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A já lendária largada do WEC em Interlagos Foto: fiawec.com |
Desde a sua estréia nas 24 Horas de Le Mans deste ano, que a
Toyota tem se mostrado perto da Audi. Em Sarthe os contratempos por causa de
acidentes, limaram os dois carros da fábrica dentro das cinco primeiras horas
de prova, mas isso foi o suficiente para mostrar que estavam em boa forma e
poderiam, sim, fazer frente aos carros de Ingostaldt. Dois meses depois, em
Silverstone, eles voltaram, agora com um carro, e deram trabalho aos Audis e só
não venceram porque tiveram que fazer um reabastecimento perto do fim da
corrida. A corrida de Interlagos, a primeira do WEC no Brasil, seria mais uma
chance para a equipe japonesa tentar tirar a supremacia dos carros alemães
nessa temporada. E de fato, foi muito proveitoso.
Os treinos livres de quinta tiveram um empate, com a Audi
sendo a mais rápida pela manhã e a Toyota respondendo com o melhor tempo pela
tarde que foi, também, o melhor do dia. Na sexta, no terceiro treino, a Audi
voltou a ficar na frente, mas ainda faltava o treino classificatório. À tarde,
com a temperatura despencando, os carros da LMP1 e LMP2 foram para o
classificatório e a Audi tratou de colocar seus dois carros na ponta da tabela
de tempos. Normal, ora! Mas ainda tinha a Toyota que pareceu reservar alguma
coisa para aquele treino. Alexander Wurz entrou na pista paulistana e fez
algumas voltas, poucas por sinal, mas que foram suficientes para cravar o tempo
da pole e deixar os carros das quatro argolas em segundo plano. Sem a Audi
mandar nenhum de seus carros mais para a pista, ficou fácil para a Toyota
assinalar a sua primeira pole no ano. O tempo de 1’22’’363 foi 0’’784 mais
rápido que o de Lucas Di Grassi, que conduziu o Audi #2 R18 Ultra na
classificação. Mesmo com uma diferença larga, era de se esperar um duelo pelas
6 Horas de prova do dia seguinte.
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Foi a primeira vitória da Toyota em um competição a nível mundial desde a conquista da marca no WRC, no Rali da China de 1999. (Foto: Toyota) |
O sol forte, que andou escondido entre as nuvens carrancudas
dos últimos dois dias, apareceu e passou a ser um fator a ser considerado
naquela tarde, afinal eles não haviam treinado nada debaixo daquele calor. A
largada foi dada meio dia em ponto e o Toyota, pilotado por Nicolas Lapierre
defendeu-se bem do ataque maciço que os dois Audis impuseram até a freada para
o “Esse”, com um de cada lado e o carro japonês na frente. Ao chegar na reta
oposta, Lapierre já havia aberto uma diferença que o deixaria mais tranqüilo
para colocar em prática a estratégia da equipe que era andar forte. Desse modo,
a Audi só encontraria o Toyota em duas situações na tarde de sábado: quando
Wurz ou Lapierre estavam para colocar voltas em um dos dois carros e quando
chegaram no parque fechado, após a corrida que o japoneses venceram sem ter
nenhum incomodo por parte da oposição de Ingostaldt. A Audi teve que
contentar-se com a segunda e terceira colocações na prova, naquela que foi a
sua primeira derrota no ano que parecia ser de um domínio absoluto. Mas ao
menos tiveram uma luta interessante, onde os dois carros travaram um bom duelo
no início da prova pelo segundo lugar e no final da corrida, Di Grassi ainda
fez a melhor volta da corrida (1’23’’070) quando tentava chegar no Audi
R18-etron de Andre Lotterer.
As melhores batalhas aconteceram nas outras categorias. Até
a quarta hora de corrida, os duelos pela liderança na LMP2 estiveram restritos
a OAK Racing (Bertrand Baguette/Dominik Kraihamer/Alex Brundle) e a Starworks
(Vicente Potolichio/Ryan Dalziel/Stéphane Sarrazin). Mas após o abandono do
trio da OAK Racing, na quarta hora de corrida, as coisas ficaram fáceis para a
Staworks que chegou com três voltas de vantagem sobre o trio da Oreca formado
por Luis Perez Companc/Nicolas Minassian/Pierre Kaffer. Na LMGTE-PRO, a equipe
da AF Corse, com a Ferrari 458 #51 da dupla Giancarlo Fisichella/Gianmaria
Bruni, até que teve certo trabalho com o assédio do Aston Martin comandado por Darren
Turner/Stefan Mücke nas duas primeiras horas de prova, tanto em que alguns momentos,
quando os Audis R18 tiveram alguns problemas ao tentar colocar volta na Ferrari
de Fisichella: Tom rodou no “esse” do Senna, após um leve toque na traseira do
carro italiano e mais tarde Marcel Fassler seria espremido para fora da pista
no Mergulho por Fisichella. Apesar disso, nada demais nem para os alemães e nem
para italianos.
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O Audi R18 Ultra, de Mcnish/Kristensen/Di Grassi, terminou em terceiro e fez a melhor volta da corrida nos minutos finais pelas mãos do piloto brasileiro. (Foto: Tazio/ Jorge Sá) |
Na LMGTE-AM, a liderança da corrida esteve nas mãos do trio
da Felbermayr (Christian Ried/Gianluca Roda/Paolo Ruberti) até a segunda hora
de corrida, quando foram superados pelo Corvete da Larbre Competition do trio Patrick
Borhauser/Julien Canal/Fernando Rees. Mas a vitória deste trio, que conta a
presença do brasileiro Fernando Rees, foi retirada horas depois por alguma
irregularidade técnica, como tinha sido, também, na etapa de Silverstone. Desse
modo a vitória ficou para o Porsche da Felbermayr. O trio brasileiro formado
por Enrique Bernoldi/Chico Longo/Xandy Negrão, que correram com a Ferrari 458 #61
da AF Corse, largou da pole nesta categoria, mas envolveu-se num acidente na
curva Chico Landi que arruinou a prova deles e da Gulf Racing Middle East. Eles
ainda voltaram para a corrida e fecharam em quarto. O Lola da Gulf também voltou
para a corrida e fechou em nono na categoria LMP2.
O evento
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Pouco público nas arquibancadas de Interlagos para acompanhar as 6 Horas de prova. (Foto: Tazio/ Lucas Santochi) |
Pelo que foi divulgado, 25 mil pessoas estiveram presentes
no dia da prova. Foi um bom público, diga-se. Eu acreditava que talvez tivesse
menos ainda, afinal a divulgação foi pouca e quem fez isso foram as pessoas que
compartilhavam fotos, informações, promoções para ganhar ingressos e brindes e
por aí vai.
O preço dos ingressos ajudou bastante, mas poderia ter sido
melhor ainda. Por ser a primeira vez que a categoria, neste formato de Campeonato
Mundial, correu por aqui, a cobrança das entradas podia ter ficado mais popular
do que já estava. Seria um modo legal de chamar mais o público e mostrar a eles
o quanto que a categoria é interessante e disputada. Fato de ter vários carros,
de potências diferentes, aguçaria bastante o público que é sedento por
ultrapassagens.
Apesar de ter sido bom o número de pessoas, as arquibancadas
estavam vazias. Se realmente tinham 25 mil pessoas por ali, elas estavam
espalhadas pelos cantos do autódromo que oferecia algumas atrações para o
público, como exposições de carros atuais e antigos (principalmente de
competição, onde você podia ver os dois Penskes que Emerson pilotou nas suas
duas vitórias na Indy 500 de 1989 e 1993), três Pace Cars e motos da Kawasaki. Para
as crianças, que deliraram com os carros do WEC, uma roda gigante, cama
elástica e outros brinquedos (não muitos) estavam à disposição. Acredito que um
pouco mais de atrações teria distraído as pessoas que não tiveram paciência
para ficar às seis horas de corrida sentadas, ou pé, para ver o final. Quando a
corrida encerrou, as arquibancadas já estavam às moscas. As pessoas reclamaram
um pouco pela falta de informações durante a corrida. Era difícil saber quem
estava na liderança das categorias, principalmente as das LMP2, LMGTE-PRO e AM.
A visitação foi outro ponto legal do evento, mas acho que um
tempo maior para o público deveria ter sido disponibilizado. Foi apenas 30
minutos na sexta e 40 no sábado e eu estive na sexta-feira e mal deu tempo de tirar
fotos (apesar de os carros, em sua maioria, estarem desmontados), ou conversar
com algum integrante das equipes. Em 2007, quando a Le Mans Series veio para
cá, foi bem mais sossegado e visitação no sábado teve um tempo muito maior. Mas
dá para entender que, pelo fato de ter categorias suporte como pré-liminares da
corrida deste ano, o tempo ficou escasso. Cinco anos atrás o tempo foi bem
maior exatamente pela ausência de uma categoria de apoio.
Apesar de tudo, foi um belo trabalho de Emerson Fittipaldi
que apostou forte e trouxe para cá esta bela categoria. E apesar das
reclamações, que foram poucas e construtivas, espero que a organização acate e
melhore ainda mais para 2013. E repetindo as palavras que escrevi na sexta à
noite no Facebook: foi muito bom ver os carros do WEC na pista de Interlagos e
mostrar ao público, que é mais ligado na F1, que não é apenas ela que possui
alta tecnologia e carros fora de série. E em 2013 terá mais: no dia 31 de
agosto eles estarão por aqui novamente.