Apesar do desejo incontrolável de chegar à F1, sabe-se que a
condição financeira de ambos era bem diferente: enquanto que Ricardo tinha o
apoio do pai, que era um representante da Pioneer na Itália e isso já ajudaria
a levantar um bom dinheiro para alcançar o seu objetivo, Ratzenberger foi
daqueles pilotos que trabalhou duro para conseguir sobreviver no automobilismo
sem ter grande apoio financeiro. Por outro lado, ao contrário de Paletti, que
subiu rapidamente para a F1, Roland vagueou por inúmeras categorias, o que lhe
deu toda a experiência necessária para que pudesse chegar à categoria.
Ambos estrearam por equipes pequenas: Paletti pela Osella e
Roland pela Simtek. Até mesmo os percalços para tentar classificar-se para os
GPs, foram parecidos: Ricardo ainda teve a oportunidade de levar o seu Osella a
dois grids de largada – o famoso GP de San Marino e depois onde perderia a
vida, no GP do Canadá. O piloto austríaco aproveitou a experiência adquirida no
Japão, onde correu de F-3000, JTCC e JSPC, para conseguir uma vaga na última
fila do grid para o GP do Pacífico, realizado em Aida. A diferença é que Paletti
ainda ficou na F1 por oito corridas, mesmo que tivesse inúmeros contratempos
que o deixaram de treinos ou até mesmo de corridas – um bom exemplo disso foi
em Detroit, onde ele havia conseguido tempo para largar, mas devido um problema
irreversível no carro de seu companheiro, Jean Pierre Jarier, a Osella acabou
repassando seu carro para o francês e o jovem italiano teve que se contentar em
ver a corrida dos boxes...
Infelizmente os dois encontraram a morte exatamente após
poucas corridas depois de suas estréias: Paletti morreu na oitava corrida da
temporada de 1982, enquanto que Ratzenberger veio quando tentava se
classificar na terceira corrida de 1994. Outra coincidência foram os fatos que
marcaram aqueles dois anos: enquanto que em 1982 a F1 vivia sob a intensa luta
pelo poder entre FISA e FOCA pelo controle da categoria, 1994 estava numa fase
onde os pilotos reclamavam do quanto que aqueles carros estavam inguiáveis e,
consequentemente, perigosos logo após o banimento dos recursos eletrônicos. O desaparecimento de Gilles Villeneuve e Ayrton Senna,
nestes respectivos anos, acabou por deixar estas duas personagens deslocadas no
tempo de forma injusta. E conforme os anos vão se passando, são poucos aqueles
que se lembram destes dois pilotos que tinham a paixão e o sonho de estar na F1
como desejo principal.
Outra faceta que liga Paletti à Ratzenberger são as boas
referências. Eram dois pilotos tranqüilos e esforçados ao máximo, isso sem
contar que, quem conviveu com os dois, tem ótimas lembranças. Apesar da
timidez, Ricardo era visto como um cara legal, de fácil convivência. Roland também era
assim, e tinha um ótimo humor. A sua camaradagem também era destacável, assim
como a preocupação com os demais pilotos. O acidente de Fuji, durante a prova
de F-3000 onde o piloto Anthony Reid sofreu um sério acidente que chegou a
arracar-lhe o capacete, Roland percebeu o quanto que era ineficiente o trabalho
dos comissários e junto de um jornalista japonês, ajudou a escrever uma matéria
para uma revista falando sobre isso. Ironicamente ele seria vitima dessa falta
de segurança alguns anos depois, bem longe de Fuji...
Depois destes vinte anos daquele final de semana negro em
Ímola, as lembranças ainda são revividas com força. Fotos, vídeos,
depoimentos... Tudo voltará com força. Os passos serão recontados várias vezes.
Do mesmo modo que Paletti, Ratzenberger, infelizmente, será esquecido aos
poucos, não apenas por ele ter morrido 24 horas antes de Senna, mas também
porque as gerações estão se renovando. Dificilmente alguém se lembrará deles
daqui algumas décadas, mas caberá a nós, que vivemos ao menos em alguma
das duas épocas, em manter viva a imagem de dois caras que lutaram para
realizar o seus sonhos e que acabaram por perdê-las exatamente no lugar onde
mais queriam estar.
Ratzenberger se preparando para a sua única participação na F1, no GP do Pacífico, em Aida |