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terça-feira, 11 de junho de 2024

92ª 24 Horas de Le Mans - A grande chance

 

José Carlos Pace em Le Mans 1973: o primeiro sucesso brasileiro na prova
(Foto: Pinterest)

É inegável o sucesso dos pilotos brasileiros no automobilismo mundial e isso vem de tempos. Desde que tomaram de assalto as pistas européias e em seguida as de outros continentes, ter um brasileiro nos grids passou a ser uma expectativa de sucesso e bons resultados, justamente pela qualidade que temos aqui - ainda que em outros tempos o nosso automobilismo não tenha tido o melhor cuidado para que os pilotos se desenvolvessem corretamente aqui no nosso solo. Mas quando foram para fora, fizeram um trabalho honesto e que, se não renderam em títulos e vitórias, ao menos tiveram ótimos elogios e a boa impressão sempre ficou. 

No mundo do Endurance, os pilotos brasileiros sempre foram muito bem: conquistaram inúmeras vitórias nas mais variadas corridas e principalmente em algumas jóias dessa disciplina, como as 24 Horas de Daytona, 6 Horas de Watkins Glen, 12 Horas de Sebring, 24 Horas de Spa-Francorchamps, 24 Horas de Nurburgring, mas, a principal delas, sempre escorreu por entre os dedos: as 24 Horas de Le Mans é a jóia máxima dessa coroa do Endurance Mundial e dentre todas grandes conquistas dos pilotos brasileiros, é única que falta para fechar uma história tão rica que é a nossa lá fora. 

Thomas Erdos em Le Mans 2005
(Foto: MG Lola)
De certa forma temos vitórias em La Sarthe, mas isso fica restrito às subclasses que compõe a grande
prova. Thomas Erdos, brasileiro radicado na Inglaterra, foi o primeiro a vencer uma subclasse quando conquistou o bicampeonato da LMP2 nos anos de 2005/06 à bordo de um MG Lola EX264. Não demorou muito para que o feito se repetisse, mas agora nos GTs: Jaime Melo, um dos melhores pilotos dessa classe naquele período e todos os tempos, também conquistou um bicampeonato consecutivo na LMGT2 em 2008 (Ferrari F430 GTC) e em 2009 (Ferrari F430 GT). Passariam-se oitos até que Daniel Serra, outro mestre na arte de conduzir carros de GT, chegasse à mítica prova e logo em sua estréia já cravasse a vitória com um Aston Martin Vantage em 2017 e dois anos depois repetiria a dose, agora com uma Ferrari 488 GTE EVO - ambas conquistas pela extinta LMGTE PRO. André Negrão conquistou por duas vezes na LMP2, todas a serviço da Alpine, nos anos de 2018 e 2019.

Na geral estivemos perto, claro. José Carlos Pace foi o primeiro brasileiro a subir no pódio na geral quando dividiu a Ferrari 312PB com Arturo Merzario e terminaram em segundo, perdendo para o Matra Simca MS670B de Henri Pescarolo/ Gerard Larousse. Mas para Pace, que tinha o sonho de correr a famosa prova, aquela havia sido o bastante: “Para mim correr em Le Mans era um sonho. Foi uma experiência muito útil. Mas se depender de mim nunca mais corro lá. É extremamente desgastante participar de uma prova de 24 horas de duração... Aquilo é uma loucura. A gente chega no fim da reta a 300 por hora e encontra um carro desses bem menos potentes andando a 200. A pista é estreita e perigosa. Não quero mais saber de Le Mans”

O Jaguar XJR-12 de 1991
(Foto: Pinterest)

Após este resultado de Pace, demoraria 18 anos até que outro brasileiro fosse ao pódio: Raul Boesel, o
Campeão Mundial de Endurance em 1987, estava em sua terceira - e derradeira - passagem por Le Mans e mais uma vez à serviço da Jaguar, quando alinhou o XJR-12 junto de Davy Jones e Michel Ferté e por muito pouco não venceram a clássica, ao terminarem duas voltas atrás do Mazda 787B que deu aos japoneses a primeira conquista nas 24 Horas de Le Mans. Raul Boesel, em entrevista ao Endurance Info, comentou sobre aquela chance: 
“Foi uma edição muito boa, fizemos uma corrida soberba com os meus dois companheiros de equipa, mas a Mazda tinha uma vantagem em termos de peso inferior à nossa (risos). É assim mesmo, terminamos em 2º mesmo!.

Outros dois brasileiros tiveram suas chances: Lucas Di Grassi, pela Audi, fechou duas vezes em terceiro (2013 e 2016) e uma vez em segundo (2014); Bruno Senna, pela Rebellion, foi segundo em 2020. 


A nossa classe para este 2024

Dos 186 pilotos que estarão em Le Mans para esta 92ª Edição, buscando a oportunidade de serem lembrados para a eternidade da grande prova, teremos seis representantes em duas das três categorias: três na Hypercar e três na novata LMGT3. 

(Foto: Ferrari Midia)

Daniel Serra
- Um dos grandes mestres na arte de pilotar GTs no planeta, enfrentará a sua oitava jornada em La Sarthe e esta será a sétima à serviço da Ferrari. Ele estará no comando do Ferrari 296 LMGT3 #86 da GR Racing, junto de Mike Wainwright e Riccardo Pera. 

O piloto brasileiro comentou sobre os novos companheiros, assim como a equipe que tem experência de oito participações na prova: “Nunca corri com eles. Claro que conheço muito bem o carro, mas vou conhecer todos lá em Le Mans. Temos treino uma semana antes lá na pista, então vai ser quando vou poder ter um maior contato com todos” ressalta. “O meu time não faz o Mundial, corre o European Le Mans Series, que é o campeonato europeu, e vai fazer as 24 Horas de Le Mans novamente. Eles têm andado muito bem no ELMS, embora em 2024 seja o primeiro ano da equipe correndo de Ferrari. Sabemos que em uma corrida de 24 horas não é só a performance que conta: é importante ter desempenho, mas também é preciso ter consistência, não cometer erro nenhum, então tem de ter muita coisa alinhada e certinha. E eles já têm experiência em Le Mans, foram ao pódio no ano passado. Vamos fazer o máximo na nossa preparação, e estou muito ansioso para andar de GT3 novamente lá”

E sobre a corrida, que já venceu em duas oportunidades na extinta LMGTE PRO, ele destaca o ambiente da prova e também o momento preferido: “Tudo é muito legal: o evento é cheio de atrações, como o desfile na cidade, a apresentação para os fãs, os testes... A pista é sensacional para guiar, muito prazerosa. Amo corrida de 24 horas. O evento como um todo é muito bacana. Acelerar no amanhecer é a parte mais legal da corrida. É quando a pista está super rápida, já tem um pouquinho de luz e está mais fresquinho. É bom demais poder pilotar no começo da manhã”.


(Foto: United Autosports)

Nicolas Costa
- O carioca de 32 anos apareceu como uma das grandes surpresas na formação da Mclaren para esta temporada, ao ser anunciado para comandar o 720S EVO LMGT3 no Mundial de Endurance ao lado de Gregoire Saucy e James Cottingham. Ele carrega na bagagem a experiência de ter sido campeão no Super GT Itália (2016) e também no Porsche Carrera Cup Brasil (2023). Neste 2024 ele participou das 4 Horas de Goiânia, prova de abertura do Império Endurance Brasil com o AJR da equipe Power Imports. 

Ele não esconde a expectativa de estrear no solo sagrado de La Sarthe: “A ansiedade está alta, mas, com certeza, participar desta prova é um sonho. Pessoalmente nunca estive em Le Mans, jamais pisei na pista, então tudo é novidade para mim. E mais maravilhoso ainda é poder representar a United Autosports e a McLaren. É muito especial e estou muito ansioso para o que vai acontecer”.

A trinca do Mclaren #59 teve um bom desempenho nas 6 Horas de Spa-Francorchamps, terceira etapa do WEC, e fecharam em quarto na classe LMGT3. Ele destaca o carro e a importância do preparo físico: “O resultado que conquistamos em Spa-Francorchamps nos anima demais. Agora, os carros serão completamente desmontados, todas as peças serão novas: motor, câmbio, suspensão, todas as partes... Será praticamente um carro novo. E a gente também reforça muito a parte física, que é tão crítica em uma prova tão longa assim”.

Nicolas agradece a oportunidade de competir na mítica prova, assim como reconhece a chance de beliscar um bom resultado por lá: “Nem tenho palavras para descrever a oportunidade que estou vivendo, de representar o Brasil e o Rio de Janeiro em Le Mans. Será muito importante para a minha carreira. Quem sabe, depois de ter ficado tão perto do pódio em Spa, venha enfim um troféu para nós em Le Mans. Estamos trabalhando muito por isso”

 

A comemoração pela vitória nas 6 Horas de Ímola, terceira etapa do WEC 2024
(Foto: DDPI)

Augusto Farfus
- O outro decano das provas de endurance e, principalmente, de GTs, vai para a sua sexta participação em Le Mans, sendo que a primeira remonta à 2010 quando esteve no comando do BMW M3 junto de Uwe Alzen e Jörg Müller. Para esta sexta aparição, ele estará no comando do BMW M4 LMGT3 #31 DO Team WRT com Sean Gelael e Darren Leung. 

Farfus destaca a preparação de sua equipe em busca dessa conquista, assim como destaca, também, a forte oposição do Porsche da Manthey Pure Rxcing: “A Porsche está voando neste ano, sem dúvidas. Mas em Spa, se não houvesse o acidente, teríamos chegado na frente do Porsche #92 e talvez poderíamos até ter vencido. Então também estamos muito fortes. E em Le Mans, com as altas velocidades, nossa M4 vai andar muito bem”. 

Outro ponto que ele destaca é a peculiaridade da prova, diferente de outras: “Em Le Mans, minimizar os erros é fundamental. Mas a corrida tem uma dinâmica diferente, por exemplo, de Daytona, onde você pode esperar as últimas quatro, cinco horas, para ir para o ataque. Le Mans é uma prova que, se você quiser vencer, é preciso sempre estar junto dos líderes, o tempo todo. E as 24 Horas de Le Mans são atípicas também pelas características da pista”

Por fim, ele espera poder contar com essa que seria a cereja de uma carreira vitoriosa: “Vencer Le Mans seria algo único. Já venci em Nürburgring, Daytona, Dubai e falta Le Mans para o currículo. Seria uma das maiores conquistas da minha carreira, tenha certeza”


(Foto: José Mario Dias)

Pipo Derani
- O cartel deste piloto de 30 anos é um dos mais invejáveis do endurance mundial: são dois titulos da IMSA (2021 e 2023); vencedor das 24 Horas de Daytona (2016), Petit Le Mans (2019) e três vezes das 12 Horas de Sebring (2016, 2018 e 2019). Isso credencia Derani a um dos grandes favoritos para vencer na geral nesta 92ª 24 Horas de Le Mans. 

Mas a sua enorme experiência em provas de 24 Horas - especialmente esta em Le Mans, que será a sua nona participação - o deixa com os pés no chão, sabendo as dificuldades e armadilhas que ela reserva: “Acho que a lição mais importante de todos esses anos é que Le Mans é uma prova muito grande, na qual tudo muda muito rápido. Então, paciência é a palavra-chave. É sobre não cometer erros, uma vez que a prova vai mudando aos poucos, e é preciso se adaptar a ela. E, se você não for afobado e tiver paciência, as coisas acontecem da melhor forma possível”

Destas oito participações, ele recorda, com carinho, a segunda posição na classe LMGTE PRO de 2017 quando foi segundo com o Ford GT da Chip Ganassi tendo Andy Priaulx e Harry Tincknell como parceiros: “Ao longo desses oito anos, acho que a prova mais inesquecível foi em 2017, com a Ford. Chegamos em segundo, então subi ao pódio e vi aquela multidão à nossa frente, foi muito bacana”

Ele estará no comando do Cadillac V Series.R #311 da Action Express junto de Felipe Drugovich (que estreia na prova) e Jack Aitken. Ele comenta sobre o Cadillac para essa edição: “Temos somente algumas pequenas alterações aerodinâmicas para Le Mans, mas basicamente é o mesmo carro. Muito fácil para adaptar. No ano passado estivemos competitivos na corrida. Infelizmente, um acidente com meu companheiro de equipe na primeira volta acabou prejudicando nosso fim de semana, mas o carro foi competitivo, então esperamos poder carregar essa experiência de Le Mans no ano passado nessa segunda tentativa com a Whelen Action Express e com a Cadillac”


(Foto: Felipe Drugovich/ Instagram)

Felipe Drugovich
- Vale a pena esperar por uma vaga na Fórmula-1? Atualmente isso é quase um atraso de vida se caso o piloto não opte por se aventurar em outras praças, e isso é que está fazendo Felipe Drugovich que é o piloto reserva da Aston Martin na F1. Enquanto que a chance de ocupar um lugar na categoria não aparece, a oportunidade de experimentar outro carro totalmente diferente veio em maio quando testou o Cadillac da Action Express em Laguna Seca e de cara impressionou a todos. De imediato, fechou a sua participação na grande corrida pela equipe. 

Aos 23 anos ele estará no grid da 92ª edição das 24 Horas de Le Mans e ressalta a grande oportunidade que está recebendo, além da realização de um sonho: "Tenho apenas 23 anos e estou tendo a oportunidade mais importante da minha carreira automobilística até agora graças à Action Express e ao Cadillac. As 24 Horas de Le Mans são impossíveis de definir em palavras, tal é a sua magia e importância para os automóveis em geral e para o automobilismo em particular. Estou tendo a oportunidade de viver pela primeira vez essa história de 100 anos com AXR e Cadillac. Mal toquei na magia das 24 Horas de Le Mans, vencendo duas vezes as edições virtuais. Agora vou mergulhar de verdade com o Cadillac #311 da Action Express Racing com meu compatriota Pipo Derani e Jack Aitken. Que privilégio ter mais um sonho se tornando realidade."

Drugovich também falou sobre ter pilotado o Cadillac nos testes em Laguna Seca, destacando as qualidades do protótipo: “A eletrônica é um dos seus pontos fortes. O controle de tração é particularmente eficaz e realmente nos ajuda, ao contrário de outros sistemas que limitam ou atrapalham o motorista. O Cadillac V-Series R também tem boa aderência mecânica, por isso tem um bom desempenho em curvas lentas, apesar do seu peso. É uma fera difícil de domar. É bastante pesado, enquanto estou acostumado com monopostos muito leves”

 

(Foto: Porsche Motorsport)

Felipe Nasr
- De todos estes da classe Hypercar, talvez seja ele o que estará melhor posicionado para chegar ao olimpo em La Sarthe. Assim como Derani, o currículo de Nasr é impressionante e não por menos o coloca como um dos favoritos a conquistar a prova: bicampeão da IMSA (2018 e 2021), vencedor das 12 Horas de Sebring e Petit Le Mans (2019) e das 24 Horas de Daytona 2024, estará no comando do Porsche 963 #4 da Porsche Penske Motorsport que ele conhece tão bem desde 2023 e agora desfrutando dos sucessos após longo esforço para elevar o carro alemão ao grupo dos favoritos: 
“Estou muito confiante nas nossas chances. A Porsche Penske Motorsport tem trabalhado incansavelmente para otimizar o desempenho do 963, e nossos resultados recentes são prova disso”, destacou. Ele dividirá a máquina com Mathieu Jaminet e Nick Tandy - este último, vencedor de Le Mans no ano de 2015 pela própria Porsche com o já lendário 919 Hybrid na extinta LMP1.

Ele destaca o quanto essa prova é dificil, mas sempre lembrando a qualidade técnica da equipe: “Claro que Le Mans é uma corrida imprevisível, mas acredito que temos tudo para lutar pela vitória, incluindo uma equipe técnica de excelência e companheiros de equipe talentosos”

Nasr fala da possibilidade e desejo de vencer em Le Mans, assim como, automaticamente, fazer história no automobilismo brasileiro e inspirar os mais novos: “Vencer as 24 Horas de Le Mans seria um marco incrível na minha carreira. Já ter vencido Daytona neste ano foi uma conquista enorme, e ganhar Le Mans consolidaria meu nome entre os grandes do Endurance. Seria a realização de um sonho e um reconhecimento do trabalho árduo e dedicação ao esporte. Com certeza, esse pensamento passa pela minha mente: fazer história como o primeiro brasileiro a vencer Le Mans seria um orgulho imenso, não apenas para mim, mas para todos os fãs de automobilismo no Brasil. Seria uma honra representar meu país dessa forma e inspirar futuras gerações de pilotos brasileiros”

Todos os seis brasileiros presentes em Le Mans tem chances de pódio e vitória em suas respectivas classes. E não será demais sonhar com vitórias em ambas elas, contando com mais de um deles nos pódios destas classes. 

Seria a coroação de uma história magnifica do automobilismo brasileiro nas pistas do mundo.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Os 30 anos do título de Raul Boesel no Mundial de Marcas

OBS: O texto que será colocado aqui foi publicado originalmente na quarta edição da Revista Speed, de outubro de 2012 na altura que completava-se 25 anos da conquista de Boesel no Mundial de Marcas. Portando, apenas algumas mudanças que foram feitas em relação ao texto original exatamente para se adequar ao momento que se completa exatos 30 anos daquela conquista. 

Boa leitura!




Os 30 anos do título de Raul Boesel no Mundial de Marcas

E no ano em que Nelson Piquet conquistou seu terceiro título mundial na F1, Raul Boesel também venceu o Mundial de Marcas contribuindo com uma conquista histórica e inédita para o automobilismo brasileiro.

Os anos 80 são lembrados pelos títulos brasileiros na Fórmula-1. Os três de Nelson Piquet (1981, 83 e 87) e mais o de Ayrton Senna (1988), são belas recordações de uma época que é considerada com uma das melhores da história da F1 pelo fato dos incríveis motores turbo, com as suas potências chegando a níveis estratosféricos e por ter sido um dos últimos redutos de uma categoria mais mecânica e onde o piloto fazia a diferença. E o ano de 1987 foi o ápice dos motores turbocomprimidos, com seus propulsores de classificação atingindo mais de 1.500cv aonde os pilotos iam além do limite em busca pela pole. Não é à toa que foi desse tempo que surgiu a expressão “volta canhão”, devido o foguete que eram os carros com estes motores. Este foi o ano do terceiro título de Nelson Piquet, que desbancou Nigel Mansell e parte da equipe Williams que apoiava o inglês. Ayrton também esteve bem naquele mundial, mostrando mais uma vez velocidade e vencendo corridas com a Lotus equipada com o Honda Turbo. Em um outro campeonato, quase tão fantástico quanto a F1, Raul Boesel também estava em grande forma e levou o belo e lendário Jaguar XJR-8, do time de Tom Walkinshaw, ao título do Mundial de Marcas daquele ano.

Raul Boesel tinha feito uma temporada completa na Indy em 1986 pela equipe de Dick Simon e estava em negociações com a Newmann-Haas para 87. Ele seria companheiro de Mario Andretti, mas o ítalo-americano azedou os planos de Carl Haas em levar o brasileiro para lá quando ele recusou a idéia de ter um segundo carro na equipe. Haas avisou Boesel do acontecido a três dias do Natal e isso pegou o piloto de calças na mão, porque não havia mais equipes disponíveis por aqueles lados. Lendo uma revista da Autosport, ele se deparou com uma matéria onde a Jaguar estava precisando de um piloto para fechar o seu quadro para o Mundial de Marcas de 1987. Boesel entrou em contato com a Jaguar dos EUA que de imediato o ligou com a matriz, na Inglaterra. Pouco tempo depois, Raul já estava testando o XJR-8 em Paul Ricard e agradou bastante Tom, que assinou com ele um contrato de U$80 mil por mês. Boesel dividiria o carro #4 com Eddie Cheever e o #5 ficaria sob a batuta de Jan Lammers e John Watson.

O campeonato teve 10 corridas, sendo sete de 1000km (Jerez, Monza, Silverstone, Brands Hatch, Nurburgring e Spa), uma de 360km (Jarama), uma de 200 milhas (Norisring) e outra de 24 Horas (Le Mans). A pontuação daquele mundial era parecida com o que foi usado na Fórmula-1 até tempos atrás: 20-15-12-10-8-6-4-3-2-1. As categorias eram divididas em duas: Grupo C e Grupo C2.

A temporada começou com os 360 Km de Jarama, que foi dominado por Lammers/Watson, mas sempre com a dupla do Team Joest, formado por Hans Stuck e Derek Bell pilotando o Porsche 962, na cola deles. Boesel/ Cheever discutiram a segunda posição com a dupla da Porsche, mas tiveram que contentar-se com o terceiro posto. Na segunda etapa, os 1000km de Jerez, a primeira vitória de Boesel/ Cheever veio após uma intensa luta contra os Porsches do Team Joest, que além do carro de Stuck/ Bell, disponibilizou outro para Jochen Mass/ Bob Wolleck. Stuck/ Bell terminaram em terceiro, com três voltas de atraso para a dupla da Kremer Porsche Wolker Weidler/ Kris Nissen que fecharam em terceiro.

Nos 1000Km de Monza, Lammers/ Watson voltaram a vencer, com Stuck/ Bell em segundo e o trio da Brun Motorsport, formado por Jésus Pareja/ Oscar Larrauri/ Frank Jelinski levaram o Porsche 962 ao terceiro lugar.

Em Silverstone, nos 1000Km, Boesel/ Cheever venceram a formaram com Lammers/ Watson a primeira dobradinha da Jaguar no campeonato, e justamente numa corrida na Inglaterra. Stuck/ Bell estiveram no encalço dos dois carros da Silk Cut, mas tiveram que contentar-se com o terceiro lugar. 
A prova principal, as 24 Horas de Le Mans, era o grande atrativo, como sempre. E dessa vez quem foi a desforra foi a Porsche, que conquistou as quatro primeiras colocações na prova (a terceira colocação foi do Cougar C20 da equipe Primagaz Competition, pilotado por Pierre Henri-Raphanel/ Yves Courage/ Hervé Rigout, mas este usava o mesmo motor Porsche dos 962). Stuck/ Bell / Al Holbert venceram as 24 horas e o melhor dos Jaguares era justamente o de Boesel/ Cheever / Lammers que terminou em quinto, após enfrentarem problemas na madrugada.

Nas 200 Milhas de Norisring, sexta etapa do campeonato, o Mundial de Marcas dividiu o fim de semana com a Supercopa Alemã. O evento foi dividido em duas corridas de 100 Milhas (77 voltas cada) e as duplas seriam divididas entre as duas provas, com cada um pilotando 100 Milhas.
A primeira prova teve a vitória de Mauro Baldi com o Porsche da equipe Liqui Moly. A segunda colocação foi de Hans Stuck e terceira de Oscar Larrauri. A Jaguar levou apenas o carro de Boesel/ Cheever para esta etapa e o americano terminou em 12º, sete voltas atrás de Baldi. Os carros que tivessem sofrido acidente ou avaria mecânica, não poderiam largar para a segunda bateria e as posições de largada seriam as mesmas da ordem de chegada. Ou seja, Boesel teria um belo trabalho pelas 77 voltas daquela corrida dois em Norisring. E ele não decepcionou: venceu a segunda bateria, com Jonathan Palmer em segundo (Liqui Moly) e Jochen Mass (Brun Motorsports) em terceiro. A vitória de Boesel deixou a dupla em quarto no geral, sete voltas atrás da dupla da Liqui Moly, Baldi/ Palmer que fizeram um total de 154 voltas, três a mais que a dupla da Brun Motorsports (Larrauri/ Mass) e quatro a mais que a da Joest Racing (John Winter/ Stanley Dickens). Stuck e Bell ficaram em 14º, depois que o piloto inglês abandonou a corrida dois na 61ª volta. E com essa quarta colocação, Boesel/ Cheever saiam com mais folga na liderança do campeonato ao chegar a marca de 70 pontos, seis a mais que Stuck/ Bell que somavam 64 pontos. Lammers/ Watson apareciam em terceiro com 55 pontos.

Na sétima etapa, os 1000Km de Brands Hatch, Boesel, que teve como parceiro nesta etapa o dinamarquês John Nielsen no lugar de Cheever, que estava no GP da Alemanha com a Arrows, batalhou pela vitória contra o Porsche da equipe Briten Lloyd Racing, pilotada por Mauro Baldi/ Johnny Dumfries. Foi uma disputa particular entre as duas duplas, que acabou com a vitória ficando para Boesel/ Nielsen, seguidos por Baldi/ Dumfries que chegaram na mesma volta (238). A terceira colocação foi de Lammers/ Watson, terminando com nove voltas de atraso. Agora Raul Boesel era líder isolado com 90 pontos, contra 74 de Stuck/ Bell (que terminaram em quarto em Brands), 70 de Cheever e 67 pontos de Lammers/ Watson. Numa entrevista concedida ao blog A Mil Por Hora, do Rodrigo Mattar, Boesel disse que foi nessa prova que ele teve a confiança que poderia ser campeão: “O campeonato foi bem disputado. A Porsche do Hans Stuck colocava muita pressão, mas a partir da vitória nos 1000 km de Brands Hatch em parceria com o John Nielsen senti confiança e comecei a acreditar que poderia ser campeão.”

Os 1000Km de Nurburgring foram de festa dupla para a Jaguar: além da vitória de Boesel/ Nielsen, que deixou o brasileiro mais próximo do título, a equipe também comemorou a conquista do Mundial de Marcas ao chegar nos 138 pontos, contra 69 pontos da Brun Motorsports. Stuck/ Bell e Mass/ Larrauri completaram o pódio. Raul encontrava-se numa situação confortável: tinha chegado aos 110 pontos, contra 89 de Stuck/ Bell, 70 de Cheever e 67 de Lammers/ Watson, que abandonaram a corrida na 21ª volta e agora bastava uma vitória em Spa-Francorchamps para sagrar-se campeão.

Quinze dias depois as equipes estavam em Spa para a realização dos 1000Km. A Jaguar levou para esta prova três carros, destinados para Boesel/ Cheever/ Nielsen (#4), Lammers/ Watson (#5) e Martin Brundle/ Johnny Dumfries (#6). Tom Walkinshaw surpreendeu Raul ao dizer-lhe que estaria inscrito nos três carros. A equipe queria a todo custo que ele fosse o campeão e caso tivesse problemas durante a corrida, poderia
Raul Boesel, Eddie Cheever e damais integrantes da Jaguar,
momentos antes da decisão em Spa.
(Foto: @Chrisdwells8)
pular para o carro melhor posicionado na prova para garantir o seu título. Porém alguns imprevistos aconteceram naqueles dias que antecederam a conquista: Brundle e Dumfries, em dias alternados, bateram o carro #6 e os mecânicos tiveram um trabalho quase que sobre-humano para reconstruí-lo, mas o entregaram a tempo da dupla largar da sexta posição.
Boesel tinha que fazer um terço da corrida em pelo menos um dos carros e entraria naquele que estivesse mais bem posicionado na corrida para garantir o título. Aquele carro #6, que Brundle e Dumfries haviam destruído por duas vezes entre a sexta e o sábado, era o líder e Raul pulou nele para completar a corrida e sagrar-se campeão do Mundial de Marcas isolado, com 130 pontos. Lammers/ Watson terminaram em segundo e Mass/ Larrauri fecharam em terceiro.

A prova final foram os 1000Km de Fuji e Boesel dividiu o carro #4 com Johnny Dumfries. Eles terminaram a prova em segundo, na mesma volta de Lammers/ Watson. A terceira colocação foi de Mauro Baldi/ Mike Thackwell com a Porsche da Briten Lloyd Racing.

Apesar de ter sido um título inédito para o automobilismo nacional, ele foi muito pouco divulgado por aqui enquanto que no Reino Unido, Raul Boesel foi festejado por levar a Jaguar a um título que eles não conquistavam desde os anos 50.

Raul seguiu seu caminho, voltando a correr na Indy em 1988. Mas naquele ano ainda ele defenderia a Jaguar nas 24 Horas de Daytona, quando venceu ao lado de Martin Brundle – que foi o campeão em 88 no Mundial de Marcas – e John Nielsen.

A última participação de Boesel pela Jaguar foi na 24 Horas de Le Mans de 1991, quando perdeu por muito pouco a vitória para a Mazda. Naquela época ele dividiu o carro com Davy Jones e Michel Ferté.

Raul Boesel, comemorando o seu título no Mundial de Marcas de 1987



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Indycar Battle: 200 Milhas de Portland, 1997

Mais um vídeo para relembrar os grandes dias da Indycar. Aqui as 200 Milhas de Portland de 1997, numa das raras provas que foram disputadas sob chuva. Além da tensão das últimas voltas, que se tornaram uma grande loteria, a CART ainda fez a confusão de tentar realizar as 98 voltas originais da corrida perto de completar as duas horas regulamentares sendo que faltavam 30 voltas para o fim e 12 minutos para chegar no limite das duas horas...
Mas o duelo entre Mark Blundell, Gil de Ferran e Raul Boesel pela vitória na última volta, foi digna de oval.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Indy 500: Emerson Fittipaldi, 20 anos atrás



Um ano após a espetacular chegada entre Al Unser Jr. e Scott Goodyear na edição 76 das 500 Milhas de Indianápolis a expectativa era de uma corrida ainda mais imprevisível do que a de 1992: Os Penskes de Emerson Fittipaldi e do recém promovido e então jovem Paul Tracy, estavam em boa forma naquela temporada. Do outro lado, num desempenho tão bom quanto, estava a Newman-Haas com a sua dupla formada pelo atual campeão da F1 Nigel Mansell e o velho Mario Andretti. Correndo por fora, mas não com tantas chances, aparecia Bobby Rahal (atual campeão da CART), atual vencedor das 500 Milhas Al Unser Jr., Raul Boesel, Danny Sullivan e o sempre veloz e perigoso em provas de oval Arie Luyendyk.
Apesar do aparente favoritismo pendendo para os carros de Penske e Newmann-Haas, as demais não poderiam ser descartadas: Bobby Rahal, atual campeão da CART, tinha formado a sua equipe em parceria com Carl Hoogan, chamando-a de Rahal-Hoogan Racing e de imediato absorveram toda a estrutura da Truesports, equipe pela qual Rahal tinha ganho o campeonato e Indy 500 de 1986. Na Galles, equipe que vencera com Al Unser Jr a Indy 500, “Little Al” e Danny Sullivan foram mantidos, mas a Galmer não era mais a fornecedora de chassi para a equipe, sendo preterida pela Lola. Um terceiro carro foi destinado para Kevin Cogan, exclusivamente para a disputa das 500 Milhas. Na Chip Ganassi a presença de Arie Luyendyk significava uma chance de bom desempenho em Indianápolis, uma vez que o piloto holandês tinha vencido em 1991 e em outras edições conseguira bons resultados.
Entre os novatos para esta corrida, a estrela principal era Nigel Mansell. O piloto britânico havia mostrado as suas credenciais na prova de abertura disputada em Surfers Paradise, na Austrália, quando venceu após duelar com Emerson Fittipaldi. Mas pagou caro pela sua inexperiência nos ovais ao subestimar a velocidade deste ao bater forte em Phoenix, durante os treinos para esta corrida e tomar uma pancada de um dos pneus na cabeça vindo a causar uma concussão na coluna. Foi operado e isso forçou a perder a prova de orientação para novatos em Indianápolis (ele acabou sendo liberado pela USAC para disputar a prova, já que a entidade entendeu que o piloto tinha experiência suficiente). Nelson Piquet também estava de volta ao templo após um ano do seu terrível acidente que quase lhe custou os pés. Os outros novatos eram o sueco Stefan Johansson, o francês Stéphan Gregoire e o americano Robby Gordon, que faria dupla com a lenda AJ Foyt.
Enquanto que alguns estreavam, nomes famosos que fizeram parte de Indianápolis nas últimas décadas ficavam de fora: Gordon Johncock e Rick Mears haviam se aposentado após a temporada de 1992; Tom Sneva também saíra de cena ao final do ano anterior, mas ainda tentou um lugar para correr em Indianápolis, mas não obteve sucesso; Michael Andretti, que colecionou dissabores no Brickyard, estava agora a serviço da McLaren na Fórmula-1. Al Unser Sr., Mario Andretti e AJ Foyt ainda eram os elos que ligavam a categoria a uma distante época onde os pilotos desafiavam as altas velocidades do Indianápolis Motor Speedway em carros de motores dianteiros e depois em bólidos de extremamente potentes e letais, tanto quanto uma dose de eutanásia. Para os dois primeiros, esta era a última participação numa edição desta prova – se bem que Mario ainda se classificara para a corrida de 1994, mas não chegou a largar devido a problemas com o sistema de combustível. AJ Foyt, a exemplo de seus dois velhos rivais, chegou a treinar em Indianápolis, mas um acidente do seu novato companheiro de equipe Robby Gordon antes do Pole Day, o fez mudar de idéia. AJ tinha acenado com a possibilidade de se aposentar em 1991, mas decidiu seguir em frente e o acidente de Robby fez florescer essa idéia novamente. Foyt entrou no seu carro para a sua volta, mas a fez de forma lenta e ao sair do carro disse que a sua carreira de piloto tinha terminado. Alegou que o acidente de Robby Gordon pela manhã o fez ver que não conseguiria gerir uma equipe e pilotar ao mesmo tempo e se quisesse o sucesso da equipe, ele teria que gastar 110% dos seus esforços fora do cockpit. Chegava ao fim a carreira de uma das maiores lendas do automobilismo americano e mundial, detentor de quatro Indy 500, uma Daytona 500, uma 24 Horas de Le Mans e de 35 largadas ininterruptas nas 500 Milhas de Indianápolis iniciada em 1958.
Tom Carnegie entrevistando o então recém aposentado AJ Foyt em Indianápolis, 1993

A volta de Nelson Piquet à Indianápolis: abandono na 31ª e desejo realizado


Luyendyk, Andretti e Boesel na primeira fila para a Indy 500 de 1993
Devido os acidentes do ano anterior algumas melhorias foram feitas no Indianápolis, como a criação de uma pista de rolamento e colocação de uma faixa de grama entre ela e a pista de forma que os pilotos não mergulhassem até ela para fazer o tangenciamento. Dessa forma, as altas velocidades alcançadas em 1992 não voltariam a se repetir e o velho Speedway se tornaria um pouco mais lento.
A briga pela pole position foi dividida entre Luyendyk, Mario Andretti e Raul Boesel, com os três a se revezarem nesta posição. No final da tarde de 15 de maio, Arie Luyendyk cravou a pole com a marca de 223,967 mph (358.347Km/h) e foi seguido por Mario Andretti e Raul Boesel formando assim a primeira fila. Al Unser Jr. garantiu a quinta posição; Emerson Fittipaldi a nona colocação e Nigel Mansell a oitava posição. Stefan Johansson era o melhor dos “Rookies” e tinha garantido uma ótima sexta posição. Nelson Piquet, com o carro vermelho da Menards, garantiu a 13ª colocação e o veterano de Indianápolis, Al Unser Sr., saíra em 23º. A decepção ficara por conta de Bobby Rahal que não conseguira achar o acerto do seu carro e acabou ficando de fora após várias tentativas frustradas.
O dia da corrida, ao contrario do ano anterior que fora realizado sob um céu cinzento e de clima frio, agora seria feito sob céu azul e sol. Mas havia uma possibilidade de chuva perto do fim da corrida, que acabou não se concretizando.
A bandeira verde foi sinalizada e a 77ª Edição das 500 Milhas de Indianápolis teve o seu início Raul Boesel saindo feito um raio e partindo para ganhar a primeira colocação da reta oposta, deixando Arie e Mario na briga pela segunda posição. A corrida transcorreu sem problemas até a 16ª volta quando Jim Crawford rodou na saída da curva 2, mas não bateu. As bandeiras amarelas foram mostradas e neste instante um pelotão se encaminhou para os boxes, deixando a liderança a cargo de Kevin Cogan. Raul Boesel tinha sido um destes que entraram nos boxes, mas ao sair dos pits ele estava atrás de Mario Andretti na pista de rolamento. Como estava mais rápido, acabou ultrapassando o piloto americano. Quando a relargada foi dada na volta 21, a punição foi dada á Boesel pela manobra na saída dos boxes. Com isso, o piloto brasileiro pagou a punição e despencou no pelotão.
Danny Sullivan bateu na volta 31, numa altura que seu companheiro de Galles, Al Jr. liderava. A bandeira mais uma vez foi mostrada e neste instante Nelson Piquet abandonara também, devido o motor fundido. Após o período de bandeira amarela, a verde foi mostrada e o que se viu depois foi uma batalha caseira entre Andretti e Mansell pela segunda posição, com o “Leão” a ganhar disputa contra a “Raposa” e depois indo a ganhar a liderança de Luyendyk. Mas nem pôde desfrutar dessa posição, já que teve que entrar nos boxes em seguida. A liderança voltaria para o seu comando após uma série de pit-stops em bandeira verde.
Após algumas amarelas devido a detritos e acidentes, a corrida chegava ao seu fim e cenário apontava a liderança nas mãos de Mansell, seguido por Emerson Fittipaldi e Arie Luyendyk. Emerson tinha passado todo o mês de maio trabalhando constantemente no carro para a corrida e tinha naquele momento estava com um bom bólido ao seu comando, mas não havia liderado uma volta sequer. Raul Boesel, que estava em franca recuperação quando sofreu um stop-and-go por ter entrado nos pits quando este estava fechado no momento do acidente de Robby Gordon, estava em quarto. Uma recuperação magistral.
Raul Boesel com o Lola-Ford da Dick Simon: não fosse as punições, talvez tivesse ganho a prova

Nigel Mansell esteve muito bem, mas pagou pela inexperência nos ovais e também sua agressividade ao volante.
Foi o primeiro estreante a completar as 500 Milhas de Indianápolis desde Donnie Allison, em 1970.

Na volta 182 Lynn St. James bateu seu carro na curva quatro, forçando outra bandeira amarela. Mas esta foi curta e quando os carros passaram para abrir a184ª passagem, a bandeira verde foi mostrada. Mansell partiu na frente e estava crente que havia conseguido uma distância para Emerson e Arie, mas ele ficou surpreso quando viu que os dois estavam colados no seu Lola-Ford. Nigel ainda tentou se defender dos ataques de Emerson na reta oposta colocando o carro na linha interna, mas o brasileiro, com maior experiência nos ovais, o passou por fora e de carona trouxe o “Holandês Voador” Arie Luyendyk que assumiu o segundo posto. O sonho de vencer a Indy 500 na sua estréia começava a desmoronar.
E as coisas tornar-se-iam ainda pior quando Mansell, na tentativa de alcançar Arie, acabou tocando o seu carro no muro da curva dois na 192ª volta. As bandeiras amarelas foram mostradas e faltando cinco para o fim, a verde de agitada. Emerson, que havia construído uma boa vantagem para Luyendyk nas voltas anteriores, começou a se afastar rapidamente do holandês. Ele venceu a corrida com 2,8 segundos de avanço sobre Arie. Mansell chegou em terceiro e Boesel, na sua espetacular escalada pelo pelotão, terminou em quarto mostrando que tinha carro para ganhar aquela prova se não fosse as punições. As três primeiras posições foram dominadas por pilotos estrangeiros, fato que não acontecia desde 1917 e com a quarta posição de Boesel, essa foi a primeira vez que nenhum americano chegava no Top Four. Mario Andretti foi o americano melhor colocado, terminando em quinto. Para Mansell o que lhe restou foi o prêmio de melhor estreante na Indy 500 e ao final do ano o título da CART
No Victory Lane, Emerson Fittipaldi não bebeu o tradicional leite que é servido ao vencedor da prova desde 1936. Ele preferiu beber o suco de laranja que vinha de suas plantações do interior de São Paulo, a fim de fazer propaganda, e isso gerou pesadas críticas da imprensa, torcida e por parte dos tradicionalistas. Nem mesmo segurar a garrafa ele quis, rejeitando-a algumas vezes enquanto procurava beber o suco.
Reza a lenda que esta quebra de tradição por parte de Fittipaldi lhe rendeu vaias na semana seguinte em Milwaukee, quando a Indy se reuniu para realizar uma etapa por lá e que até hoje, mesmo após ter explicado o porquê daquela sua atitude, alguns torcedores ainda olham torto para o “Emmo”. Tanto que quando foi convidado a pilotar o Corvete que foi o Pace Car na edição de 2008, alguns ainda o vaiaram.
Ainda que o próprio Emerson tenha passado perto de vencer em 94 e de seu sobrinho Christian tenha ficado em segundo em 1995, outro piloto brasileiro só venceria a Indy 500 oito anos depois com Helio Castroneves, pilotando para a Penske.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Vídeo: Indy 500, 1989

Emerson Fittipaldi estava formidável nesta 73ª edição das 500 Milhas de Indianápolis, disputada em 28 de maio de 1989.
Pilotando o Penske-Chevrolet da Patrick Racing, ele partiu da primeira fila que dividiu com outros dois Penskes do Team de Roger Penske: Rick Mears fez a pole e Al Unser Snr. saiu em segundo. Emerson pulou na frente e liderou 156 voltas das 200 programadas, mas teve em Al Unser Jr. uma forte oposição no final da corrida que resultou num toque entre ambos e com Al Jr. levando a pior.
Fittipaldi venceu a prova e tornou-se o primeiro estrangeiro a ganhá-la desde Jim Clark em 1965. A segunda posição ainda ficou com Al Unser Jr. e a terceira com Raul Boesel.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Foto 142: Raul Boesel, 55 anos

O Jaguar XJR-8 com o qual Boesel foi campeão do mundo no World Sports Car Championship em 1987
E o campeão do Mundial de Sports Cars de 1987, completa hoje 55 anos de idade. Parabéns e vida longa ao Raul Boesel.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Revista Speed, Edição 4

A quarta edição da Revista Speed trás este mês 80 páginas dedicadas a F1 e ao Endurance. Paulo Alexandre Teixeira, com a sua coluna "O Grande Circo", fala sobre o momento de baixa audiência das corridas de F1 aqui no Brasil. Além da desta coluna, ele fala também sobre os 35 anos da chegada de Gilles Villeneuve na F1 e os relatos do GP do Canadá de 1977, disputado em Mosport, onde também ele reservou um texto sobre James Hunt que resolveu dar um soco num fiscal de pista exatamente nesta corrida.
O mundial 2012 de F1 tem o seu espaço, onde Daniel Machado disseca as corridas da fase asiática que deu ao campeonato uma reviravolta à favor de Sebastian Vettel e Red Bull.
Bruno Mendonça e Patricia Sayuri escreveram sobre a etapa brasileira do WEC, que foi disputada em setembro. Enquanto que Bruno falou sobre a magistral primeira vitória dos japoneses no campeonato, Patricia esteve por dentro do evento trazendo a sua visão sobre esta primeira corrida do Mundial de Endurance sob a chancela da FIA. E o Bruno ainda escreveu sobre a carreira de Wurz, dos seus tempos de F1 até os atuais, onde ele divide o belo Toyota TS30 Hybrid com Nicolas Lapierre.
Não esquecemos, claro, de Alessandro Zanardi e Sid Watkins. O italiano emocionou e fez história em Brands Hatch, aos levar 3 medalhas paralímpicas nas provas de Handycycling da Paralímpiada de Londres. Bruno Mendonça escreveu sobre Sid Watkins, que faleceu no dia 12 de setembro.
Além do texto de Zanardi, eu também assinei o texto que conta a trajetória do primeiro e único título de Raul Boesel no Mundial de Marcas, a bordo do belo Jaguar XJR-8, que completou 25 anos no mês passado.
Pois bem, com essa apresentação, deixo com vocês o link da revista e desejo-lhe boa leitura!

http://speedrevista.wordpress.com/

domingo, 3 de junho de 2012

Vídeo: 24 Horas de Le Mans, 1991

Enquanto que os olhos estavam voltados para o duelo entre os Jaguares XJR-12 contra Mercedes C11, a Mazda, com os seus lendários 787B com motor Wanker, subiam na classificação para conquistar uma vitória marcante em Sarthe, tornando-se a primeira, e única até aqui, fábrica japonesa a triunfar nas 24 Horas de Le Mans. O trio formado por Johnny Herbert/ Wolker Weidler/ Bertrand Gachot venceram a prova a bordo do Mazda 787B #55 com duas voltas de vantagem sobre o Jaguar XJR-12 #35 de David Jones/ Raul Boesel/ Michel Ferté. Em terceiro completou o outro Jaguar XJR-12 #34 de Teo Fabi/ Bob Wollek/ Kenny Achenson.
O melhor dos Mercedes C11 fechou em quinto com o trio Michael Schumacher/ Karl Wendlinger/ Fritz Kreutzpointer. Abaixo, o vídeo com os highlights da prova:

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Vídeo: CART Champion Spark Plug 300, Laguna Seca 1986

A antepenúltima etapa (de 17) do campeonato da CART de 1986, foi disputada no sensacional circuito de Laguna Seca. Na disputa pelo título encontrava-se três pilotos com chances até aquele momento: Bobby Rahal (Truesports) liderava campeonato com 138 pontos, dois pontos à mais que o segundo colocado Michael Andretti (Kraco Racing) e 23 de vantagem sobre o terceiro, Danny Sullivan (Penske).
A prova contou com 23 participantes, sendo que apenas doze chegaram ao final. Mario Andretti (Newmann-Haas) marcou a pole 53''036, mas o pódio foi dos três postulantes ao título: Rahal venceu, com Sullivan chegando logo sem seguida, separados por 1''041 segundos. Michael Andretti chegou mais de 20 segundos atrás, em terceiro.
Emerson Fittipaldi (Patrick Racing) foi sétimo; Raul Boesel (Simon Racing) abandonou na 88ª volta após um acidente e Roberto Moreno (Galles Racing) deixou a prova na 35ª passagem por problemas de câmbio.

Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...