – Jackie Stewart
– A temporada de 1965 levava a marca de Jim Clark e Lotus, que até ali tinha vencido seis vezes no mundial – e ainda carregava a fabulosa conquista da Indy 500. Em Monza a batalha foi inteiramente entre os pilotos britânicos onde Clark, Graham Hill, Jackie Stewart (estes dois com a BRM) e uma rápida intervenção de John Surtees (Ferrari), deu o tom naquela corrida regada ao uso do vácuo com as constantes trocas na liderança entre Clark, Hill e Stewart até a 57ª volta quando Jackie assumiu a liderança de vez.

Jim Clark abandonou na volta 63 por problemas de vazamento de óleo e deixou a disputa para Jackie e Hill, com o inglês ainda incomodando o escocês em algumas oportunidades. Mas Stewart reassumiria a liderança de vez na volta 74 para vencer seu primeiro GP na Fórmula-1.



1966 – Ludovico Scarfiotti –
O piloto italiano era um dos melhores de sua geração naquela década de 60, tendo vencido provas no Mundial de Marcas – incluindo a conquista nas 24 Horas de Le Mans de 1963 com Lorenzo Bandini pilotando pela Ferrari – e também com dois títulos no Campeonato Europeu de Subida de Montanha em 1962 e 1965.

Scarfiotti tinha feito já algumas provas na Fórmula-1, tendo estreado no GP da Holanda de -1963 onde terminou em sexto e participou, também, de algumas provas extra-campeonato incluindo a famosa corrida em Syracuse no ano de 1967 onde ele dividiu a conquista com seu companheiro de Ferrari Mike Parkes após terem cruzado a linha de chegada juntos, computando a mesma velocidade (182,90 KM/H) e cravando um incomum empate.

No GP da Itália de 1966 Scarfiotti largou da segunda posição, com a pole ficando para seu companheiro de Ferrari Mike Parkes – que marcava a sua primeira pole na categoria. Após uma má largada que o jogou para sétimo, Ludovico escalou o pelotão aos poucos para assumir a liderança na 13ª volta e perde-la momentaneamente na 27ª passagem para Mike Parkes e recuperá-la em seguida, para se tornar o primeiro italiano a vencer o GP da Itália desde Alberto Ascari, que havia vencido em 1952 também pela Ferrari. E agora era vez de Ludovico herdar essa marca, ao ser o último italiano a vencer o GP italiano e com Ferrari.

Scarfiotti morreria dois anos depois numa prova de Subida de Montanha em Berchtesgaden (ALE) ao volante de um Porsche 910 durante os treinos.

 


1970 – Clay Regazzoni –
Vencer pela Ferrari é sempre um previlégio. Se for pela primeira vez, engrandece o piloto, mas se este pacote for todo num GP da Itália em Monza, eleva o piloto a imortalidade junto aos Tiffosi. Para o novato Clay Regazzoni, que passou parte daquele ano revezando o volante do 312B com o também novato Ignazio Giunti, a corrida foi um dos grandes presentes na sua carreira.

Apesar de todo clima tenso pela morte de Jochen Rindt durante os treinos, a corrida aconteceu e Regazzoni estava num ótimo terceiro lugar – com seu companheiro de Ferrari, Jacky Ickx, na pole e Pedro Rodriguez (BRM) em segundo.

As primeiras trinta voltas foram uma batalha visceral que envolveu Ickx, Rodriguez, Regazzoni, Jackie Stewart, Jackie Oliver e Denny Hulme no revezamento pela liderança, mas a partir da 31ª volta Stewart passou a batalhar exclusivamente com Regazzoni.  A partir da volta 54, Clay assumiu de vez a liderança para conquistar a sua primeira vitória na Fórmula-1 e ver a pista de Monza se transformar num mar de Tiffosi que agora tinham um novo ídolo.

Regazzoni ainda venceria em Monza cinco anos depois, quando levou o GP da Itália de 1975 com a Ferrari.




1971 – Peter Gethin –
Poderia um piloto sair de uma posição de meio de grid e vencer em Monza? Com um bom carro e conseguindo usar bem o beneficio do vácuo, essa chance cresceria consideravelmente.  Peter Gethin (BRM) marcou apenas o 11º tempo naquele grid para o GP da Itália que teve como pole Chris Amon com a Matra. Mas o britânico soube usar bem o turbilhão de vácuo em Monza naquele dia.

A corrida foi uma das mais disputadas da história, onde os seis primeiros passaram a corrida separados por meros meio segundo. Clay Regazzoni, Ronnie Peterson, Jackie Stewart, François Cevert, Mike Hailwood, Jo Siffert e Chris Amon foram os pilotos que trocaram a liderança até a 51ª passagem até que Peter Gethin, que havia ficado a corrida toda comboiando este grupo, começou a escalar o pelotão até chegar à liderança na volta 52. Ele perderia a liderança na passagem 54, mas recuperaria na volta 55 para vencer o seu único GP com a apertada vantagem de um centésimo para Ronnie Peterson.

A média horária alcançada por Peter Gethin foi de 242.616 KM/H . Em termos de comparação, naquele mesmo ano, Al Unser venceu a Indy 500 com a média de 253.850 KM/H.



2001 – Juan Pablo Montoya –
A fama do colombiano já estava em alta quando o GP da Itália daquele ano foi realizado. Sua coragem frente aos demais e, principalmente, Michael Schumacher, chamava atenção e credenciava o jovem piloto a ser um dos grandes astros.  

Aquele GP da Itália foi realizado sob forte tensão após o ataques as torres gêmeas em Nova York (11 de setembro) e do grave acidente sofrido por Alessandro Zanardi um dia antes na etapa de Lausitzring válida pelo campeonato da CART.

Montoya largou da pole e viu em Rubens Barrichello (Ferrari) e no seu companheiro de Williams, Ralf Schumacher, seus dois grandes opositores naquela edição. Juan Pablo acabou por vencer a corrida, com uma margem de cinco segundos sobre Rubens e dezessete sobre Ralf.

Montoya voltaria a vencer no circuito em 2005, pela Mclaren.



2008 – Sebastian Vettel –
A estrela em ascensão do automobilismo alemão teve seu dia de rei em Monza ao cravar a pole em condições bem adversas, onde a chuva foi constante. Na corrida, a soberania do jovem Sebastian Vettel continuou e ele liderou quase todas as voltas, perdendo a liderança por apenas quatro voltas para Heikki Kovalainen (19-22) e retomando para vencer de modo convincente pela primeira vez na categoria – e também para a então jovem equipe Toro Rosso, que havia surgido do que era a Minardi.

Essa conquista de Vettel o credenciaria para a equipe principal, a Red Bull, em 2009, onde ele veio conquistar seus quatro campeonatos consecutivos (2010-13) e tornar-se um dos grandes da categoria.  

domingo, 17 de novembro de 2019

GP do Brasil - Interlagos não decepciona... Jamais!

Confesso que precisei recorrer a um antigo título de texto para sintetizar tudo que Interlagos representa e tem representado nestes GPs do Brasil, principalmente nos últimos treze, quatorze, quinze anos que a prova paulistana passou do início para o fim da temporada. Foram corridas carregadas de emoções e suspense, que faria inveja a qualquer roteirista de cinema.
A prova deste ano mais parecia um jogo de xadrez, com cada um dos ponteiros apostando num tipo de pneu para tenta beliscar a vitória. Se Hamilton e Verstappen apostavam nos macios, Vettel foi de médio, enquanto que Bottas tentava surpreender com duros. E ainda tinha Albon e Leclerc, que havia feito uma corrida de recuperação e empacado no sexto lugar. Porém o abandono de Bottas na volta 54 desencadeou uma situação que animou ainda mais a prova, com a ida do então líder Max Verstappen aos boxes para trocar os médios pelos macios e deixar Lewis na liderança, apostando nos seus médios, já um tanto desgastados.
As últimas dez voltas foram insanas, com Max atacando impiedosamente Hamilton e desaparecendo na liderança, enquanto o inglês precisou se virar contra um impressionante Albon, que já havia ganhado o terceiro lugar de Vettel com uma bela ultrapassagem no S do Senna. Sebastian ainda tentou retomar a posição na passagem seguinte na entrada do S do Senna, porém Albon estava em grande forma e conseguiu defender-se. Mas para a Ferrari as coisas não terminariam tão bem quanto parecia: um duelo visceral entre seus dois "bambinos" resultou num incidente que colocou os dois para fora, após uma bela ultrapassagem de Charles sobre Sebastian na disputa pela quinta posição que esticou até a metade da reta oposta, quando Vettel tentou retomar a posição e acabou se tocando com Leclerc. Enquanto que o piloto do carro #16 estourou o pneu dianteiro direito e saiu no final da reta oposta, Vettel também teve o pneu traseiro esquerdo furado e tendo que abandonar mais a frente, no miolo do circuito. Um final melancólico e tenso para dois pilotos que estão num nível de pilotagem muito próxima e que tendem a entrar em rota de colisão.
A colocação do segundo Safety Car para a limpeza da pista deixou um cenário interessa, com os dois Red Bull na frente e o Toro Rosso de Pierre Gasly num belo terceiro lugar. Hamilton foi aos boxes para colocar os macios e arriscar no final. Porém a audácia do hexacampeão funcionou com Gasly ao ganhar a terceira posição, mas acabou não dando certo quando tentou pegar a segunda colocação de Albon no bico de pato ao tocar com o piloto tailandês e fazê-lo rodar. Lewis continuou em terceiro, enquanto que Albon despencou na classificação. Porém a derradeira volta ainda deixou reservado o duelo entre Lewis e Gasly pela segunda posição, com o piloto francês conseguindo a posição por meio carro, enquanto que Max passou para vencer o GP brasileiro. A corrida acabou "esticando" por conta da investigação sobre o toque de Hamilton em Albon, que acabou resultando numa punição de cinco segundo para inglês que o fez cair de terceiro para sétimo. Carlos Sainz, que havia largado em último e feito uma corrida de recuperação, acabou herdando a terceira colocação - ainda que tenha tido a suspeita do uso do DRS por sua parte, mas que foi rechaçada pelos comissários quando verificaram que ele estava em velocidade baixa. Sendo assim, foi o primeiro pódio do piloto espanhol e o primeiro da McLaren desde o GP da Austrália de 2014.
Bem como disse no início do texto, o GP em Interlagos tem sido dos mais impressionantes da última década e meia. Mesmo que Interlagos não tenha todo o luxo de circuitos mais novos, o circuito paulistano ainda tem a áurea dos bons e velhos circuitos, onde as coisas se transformam de uma para outra dando vida etapas que pareciam modorrentas em seu início. E o velho Interlagos de guerra tem sido assim nestes últimos tempos: mesmo que não tenha chuva, um simples Safety Car pode mudar os caminhos de seus protagonistas. Ainda que exista o imbróglio sobre a permanência ou não do GP aqui, essa corrida mostra o quanto que Interlagos ainda rende boas provas. Isso sem contar um público apaixonado, que comparece sempre e declara seu amor ao nosso velho autódromo.
Assim como outros templos do esporte a motor, o autódromo de Interlagos parece ter o "poder" de bagunçar a corrida quando bem entender e brindar o público com grandes epopéias e imortalizá-las na mente daqueles que estiveram lá e também em casa.
E por essa de hoje e de tantas outras, é que Interlagos não decepciona. Jamais!

quinta-feira, 14 de março de 2019

A Septuagésima da Fórmula 1

Quando as luzes vermelhas para o GP da Austrália forem apagadas, a temporada de número 70 da história da categoria terá se iniciado sob a sombra da grande expectativa que até aqui se acumula: como será o embate entre Mercedes e Ferrari pelo derradeiro campeonato dessa década.
A impressão que fica até aqui é que este mundial é o mais esperado da década, simplesmente por esperaram se de fato a Ferrari conseguirá quebrar a hegemonia da Mercedes ou se os alemães darão mais uma vez as cartas, ampliando ainda mais um domínio que já um dos maiores da história.
A julgarmos pelo foi visto nos testes, a Ferrari chega muito melhor para estas primeiras etapas. O desempenho de Vettel e Leclerc sugerem que a máquina italiana esteja cerca de três até cinco décimos mais veloz que a Mercedes. Isso deixa os fãs da equipe italiana - em especial os de Sebastian - com uma alta carga de esperança de que agora consigam bater os alemães, já que nos últimos dois anos os inícios foram animadores e finais extremamente frustrantes.
Por mais que saibamos que o seus cronogramas de testes são mais concentrados em testar incansavelmente a durabilidade de seus componentes, boa parte da imprensa - para não dizer 100% - ficou com a dúvida implantada por ver nenhum dos carros prateados aparecerem com frequência entre os três melhores dos oito dias testes - sendo apenas no oitavo e derradeiro que Hamilton e Bottas puderam dar carga total no acelerador, ao marcarem o segundo e terceiro respectivamente. Tecnicamente isso não é uma grande novidade no metódico trabalho mercediano, uma vez que seus pilotos passam a andar forte exclusivamente nos dois últimos dias de testes, após trabalharem incansavelmente nos mais variados programas de desenvolvimento do carro nos outros dias. Mas claro que declarações de Toto Wolff, Lewis Hamilton e Valtteri Bottas, dizendo que a Ferrari está a frente tanto em ritmo de treino quanto no de corrida, mais a falta de resultados nos tempos finais de cada dia dos testes - isso sem contar a dificuldade com os pneus por conta do desgaste - acabou gerando a tal "pulga atrás da orelha" que levou muitos acreditarem que realmente a Mercedes esteja em desvantagem frente a Ferrari. A verdade é que em quilometragem, a Mercedes liderou quase todos os dias, ficando cerca de cem voltas a frente da rival italiana. Se a durabilidade é forte, a melhora do carro poderá vir em breve.
A Red Bull teve um bom trabalho neste início de "casamento" com a Honda, fazendo bons tempos e entregando uma confiabilidade até interessante nessa parceria. Eles acreditam - leia-se Helmut Marko - que possam estar até mesmo a frente da Mercedes neste momento em ritmo de corrida, o que lhes daria uma posição privilegiada para desafiar a Ferrari - levando Marko a acreditar que possam vencer até mesmo cinco corridas nesta temporada (e sempre com Verstappen), dando ao piloto holandês a oportunidade de disputar fortemente o título mundial. Com Adrian Newey trabalhando diretamente no carro, como nos velhos tempos, pode dar uma idéia de que a equipe possa compensar a falta de potência do motor Honda com a aerodinâmica refinada do projetista inglês.
A verdade, para este primeiro escalão da F1, é que para neutralizar bem a Mercedes é preciso ficar de olho no desenvolvimento que eles fazem durante a temporada: tanto em 2017, quanto em 2018, a equipe alemã iniciou a temporada bem, mas não tanto quanto gostariam, porém o acumulo de pontos nas primeiras quatros corridas e mais as informações obtidas, ajudaram a desenvolver o "antídoto" para igualar e até mesmo passar a Ferrari já na prova da Espanha. E a segunda parte do Mundial também tem sido crucial para a melhora da Mercedes, dando a Lewis Hamilton condições de "estilingar" suas performances rumo aos títulos. Uma artimanha bem conhecida e bem feita pela Red Bull nos anos de 2010 e 2012 - principalmente neste último - deixando Vettel a vontade para embolsar uns bons pontos e iniciar uma sequência importante de vitórias que resultariam em seus títulos. A Mercedes e Hamilton tem feito isso com perfeição nestes dois últimos anos, o que valoriza ainda mais o grande trabalho dos engenheiros na fábrica e de toda a equipe nas pistas.
Mas o campeonato não ficará restrito a essa batalha pela dianteira: o meio do pelotão também nos dará uma boa dose de disputas, o que tem sido um campeonato a parte nos últimos anos devido a disparidade técnica dessa turma frente as três principais equipes.
Alfa Romeo e Toro Rosso foram destaques positivos nos testes e podem até mesmo embaralhar as ações no decorrer do campeonato, uma vez que suas ajudas no campo técnico - e até mesmo estratégico - para as suas equipes principais (Ferrari e Red Bull) serão de grande valia. A Haas é outra que também pode contribuir nesse campo, a exemplo da Alfa Romeo, com a Ferrari. As armas estão na mesa para derrubar o poderio da Mercedes.
O restante da turma é onde mora a incógnita: Renault e Racing Point não tiveram grandes destaques o que sugere uma temporada bem atribulada. Por outro lado, a McLaren deixou no ar a dúvida de que se realmente achou um caminho ou foi apenas fogo de palha, com os bons tempos apresentados por Sainz e o novato Norris. Para encerrar, o calvário da Williams não podia ser pior: um carro que começou os testes com atraso de um dia; um desenvolvimento lento desde a fábrica - que resultou no atraso na pista; tempos de voltas bem abaixo do segundo escalão; uma suspensão dianteira que precisou ser revisada após a FIA entender que estava fora do regulamento e Paddy Lowe afastado, mostra o quanto que a equipe que já reinou na categoria está fora do eixo. E os sinais de melhora não devem aparecer tão cedo.
A verdade é que este septuagésimo mundial de Fórmula 1 e último dessa década, pode ser o melhor deste período de era turbo híbrida e daí é que poderemos ver a tomada da Ferrari para o campeonato mundial ou a continuidade absoluta da Mercedes neste cenário que tão bem domina desde 2014.
E a brincadeira começará em instantes.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Videos: Fórmula-1 2019 - Testes de Pré-Temporada

Foram quatro dias intensos na pista de Barcelona onde tivemos o início das atividades para a temporada 2019 da Fórmula-1.
Aqui fica algumas imagens e também os resultados de cada dia.


Dia 1 – 18/2
Dia 2 – 19/2
Dia 3 – 20/2
Dia 4 – 21/2

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Foto 588: Forças

Acho que a prova de ontem em Hockenheim serviu apenas para mostrar a real divisão de forças da atual F1. Não foi nenhuma grande corrida, mas também não foi nenhum desastre, ficando apenas no que já sabemos bem que a Mercedes, em condições normais, é inalcançável.  A atual tranquilidade de Hamilton contrasta com o inferno que Rosberg tem enfrentado nas últimas provas, até por conta de suas más largadas, onde não tem conseguido aproveitar-se bem da posição de honra. Se era Lewis quem largava mal no início do ano, agora é a vez de Nico sentir que precisa dedicar-se a isso. A única oportunidade para Rosberg tentar uma reação virá imediatamente no GP da Bélgica, no fim de agosto, quando Hamilton poderá sofrer punições pela troca de motor e componentes o que jogaria o piloto inglês para a última posição e daria ao alemão a oportunidade de tentar diminuir - ou que sabe até superar - a diferença que hoje é de 19 pontos entre eles.
Por outro lado vemos uma disputa bem interessante pelo posto de segunda força, com uma Red Bull que levou seus dois pilotos ao pódio e nisso roubou a segunda posição da Ferrari no Mundial de Construtores. E ontem foi um retrato fiel de algo que estamos acompanhando desde o GP da Espanha, mas desta vez mais latente: uma Red Bull espetacularmente em forma e uma Ferrari que parece ter estagnado tecnicamente. Aquela atuação brilhante de Vettel em Montreal, visto hoje, mais parece um suspiro de um moribundo, do que de uma equipe que ainda almeja algo no mundial. Para piorar a situação, sabemos bem que a Red Bull sempre apresenta algo de interessante na segunda parte dos mundiais e isso nos leva a crer que, caso tivesse um motor mais potente, poderia muito bem incomodar a Mercedes nesse estágio e ser uma adversária a altura da equipe alemã.
No segundo escalão - ou terceiro, como queiram - temos uma disputa mais equilibrada até mesmo por conta da Williams que tem feito provas com desempenhos irregulares, principalmente com Felipe Massa que hora ou outra não se encontra com o acerto de seu carro. Por isso a Force India tem feito bons trabalhos, ora com Sergio Perez, ora com Nico Hulkenberg. Mas no rastro destas duas aparecem a Toro Rosso e Mclaren, sendo que a equipe austro-italiana também aparece numa situação parecida com a da Williams, onde Carlos Sainz é quem tem feito um bom trabalho - após a saída de Verstappen para a Red Bull - e Daniil Kvyat não tem se reencontrado após o seu retorno à equipe. Creio que pode ser um mix de desânimo e confusão quanto ao acerto do carro, deixando o jovem russo em maus lençóis na equipe, onde a sombra de Pierre Gasly começa a se fazer presente. Já a Mclaren tem conseguido bons resultados com sua dupla decana, mas alguns problemas - ainda menores - tem atrapalhado. Mas perto do que estavam há exato um ano, as coisas evoluíram bastante. No meio deste segundo e terceiro escalão aparece a Renault, que ainda procura o seu sol na categoria neste seu ano de retorno, mas sua dupla de pilotos não correspondeu até aqui a altura e são altamente contestados. Quem sabe nesse restante de campeonato as coisas podem favorecê-los.
O quarto e último escalão remonta à Manor, Sauber e Haas, que tem lutando constantemente para saber quem não é a última do grid. Para  Sauber as coisas tem sido bem piores, pois tem um ano que não sofrem evoluções consideráveis em seu carro e isso acaba sendo um tiro no pé. Ao menos a venda da tradicional equipe a um fundo de investidores pode ajudá-los a sair do limbo e começar a trabalhar no carro deste ano - e do ano que vem, também - para tentar dar a Marcus Ericsson e Felipe Nasr uma melhor oportunidade de tirar a equipe do zero na tabela de pontos. A Manor pode não ter saído do fim do grid totalmente, mas ao menos tem feito um papel bem melhor que em outras épocas desde que se chamava Marussia. O ponto conquistado por Pascal Wehrlein na Áustria, aliviará bastante o bolso da equipe para o ano que vem. Mas ainda fica o impasse se Rio Haryanto estará nas fileiras para o restante do ano. A Haas, sem dúvida, foi a grande sensação das provas iniciais quando conquistou 22 pontos devido a boas escolhas dos pneus e atuações gloriosas de Romain Grosjean. Abrindo mão de trabalhar no carro deste ano, a novata equipe norte americana deu uma decaída - como era de esperar -, mas ainda assim conseguiu angariar mais alguns pontinhos que o fizeram subir para os 28 pontos até aqui.
A verdade é que após este recesso, pouca coisa poderá ser vista em Spa já que as fábricas estarão fechadas, mas de Monza em diante poderemos ver algumas evoluções nestes "grupos".

segunda-feira, 3 de março de 2014

F1 Pré-Temporada: Mercedes e Williams na frente



(Foto: Abril/Quatro Rodas)

Nestes quase cinco anos de blog foram poucas as vezes que dei alguma ênfase aos testes de pré-temporada – a não ser colocar os tempos obtidos em cada dia -, por imaginar que na maioria das vezes elas são ilusórias. Alguma equipe pode dominá-las totalmente, fazendo com que imprensa e fãs apontem-a como a grande favorita e quando esta alinhasse para as primeiras corridas do ano, poderia muito bem ser um grande fiasco. Enquanto isso, aquele time que passou todo inverno vagueando pelo meio do pelotão e em quase nenhum momento mostrou algo de concreto, simplesmente domina todo - ou boa parte – das corridas e torna-se a grande sensação. É claro que faz parte do jogo você acertar ou errar, mas preferi sempre ficar observando as ações durante essa época da F1. Porém, com essa mudança de regulamentos, achei conveniente expressar a minha opinião do que vi nestes doze dias de testes entre Jerez e a dupla bateria em Sakhir.

Quem levou a melhor? Para quem acompanhou os tempos, notícias e comentários, não é novidade que os carros com motores Mercedes foram os grandes nomes desta pré-temporada. Ao todo foram onze dias com os propulsores alemães na frente (McLaren, Mercedes e Force India 3 cada; Williams 2) o outro dia ficou por conta da Ferrari, em Jerez.
A confiabilidade passada pela Mercedes, tanto para a equipe de fábrica, quanto para os clientes, foi positiva e poucos problemas relacionados ao motor foram notificados. Isso traz um bom presságio para as quatro equipes que usam este motor. A Ferrari também pode comemorar, de certa forma, já que tiveram problemas, mas nada alarmante – apenas a Marussia e Sauber é que enfrentaram contratempos, mas que foram resolvidas e ambas pôde realizar a sua programação. Pelos menos não foi nada parecido com a Renault, que enfrentou vários problemas desde Jerez com as suas equipes clientes devido a refrigeração dos seus motores. O mais grave dos problemas ainda repousa sobre a Red Bull, devido – principalmente – a um carro concebido por Adrian Newey que, como todos sabem, privilegia a aerodinâmica em sua totalidade durante a concepção do carro. Devido a isso a falta de espaço para refrigerar o propulsor francês e daí o alto número de quebras. Toro Rosso e Caterham amenizaram um pouco estes contratempos, mas não o eliminaram. A Lotus, que optou em não testar em Jerez, aparecendo apenas na segunda sessão no Bahrein, também tem feito companhia para a Red Bull neste calvário. Mas ao menos poderão alegar que tudo isso é por conta da baixa quilometragem do E22 – a Lotus, nestas duas rodadas de testes em Sakhir, completou 196 voltas, cem a menos que a Red Bull (contando apenas estes testes no Bahrein).      

O desempenho: Interessante observar a tabela dos tempos de cada dia e depois a somatória geral ao final dos quatro dias. Em Jerez, por exemplo, os pilotos estiveram impedidos de usar a potência dos motores em sua totalidade, daí o fato da melhor marca ter ficado em torno de cinco segundos mais lenta que a alcançada por Massa durante os testes de 2013 (Massa fez na casa de 1’18 contra 1’23 de Magnussen neste ano). Porém, já em pista barenita, com os pilotos podendo explorar o máximo de seus carros, a marca de Nico Rosberg foi de 1’33’’283 ficando a 0’’953 acima da pole que foi estabelecida por ele ano passado. Uma boa volta que ele mesmo admitiu ter conseguido devido a pouca gasolina no tanque. Felipe Massa, no penúltimo dia da última bateria de testes, bateria a marca de Rosberg ao fazer 1’33’’258 (0’’928 acima da pole de 2013), mostrando que os carros com motores V6 Turbo parecem não ser a catástrofe que aparentavam... Ao menos pelos lados da Mercedes.
A Ferrari ficou sempre em colocações próximas aos dos carros com motores Mercedes. Tomando em conta apenas os testes em Sakhir, a média dos tempos da “Rossa” oscilou entre 1’34 e 1’36 o que faz crer que a equipe tenha optado por trabalhar o carro para o GPs. Isso me faz imaginar as caras de poucos amigos que Alonso e Raikkonen poderão mostrar ao fim das classificações... a média de tempo entre ela e a Mercedes e Williams neste ficou na casa de um a dois segundos de desvantagem. As outras duas equipes impulsionadas pelos Ferrari, Sauber e Marussia, tiveram desempenhos quase parelhos: se em Jerez eles estiveram bem próximos nos tempos, a Sauber teve uma boa vantagem sobre a equipe russa na segunda bateria. Porém, na terceira parte dos testes, a Marussia voltou a incomodar os suíços. Numa análise fria, a equipe russa pode fazer um bom papel nestas primeiras corridas enquanto que a Sauber deve demorar a se acertar.
No panorama das equipes Renault, a coisa andou bem nebulosa nos primeiros testes, mas que aparentemente clareou uma parte nesta última rodada de testes: a Toro Rosso terminou com a melhor marca entre os Renaults e num geral, computando os resultados desde Jerez, pode-se dizer que foi a melhor das clientes – principalmente nestes últimos dias com Vergne ficando próximo do tempo de Hulkenberg e Kvyat a dois décimos de Magnussen. A Caterham conseguiu apresentar um bom ritmo até a segunda parte do programa, que veio a despencar neste último. Mas foi a equipe que mais andou com o Renault, completando 626 voltas nestes doze dias. Com relação à Red Bull talvez foi a que mais tenha sofrido com os motores franceses devido ao superaquecimento, que já dito aqui. Mas a construção do carro ajuda bastante nesta falta de refrigeração. Tão pior, ou igual a eles, a Lotus, que preferiu participar dos testes a partir da segunda rodada, enfrentou problemas a rodo em Sakhir com o motor e também na parte mecânica do carro.
Partindo para os difamados motores V6 Turbo, estes apresentaram boas performances na pista barenita, principalmente em reta. Fernando Alonso, em um destes oitos dias, chegou a cravar a marca de 336 Km/h no final de uma das retas do circuito, levando Nico Rosberg a acreditar que eles possam chegar aos 360 Km/h em Monza... seria nada mal para um motor que tem sido tão criticado. O barulho também não está todo mal: o ronco abafado e o barulho da turbina nas retomadas de velocidade são bem agradáveis – pelo menos para mim –, mas para quem gostava do barulho estridente dos saudosos V10 e V8, a crítica continuará por um bom tempo. A digiribilidade dos carros também mudou devido à baixa carga aerodinâmica, fazendo com que saia mais de traseira na saída de curva. Pelo menos a Pirelli caprichou nos pneus deste ano e talvez não vejamos aquela “farofeira” no canto das pistas e nem os pilotos andou cinco, seis voltas e correndo para trocá-los.
(Arte: Caio Signorelli)

(Arte: Caio Signorelli)



Resultado Geral
Bahrein - Circuito de Sakhir
Testes de Pré-Temporada- Terceira parte

Fórmula-1 – Soma dos tempos



1.  Felipe Massa   (BRA/Williams-Mercedes)      1m33.258
2.  Lewis Hamilton     (ING/Mercedes)           1m33.278
3.  Nico Rosberg       (ALE/Mercedes)           1m33.484
4.  Valtteri Bottas (FIN/Williams-Mercedes)     1m33.987
5.  Fernando Alonso    (ESP/Ferrari)            1m34.280
6.  Sergio Pérez (MEX/Force India-Mercedes)     1m35.290
7.  Kimi Raikkonen     (FIN/Ferrari)            1m35.426
8.  Nico Hulkenberg (ALE/Force India-Mercedes)  1m35.577
9.  Jean-Eric Vergne (FRA/Toro Rosso-Renault)   1m35.701
10.Daniel Ricciardo (AUS/RBR-Renault)       1m35.743
11.Kevin Magnussen (DIN/McLaren-Mercedes)   1m35.894
12.Daniil Kvyat (RUS/Toro Rosso-Renault)    1m36.113
13.Adrian Sutil   (ALE/Sauber-Ferrari)      1m36.467
14.Max Chilton    (ING/Marussia-Ferrari)    1m36.835
15.Jenson Button  (ING/McLaren-Mercedes)    1m36.901
16.Jules Bianchi  (FRA/Marussia-Ferrari)    1m37.087
17.Esteban Gutierrez (MEX/Sauber-Ferrari)   1m37.303
18.Sebastian Vettel (ALE/Red Bull-Renault)  1m37.468
19.Marcus Ericsson (SUE/Caterham-Renault)   1m38.083
20.Kamui Kobayashi (JAP/Caterham-Renault)   1m38.391
21.Romain Grosjean (FRA/Lotus-Renault)      1m39.302
22.Pastor Maldonado (VEN/Lotus-Renault)     1m40.599

Com relação às marcas alcançadas por cada piloto e destacando a ótima performance dos clientes da Mercedes, a única dúvida que fica nestas “Flying Laps” é se eles conseguiram elas em poucas voltas ou tiveram uma longa sequência no mesmo segundo. Isso indicaria, por exemplo, se de fato o carro é forte suficiente até mesmo durante a corrida ou se apenas essas marcas podem ser alcançadas em classificações. Mas baseando-se no que disse Rosberg sobre a sua melhor marca na segunda bateria de testes, é bem provável que seja desempenho para classificação.
 

O que esperar nestas primeiras corridas? Acredito que Mercedes e Williams serão as mais fortes nas classificações e os tempos delas nas tabelas das três sessões de testes mostram bem isso. Talvez eu possa inserir a McLaren nessa batalha também, mas a última bateria de testes mostrou uma equipe mais apática devido, quem sabe, por estarem trabalhando em ritmo de corrida. A Ferrari está em pé de igualdade com a Force India neste quesito de velocidade pura. Portanto é provável que sejam estas as cinco equipes presentes no Q3 destas primeiras corridas. O restante deve sair nos tapas para quem sobe até o Q2...
Olhando para as corridas, já acho que essa vantagem de Mercedes e Williams não será tão latente. McLaren, Force India e até a Ferrari pode embolar a briga pela dianteira tornando a corrida totalmente imprevisível. E ficarei atento a Ferrari, principalmente neste quesito...
A verdade é que a Formula-1, com todas essas mudanças, trouxe de volta a categoria o fator da imprevisibilidade que ficou cravada nos anos 90. Não estranhem se houver muitas quebras em Melbourne, no dia 16 de março. E muito menos se o vencedor da corrida seja aquele ninguém apostava um centavo furado...



Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...