Com o cancelamento do GP da França, que estava marcado para
o dia 3 de julho, o GP da Grã-Bretanha foi automaticamente a sexta corrida
daquele calendário de 1955 – os reflexos da tragédia em Le Mans ainda
resultariam nos cancelamentos dos GPs da Alemanha (31 de julho), Suíça (21 de
agosto) e Espanha (23 de outubro), fazendo com que o GP da Itália, marcado para
11 de setembro, fosse a derradeira da temporada depois que a nova data do GP
francês, que fora marcada para 25 de setembro, acabou por ser anulada de vez.
Pela primeira vez após a criação do Campeonato Mundial de
Pilotos, o GP da Grã-Bretanha tinha um novo local: Silverstone saía de cena
para dar lugar a nova pista de Aintree, em Liverpool. Aintree era bem conhecida
por abrigar a tradicional corrida de cavalos chamada de “Grand National”. Foi
aproveitado parte do hipódromo (com o traçado ladeando o hipódromo, que ficou
ao centro) e ampliado com uma nova seção - chamada de “Circuit Club” – e a construção
durou três meses e teve um custo de 100.000 libras e a primeira corrida, realizada no sentido
anti-horário, foi vencida por Stirling Moss em 1954 – e ainda teria o Daily
Telegraph Trophy que também foi vencido por Moss. Para 1955 o GP britânico foi
realizado no sentido horário. Um dos pontos que mais chamava atenção naquele
novo circuito eram as modernas instalações assim como a grandiosa arquibancada,
que dava uma ótima visão de quase todo circuito para os espectadores.
Os inscritos para o GP britânico
A Maserati teve um total de oito carros para essa edição,
sendo quatro oficiais e outros quatro inscritos por particulares: os 250F
oficiais foram pilotados por Jean Behra, Luigi Musso, Roberto Mieres e Andre
Simon. Os 250F particulares foram os da Owen Racing Organisation, com Peter
Collins ao volante; Gilby Engineering com Roy Salvadori; Stirling Moss Ldt com
Lance Macklin; e a Gould’s Garage de Horace Gould. A Mercedes voltou a alinhar
quatro carros: além da sua formação clássica com Juan Manuel Fangio, Stirling
Moss e Karl Kling, a fábrica alemã recrutou o veterano Piero Taruffi para
conduzir o quarto carro que seria de Hans Hermann que ainda estava se
recuperando do acidente em Mônaco. Os boatos sobre uma possível saída dos
alemães já começava a circular naquele período, mas ninguém da equipe
confirmava – e nem desmentia. A Ferrari levou três modelos 625 – inicialmente
eles levariam os 555, mas Mike Hawthorn, por experiência prévia naquele novo
circuito, os aconselhou a levar os 625 por entender que teriam melhor
desempenho – que ficaram para Hawthorn, Maurice Trintignant e Eugenio
Castellotti. A Gordini continuou com seus T16 para Robert Manzon, Hermano da
Silva Ramos e Mike Sparken, que substituía Jacques Pollet que teve
desentendimentos com Amedeé Gordini.
A equipe de Tony Vandervel, a Vandervel Productions, levou
dois VW55 para Ken Wharton e Harry Schell; a Connaught teve quatro carros
(Connaught B) para este GP, sendo dois oficiais e dois particulares: os
oficiais ficaram para Ken McAlpine e Jack Fairman; a Walker Racing teve um para
Tony Rolt e Peter Walker (eles dividiram
o volante durante a prova); e Leslile Marr inscreveu um por conta própria. A
Cooper teve um carro na pista que ficou aos cuidados do estreante Jack Brabham:
o T40 usava uma carroceria com rodas cobertas inspirada no W196 “Monza” da
Mercedes.
Moss marca sua primeira pole
O conhecimento prévio daquele novo circuito facilitou um
pouco as coisas para que Stirling Moss chegasse a sua primeira pole na carreira
ao fazer a marca de 2’00’’4, sendo dois décimos mais veloz que Juan Manuel
Fangio e um segundo melhor que Jean Behra, que conseguira se meter entre as
Mercedes para a surpresa de muitos. A segunda fila ficou para as outras duas
Mercedes de Karl Kling e Piero Taruffi.
Roberto Mieres, Harry Schell, André Simon, Luigi Musso e
Eugenio Castellotti – que foi o melhor Ferrari na classificação – completaram
os dez primeiros de um total de 25 carros que largaram naquele GP. Jack Brabham
foi o 25º e último do grid conseguindo um tempo 27 segundos pior que o de Moss
e 13 segundos pior que o 24º colocado que era Peter Collins com Maserati.
A cronometragem foi feita a partir das aparelhagens usadas
nas provas de turfe.
Festa britânica para Moss
O belo dia de sol naquele novo circuito foi um ótimo convite
para que as pessoas se deslocassem até Aintree para conferirem o primeiro GP
britânico fora dos domínios de Silverstone desde 1948 e melhor: com a
possibilidade de verem um britânico com reais chances de vencer.
Quando a largada foi dada o valente Jean Behra nada pode
fazer contra as Mercedes e rapidamente foi deixado para trás, com Fangio
assumindo a liderança com Moss em segundo, Kling em terceiro e Taruffi em
quarto. A esquadra da Mercedes já ensaiava o passeio pelo hipódromo desde já.
Behra se recuperaria muito para conseguir ultrapassar Kling e Taruffi e assumir
o terceiro posto, mas sem chances de conseguir alcançar Fangio e Moss.
A corrida passou a ser um desafio particular entre Fangio e
Moss a partir da terceira volta, quando o jovem inglês superou o argentino na
disputa pela liderança. Neste momento, os dois já estavam com boa vantagem sobre
Behra, que conseguia um bom ritmo sobre as duas Mercedes que vinham em seguida.
Mieres subia para a quinta colocação após ultrapassar Taruffi que ainda
procurava ritmo no seu novo carro.
Enquanto que Moss seguia bem na liderança, agora abrindo um
segundo e meio de vantagem para Fangio, Behra ficava pelo caminho na 9ª volta
com vazamento de óleo em sua Maserati.
Um dos grandes destaques da corrida foi Harry Schell: o
americano, que largara em sétimo e fizera umamá largada, começava a
recupera-se em meio ao pelotão ao superar Trintignant, Collins e Hawthorn , mas
abandonaria na volta 22 com o acelerador do seu Vanwall quebrado – ele voltaria
voltas mais tarde quando assumiu o Vanwall de Ken Wharton após este ter
abandonado na volta 50 com um vazamento de óleo. O carro foi consertado e
Schell assumiu o volante para terminar em nono, aproveitando-se do grande número
de abandonos (um total de 16 abandonos).
Se os demais tinham seus problemas, Moss e Fangio continuam
inabaláveis na dianteira da corrida. Fangio retomou a liderança na 17ª volta e
se manteve lá até a 25ª quando Stirling
voltou ao comando da corrida e agora de forma definitiva, aumentando
gradativamente a diferença para Fangio que chegou até os nove segundos. Um
pouco mais atrás, o único empecilho que estragava a formação 1-2-3-4 da
Mercedes era a Maserati de Luigi Musso que aparecia em quarto e com boa
vantagem sobre o Mercedes de Taruffi, mas o Maserati começou a perder
rendimento e isso facilitou as coisas para que Piero pudesse subir para o
quarto lugar. Outro que enfrentava problemas era Mike Hawthorn, que estava com
insolação e isso o levou a entregar o carro a Castellotti que havia abandonado
na 16ª volta com problemas de câmbio. A dupla Ferrarista ficou na sexta
colocação, nesta que foi a primeira vez desde o GP da Suíça que a Ferrari
ficava fora da zona de pontuação – naquela ocasião, os três Ferrari de Raymond
Sommer, Luigi Villoresi e Alberto Ascari abandonaram.
Orquestrado por Alfred Neubauer, que pedira para que Moss e
Fangio mantivessem suas posições, a Mercedes cravou um fabuloso 1-2-3-4 naquele
GP que viu Stirling Moss vencer pela primeira vez na Fórmula-1 e,
automaticamente, tornar-se o primeiro britânico a vencer um GP da Grã-Bretanha
no Campeonato Mundial de Pilotos. Após a avassaladora Mercedes, aparecia a
Maserati de Luigi Musso na quinta posição com uma volta de atraso. Para muitos,
a vitória foi dada de bandeja para o inglês, uma vez que muitos acreditavam que
Fangio era muito mais veloz. Apesar dos questionamentos, Fangio nunca admitiu
tal situação, sempre exaltando o grande trabalho de Moss naquele ensolarado 16
de Julho em Aintree.
Quando saíram os cancelamentos dos GPs da Alemanha, o da
França (que havia sido remarcada para setembro) e da Espanha, isso significava
que o último GP da temporada seria na Itália. Dessa forma, com 11 pontos de
vantagem sobre Moss, Fangio acabou garantindo o seu terceiro título mundial.