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O esquadrão da Audi: 11ª vitória em Sarthe (Foto: Divulgação) |
Para quem acompanha automobilismo com certa regularidade,
não era muito difícil prever uma vitória da Audi em Sarthe. Não era necessário
ser uma mãe Dinah da vida ou algum Robério de Ogum para sacar que a fábrica de
Ingolstadt levaria a sua 11ª vitória nas 24 Horas de Le Mans. Sem a Peugeot,
que se retirou das competições no início do ano por questões financeiras, a
conquista da Audi nessa prova e no Mundial de Endurance já é cantada há tempos,
mas vale lembrar que mesmo correndo “sozinha” a Toyota esteve
surpreendentemente próxima dos carros alemães desde os treinos. Ou seja:
qualquer descuido poderia ser traduzido numa derrota vergonhosa para dois
carros zero quilômetro que estavam estreando na temporada. E Audi teve duas
aulas de como não menosprezar o adversário em 2010 e 2011.
Mas isso não aconteceu claro. Dr. Wolfgang Ulrich comandou
mais uma conquista da Audi com mãos de ferro, mantendo seus pilotos atentos
sempre. As cinco primeiras horas de prova é que foram, na verdade, as mais
intensas tendo a Audi a compania da Toyota, que esteve no encalço dos quatro
carros alemães por todo esse tempo. Porém os acidentes, com curto espaço de
tempo, limaram os japoneses da corrida: primeiro foi Anthony Davidson que
acabou sendo abalroado por uma Ferrari na freada do fim da Mulsanne, e acabou
decolando seu Toyota #8 e chocando-se, com violência, contra a barreira de
pneus. Apesar de ter saído relativamente bem do acidente, foi constatado, mais
tarde, que ele quebrara duas vértebras. Meia hora depois, exatamente após a
saída do safety car, Kazuki Nakajima resolveu jogar para fora da pista o Delta
Wing, Isso lhe custou avarias no Toyota #7 que, apesar de terem sido brevemente
reparadas, forçou o abandono horas mais tarde. Para o Delta Wing-Nissan, a
prova terminou exatamente após este acidente causado por Kazuki e a cena de
esforço de Satoshi Motoyama para recolocar o carro de volta à corrida, já virou
um dos marcos dessa 80ª Edição das 24 Horas de Le Mans, mostrando bem como é o
espírito dessa corrida. Mais tarde a Toyota mandou que Nakajima fosse pedir
desculpas à Nissan pelo acidente.
Apesar de a corrida ter se decidido nestes dois lances
infelizes para a Toyota, a Audi enfrentou alguns contratempos: antes que
Davidson voasse com seu carro, o Audi #3 bateu de frente na curva Posche e
Romain Dumas, que estava ao volante, desceu do carro e arrancou todos os
pedaços soltos e voltou para a corrida com um dos pneus tortos. Recolheu para
os boxes, arrumou as avarias e voltou para a corrida com um bom número de
voltas de atraso para os dois Lolas da Rebellion. Apesar do esforço do trio
formado por Dumas/ Duval/ Gené, que descontaram voltas e mais voltas entre a
noite e o dia, o erro de Marc Gené quando estavam já na quarta posição, o
relegaram para o quinto posto. Desse modo uma possível quadra da Audi foi
desfeita.
Outros dois Audis também sofreram algum tipo de
incidente: Fässler rodou com o #1 no meio da madrugada, entregando a liderança
de bandeja para o trio formado pelos senhores Mcnish/ Capello/ Kristensen. Este
último, por exemplo, vem seguindo a sua nona vitória desde o ano passado quando
Mcnish a desperdiçou muito cedo naquele pavoroso acidente na primeira hora de
corrida. Dessa vez o escocês botou tudo a perder ao bater, sem grandes danos,
na curva Indianápolis. Alan é um baita piloto de endurance, veloz, mas tem nele
uma impaciência que, quando vem, coloca todo um trabalho no lixo. Fora todos
estes contratempos, a Audi esteve absoluta em Sarthe e o trio formado por Lotterer/ Fässler/ Tréluyer levou o bi-campeonato da prova.
Para se destacar nessa corrida previsível, o desempenho
sólido da Rebellion Racing que teve um dos seus carros na quarta posição com o
trio Heidfeld/ Prost/ Jani e o experiente Pedro Lamy que conduziu o Corvete,
versão 2011, da Larbre Competition a uma vitória espetacular na classe LMGTE-AM,
mostrando que ainda é uma dos bons pilotos de Endurance do mundo.
Essa vitória da Audi é histórica, por sinal: é a primeira de
um carro híbrido, tecnologia que já está sendo preparada por outras grandes
fábricas como Mazda, Lotus, Porsche para o ano de 2014. Talvez, quem sabe, mais
outras montadoras não resolvam investir no Endurance e desafiar o poderio da
Audi, que conquistou a sua 11ª vitória em 13 participações. Uma aula de
competência e tecnologia.
A edição de número 80 das 24 Horas de Le Mans se foi. Não
pude acompanhá-la como fiz ano passado, mas tive a oportunidade de ler os
pedaços dela via twitter e de ótimos blogs como do Rodrigo Mattar e do Paulo
Alexandre Teixeira.
E como disse no twitter, quando a prova estava a poucos
minutos do fim, a saudade começava a bater. E que venha logo 2013!