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terça-feira, 31 de maio de 2016

100ª Indy 500: O direito de arriscar

Ao fechar a fabulosa prova de número 100 da Indy 500, lembrei-me da corrida de 2012 quando Takuma Sato arriscou o tudo ou nada contra Dario Franchitti na abertura da última volta jogando-se por dentro da curva 1 e tentando a ultrapassagem na marra. O que sobrou para a coragem do japonês foi o muro e para Dario, a conquista de sua terceira e última vitória em Indianápolis. Para muitos, naquela ocasião, foi uma loucura desnecessária tentar algo ainda faltando quase que 90% da volta final para arriscar. Mas por outro lado, é assim que as coisas precisam ser feitas: provas como a Indy 500, que podem dar a glória maior para um piloto, precisam ser encaradas dessa forma. Ainda mais por pilotos que encontram essa rara chance. Takuma foi um caso desses: depois daquele final espetacular, ele teve mais alguma oportunidade de vencer a tradicional prova? Não! Apesar de que ainda deva correr outras edições, acredito que ele fez o certo naquela oportunidade.
Nesta centésima edição tivemos exemplos muito bons para se lembrar: Carlos Muñoz esteve bem próximo de conseguir a vitória, pois havia aparecido muito bem nas voltas finais como um foguete. Ele fez o certo: administrou bem a sua corrida por todo certame e foi atacar na hora que precisava de fato, que são nas últimas 50, 30, 20 voltas. É neste momento que as estratégias vão para o espaço e acelerar passa ser o quesito principal. Mas o estrategista de Muñoz, assim como de outros tantos, tiveram aquele medo de ficarem pelo caminho sem etanol e o mandaram para os boxes realizar um Splash & Go. Seria necessário naquela altura, faltando 6, cinco voltas para o fim? Particularmente imaginava que um piloto que passou parte da corrida ali pelo meio do pelotão apenas "cozinhando o galo", teria combustível suficiente para não precisar de uma parada extra. Outros pilotos que estavam em situação parecida com a de Carlos também precisaram fazer o mesmo: até certo momento imaginei de Scott Dixon faturaria a prova, pois não figurou nenhuma vez entre os três primeiros, vindo aparecer numa quinta posição há exatas cinco voltas para o fim. Mas ele teve que entrar para o seu pit-stop, assim como Tony Kanaan que esteve mais uma vez espetacular nesta Indy 500 e era sério candidato a vencer pela segunda vez no "Brickyard". Helio Castroneves era outro que havia feito uma corrida bem tática, conseguindo aparecer entre os primeiros na metade da prova e ficar com grandes chances de vencer - e até formar uma dobradinha com Tony -, mas os problemas na asa traseira após um toque de Townsend Bell no boxes e que foi agravado por Hildebrand em uma das relargadas, forçaram a sua ida ao box para trocá-la. Talvez até pudesse arriscar algo nas voltas finais, mas acabou sendo mais um a ir aos boxes.
Após uma série de pilotos ir aos boxes, surgiu a figura de Alexander Rossi. O novato foi muito bem em sua primeira experiência em Indianápolis ao se colocar em 11º no grid de largada e na corrida fez o "feijão com arroz": nada de especial, apenas cuidando bem do equipamento e se livrando das armadilhas que uma prova dessa proporciona. Mas quando a liderança apareceu para ele faltando cinco voltas, Bryan Herta apenas o mandou se segurar na pista como podia e Rossi, mesmo após ter dito que o carro estava falhando, passou a economizar o máximo possível para não ficar totalmente sem combustível naquelas voltas finais. Foi tanto que a duas voltas do fim, diminuiu drasticamente seu ritmo. A sua diferença para Josef Newgarden e posteriormente Muñoz era bem confortante, tanto que quando abriu a volta final estava com mais de uma reta de vantagem para eles. Ou seja: era apenas deixar o carro rolar na "banguela" para chegar a um triunfo histórico para o jovem americano. Para Carlos Muñoz, restou apenas as lágrimas e frustração.
Foi um final sensacional, sem dúvida. Devemos sempre lembrar que Rossi pilotou ano passado em algumas provas pela Manor na F1 e que agora estava ganhando uma das provas mais importantes do mundo. Tanto ele, quanto Herta, arriscaram algo que tinha tudo para dar errado, mas que na verdade era preciso quando viram que os grandes favoritos limparam a dianteira da prova por conta da dúvida se teriam ou não etanol suficiente para chegar ao fim.
Do mesmo modo que fizera Takuma Sato em 2012, arriscando o que deveria para tentar uma vitória, eles também arriscaram. Mas desta vez deu tudo certo. 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Foto 557: Semente



Acho que para alavancar algo em certos lugares – leia-se países – é preciso ter uma referência, só deste modo é que as coisas podem fluir normalmente e virar uma febre.

Foi assim com a Fórmula-1 por aqui quando Emerson Fittipaldi apareceu repentinamente na categoria e passou a vencer com freqüência, até que chegasse aos seus títulos mundiais. Por mais que a experiência com o Fittipaldi Copersucar não tenha alcançado os sonhos que eles (irmão Fittipaldi) alçaram, a semente já havia sido semeada e germinaria rapidamente com a aparição de inúmeros pilotos brasileiros na categoria até que culminasse nas conquistas de Nelson Piquet e Ayrton Senna. E isso teve certa prorrogação com Rubens Barrichello e Felipe Massa. Emerson também contribuiu muito para a popularização do automobilismo norte americano com a sua ida para a Indycar nos anos 80, causando o mesmo efeito e abrindo o caminho para outras gerações que viram suas vitórias e título na categoria, isso sem contar suas duas conquistas na mágica 500 Milhas de Indianápolis. André Ribeiro, Christian Fittipaldi, Gil De Ferran, Helio Castroneves, Tony Kanaan e tantos outros que passaram e venceram – e continuam vencendo – por lá, tem muito que agradecer por esta “descoberta” de Emerson.

As provas de endurance por aqui ainda engatinham: as pessoas vêem as corridas com certa curiosidade, mas ainda não as encaram como provas da nata automobilística. Ainda tem em suas mentes que a Fórmula-1 ainda é o grande reduto do esporte a motor, onde que, para alcançar o olimpo dessa modalidade, você precisa vencer lá para mostrar que é o melhor do resto. A categoria ainda tem essa áurea, isso não podemos discutir, mas faz um par de anos que a Fórmula-1 tem perdido seu espaço no coração dos espectadores e também na preferência do pilotos. Para os fãs, o domínio único de uma equipe, os regulamentos cada vez mais confusos e a falta de competitividade têm os deixando mais insatisfeitos e por isso migraram suas atenções para outras categorias como a NASCAR, WEC e provas de turismo. Para os pilotos que almejavam chegar na categoria máxima, seus sonhos foram ficando pelo caminho a partir do momento que as vagas na equipe passaram a ser leiloadas ao invés de investirem pesado no talento natural, que muitos certamente tinham. Por isso que hoje, ao invés de tentarem chegar na F1 com caminhões de dinheiro, eles se viram para outras praças onde os lugares podem até ser comprados, mas por quantias bem mais modestas do que na F1. Ou acabam tendo seu talento reconhecido e ingressam em equipes onde possam ter reais chances de conquistar vitórias e até títulos, coisa que na F1 só conseguiriam se tivessem um bom dinheiro, ou numa equipe de ponta – que contasse com suas escolinhas – ou até mesmo um padrinho muito influente na categoria.
 
Pipo Derani mostrou neste fim de semana em Daytona que a as escolha em se aventurar no mundo dos protótipos tem sido a melhor: não podemos negar o talento deste piloto brasileiro ao volante destes carros da LMP2, que já fora visto anos atrás nas 4 Horas de Estoril, válido pela ELMS, e depois nos seus serviços prestados na LMP2 do WEC em 2015. Fazendo parte da equipe Tequila Patrón ESM, ele assumiu o Ligier JS P2 em seus turnos e deu todo seu potencial para abrir caminho a uma vitória inédita da equipe nas 24 Horas de Daytona, assim como de um modelo LMP2 e também da Honda em solo americano. E claro, para ele também, do alto de seus 22 anos, já carrega uma vitória numa das mais clássicas provas de endurance no mundo. E certamente, nesta crescente dele, outras oportunidades aparecerão e ele poderá aumentar este cartel.

Para o automobilismo brasileiro os demais representantes também contribuíram para esta que foi a melhor edição para o pilotos daqui: Rubens Barrichello, que ingressou na equipe da Wayne Taylor na semana da prova, fechou na segunda posição junto de seus companheiros. E a equipe teve boas hipóteses de vitória, mas não contavam com um passo espetacular de Pipo Derani com o Ligier da ESM. Igualmente a Action Express também estava com chances de dar a Christian Fittipaldi a oportunidade de chegar a sua terceira conquista em Daytona, mas problemas mecânicos acabaram deixando-os de fora do pódio ao terminar em quarto. Tony Kanaan, pela Chip Ganassi, era outro com boas chances, mas o Riley DP também teve seus contratempos por causa de problemas nos freios e mais tarde por conta de um acidente quando Kyle Larson estava ao volante, fazendo com que eles terminassem em sétimo na classe dos Protótipos e em 13º no geral. E ainda tivemos representantes na competitiva GTLM: Daniel Serra, a serviço da Scuderia Corsa, que estreava a Ferrari 488 GTE, fechou em quarto na classe e Augusto Farfus, sempre com a BMW, foi o quinto com a M6.

Enquanto que esta edição entra para a história do automobilismo nacional com mais este triunfo brasileiro em Daytona, acredito que mais uma vez a semente foi semeada. A escolha mais do que certa de Pipo Derani em seguir uma carreira num mundo desconhecido para a maioria do público brasileiro, dá uma chance para que novas gerações também olhem para as provas de endurance com mais atenção. Os esforços de pilotos como Oswaldo Negri Jr. e Christian Fittipaldi, os melhores pilotos brasileiros no mundo das provas de resistência, ganhou um reforço e tanto com esta vitória de Derani e se as coisas começarem a engrenar, podemos formar uma nova legião de pilotos nacionais invadindo estas corridas, assim como foi nos tempos de Emerson na F1 e Indycar.

E pra você que ainda resiste em assistir as provas de endurance, reveja seus conceitos: veja alguns vídeos desta edição, de edições passadas desta prova e de outras corridas. Isso certamente abrirá seu “apetite” por estas corridas sensacionais, com carros da mais alta tecnologia desde os protótipos até os GTs.

E para você que não gosta de endurance, meus pêsames! Não sabe o que está perdendo.
 
Mas ainda é tempo de reverter. Afinal, as sementes já foram plantadas.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Indy 500: A vez de Tony Kanaan


A tão sonhada vitória: Tony de punho fechado, festejando a sua primeira vitória nas 500 Milhas de Indianápolis
(Foto: Randy Ballinger/Reuters)

A temporada de 2004 para Tony Kanaan na Indy tinha sido ambígua: se de um lado ele conquistara um título inédito para o automobilismo brasileiro, por outro ele ainda se ressentia da chance que tivera de vencer as 500 Milhas de Indianápolis. Ele estava no encalço de Buddy Rice, que liderava a prova, quando a chuva caiu no mítico circuito. Na ocasião a chuva caiu na volta 178 e a bandeira vermelha foi dada 180ª passagem e junto a dela a corrida encerrada. A possibilidade de vencer a sua primeira Indy 500 tinha ido pelo ralo. Outras chances apareceram e foram igualmente frustradas por problemas que o limaram da corrida ou contratempos que o impediram de chegar a esta sonhada vitória.
A sua transferência para a KV Racing, um time de médio porte, foi entendido por muitos como um passo atrás em sua carreira, mas Tony sempre esteve forte na condução deste carro: abdicou do seu tradicional número 11 pelo 82 em 2011, devido o apoio da Lotus a equipe KV e esteve muito bem em Indianápolis naquele ano com o número que foi imortalizado por Jim Clark em 1965, que venceu a edição das 500 Milhas daquele ano e em 2012 ficou longe da vitória, mas não baixou os braços em momento algum. Outro duro golpe ele receberia este ano ao disputar a São Paulo Indy 300 e sua equipe errar feio nas contas do combustível – o que te sido corriqueiro neste time da KV – e lhe tirar a chance de vencer na pista de rua do Anhembi. O choro foi incontrolável. Página virada e agora era a vez da prova mais importante: a Indy 500.
Tony fez um bom pole Day e não teve problemas em colocar seu carro na 12ª colocação. Para a maioria que não acompanha essa prova isso seria uma péssima posição de largada, mas uma corrida que por muito pouco não premiou pilotos que saíram da última colocação – como Kevin Cougan em 1980 e Scott Goodyear em 1992 – a posição de largada é o que pouco importa. Tendo um carro veloz e extremamente eficiente para andar no tráfego, você passa a ter ótimas chances de vencê-la.
Se a F1 tem sido uma prova de economia por parte dos pneus, esta edição 97 das 500 Milhas de Indianápolis foi uma prova de economia, com a maioria optando por andar no vácuo do carro à frente para poupar combustível. O máximo que algum piloto conseguia abrir era meia reta, sendo tragado pelo pelotão logo depois. Uma verdadeira luta de vácuo. Ryan Hunter-Reay, o novato Carlos Muñoz, Eddie Carpenter, AJ Allmendinger, Tony Kanaan, Marco Andretti e Helio Castroneves, eram os pilotos a se revezarem na liderança da corrida e Kanaan, junto de Andretti, foram os que estiveram mais vezes na primeira posição, trocando-à volta a volta.
A corrida transcorreu tranquilamente, tanto que os acidentes de Hildebrand e Saavedra não demoraram a ser resolvidos pelo resgate e a prova retornou ao seu ritmo normal. Mas como manda o figurino são as últimas 50 ou 30 voltas que importam, com os pilotos a fazerem as suas últimas paradas de box e começarem a colocar a estratégia principal em prática: pé cravado até o fim. Desse modo é que Tony partiu co tudo para cima de Hunter-Reay e assumiu a ponta, mas logo foi ultrapassado pelo norte-americano. Na briga direta apareciam, além dos dois, Carlos Muñoz e Marco Andretti. Uma disputa direta entre a equipe Andretti contra a KV de Tony Kanaan. Batalha que deixou a arquibancada de pé e que nitidamente torcia pelo piloto brasileiro.
Mas o acidente de Graham Rahal na saída na curva dois, indo bater no muro interno quando faltavam sete voltas para o fim, parecia indicar que as coisas demorariam a ser resolvidas. Hunter-Reay era o líder e Tony o segundo. Os destroços e o carro de Rahal tinham sido retirados a tempo e a relargada foi dada, faltando três voltas para o fim. Friamente Tony conseguiu pôr em prática sua relargada foguete e saiu de trás do carro de Ryan como um “dragster” e junto dele trouxe Muñoz, que serviu para atrasar um pouco o piloto americano. Os ponteiros já estavam na metade da reta oposta quando as bandeiras amarelas foram mostradas: Dario Franchitti tinha encontrado o muro após a relargada. Tony viu as luzes amarelas piscando, mas não tirou o pé do acelerador e tirou rapidamente mais uma volta, ficando apenas duas para o fim. Desse modo o resgate não teria tempo hábil para retirar o carro de Franchitti e a relargada ser autorizada. A bandeira branca ainda foi dada sob o regime do Pace Car e a dupla quadriculada mais famosa do automobilismo mundial, foi dada a Tony. A derrota de 2004 tinha ficado de vez no passado.
No Victory Lane, ele foi recebido com o beijo da esposa e com os abraços e cumprimentos do time da KV Racing e ele pôde, enfim, tomar e se banhar com o leite da vitória. Depois festejou com seu amigo e ex-companheiro de equipe Alessandro Zanardi – que depois ele presentearia com o capacete que acabara de usar na vitória -  com Jimmy Vasser, chefe da sua equipe, que rasgou elogios ao piloto brasileiro. Uma tarde histórica em Indianápolis, que infelizmente foi preterida pelo futebol. A festa só foi vista pela internet, já que a Bandeirantes não quis limar pelo menos meia hora de um jogo que não valia muita coisa – afinal era apenas a primeira rodada do campeonato – para mostrar a premiação de Tony em Indianápolis. Uma pena.
Mas muito mais que essa conquista de Tony tenha sido a sétima de um piloto brasileiro nas 500 Milhas de Indianápolis – ele se junta a Emerson Fittipaldi (1989 e 93), Helio Castroneves (2001, 02 e 09) e Gil de Ferran (2003) – ela foi nada mais que a concretização de um trabalho que foi iniciado ainda no Kart com o apoio de seu pai, que morreu quando Kanaan ainda era criança. E todos os dissabores que ele sofreu nestas últimas edições e porque não dizer, nestes últimos anos, foi recompensado agora. 
Agora TK, como ele é chamado nos EUA, entrou de vez na vasta lista dos senhores que venceram no Brickyard. Merecido.
(Foto: AP Photo/ Michael Conroy)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Vídeo: A primeira vitória de Tony Kanaan, US 500 1999

O vídeo é das duas últimas voltas da US 500, disputada em Michigan, válido pelo campeonato da finada CART e mostra a possível - já garantida, diga-se -  vitória de Max Papis naqueles giros finais.
Naquele momento ele tinha cerca de dois segundos de vantagem sobre Tony Kanaan, que havia se recuperado de um modo fantástico durante a corrida após um problema na asa traseira (isso se a minha memória não estiver errada), que o jogou para as últimas posições ficando com uma volta de atraso para os líderes. Mas a boa estratégia da Tasman, mais a boa velocidade do Reynard comandado por Tony, o deixaram numa segunda posição que já era uma vitória depois de todos estes acontecimentos. Atrás dele, Juan Pablo Montoya se aproximava rapidamente.
Bandeira branca mostrada e o carro negro de Max Papis, do Team Rahal, foi a volta final. Ele já estava no contorno da última curva do Michigan Internationl Speedway, quando o Reynard-Ford perdeu velocidade e Tony passou para assumir a liderança e conquistar a vitória com Montoya muito próximo dele.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Indy 500: Assim que tem que ser


Talvez você tenha sido um daqueles que xingaram Takuma Sato de tudo quanto foi nome, quando ele tentou aquela ultrapassagem na última volta sobre Dario Franchitti. Mas, naquelas circunstâncias, onde se depara com uma chance e seu subconsciente julga ser a única, o que você teria feito? O subconsciente de um piloto de corridas varia muito. Se fosse um Helio Castroneves, Dario Franchitti, Scott Dixon ou Tony Kanaan naquela situação, eles esperariam por uma segunda chance, afinal sabiam bem que tinham um carro suficientemente bom para passar seu oponente na curva seguinte, ou então arriscariam tudo na reta oposta num jogo de vácuo. Takuma tinha um carro assim, mas preferiu atacar quando viu uma brecha se abrir.
Indy 500 tem aquela lógica de que não há favorito. Nem o pole-position tem essa vantagem. Afinal são 200 voltas, 500 milhas, mais de duas horas e meia de prova, portanto para quê arriscar-se tanto. Você pode vaguear entre a dianteira e cauda do pelotão, e se tiver um carro bem acertado para conseguir andar bem no tráfego e sem ele, suas chances serão enormes de ver seu rosto e nome gravados no gigante troféu “Borg Warner” e dizer “Eu venci”. Sato tinha um bom carro, que lhe permitiu andar bem nestas condições que descrevi agora pouco. Tinha largado em 19º e junto do duo da Ganassi, Franchitti e Dixon, escalou o pelotão conforme as coisas iam mudando de forma, por causa das paradas de boxes e acidentes. Aliás, foram poucos os acidentes e mais impressionante é que três deles os carros não sofreram danos, ou quase isso. Fora essa estatística impressionante, a prova foi tranqüila até 160 voltas quando a corrida realmente começou. Portanto, não adianta se matar feito um louco em acelerar e acelerar e derrepente ficar sem carro na parte que realmente interessa: as últimas 50 voltas.
Sato estava bem e vinha entre os cinco primeiros, seguindo de perto uma constante troca de liderança entre os vermelhos Ganassi. Furar aquela dupla seria difícil, mas Tony Kanaan o fez de modo esplendoroso ao costurar o pelotão arrancando de sexto para primeiro na penúltima relargada. Fenomenal. Talvez uma das melhores relargadas dos últimos tempos. Tony liderou com autoridade, segurando bem o assédio de Franchitti. Takuma tinha despencado de terceiro para sexto. Marco Andretti, que havia liderado por um bom tempo a prova na sua parte inicial, rodou e bateu, forçando a então bandeira. Apesar de Kanaan ter sido tragado facilmente pelo pelotão, despencando para quinto, foi Takuma que mais uma vez reapareceu como um foguete, indo para quarto e subindo para terceiro faltando cinco voltas para o fim. Ele não teve muita dificuldade em passar Dixon e assumir o segundo posto. Teria coragem o japonês de arriscar tudo naquelas voltas finais contra a raposa que é Franchitti naquele “Brickyard”? Ou Bobby Rahal seguraria o ímpeto do japa? Sato optou pela sua coragem habitual, aquela mesma que fez a maioria em Montreal vibrar quando ele colocou uma surrada Super Aguri por dentro para ultrapassar um atordoado Alonso numa McLaren infinitamente superior. Ele viu o espaço na primeira curva, na abertura da última volta e foi na fé: carro por dentro, Franchitti diminuindo o espaço, mas Takuma abrindo caminho onde não tinha mais; os carros se esfregam, o de Sato se desgarra e por um fio de cabelo não leva o de Dario para muro. Pronto, as 500 Milhas estavam decididas a favor de Franchitti pela terceira vez na sua carreira e curiosamente em bandeira amarela, como tinham sido as duas últimas. Dixon fechou em segundo e Tony em terceiro. Dan Wheldon, último vencedor da Indy 500 e morto na prova final do ano passado deve ter ficado feliz pelo pódio, como bem disse Kanaan.
Para Takuma restou apenas à fama de ter sido ao segundo cara a jogar a vitória no muro, como fez Hildebrand ano passado. Mas tem as suas diferenças.
Hildebrand tinha uma vitória certa, garantida e carimbada. Era só levar o carro para a faixa de tijolos e receber as quadriculadas, mas, no entanto descuidou-se e bateu no muro da curva quatro de forma bisonha, tosca. Sato estava na busca por uma vitória. A sua primeira, assim como o próprio Hildebrand. Vencer a sua primeira corrida, exatamente lá em Indianápolis, nas 500 Milhas, seria um feito e tanto. Ele, talvez, tenha pensado muito naqueles instantes: se eu meter o carro por dentro, sem muito espaço, posso perder o controle e bater como também posso efetuar a ultrapassagem e ganhar a corrida. Ou então se eu deixar para depois, na reta oposta, será que terei chance de ultrapassá-lo? Vai saber exatamente o que passou por sua cabeça naqueles momentos. Takuma é instintivo, brigador. Tem por necessidade a gana de ultrapassar e tentar tudo em um lance, como se fosse o único.  E seu lance seria marcante de qualquer forma: conseguindo a ultrapassagem ou não, como acabou acontecendo. Mas uma coisa pode escrever: ele não vai mudar o seu estilo por causa disso. Assim que tem que ser.

quinta-feira, 1 de março de 2012

O novo desafio de Barrichello: A Indy

Há algumas semanas que os rumores que a Barrichello assinaria com alguma equipe da Indy já haviam tomado conta das redes sociais. Os testes que ele fez com a KV Racing em Sebring e em Sonoma deixava ainda mais claro que isto aconteceria mais cedo ou mais tarde até que hoje pela manhã, numa coletiva de imprensa, Rubens confirmou que correrá esta temporada pela KV junto de Tony Kanaan e Ernesto Viso formando um trio sul-americano. Mas Barrichello dará certo por aquelas bandas? Acredito que sim. Os mecânicos, engenheiros e Jimmy Vasser, dono da equipe KV, gostaram muito do trabalho realizado por Rubens durante estes testes. Para Vasser a experiência de Barrichello, adquirida por anos na F1 em desenvolver carros, será importantíssima uma vez que o deste ano é totalmente novo. E para o Rubens acredito que será importante começar em pé de igualdade nesse ponto, já que todos os pilotos ainda estão procurando achar as virtudes e defeitos do novo carro. E tendo Kanaan ao seu lado, as coisas tendem a serem mais fáceis. 
Outro piloto que fez o mesmo caminho é Stefan Johansson. Ele competiu na F1 de 1980 até 1991, passando por várias equipes como Spirit, Toleman, Ferrari e McLaren. Ao contrário de Rubens, Johansson nunca venceu um GP de F1 apesar de ter passado bem perto disso em Ímola, 1985, quando ficou sem combustível após uma exibição maravilhosa. Stefan saiu da F1 em 1991 por baixo e aportou na Indy em 92, quando foi o “Rookie of The Year”. Apesar de nunca ter vencido na Indy, Johansson obteve bons resultados e pilotou na CART nas fases antes e pós-cisão. 
 Em 2000 foi publicada uma entrevista de Johansson na revista “Fórmula 1 – 50 Anos Dourados” concedida ao jornalista britânico Mark Hughes, onde ele destacou vários aspectos entre a F1 e a CART. Destaquei alguns pontos e colocarei o meu ponto de vista sobre esta nova vida de Barrichello na Indy: 
Johansson pilotou por cinco temporadas na CART

Comparando F1 com a CART: 
“A F1 é extraordinária no sentido absoluto, mas em termos de competição a ChampCars (CART), definitivamente, está oferecendo um melhor espetáculo pois os carros ultrapassam uns aos outros na pista. Isso se deve, em parte, ao tipo de pista que nós corremos. Acho que até mesmo alguns dos melhores pilotos de F1 perderam o brilho com uma reação exagerada aos acidentes; é muito mais restrito acelerar e frear lá agora e em parte isso se deve aos carros. Os ChampCars estão providos de chassi com efeito solo e isto parece ajudar a não tornar tão impossível pegar o vácuo de alguém para fazer uma ultrapassagem.” “A estrutura também facilita o trabalho, diferentemente da F1. É mais descontraída, não tão regulamentada, tem muito menos bobagens. Acho que é por isso que as pessoas dizem que os pilotos são mais bem acessíveis que os da F1. Eu era acessível na F1, a menos que estivesse ocupado” 
Barrichello entrará numa competição mais viril, pesada, onde os carros andarão por mais tempo juntos e em qualquer vacilo você poderá despencar várias posições devido à forte pressão que o piloto de trás estará impondo. E esta primeira fala de Johansson, onde ele diz que os Indy oferecem uma melhor espetáculo que os F1, ainda é verdadeiro. Não digo que tenha provas chatas por lá, porque tem, mas o montante de bandeiras amarelas acompanhado de pace cars, deixa o piloto ainda mais ligado na prova. O ambiente mais sossegado da Indy é perfeito para estilo família que Rubens leva. Poderá desfilar tranquilamente com a família no paddock, tendo mais tempo para eles e os fãs que, com certeza, conquistará nesta incursão na América. 

Os carros: 
“Não há dúvida alguma de que um carro de F1 exige mais; é o supra-sumo. Tudo acontece de forma incrivelmente rápida, o carro é muito leve e tudo é muito ativo e você tem que estar atento o tempo todo. Claro que eu não pilotei a última safra de carros da F1 com os pneus estreitos com sulcos mas, com certeza, não parecem ser mais dóceis que os que pilotei – de fato, parecem ser mais difíceis de conduzir.” “Um ChampCar exige muita habilidade, especialmente agora com o pacote aerodinâmico que tem, mas você não enfrenta a reação rápida de um carro da F1 por ser muito mais pesado. Mas mesmo não sendo tão impetuoso quanto um carro da F1, é mais variado – você precisa de uma grande diversidade de habilidade.” 
Os 19 anos que Barrichello passou na F1, com as muitas transformações com as quais a categoria teve nesse período, tornam-o suficientemente gabaritado para entrar e adaptar-se rápido na Indy. Os bólidos americanos são mais pesados e “dóceis”, apesar deste novo chassi ter recebido critícas dos pilotos mais velhos, dizendo que ele é mais complicado de se pilotar. E, aparentemente, ele me pareceu bastante à vontade neste carro mesmo tendo dito durante o teste em Sonoma, que sentiu mais dificuldade que em Firebird. 

Os ovais: 
“Pilotar em uma pista oval é somente um dos aspectos. Há toda uma técnica diferente para isso, naturalmente, e uma curva de aprendizagem completamente separada. Você fica mais sintonizado na maneira como o carro se comporta e como reage às mudanças que faz, a um grau muito mais incremental do que faria em uma competição de pista variada; e naquelas velocidade da pistas ovais o que importa é o quanto você consegue ficar bem sintonizado com o carro – não tem nada a ver um piloto fazer algo inesperado e piorar ainda mais a situação. Em termos de velocidade, o carro tem que fazer todo o trabalho e a sua parte em termos de pilotagem está exclusivamente na corrida – em relação às manobras que pode realizar, onde pegar um vácuo, coisas deste tipo.” 
“O outro aspecto em relação a uma pista oval, naturalmente diz respeito à estratégia. Isto é diferente da F1 nos mínimos detalhes, inclusive na forma de pilotar. Em um carro de F1 de hoje em dia você pode desenvolver velocidades máximas por muito tempo – pode trocar pneus com muita freqüência; não há nenhuma preocupação em cuidar da caixa de mudanças – você mantém a velocidade de classificação o tempo todo e, apesar de haver uma estratégia de cronometragem de pit stops, não há nenhuma comparação com as variáveis envolvidas em uma prova de ChampCar, especialmente em pista oval.” 
“Senti de forma mais definitiva que, como piloto, havia acrescentado uma habilidade totalmente nova à minha maneira de pilotar em ovais. Isto me proporcionou uma compreensão mais completa ao passar das pistas de F1 para as ovais de uma milha, para circuitos de rua, para rodovias de alta velocidade, retornando o tempo todo” 
Lembro das palavras ditas por Chip Ganassi quando o novato Montoya o impressionou nos testes, ao dizer que ele teria que controlar o ímpeto do jovem colombiano nos ovas por serem perigosos. Ganassi tem razão. Pilotar em ovais não é tão fácil quanto parece. Para muito, em especial os leigos, é só pegar o carro, sair pra pista e mandar ver. Tem muito mais por trás disso que acelerar, acelerar e acelerar. Para os mestres em ovais o carro perfeito é aquele que tem que ser bom em andar bem no tráfego, que é uma constante durante as provas em ovais. A atenção com o carro ao lado também é vital. A Indy viu quanto que são perigosos os carros fazendo curvas lado a lado acima de 360 Km/h e encomendou à Dallara este novo chassi que tem as rodas protegidas. Este é um medo que tem a esposa de Barrichello, pelos inúmeros acidentes vistos nos últimos anos, mas segurança do novo carro talvez tenha deixado-a mais calma um pouco. Com relação a Rubens, ele mesmo já disse que não tem idéia de como acertar um carro para este tipo de pista. Vai valer muito a experiência de Tony para ajudá-lo nesta nova empreitada. E acredito que ele se adapte rapidamente a este novo estilo de condução. 

Mansell sentiu-se em casa quando pilotou na Indy em 93: Venceu em seu primeiro ano com folgas

Montoya venceu a CART em seu primeiro ano, sem sustos. Mas Ganassi tinha receio dele nos ovais, como ficou comprovado após o épico duelo com Michael Andretti em Michigan naquele
Os pilotos que saíram da F1 e foram para CART, e vice-versa e a possibilidade de um novato ganhar o campeonato no ano de estréia: 
“Acho que um bom piloto é um bom piloto. Ele vai se adaptar ao que for necessário. Se nem sempre isso aconteceu saindo daqui e indo para a F1, terá havido boas razões para isso. Eu acho que no caso de Alex, tendo observado a sua participação em provas algumas vezes em 1999, ele fica um pouco desesperado demais em fazer tudo corretamente. Precisa-se de muito pouco para alternar entre ter confiança de somar as boas voltas e cometer algumas falhas. Com os carros da maneira como são hoje, se você simplesmente tentar andar um pouco mais forte, sem o ajuste correto, pode perder o vértice por 30 centímetros e 3 ou 4 décimos já terão sido perdidos.” 
“Ele é um grande piloto (neste momento estão a falar sobre o desempenho de Montoya, que ganhara o campeonato de 1999 logo no seu primeiro ano na categoria), mas também tem muita, muita sorte por ter integrado uma equipe extremamente forte que oferecia muitas oportunidades, com ajustes que funcionaram em quase toda a parte. Ele possuía um talento incrível para pilotar e um tipo de confiança que vem com o talento que lhe permitia fazer algumas ultrapassagens fantásticas. E Jacques Villeneuve quase conquistou o título da F1 em seu ano de estréia.” 
Concordo com Johansson quando ele diz que um piloto bom é um piloto bom e que adaptará ao que for necessário. Rubens é um bom piloto, esforçado e muito comprometido com seu trabalho. Tem um ritmo cadenciado que lhe permite conservar bem os componentes do carro e o principal: comete pouquíssimos erros e por isso, gostaria de vê-lo no Mundial de Endurance. Para um campeonato como a Indy, que perder um mísero ponto poderá fazer falta no final devido à alta competitividade, Rubens tem uma boa chance de conseguir resultados excelentes neste seu primeiro ano. 
Mas peço calma aos que querem compará-lo ao Mansell que chegou e foi campeão logo no primeiro ano, em 1993: A KV ainda é uma equipe nova, que obteve bons resultados ano passado pelas mãos de Tony Kanaan, que deve melhorar este ano, mas que não acredito estar ainda no mesmo nível que uma Ganassi e uma Penske. Naquela época em Nigel chegou e ganhou, ele correu pela segunda melhor equipe da CART que era a Newmann-Haas. Portanto ele teve toda uma estrutura que já havia sido campeã no passado e que estava na briga pelo título em todos os anos. Montoya também teve uma equipe multi vencedora que era a Chip-Ganassi, em 99, que facilitou a sua vida. 
 Esperar que Barrichello vença corridas ainda este ano, até acredito que venha acontecer pelo fato da equipe estar numa linha crescente, mas para o título creio que está um pouco longe.

domingo, 4 de setembro de 2011

O acidente entre Helio e Tony, em Baltimore

Imagino o susto que Helio Castroneves tomou ao ver um carro passar por cima do seu no final da reta. O carro em questão é o Tony Kanaan, que perdeu o freio e vôou após acertar a roda traseira direita do Penske no warm up de hoje cedo em Baltimore. Por sorte nada aconteceu:


Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...