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quarta-feira, 12 de junho de 2024

92ª 24 Horas de Le Mans - Toyota comanda a parte noturna

 

(Foto: Dailysportscar)

Depois da qualificação que que definiu a turma que vai à Hyperpole nesta quinta, as atenções voltaram para o segundo treino livre que serve para que pilotos e equipes se ambientem para uma das principais partes da prova em Sarthe. A Toyota, ainda lambendo as feridas do desaire na classificação, voltou ao topo nessa sessão através do mesmo #8 com a marca de 3'27''474, meio segundo à frente do Ferrari 499P #83 e do Porsche #6. 

Essa sessão viu dois acidentes envolvendo carros que destacaram nessa classe: o BMW #15, que cravou a pole provisória na qualificação, teve danos na dianteira quando o mesmo Dries Vanthoor passou reto na Indianápolis e bateu de frente. Ele conseguiu retornar, levando o carro para os boxes. O outro acontecimento foi o acidente de Callum Illot no final do treino, quando bateu forte o Porsche #12 da Hertz Team Jota na Tertre Rouge. O piloto saiu bem do carro, mas os danos na dianteira foram consideráveis. 

A LMP2 teve o #37 da Cool Racing como o mais veloz com o tempo de 3'35''386 e foi seguido pelo #22 da United Autosports e pelo #65 da Panis Racing. O #14 da AO by TF teve a perda de um dos pneus num dos trechos do circuito, terminando, assim, mais cedo a sua jornada na sessão. 

A Proton Competition terminou na frente na LMGT3, desta vez através do outro Mustang de #88 com o tempo de 3'58''689. A segunda posição foi do Aston Martin #777 da D'Station e a terceira do BMW M4 #31. Mais uma vez a Ferrari da GR Racing apresentou problemas, impossibilitando a participação do trio.

Abaixo os dez melhores de cada classe.





domingo, 9 de junho de 2024

92ª 24 Horas de Le Mans - Porsche comanda as ações no Test Day


Foram duas sessões de testes, com a primeira parte sendo da Toyota e a segunda da Porsche. Foi um início animador para as duas fabricantes
(Foto: Porsche Races/ X)

 

Com os carros ganhando a pista de La Sarthe para esta primeira sessão de treinos, foi importante para as equipes pegarem o máximo de quilometragem e terem uma noção de onde podem ganhar em desempenho visando as atividades oficiais que se iniciam na próxima quarta com os treinos livres e a qualificação.

A Toyota, através do GR010 #7 foi o mais veloz nessa primeira sessão do Test Day com Kamui Kobayashi anotando a marca de 3'28’’467 que superou o tempo estabelecido um pouco antes pelo Porsche 963 #6 do Team Penske com Kevin Estre ano comando, quando o francês fez o tempo de 3'29’’270. A terceira marca desta classe dos Hypercar ficou para o BMW M #20 do Team WRT que fez 3'29’’433.

Na LMP2, que retorna especialmente para esta prova em Le Mans, a melhor marca ficou para o #28 da IDEC Sport com o tempo de 3'37’’044 que foi seguido pelo #22 da United Autosport e pelo #14 da TF Racing Spike. Em média, o melhor tempo dessa classe foi seis décimos mais lenro que o da sessão inicial de 2023.

Na LMGT3, o Lexus #78 da Akkodis ASP Team Lexus fez o tempo de 4'00’’106 e em segundo aparece o segundo Lexus #87 da equipe e em terceiro o BMW M4 #31 do Team WRT.

Essa sessão sofreu com algumas interrupções, sendo a do #37 da Cool Racing ter escapado e batido nas Curvas Porsche onde o carro, então pilotado por Lorenzo Fluxa, escapou e bateu inicialmente a dianteira e depois a traseira. O piloto saiu bem do carro, mas ainda precisam ver o estado do chassi que, inicialmente, estaria em ordem. O acidente aconteceu já na parte final do treino, o que ocasionou o encerramento em bandeira vermelha.

Outros contratempos também aconteceram durante esta sessão, como o Cadillac #3 que ficou parado na pista com problemas no sistema de combustível; #87 da Akkodis, com Takeshi Kimura no comando, ficou parado em Chicane Dunlop e isso ocasionou um Full Course Yellow - que serviu como treinamento, assim como procedimentos de Safety Car que também foram testados - ; o outro contratempo foi com o BMW M #15 de Dries Vanthoor que ficou também na Chicane Dunlop quando faltavam 25 minutos para o final. Ele foi resgatado e voltou à ativa em seguida.

(Foto: Toyota Gazoo Racing/ X)


Resultados de cada classe na primeira sessão - Top 10


Test Day, sessão 1
Hypercar (top-10)
1º - José María López (ARG) / Kamui Kobayashi (JAP) / Nyck de Vries (HOL)/ Ritomo Miyata (JAP) - Toyota GR010 - Hybrid #7, Toyota Gazoo Racing, 3min28s467
2º - Kévin Estre (FRA) / André Lotterer (ALE) / Laurens Vanthoor (BEL) / Dane Cameron (EUA) - Porsche 963 #6, Porsche Penske Motorsport, 3min29s205
3º- Robin Frijns (HOL) / Nick Yelloly (GBR) / Jesse Khrohn (FIN) - BMW M Hybrid V8 #20, BMW M Team WRT, 3min29s433
4º - Daniil Kvyat / Edoardo Mortara (ITA) / Andrea Caldarelli (ITA) / Jordan Pepper (AFS) - Lamborghini SC63 #63, Lamborghini Iron Lynx, 3min29s639
5º - Robert Kubica (POL) / Yifei Ye (CHN) / Robert Shwartzman (ISR) - Ferrari 499P #83, AF Corse, 3min29s732
6º - Sébastien Buemi (SUI) / Brendon Hartley (NZL) / Ryo Hirakawa (JAP) / José María López (ARG) / Ritomo Miyata (JAP) - Toyota GR010 - Hybrid #8, Toyota Gazoo Racing, 3min29s823
7º - Matt Campbell (AUS) / Michael Christensen (DIN) / Frédéric Makowiecki (FRA) / Dane Cameron (EUA) - Porsche 963 #5, Porsche Penske Motorsport, 3min29s885
8º - Mathieu Jaminet (FRA) / Felipe Nasr (BRA) / Nick Tandy (GBR) / Dane Cameron (EUA) - Porsche 963 #4, Porsche Penske Motorsport, 3min29s915
9º - Jean-Éric Vergne (FRA)/ Mikkel Jensen (DIN) / Nico Müller (SUI) / Malthe Jakobsen (DIN) - Peugeot 9X8 #93, Peugeot TotalEnergies, 3min30s136
10º - Antonio Giovinazzi (ITA) / Alessandro Pier Guidi (ITA) / James Calado (GBR) - Ferrari 499P #51, Ferrari AF Corse, 3min30s367

LMP2 (top-10)
1º - Paul Lafargue (FRA) / Job van Uitert (HOL) / Reshad de Gérus (FRA) - IDEC Sport #28, 3min37s044
2º - Oliver Jarvis (GBR) / Bijoy Garg (EUA) - United Autosports #22, 3min37s176
3º - PJ Hyett (EUA) / Louis Delétraz (SUI) / Alex Quinn (GBR) - AO by TF #14, 3min37s394
4º - Jakub Smiechowski (POL) / Vladislav Lomko / Clément Novalak (FRA) - Inter Europol Competition #34, 3min37s762
5º - Rodrigo Sales (EUA) / Mathias Beche (SUI) / Scott Huffaker (EUA) - Panis Racing #65, 3min38s159
6º - Ben Keating (USA) / Filipe Albuquerque (POR) / Ben Hanley (GBR) - United Autosports USA #23, 3min38s264
7º - Lorenzo Fluxa (ESP) / Malthe Jakobsen (DIN) / Ritomo Miyata (JAP) - COOL Racing #37, 3min38s266
8º - Ryan Cullen (GBR) / Patrick Pilet (FRA) / Stéphane Richelmi (MCO) - Vector Sport #10, 3min38s641
9º - Matthias Kaiser (LIE) / Olli Caldwell (GBR) / Roman De Angelis (CAN) - Algarve Pro Racing #25, 3min38s665
10º - George Kuntz (EUA) / Colin Braun (EUA) / Nick Catsburg (HOL) - Crowdstrike Racing by APR #45, 3min39s262

LMGT3 (top-10)
1º -  Arnold Robin (FRA) / Timur Boguslavsky - Lexus RC F LMGT3 #78, Akkodis ASP Team, 4min00s106
2º - Esteban Masson (FRA) / Takeshi Kimura (JAP) / Jack Hawksworth (GBR) - Lexus RC F LMGT3 #87, Akkodis ASP Team, 4min00s668
3º- Augusto Farfus (BRA) / Sean Gelael (IDN) / Darren Leung (GBR) - BMW M4 LMGT3 #31, Team WRT, 4min00s929
4º - Grégoire Saucy (SUI) / Nicolas Costa (BRA) / James Cottingham (GBR) - McLaren 720S LMGT3 Evo #59, United Autosports, 4min01s173
5º - Brendan Iribe (USA) / Ollie Millroy (GBR) / Frederik Schandorff (DIN) - McLaren 720S LMGT3 Evo #70, Inception Racing, 4min01s194
6º - Maxime Martin (BEL) / Valentino Rossi (ITA) / Ahmad Al Harthy (OMA) - BMW M4 LMGT3 #46, Team WRT, 4min01s329
7º - Matteo Cressoni (ITA) / Claudio Schiavoni (ITA) / Franck Perera (FRA) - Lamborghini Huracan LMGT3 Evo2 #60, Iron Lynx, 4min01s533
8º - Rahel Frey (SUI) / Sarah Bovy (BEL) / Michelle Gatting (DIN) - Lamborghini Huracan LMGT3 Evo2 #85, Iron Dames, 4min01s645
9º - Ian James (EUA) / Daniel Mancinelli (ITA) / Alex Riberas (ESP) - Aston Martin Vantage AMR LMGT3 #27, Heart of Racing Team, 4min01s721
10º - Davide Rigon (ITA) / Thomas Flohr (SUI) / Francesco Castellacci (ITA) - Ferrari 296 LMGT3 #54, Vista AF Corse, 4min01s771

Toyota pela manhã. Porsche à tarde

A parte da manhã tivemos uma ideia de como seria uma disputa entre Porsche e Toyota, com os japoneses a anotarem a melhor marca naquela sessão, mas a tarde foi totalmente dos alemães que colocaram quatro carros nas três primeiras posições.

Kevin Estre parace ser o homem forte da Porsche ao levar o 963 #6 ao topo da tabela de tempos no computo geral. Ele conseguiu uma sequência muito boa em certa parte do treino quando enfileirou voltas entre 3'26 e 3'28 - sendo nesse exato momento que conseguiu a melhor marca (Volta 2 - 3'27.798"/ Volta 3 - 3'26.907"/ Volta 4 - 3'28.857"/ Volta 5 - 3'27.341"/ Volta 7 - 3'26.910"). O outro Porsche #4, com Felipe Nasr no comando, fez o tempo de 3'27’’142 e pegou o segundo lugar. O Toyota #8, com Brendon Hartley, quebrou a sequência dos alemães ficando em terceiro, com o Porsche #5 em quarto. A esquadra da Porsche Penske Motorsport comandando com muita ação esse segundo turno do teste.

Alguns carros dessa classe sofreram contratempos, como foi o caso do BMW #15 do Team WRT que precisou efetuar uma troca de motor e participou dos últimos 45 minutos. O Porsche 963 #99 da Proton Competition que também perddeu parte do teste por problemas elétricos.

Das equipes estreantes, BMW e Lamborghini conseguiram boas voltas ao colocarem carros entre os dez primeiros nas duas sessões; Isota Fraschini e Alpine, não enfrentaram problemas, mas ainda estão fora do ritmo ideal.

Na LMP2, o #22 da United Autosports fez o melhor tempo dessa sessão (3'34’’704) com Oliver Jarvis no comando seguido pelo #25 da Algarve Pro Racing e pelo #30 da Duqueine Team. Estes que fecharam a trinca nessa classe, ficaram a mais de 1 segundo de atraso para o #22 - e a United ainda teve o #23 em quarto, mostrando a costumeira força que eles tem nessa classe há uns bons anos.

A Corvette, enfim, deu as caras em Sarthe conseguindo o melhor tempo através do Z06 LMGT3.R #89 da TF Sport com a marca de 3'59’’883, seguido de perto pelo Aston Martin Vantage AMR GT3 #27 da Heart of Racing e pelo BMW M4 LMGT3 #31 do Team WRT, e o fato curioso é que estes dois últimos fizeram o mesmo tempo: 3'59’’920. Outro detalhe a se destacar nessa classe que estréia em Le Mans foi o equilibrio: catorze carros ficaram no mesmo segundo, o que sugere uma atenção a mais para com eles pelos próximos dias.

Os carros voltam à pista na quarta para os treinos livres e qualificação

Resultados de cada classe na segunda sessão - Top 10

Hypercar (top-10)
1º - Kévin Estre (FRA) / André Lotterer (ALE) / Laurens Vanthoor (BEL) / Dane Cameron (EUA) - Porsche 963 #6, Porsche Penske Motorsport, 3min26s907
2º - Mathieu Jaminet (FRA) / Felipe Nasr (BRA) / Nick Tandy (GBR) / Dane Cameron (EUA) - Porsche 963 #4, Porsche Penske Motorsport, 3min27s142
3º- Sébastien Buemi (SUI) / Brendon Hartley (NZL) / Ryo Hirakawa (JAP) / Ritomo Miyata (JAP) - Toyota GR010 - Hybrid #8, Toyota Gazoo Racing, 3min27s615
4º - Matt Campbell (AUS) / Michael Christensen (DIN) / Frédéric Makowiecki (FRA) / Dane Cameron (EUA) - Porsche 963 #5, Porsche Penske Motorsport, 3min27s773
5º - Antonio Fuoco (ITA) / Miguel Molina (ESP) / Nicklas Nielsen (DIN) - Ferrari 499P #50, Ferrari AF Corse, 3min28s014
6º - Robin Frijns (HOL) / Nick Yelloly (GBR) / Jesse Khrohn (FIN) - BMW M Hybrid V8 #20, BMW M Team WRT, 3min28s072
7º - Daniil Kvyat / Edoardo Mortara (ITA) / Andrea Caldarelli (ITA) / Jordan Pepper (AFS) - Lamborghini SC63 #63, Lamborghini Iron Lynx, 3min28s222
8º - Robert Kubica (POL) / Yifei Ye (CHN) / Robert Shwartzman (ISR) - Ferrari 499P #83, AF Corse, 3min28s248
9º - Will Stevens (GBR) / Norman Nato (FRA) / Callum Ilott (GBR) - Porsche 963 #12, Hertz Team JOTA, 3min28s487
10º - José María López (ARG) / Kamui Kobayashi (JAP) / Nyck de Vries (HOL) / Ritomo Miyata (JAP) - Toyota GR010 - Hybrid #7, Toyota Gazoo Racing, 3min28s827

LMP2 (top-10)
1º - Oliver Jarvis (GBR) / Bijoy Garg (EUA) - United Autosports #22, 3min34s704
2º - Matthias Kaiser (LIE) / Olli Caldwell (GBR) / Roman De Angelis (CAN) - Algarve Pro Racing #25, 3min35s981
3º - Ben Keating (USA) / Filipe Albuquerque (POR) / Ben Hanley (GBR) - United Autosports USA #23, 3min36s354
4º - François Perrodo (FRA) / Bem Barnicoat (GBR) / Nicolas Varrone (ARG) - AF Corse #183, 3min36s623
5º - Jonas Ried (ALE) / Maceo Capietto (FRA) / Bent Viscall (HOL) - Proton Competition #9, 3min36s750
6º - Jakub Smiechowski (POL) / Vladislav Lomko / Clément Novalak (FRA) - Inter Europol Competition #34, 3min36s898
7º - George Kuntz (EUA) / Colin Braun (EUA) / Nick Catsburg (HOL) - Crowdstrike Racing by APR #45, 3min37s169, 3min37s169
8º - Ryan Cullen (GBR) / Patrick Pilet (FRA) / Stéphane Richelmi (MCO) - Vector Sport #10, 3min37s385
9º - Fabio Scherer (SUI) / David Heinemeier Hansson (DIN) / Kyffin Simpson (USA) - Nielsen Racing #24, 3min37s456
10º - Paul Lafargue (FRA) / Job van Uitert (HOL) / Reshad de Gérus (FRA) - IDEC Sport #28, 3min37s802

LMGT3 (top-10)
1º - Daniel Juncadella (ESP) / Hiroshi Koizumi (JAP) / Sébastien Baud (FRA) - Corvette Z06 LMGT3.R #82, TF Sport, 3min59s883
2º - Ian James (EUA) / Daniel Mancinelli (ITA) / Alex Riberas (ESP) - Aston Martin Vantage AMR LMGT3 #27, Heart of Racing Team, 3min59s920
3º - Augusto Farfus (BRA) / Sean Gelael (IDN) / Darren Leung (GBR) - BMW M4 LMGT3 #31, Team WRT, 3min59s920
4º - Matteo Cressoni (ITA) / Claudio Schiavoni (ITA) / Franck Perera (FRA) - Lamborghini Huracan LMGT3 Evo2 #60, Iron Lynx, 4min00s121
5º - Grégoire Saucy (SUI) / Nicolas Costa (BRA) / James Cottingham (GBR) - McLaren 720S LMGT3 Evo #59, United Autosports, 4min00s184
6º - Nicolás Pino (CHI) / Marino Sato (JAP) / Hiroshi Hamaguchi (JAP) - McLaren 720S LMGT3 Evo #95, United Autosports, 4min00s278
7º - Rahel Frey (SUI) / Sarah Bovy (BEL) / Michelle Gatting (DIN) - Lamborghini Huracan LMGT3 Evo2 #85, Iron Dames, 4min00s378
8º - Maxime Martin (BEL) / Valentino Rossi (ITA) / Ahmad Al Harthy (OMA) - BMW M4 LMGT3 #46, Team WRT, 4min00s417
9º - Charlie Eastwood (IRL) / Tom Van Rompuy (BEL) / Rui Andrade (ANG) - Corvette Z06 LMGT3.R #81, TF Sport, 4min00s444
10º - Michael Wainwright (GBR) / Daniel Serra (BRA) / Riccardo Pera (ITA) - Ferrari 296 LMGT3 #86, GR Racing, 4min00s467

domingo, 3 de março de 2024

WEC - Vitória para a Porsche, drama para a Peugeot em Losail

 

Um grande inicio para a Porsche no WEC
(Foto: Andrew Hall/ Dailysportscar)

Sabemos que testes de pré-temporada sempre nos pregam algumas peças, mas desta vez, os que foram realizados em Losail, visando a abertura da temporada 2024 do World Endurance Championship, confirmou para esta primeira etapa, realizada na mesma Losail, que a Porsche está num nível muito acima do que vimos no ano de 2023 quando os LMDh foram inseridos no certame mundial. E não apenas os carros alemães, como também os curiosos Peugeot 9X8, estiveram muito bem nessa etapa de abertura.

Fosse com a Penske, fosse com o JOTA, a Porsche sempre esteve com ótimas condições de conquistar a etapa de abertura deste mundial e a principio não teria um rival a altura, mesmo que de última hora a Toyota tenha aparecido com um ótima segunda posição na qualificação através de Nicky De Vries, que estreou na equipe japonesa, e levou o GR010 #7 à primeira fila. Mas isso acabaria sendo apenas um sonho bem curto, já que na largada acabaria sendo engolido pelo pelotão e ficaria, por toda a prova, flutuando entre o oitavo e terceiro lugar. 

A Porsche ainda teria um pequeno desafio quando a Peugeot, com o 9X8 #93, conseguiu ascender à liderança com um ritmo alucinante imposto por Nico Müller que conseguiu assumir a ponta no final da primeira hora de corrida sobre uma também surpreendente Ferrari, que teve uma bela ascenção à ponta da corrida com Miguel Molina no comando do 499P #50 na primeira meia hora, mas com a mancada de ter queimando a linha branca da saída de box, jogou por terra uma chance da equipe italiana ter brigado pela vitória. Aliando isso ao fato do #51 também ter sofrido com problemas com a parte traseira que se soltou inteira, depois que a presilha quebrou proveniente de um toque com um LMGT3 quando James Calado estava em seu turno. O outro Ferrari 499P de #83, nas cores amarelo e vermelho - usando o inverso dos dois oficiais - e que estará cuidados da AF Corse - a parte semi-oficial da Ferrari - esteve muito bem com o trio formado por Robert Kubica/ Robert Shwartzman/ Yefei Ye e seria um dos bons canditados a pegar o pódio se não fosse problemas, também, com a parte traseira do protótipo. Enquanto que os carros oficiais fecharam em 7º e 14º (#50 e #51), o #83 foi o melhor dos italianos ao terminar em quinto com uma volta de atraso para o vencedor. 

A Cadillac também esteve numa boa jornada, ainda que seu início tenha sido em atribulado quando Alex Lynn, no comando  do V.Series.R #2, acertou o Peugeot #94 na primeira curva após a largada - ainda que houvesse uma suspeita de que ele tenha sido tocado pelo Porsche #38 da Hertz JOTA que, dessa forma, teria desestabilizado para este toque no Peugeot. Isso acabou os levando a troca a dianteira e tirando deles uma boa oportunidade, mas o ritmo mostrado por Lynn/ Sebastian Bourdais/ Earl Bamber para a recuperação do carro americano, deixou uma impressão do que eles poderiam ter feito em condições normais. 

No campo dos estreantes, além do Ferrari da AF Corse que conseguiu um ótimo quinto lugar, tivemos a BMW com seus dois M Hybrid V8, a Lamborghini com o SC63, Alpine com os seu A424 e a Isotta Fraschini com o Tipo-6C. A Alpine fechou em oitavo com o #35 e em 12º com o #36 e apesar do cenário não ser dos mais encorajadores, os carros franceses tiveram ritmo decente, inclusive conseguindo um brilhareco ao chegarem aos primeiros lugares com as paradas de boxes. Philippe Sinault, chefe da Signatec Alpine, destacou a importância em fechar com os dois carros: “Fizemos uma corrida limpa e terminar com os nossos dois carros, incluindo um entre os dez primeiros, é uma boa conquista. Demos mais um passo em frente, mas sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer. Devemos continuar a aprender e adquirir conhecimento e experiência em todas as áreas.”

A BMW fechou com o #20 na 11ª posição, enquanto que o #15 teve problemas já na parte final da corrida, o relegando para o 15ª lugar. Lamborghini e Isotta Fraschini tiveram desempenhos bem discretos, sendo que o SC63 #63 da Iron Lynx tenha fechado em 14º na corrida, com cinco voltas de atraso para o vencedor, e o Isotta Fraschini #11 conseguiu se sustentar até a volta 157 quando aconteceu o abandono - isso sem contar numa punição de 200 segundos por conta de uma infração. 

O duelo entre Porsche e Peugeot

Foi uma jornada positiva da Peugeot em Losail, até a falta de combustível acabar com todo trabalho
(Foto: Peugeot Sport/ X)


O desafio que a Peugeot impôs aos Porsche foi algo impressionante, já que vimos bem como foi a temporada dos franceses em 2023 - ainda que eles tivessem uma boa velocidade de reta que foi demonstrada algumas vezes, especialmente em Le Mans. Mas desta vez, foi uma disputa que terminou quando o mesmo Nico Müller, que havia dado à Peugeot a oportunidade de entrar na briga, acabou errando a primeira curva e proporcionando o Porsche #6 do Team Penske a chance de assumir a liderança, que era perdida apenas nas paradas de boxes.

Ainda que o que carro alemão estivesse na liderança, o Peugeot #93 não esteve longe em toda a sua jornada, dando o indicativo que qualquer que fosse o vacilo do Porsche 963 #6 da Penske desse, eles estariam prontos para assumir a dianteira. Mas o Peugeot #93 quando estava prestes a conquistar a segunda posição, acabou sofrendo uma perda de potência na abertura da penúltima volta e isso facilitou bastante a vida do outros dois Porsche 963 do Hertz Team JOTA #12 que duelava ferozmente com o da Porsche Penske #5 pela terceira posição. Foi um grande desaire para a fabricante francesa, que estava prestes a conquistar o seu melhor resultado no WEC - Jean Eric Vergne, que estava no comando do #93, ainda conseguiu fechar em sétimo, mas seria desclassificado já que não conseguiu retornar aos boxes (e consequentemente ao parque fechado) por condições próprias, já que havia usado o motor elétrico na tentativa de completar a corrida. 

Para a Porsche, foi um início absurdamente positivo, juntando esta vitória na abertura do WEC a conquista recente nas 24 Horas de Daytona. Para não dizer que a Porsche Penske não sofreu algo, tiveram um bom susto quando houve um contato do #6com o Lexus da classe LMGT3 quando a corrida já estava próxima do encerramento. Houve uma quebra considerável do lado esquerdo do Porsche, na altura do número luminoso, e isso passou a dificultar a pilotagem de Kevin Estre. “O contato foi lado a lado em uma curva de alta velocidade e o controle da corrida julgou que era culpa do carro GT. Tivemos que reagir e decidir o que queríamos fazer. Todos estiveram à altura da ocasião” disse Jonathan Diuguid que é diretor administrativo da equipe Penske. O carro foi levado aos boxes para uma rápida parada de box para que fosse recolocado o adesivo com o #6. Kevin Estre destacou este momento tenso para eles, assim como o ótimo trabalho da equipe e também o bom momento neste inicio de temporada: “Foi um pouco louco, para ser sincero. Tive um grande impacto com o Lexus, tivemos muita vibração depois disso e nenhuma aderência. Tornou-o picante até o fim. Mas toda a equipe fez um trabalho incrível, sem problemas. Estou muito feliz com onde estamos hoje em comparação com onde começamos no ano passado”

Por outro lado, além da adoção do BOP, onde os carros da Porsche, Cadillac e da Peugeot eram mais leves frente aos da Toyota e Ferrari e conseguiram otimizar esse fator num circuito com pista extremamente plana (sem ondulações), o que ajudou, também, na conservação dos pneus - algo que deu uma bela dor de cabeça à Toyota, por exemplo - e fluidez na aerodinâmica dos dois principais carros desta etapa inicial, acabaram dando a eles uma vantagem considerável que provavelmente possa cair já na etapa seguinte, nas 6 Horas de Ímola. 

Na estréia da nova classe LMGT3, a Porsche venceu também através do 911 LMGT3 R 992 #92 da Manthey Pure Rxcing que foi pilotado por Alex Malykhin/ Joel Sturm/ Klaus Bachler depois de uma batalha bem interessante contra o Aston Martin Vantage AMR LMGT3 2024 #26 da Heart Of Racing pilotado por Ian James/ Daniel Mancinelli/ Alex Riberas e em tercerio o outro Aston Martin #777 da D'Station Racing.


A Manthey Pure Rxcing teve a primazia de ser a primeira vencedora da nova classe LMGT3
(Foto: Andrew Hall/ Dailysportscar)

segunda-feira, 12 de junho de 2023

91ª 24 Horas de Le Mans, A Centenária - Le Mans em vermelho, 58 anos depois

 

(Foto: GT Report/ Twitter)


Quando o hino italiano ecoou pelos altos falantes durante o pódio em Le Mans, muitas lembranças foram revividas. Muitas delas, e principalmente, de uma época de ouro onde a Ferrari era a rainha absoluta das provas de Endurance no mundo, construindo um legado tão forte quanto o que a Scuderia italiana viria ter na Fórmula-1 nas décadas seguintes. Foi um período onde o nome Ferrari conseguiu se impor como o maior expoente do esporte a motor, contribuindo para que a paixão avassaladora de seus fiéis Tiffosi durasse até os dias atuais, sobrevivendo a inúmeros desgostos e saboreado eternamente os sucessos quando apareciam.

A Ferrari nunca se afastou de fato das provas de Endurance. Esteve sempre ali representada nos seus inúmeros modelos de GT e também por uma cria que ganhou um importante espaço no coração de seus torcedores que foi o 333SP que ainda carregava o coração V12, que leva todas as honrarias por ser a definição máxima de um tradicional motor Ferrari. Mas neste período, a falta de uma presença maciça da Rossa na classe principal, era sentida.

Talvez assistir a sua rival de longa data, a Porsche, construir um legado brilhante no solo de La Sarthe, tenha mexido com os sentimentos dos italianos, mas o compromisso com a Fórmula-1 complicava o seu retorno à classe principal. E claro, retornar por retornar, não seria o mais correto e quando os astros se alinharam, com a Fórmula-1 adotando o teto de gastos e a ACO adotando a plataforma Hypercar, o sonho de retornar às provas de Endurance no mais alto nível passou a ser palpável. Quando o 499P ganhou a pista em 2022 para realizar seus primeiros quilômetros, era certo que o sonho de ver a Ferrari no Mundial de Endurance e, claro, em Le Mans, estava próximo.

A presença da Ferrari com seus dois 499P foi um sucesso absoluto e quando ganharam a pista de Sebring, para realização das Mil Milhas, ficava claro que a Scuderia estava de volta ao mundo do Endurance de forma definitiva. A velocidade pura dos 499P foi logo vista e celebrada como aquela que poderia fazer frente ao poderio da Toyota.

Apesar da reconhecida velocidade, que foi convertida em pole na pista de Sebring e que deveria ter conquistado a da 6 Horas de Spa, ainda faltava ritmo de prova para enfrentar o duo de Toyota GR010. Le Mans, no seu Centenário, foi o local perfeito para que embate acontecesse.

Apesar do uso do BOP que conseguiu igualar a contenda, o cenário para esta batalha entre Toyota vs Ferrari foi bem vindo e nos brindou com uma edição comemorativa de primeira classe. Nos pequenos detalhes que tão fazem parte deste tipo de corrida, entremeada com dramas e percalços que deixam todos com o coração na boca, a Ferrari conseguiu sobreviver e vencer pela décima vez as 24 Horas de Le Mans, algo que não acontecia desde 1965 quando a marca, através da sua subsidiária NART, venceu com o comando de Masten Gregory e Jochen Rindt na 250LM. O pódio também não acontecia desde 1973 depois que Arturo Merzario e José Carlos Pace levaram o 312PB ao segundo lugar naquela edição.

Até mesmo para aqueles que não torcem para a Ferrari, a conquista dos italianos foi festejada brindando um retorno marcante daquela que já reinou intensamente no lendário circuito de Le Mans.


Uma batalha titânica nos Hypercar

(Foto: Italian Endurance/ Twitter)


Era consenso de que esta edição, a 91ª das 24 Horas de Le Mans, que também completa seu Centenário, era a mais esperada não apenas por ser festiva, mas também pelo contingente que estaria presente. Além da Toyota, Peugeot e Glickenhaus, a presença da Ferrari, Porsche, Cadillac e Vanwall, traria uma nova possibilidade para que esta corrida de 2023 entrasse para a história. Infelizmente, a Alpine desceu para a LMP2 nesta edição, mas já tem o seu projeto pronto para voltar a principal em 2024.

As mexidas da ACO para que houvesse um equilíbrio, já que a Toyota dominara as três primeiras corridas deste ano, surtiu efeito e trouxe até possibilidade de que as demais fabricantes pudessem entrar na briga pela taça desta Centenária 24 Horas de Le Mans.

De certa forma, isso foi atingido já que as principais fabricantes conseguiram liderar por alguns minutos, pelo menos, esta edição. Foi uma ótima oportunidade para a Peugeot, que claramente era a mais "fraca" dessa turma de gigantes, ascender com chances de conseguir um resultado de respeito quando liderou algumas partes do período noturno e início da madrugada, aproveitando-se das intervenções das Slow Zones, Full Course Yellow e Safety Car. Infelizmente problemas e um breve acidente do #94, que era o melhor classificado dos dois 9x8, eliminar as chances de um resultado muito bom para eles, que retornavam à Sarthe depois de doze anos. De todo modo, perto das baixas expectativas que permeavam o desempenho dos 9x8, foi uma corrida positiva para a Peugeot que claramente ganhará um impulso para continuar desenvolver os carros - algo a se levar em conta foi o bom desempenho de reta deles, conseguindo dar conta do recado. É um bom presságio para as 6 Horas de Monza, próxima etapa, exatamente onde voltaram em 2022.

Essa oportunidade também foi vista para a Cadillac, mas problemas mecânicos, enroscos e acidentes limitaram o andamento dos carros americanos. O que serve de consolo, foi a ida do Cadillac #2 da Cadillac Racing, conduzido por Earl Bamber/ Alex Lynn/ Richard Westbrook - o que também teve um doce sabor por parte de Chip Ganassi, que teve a sua equipe chegando à frente de seu grande rival Roger Penske.

O outro Cadillac, o #311 da Action Express, teve uma corrida muito atribulada desde a primeira volta quando Jack Aitken (que dividiu o comando com Pipo Derani e Alexander Sims) perdeu o controle na pista úmida e bateu na saída da primeira chincane da Hunaudieres, danificando seriamente a suspensão dianteira esquerda e de imediato dando adeus a qualquer chance, já que perderiam muitas voltas para o reparo. Apesar de outros contratempos que aconteceram após o retorno, fecharam a corrida em décimo

Aproveitando o embalo, os Porsche da equipe Penske não tiveram um grande desfecho, ainda que pese o bom andamento do 963 #75 pilotado por Felipe Nasr/ Mathieu Jaminet/ Nick Tandy que estava entre os primeiros, mas abandonaria na sétima hora por falta de pressão na bomba de combustível quando o carro ficou parado na Tertre Rouge. Os outros dois Porsche da equipe, #5 e #6, foram até o final - terminando em nono e décimo primeiro, respectivamente- mas de forma claudicante, já que enfrentaram inúmeros problemas.

Este retorno da Porsche, que comemora seus 75 anos de existência, ainda contava com o 963 #38 que estava aos cuidados do Hertz Team Jota que contou com a formação Antonio Félix Da Costa/ Will Stevens/ Yiefei Ye e que vinha como o melhor dos Porsche, chegando liderar a prova quando teve a primeira pancada de chuva que instalou um certo caos no trecho que antecede a Porsche Curve. Infelizmente, na 5ª hora, quando estavam liderando na classe, o acidente exatamente nas curvas que levam o nome da marca alemã, tirou a possibilidade da simpática equipe conseguir algo melhor. Yiefei Ye conseguiu levar o carro aos boxes, mas as voltas perdidas para os reparos foram cruciais para saíssem da briga.

Glickenhaus e Vanwall não teriam grande chance contra as demais. Os dois carros da equipe de Jim Glickenhaus conseguiram completar a prova em bons quinto e sexto lugares, aproveitando-se dos problemas que os demais foram apresentando, mas eles não ficaram alheios a problemas já tiveram algumas escapadas e pequenos incidentes que atrapalharam o desempenho. Mesmo sem muita chance, estes incidentes atrasaram um pouco e poderiam até ter colocado pelo menos um dos carros na quarta colocação - já que o #708 pilotado por Romain Dumas/ Ryan Briscoe/ Olivier Pla fecharam com duas voltas de desvantagem para o Ferrari 499P #50.

O Vanwall fez apenas figuração com Tom Dillman/ Esteban Guerrieri/ Esteban Gutierrez e acabariam por abandonar na hora 16 após problemas no motor - o que acabou sendo surpreendente, já que é um carro que costuma apresentar bastante problemas mecânicos.

Ferrari vs Toyota


(Foto: Racer/ Twitter)


Apesar dos demais contendores terem tido algumas aparições entre os três primeiros, não se pode negar que todas as atenções estavam voltadas para a disputa direta entre Toyota e Ferrari. Por mais que as duas tenham sido as mais afetadas pelo BOP, o desempenho de seus carros se sobrepuseram aos dos rivais e com o passar das horas ficou claro que a vitória ficaria para uma das duas.

A Toyota, apesar de suas reclamações em relação ao BOP - já que levavam 13kg a mais que os Ferrari (37kg - 24kg) -, tinham uma estratégia bem definida que era contar com o #7 (Kamui Kobayashi/ Mike Conway/ José Maria Lopez) flutuando entre a segunda e quinta posição e o #8 (Sebastién Buemi/ Brendon Hartley/ Ryo Hirakawa) sempre entre quarto e sexto, entregavam que a qualquer momento poderiam subir forte na classificação para assumir as duas primeiras posições e, claro, travar uma futura disputa ferrenha com a Ferrari.

Os dois carros italianos também estavam numa situação parecida com o dos japoneses, esperando que mais a frente houvesse este embate. Ou seja: uma batalha a quatro carros era esperado.

Porém, o velho pesadelo da Toyota começou a dar as caras quando eles perderam o #7 na abertura da nona hora depois que Kamui Kobayashi esteve envolvido num acidente com o #66 da JMW Motorsport e um dos Alpine na Tertre Rouge, levando pancada na lateral (Ferrari) e traseira (Alpine). Apesar dos esforços de Kobayashi e de seu engenheiro, o GR010 #7 não conseguiu funcionar e acabou abandonando. Um golpe bem forte para a Toyota que parecia ter uma formação poderosa para enfrentar as Ferrari.

A Ferrari também teve seus percalços e com uma boa dose de sorte, conseguiu sobreviver com seus dois carros: o #50 (Antonio Fuoco/ Miguel Molina/ Nicklas Nielsen) foi para a garagem na décima hora para resolver um problema de vazamento, que os deixariam de fora da disputa - eles ainda levariam um susto quando Alessandro Pierguidi ficou preso na brita da Mulsanne quando desviou de um possivel acidente com um GT. Agora a disputa seria direta entre o Ferrari 499P #51 (Antonio Giovinazzi/ Alessandro Pierguidi/ James Calado) e o Toyota #8 GR010 (Sebastién Buemi/ Brendon Hartley/ Ryo Hirakawa).

Da madrugada ao amanhecer presenciamos pilotagens de primeiríssima qualidade dos dois carros, porém foi neste período onde a corrida passou a pender para os italianos: Brendon Hartley e Sebastién Buemi fizeram seus stints de forma primorosa, conseguindo manter uma ótima diferença para o Ferrari #51, mas depois foi a vez dos italianos responderem com um mega trabalho de Alessandro Pierguidi e Antonio Giovinazzi para descontar a diferença para o #8.

Os sustos acabariam por definir o destino à favor da Ferrari: Hirakawa teve que trocar a dianteira após atropelar um... esquilo! Perdeu um certo tempo e a Ferrari #51 assumiria a liderança para não perder mais. O próprio Hirakawa ainda teria um tremendo sufoco quando o freio do #8, já problemático, travou e o jogou contra as barreiras do final da Mulsanne, danificando a dianteira e traseira do protótipo japonês. Claramente, a sua forçada ida aos boxes tirou qualquer chance que existia, já que naquela altura a sua desvantagem para a Ferrari era de 20 segundos - e com o carro italiano começando a enfrentar problemas na direção.

Essa dramaticidade não ficou restrita à Toyota: o Ferrari #51 teve dois apagões durante suas derradeiras paradas, onde o motor elétrico custou a funcionar e deixou todos com um tremendo frio na espinha. Mais adiante teriam problemas na direção, mas com o #8 longe depois do incidente, deu uma certa tranquilidade para eles - foi uma bela jogada da Ferrari que usou o #50 para tentar incomodar o Toyota #8 em algumas situações.

Essa grande disputa, marcada até mesmo nas paradas de box, só valorizou a grande conquista da Ferrari neste seu retorno à Sarthe. Do mesmo modo para a Toyota, que lutou bravamente para conquistar a sua sexta vitória que seria consecutiva e, talvez, não fossem os problemas, poderiam ter chegado a este número.

Acabou por ser uma 91ª edição em grande estilo para este Centenário das 24 Horas de Le Mans.


LMP2


(Foto: Inter Europol/ Twitter)


Como sempre, esta classe reserva as melhores emoções. As várias disputas nesta edição deixou uma certa dúvida no ar de quem levaria a vitória e esta ficou nas mãos do Oreca-07 Gibson #34 da Inter Europol (Jakub Smiechowski/ Albert Costa/ Fabio Scherer).

Mas ainda tiveram que batalhar contra o #41 do Team WRT (Robert Kubica/ Rui Andrade/ Louis Delétraz) para chegar a esta conquista, mas o trio e o carro estavam bem alinhados para esta edição. É uma equipe que tem crescido a olhos vistos nos últimos anos.

O #28 da Jota Sport (Pietro Fittipaldi/ David Henemeier-Hansson/ Oliver Rasmussen) teve a sua chance, mas dois enroscos - um deles com Pietro Fittipaldi, que ficou preso na brita da Mulsanne após ser tocado por um LMP2 - jogou fora as possibilidades de uma vitória.

O andamento para a Alpine, neste que é o seu retorno momentâneo na classe, foi bom, mas não o suficiente para chegarem ao pódio ao menos - já que a qualificação para eles foi bem abaixo. O #36 (Mathieu Vaxiviere/ Charles Milesi/ Julien Canal) ficou em quarto e o #35 (André Negrão/ Olli Caldwell/ Memo Rojas).

Apesar do sentimento de despedida dessa classe após o anúncio da descontinuidade dela para o Mundial do ano que vem, eles estarão presentes em Le Mans com uma reserva de 15 vagas.


LMGTE AM


(Foto: Corvette/ Twitter)


Se havia uma classe onde o resultado parecia pender para a Ferrari, era exatamente essa. Ok, o grande desempenho da Corvette nos treinos tinha sido um tremendo balde de água fria, mas mesmo assim as coisas pareciam ir de encontro aos Ferrari.

O #54 da AF Corse (Thomas Flohr/ Francesco Castelacci/ Davide Rigon) chegou liderar, mas não por muito tempo já que os Porsche, que não tiveram uma boa jornada na qualificação, apareceram bem durante a prova.

De se destacar o ótimo trabalho apresentado pelo Porsche #85 da Iron Dames (Sarah Bovy/ Michelle Gatting/ Rahel Frey) que tiveram ótimas hipóteses de vencer ou ao menos conquistar os demais lugares no pódio. Infelizmente, uma queda de performance na hora final da corrida - ainda que tivessem feito uma troca dos freios. De toda forma, foi a melhor colocação do trio em Le Mans.

Uma das Ferrari que tinham chance era o Kessel Racing #57 pilotado por Daniel Serra/ Kimura Takeshi/ Scott Huffaker, que chegou liderar na classe e estava no páreo. Mas um estouro de pneu, justamente quando Serra estava ao volante, jogou o Ferrari na brita da curva Indianápolis.

A Corvette acabou por vencer nessa classe com o #33 (Ben Keating/ Nicky Catsburg/ Nicolas Varrone), mas não antes de passar por algum drama quando precisou de recolher o carro para a garagem, realizando a troca do amortecedor dianteiro na segunda hora de prova. Foi uma bela recuperação nas horas seguintes para chegarem à vitória, que marca o fim da linha do modelo C8.R em Le Mans, já que o mundial utilizará a plataforma GT3 em 2024.

O Camaro ZL1 #24 do Hendrick Motorsport, foi a grande sensação dessa edição levando os fãs da NASCAR a ficarem entusiasmados exatamente por verem o carro ser mais rápido que os GTs em até três segundos - isso sem contar que cada onboard era um show à parte. Jenson Button/ Jimmie Jonhson/ Mike Rockenfeller levaram o carro ao final sem grandes problemas finalizando em 39° na geral.


Uma histórica transmissão


Parte do time que fez essa histórica transmissão 
Da esquerda para direita: Rodrigo Mattar, Débora Almeida, Felipe Meira, Aldo Luiz, Sérgio Milani, Rubens Neto, Milton Rubinho e André Bonomini 


Foi de muito bom agrado quando soube da transmissão aqui para o Brasil das 24 Horas de Le Mans sendo totalmente em português. O melhor disso, foi saber que grandes amigos, capitaneado pelo camarada Sérgio Milani, que deu o primeiro passo para que esta temporada do Mundial de Endurance fosse transmitida aqui pelo canal oficial da categoria desde a primeira etapa, estariam na transmissão.

Além do próprio Milani, junto de Aldo Luiz, Felipe Meira e do sempre competente Rodrigo Mattar, Milton Rubinho, André Bonomini, Débora Almeida, Geferson Kern, Gabriel Lima e Sérgio Lago, comandaram o grande clássico num revezamento que começou uma hora antes da largada e foi até uma hora depois da chegada, com a transmissão sendo feita na íntegra via YouTube e com entradas programadas no canal do Bandsports.

Foi um trabalho sublime, com muita informação de todos que passaram ali, mostrando que o automobilismo mundial não está restrito apenas a provas de fórmula e que alguém que esteja apenas preso em uma categoria, possa criar gosto por outras - e sabemos bem que o mundo do Endurance nos oferece as mais variadas situações que tornam essa disciplina fascinante.

Para a história, seus nomes ficarão gravados como os primeiros a fazerem uma transmissão total das 24 Horas de Le Mans, coisa que até então se resumia a flashes e horários pré-determinados em edições anteriores.

Que seja a primeira de muitas!

sexta-feira, 9 de junho de 2023

91ª 24 Horas de Le Mans, A Centenária - Na espera de uma grande edição

 

Os poles da Hypercar, LMP2 e LMGTE AM 
(Foto: 24 Hours of Le Mans/ Twitter)


Conforme as atividades foram passando, o sentimento de uma grande prova em Sarthe só aumentou. As três classes apresentaram um boa dose de expectativa de que possamos presenciar uma edição histórica que tem tudo para fazer jus ao Centenário de uma das corridas mais importantes do mundo, ou melhor que isso, uma das jóias da Tríplice Coroa, que tem sido tão aclamada nos últimos anos.

A batalha que se avizinha entre Toyota e Ferrari dá um tom muito animador para todos os espectadores e telespectadores mundo afora, que espera por um embate entra elas - e outras mais - desde que os regulamentos foram anunciados alguns anos já visando a disputa da prova Centenária.

Apesar da Ferrari ter apresentado uma velocidade impressionante para a obtenção da pole, é sabido que os problemas podem aparecer a qualquer instante - afinal de contas, a própria Ferrari teve alguns nas primeiras etapas. Isso se aplica também a Toyota, mas esta ainda pode se dar ao luxo de abusar um pouco de seus carros para tentar buscar mais uma vitória em Le Mans. Mas do mesmo modo que a Ferrari, eles sofreram com problemas em Portimão com um de seus dois carros. Mas ainda assim, são os grandes favoritos para vencerem - e Pascal Vasselon já aceitou isso desde os dias da pesagem.

Mais alguém poderia incomodar as duas fabricantes? O BOP ajudou e aproximou as equipes e mesmo que Ferrari e Toyota estejam mais pesadas que os demais (24 e 37 kg, respectivamente), o desempenho das demais ainda não chega a ser próximo. Porém, isso não pode privá-los de uma dose de sorte já que a parte crítica da prova que é da madrugada em diante, pode reservar boas surpresas. Portanto, para Porsche, Cadillac Peugeot - que vem enfrentando vários problemas - e até mesmo os Glickenhaus e Vanwall - que tem tido um desempenho bem abaixo, já que não tem a parte híbrida - a chance pode vir exatamente das reviravoltas que este tipo de prova costuma ter.

A LMP2, que fará a sua última valsa em Le Mans, poderá nos brindar com mais uma visceral edição. Não dá para apontar nenhum favorito disparado, mesmo que ainda tenhamos na equipe da JOTA Sport um pequeno favoritismo. Mesmo assim não podemos descartar equipes como o Team WRT, Idec Sport, United Autosport, Alpine (estas duas últimas não foram ao Hyperpole, mas ainda sim tem a experiência ao lado deles que deverá ajudá-los na recuperação). Um detalhe interessante é que normalmente os quatro primeiros costumam ficar bem alinhados por um bom tempo, indo para a decisão nas horas finais.

A classe final, a LMGTE AM, não é por menos: vimos uma Corvette ascender a pole de forma espetacular após treinos livres onde ficaram abaixo, mas, ironicamente,  o acidente na primeira sessão acabou sendo crucial para esta melhor, já que uma série de peças foram trocadas e talvez tenham influenciado bastante na melhoria.

Foi uma grande surpresa ver a Corvette na pole, assim como a segunda posição da Aston Martin que também não parecia forte nos treinos livres.

As equipes que tem carros Ferrari e que pareciam fortes, tiveram na AF Corse o seu melhor ao ficar na terceira posição e daí para baixo o contingente italiano ganhou força. Porém, é na corrida que as coisas devem ser diferentes assim como para a Porsche que não teve uma boa qualificação, mas que sabemos que conseguem escalar bem o pelotão.

Estas 24 Horas de Le Mans tem tudo para se tornar um grande clássico da história das provas de Endurance, exatamente por tudo que permeia esta edição. 

E claro, para melhorar isso, é sabido que Le Mans costuma escolher os seus.

E isto é uma das fascinantes místicas desta Centenária prova.

Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...