Hoje a conversa é lá no YouTube onde o cabal do Volta Rápida funciona desde o mês de agosto.
Falo sobre o ótimo GP do Sakhir, realizado no traçado externo da pista barenita, e que foi vencido por Sérgio Perez.
Falo sobre o ótimo GP do Sakhir, realizado no traçado externo da pista barenita, e que foi vencido por Sérgio Perez.
A Fórmula 1 flertou com a morte hoje em Sakhir e as piores lembranças de um tempo onde a categoria era mais conhecida pelo perigo do que pela competitividade, voltaram com força. Uma nova geração que ainda não tinha presenciado algo de tamanha magnitude e até mesmo para os mais veteranos, que assistiram finais de semanas bem mais pesados, tiveram que lidar com esta situação. O corte de câmera para não mostrar o que havia acontecido aumentou ainda mais o desespero em saber quem era - ou eram - o envolvido naquele brutal acidente que aconteceu logo após a largada, onde deu para ver dois carros indo para o lado interno do circuito barenita e um deles explodir de imediato. Foram breves minutos que trouxeram um ar pesado, onde podia sentir até mesmo a possibilidade de que algo pior pudesse acontecer. Mas o surgimento de Romain Grosjean das chamas, pulando o guard rail e indo em direção ao carro médico, fez as coisas acalmarem quase que instantaneamente. Logo após as chamas serem apagadas, pudemos ver o tamanho do estrago onde o Haas dividiu ao meio e o cockpit, que rasgou as lâminas metálicas, pregado na proteção metálica e totalmente carbonizado. Um cenário de guerra num curto espaço.
Sabemos bem que este acidente, até por volta de 2017, poderia ter sido catastrófico, mas também sabemos que as melhorias no campo da segurança melhorou de forma considerável, atingindo um nível onde os riscos serem quase eliminados. Porém, é impossível eliminar os riscos do motorsport e são eles que aparecem de vez em quando para nos alertar que ainda existe uma pequena chance de algo dar errado. Hoje foi um destes casos, onde o mínimo risco acabou dando o ar da graça e mostrando a todos que não se deve acomodar. A adoção do HALO, tão criticado para o ano de 2018, onde as reclamações giravam em torno da estética dos carros, hoje teve a sua grande prova: o brutal impacto que fez o carro de Grosjean varar o guard rail, mostrou a peça intacta e cumprindo o seu objetivo que era de proteger a cabeça do piloto. As lembranças de François Cevert em Watkins Glen 1973 ou de Helmut Koinnig no mesmo circuito um ano depois, podiam ter sido reavivadas hoje, mas a peça protegeu bem Romain e não teve nenhum dano nesta - até onde podemos ver. Fazendo uma conjunção do HALO com a tripla proteção de Nomex do macacão, também foi vital para que Grosjean saísse com apenas queimaduras nas mãos e nos pés, principalmente num deles que ficou sem a sapatilha que pode ter ficado grudado nos pedais.
A fato de Romain não desmaiar também contribuiu bastante para que ele mesmo pudesse sair logo daquele inferno que se transformou o resto de seu carro, mas ainda temos que destacar - de forma negativa - a demora e falta de preparo dos bombeiros presentes naquele momento. Apesar de saber que os treinamentos das equipes que trabalham no GPs serem rigorosas, é bem provável que escape alguém ou alguns que não estejam em perfeitas condições de assumir a responsabilidade em uma corrida - e nisso englobo o motorsport num todo. A demora em retirada, aparentemente, da trava de segurança do extintor, também ajudou no atraso para que as chamas fossem contidas e isso teria ajudado Romain a sair com mínimas ou nenhuma queimadura deste acidente. Outro ponto que deverá ser revisto até mesmo na próxima semana, quando será realizado o GP de Sakhir, mas utilizando o traçado externo do circuito, é o uso de barreiras de pneus ou até mesmo do softwall no local onde bateu Grosjean e em outros pontos do circuito, já que as médias serão bem maiores.
O que aconteceu hoje em Sakhir foi colocar em prova tudo que foi gasto e estudado para melhorar a segurança do carros e dos circuitos. O pavoroso acidente de Robert Kubica em Montreal 2007 já havia sido a grande prova de que a segurança dos carros da Fórmula 1 era altíssima, mas o descuido em deixar um trator trabalhando enquanto os carros estavam a toda velocidade, abrandando brevemente a velocidade no trecho de bandeira amarela, acabou custando a vida do promissor Jules Bianchi em Suzuka 2014 o que fez colocar em check novamente as questões de segurança. Foram lições que serviram para melhorar ainda mais e corrigir pequenas falhas até que acontecesse este de Romain Grosjean, onde expôs outras falhas e também a eficácia de todo melhoramento que foi implantado nos últimos tempos.
Parafraseando um trecho de uma matéria da revista Veja de 1989, que abordava o acidente de Maurício Gugelmin no GP da França, onde escreveram que "aumentava a segurança, mas não eliminava os riscos", hoje foi o dia vermos a segurança cumprir seu papel, mas sempre com o risco a espreita.
Confesso ter ficado bastante feliz com o título de Hélio Castroneves na IMSA, dividindo a conquista com Ricky Taylor no comando do Acura DPi do Team Penske. E tudo se deu num momento em que o piloto brasileiro encerra a sua estadia numa das melhores equipes do motorsport mundial.
Durante estes vinte anos defendendo a equipe de Roger Penske, Helinho bateu na trave várias vezes quando estava pronto para conquistar o título na Indycar. Mas como um roteiro clássico, onde uma porta é fechada e outra se abre de imediato, Hélio venceu três Indy 500 com louvor e imediatamente conquistou a admiração do público - que também foi inflado pela suas grandes comemorações que lhe rendeu o apelido de "Spider Man".
No apagar das luzes de sua participação na Penske, equipe qual ele ingressou no distante ano de 2000 em substituição ao falecido Greg Moore, que já estava contratado para aquele ano, Helinho conquistou um título que tanto escapou de suas mãos e o destino fez o favor de recompensar o piloto brasileiro. Este título na IMSA entra como a quarta jóia de sua grande carreira, juntando -se as três (respeitáveis) conquistas na Indy 500. Foi um encerramento brilhante de sua carreira na equipe de Roger Penske.
Hélio Castroneves continuará na ativa, claro, quando retornará a Indycar em 2021 pela Meyer Shank para a disputa de seis provas, incluindo a Indy 500 prova qual ele busca sua quarta conquista para igualar os lendários A.J.Foyt, Al Unser Snr. e Rick Mears.
Quando Sebastian Vettel foi cumprimentar um emocionado Lewis Hamilton ainda no cockpit do Mercedes, essa imagem tornou-se emblemática. Tivemos outras, claro, como os dois se cumprimentando e abraçando em algumas das conquistas anteriores de Lewis, mas esta teve uma sentimento diferente.
São dois pilotos que se criaram juntos nas categorias de base e bateram rodas constantemente nas mesmas; chegaram praticamente juntos à Fórmula-1 e brilharam quase que ao mesmo tempo, mas por conta dos momentos que se encontravam não puderam duelar pelos campeonatos que foram conquistados brilhantemente por Vettel naquele quadriênio 2010/13; a mudança de Hamilton deu a ele a oportunidade de passar a ampliar seus números do mesmo modo que Sebastian fizera nos seus tempos de Red Bull e, enfim, tiveram a oportunidade de disputarem por duas vezes o título mundial no biênio 2017/18 quando os dois foram colocados a prova e o britânico venceu em ambas situações; infelizmente, assim como acontecera com Lewis no período de domínio de Vettel, o piloto alemão entrou numa descendente que foi agravada após a Ferrari se encontrar sem um comandante e criar um ambiente extremamente desorganizado.
A imagem que encabeça este post é nada mais que o reconhecimento mútuo de dois caras que se conhecem bem e sabem o quanto suaram para conquistar o sucesso. Sabem, também, como é pesado o fardo de ter o melhor carro e melhor equipe ao seu lado e de serem os pilotos a conduzirem todo um projeto ao topo e ter que ver o julgamento de quem apenas assiste de tudo aquilo é apenas sorte, desconsiderando todo um trabalho que é feito até mesmo 24 Horas por dia nos sete dias da semana. Vettel foi assim na Red Bull e Hamilton tem sido assim desde 2014 com a Mercedes - com uma breve intromissão de Nico Rosberg em 2016.
Talentosos ao extremo, são os dois grandes expoentes de uma era de domínio absurdo que foi inaugurado por Sebastian em 2010 e que tem sido continuado por Lewis desde então e por mais que seja chato em boa parte do tempo, acaba sendo um privilégio e tanto ver tudo isso acontecer.
Por isso que essa imagem vai muito além de um simples parabéns por um brilhante sétimo titulo: tem muita história, suor, lágrimas e respeito naquele cumprimento.
E o pódio foi apenas a cereja do bolo, onde os dois melhores pilotos dos últimos dez anos - e um peso de onze títulos mundiais - puderam dividir este grande momento.
Satoru Nakajima foi o grande nome no molhado GP da Austrália de 1989 (Foto: Motorsport Magazine) |
"Eu não deveria ter
começado. Eu sei disso. Nós concordamos em não começar, mas então a pressão
começou, dos gerentes de equipe, oficiais e assim por diante. Em condições como
esta, realmente não deveria caber aos pilotos escolher se devemos correr ou
não; os comissários da FISA deveriam ter dito que era muito perigoso. A FISA
pune Senna porque dizem que ele é perigoso - e então nos deixam correr em um
tempo como este, que é cem vezes mais perigoso do que qualquer piloto poderia
ser . O cara que deixou esta corrida reiniciar deveria ser colocado em uma
cadeira elétrica. Isso é pior do que Spa, pior do que Silverstone no ano
passado, pior do que qualquer corrida que eu já vi. Os pilotos não são os
perdedores hoje, estamos perdidos , não podemos cumprir nada do que
concordamos. "
A fala em questão é
de Gerhard Berger logo após o GP da Austrália de 1989 realizado num inferno d’água
que mal podia-se enxergar quem ia frente. Não foi apenas o austríaco da Ferrari
quem reclamou: as discussões sobre as condições de realizar a corrida naquela
encharcada Adelaide de 31 anos trás espalhou entre os principais pilotos, como
foram os casos de Nelson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost – apenas para citar
os medalhões – que foram unanimes em
dizer que as condições eram as piores possíveis numa pista que formava poças d’água
em toda extensão do circuito e, principalmente, na longa reta Jack Brabham. Até
mesmo um impressionante Ayrton Senna, que estava em grande forma em Adelaide
durante todo aguaceiro e que viria bater na traseira do Brabham de Martin
Brundle, acabaria por declarar que não fazia sentido terem continuado a corrida.
Era um caos já anunciado e foi prosseguido.
Apesar de tudo, a
corrida aconteceu e os mais variados acidentes aconteceram como o já citado
acidente entre Senna e Brundle; Piquet acertando a traseira do Osella de
Piercarlo Ghinzanni; Mauricio Gugelmin invadindo o pit-lane e causando um
acidente que poderia muito bem ter sido bem pior... apenas alguns destes. Porém,
a corrida não foi apenas um festival de acidentes: além da grande exibição de
Thierry Boutsen, que acabaria por vencer o GP, outro piloto também teve a sua
tarde: Satoru Nakajima nem parecia o piloto afoito que tanto causava alguns
acidentes durante as corridas ao proporcionar a todos que estavam naquele
chuvoso GP uma finesse digna dos grandes mestres em pista molhada. Ok, ele se
beneficiou bastante dos que iam ficando pelo caminho, mas já havia escalado bem
o pelotão até que na 24ª volta estava em quarto, mas acabou faltando apenas
quatro segundos para alcançar o terceiro lugar, que ficou com Ricardo Patrese.
Nakajima ainda conseguiu anotar por seis vezes a melhor volta da corrida, sendo
a melhor delas feita em 1’38’’480 na 64ª passagem.
Sem dúvida alguma,
foi a grande corrida de Satoru Nakajima na Fórmula-1 exatamente quando estava
na sua última participação pela Lotus. Em 1990 ele foi para a Tyrrell.
Achille Varzi e Enzo Ferrari durante a parada de box em Ímola |
Uma pequena mudança, uma grande diferença. Na foto, Achille Varzi em discussão com Enzo Ferrari durante uma troca de pneus na Alfa Romeo 8C 2300 Monza durante a passagem da Mille Miglia por Ímola.
A corrida estava em aberto entre os dois melhores pilotos italianos da época: Varzi havia retornado para a Ferrari naquele ano de 1934 e estava no comando de uma Alfa Romeo Monza melhorada pelo grande trabalho de Vittorio Jano, então projetista da Alfa. Tazio Nuvolari não estava pela Ferrari naquela edição da Mille Miglia - devido aos desentendimentos com Enzo Ferrari em 1933, o mantuano acabou mudando para a Maserati -, porém estaria ao volante de uma semelhante Alfa Romeo Monza inscrita pela Scuderia Siena, que também detinha as mesmas melhorias da Alfa da Scuderia Ferrari. Os dois grandes idolos do motorsport italiano se enfrentando numa das mais importantes provas de resistência da Itália e da Europa e em carros iguais. Era de se esperar uma grande batalha.
Apesar do bom inicio de Mario Tadini - o homem que financiou a criação da Scuderia Ferrari em 1929 - com a Alfa Romeo da Scuderia Ferrari, Varzi e Nuvolari logo tomaram a dianteira da corrida na passagem pela cidade de Terni para duelarem por um bom tempo, com as diferenças nunca fugindo dos quatro minutos de vantagem que Achille tinha sobre Tazio. Aquela edição de 1934 lembrava muito a de 1930, cuja prova foi vencida por Nuvolari após este comboiar um confiante Varzi que já pensava estar com a corrida ganha, para ver em seguida seu grande rival ultrapassá-lo de última hora para ganhar aquela Mille Miglia - foi onde nasceu a suposta lenda de que Tazio apagou os faróis de seu Alfa Romeo para que Varzi não percebesse a sua presença e ascendendo-as assim que passou por Achille.
Desta vez as coisas seriam diferentes: a discussão entre Ferrari e Varzi foi por conta da troca de pneus, onde o Enzo ascenou para que os pneus fossem trocados pelos cravejados já que os próximos quilometros precisariam de grande tração. A insistência de Enzo Ferrari acabou por ser primordial: Varzi não apenas sustentou a liderança pelos quilometros restantes, como também aumentou a diferença para oitos minutos sobre Nuvolari para vencer a sua única Mille Miglia - e sem surpresa.
O inconfundível Glen Dix dando a bandeirada quadriculada para Nelson Piquet no lendário GP 500 da Fórmula-1 no GP da Austrália de 1990 (Foto: Motorsport Images) |
Quinze dias após as rusgas do famoso GP do Japão que decidiu o mundial de 1990 a favor de Ayrton Senna, o clima em Adelaide era de total descontração - por mais que ainda houvessem ecos sobre a manobra nada amigável de Ayrton para cima de Alain Prost na primeira curva do circuito japonês.
O GP de número 500 caiu exatamente no sempre festivo GP da Austrália e as ruas de Adelaide presenciaram quem seria o sortudo para vencer aquela prova especial de uma quarentona Fórmula-1.
Ayrton Senna e Alain Prost eram os homens para quem o favoritismo era apontado e, quem sabe, até mesmo um possível tira-teima em solo australiano. Mas não podiam desconsiderar as presenças dos "coadjuvantes de luxo" encabeçados por Gerhard Berger, Nigel Mansell, Thierry Boutsen, Ricardo Patrese e Nelson Piquet, embalado pelo reencontro com a vitória em Suzuka.
Ayrton Senna doutrinou aquele final de semana em Adelaide com mais uma de suas soberbas pole position e estava brilhantemente liderando, quando não conseguiu engatar a segunda marcha e bateu de frente na barreira de pneus quando faltavam 20 voltas para o final.
Apesar do abandono de Ayrton, ainda tinha Nelson Piquet que estava numa grande tarde em Adelaide quando já se encontrava em terceiro desde a nona volta e subiu para segundo após herdar posição de Mansell - que foi aos boxes na volta 45 - e agora era o líder com o abandono do mais novo bicampeão. Porém, Nigel era uma ameaça a considerar, pois os pneus mais novos deram a ele a chance de recuperar-se a ponto de ameaçar Nelson nas voltas finais. Na volta final, na freada da grande reta "Brabham Straight", é que Mansell tentou a sua última cartada ao preparar o ataque e surpreender Piquet. Mas o inglês freou muito além, blocou as rodas e passou reto, deixando o caminho aberto para que Nelson Piquet vencesse o aclamado GP de número 500 da história da categoria.
As vitórias no Japão e Austrália, foram revitalizantes para o veterano de guerra Nelson Piquet, que tinha dado início a uma sequência de sete vitórias brasileiras que teria seu fim no GP do Canadá de 1991, vencida por... Nelson Piquet.
Uma época e tanto para o automobilismo nacional na Fórmula-1.
Vitória de número 93 para Lewis Hamilton (Foto: Mercedes/ Twitter) |
Quando Max Verstappen (volta 18) e Valtteri Bottas (volta 19) foram aos boxes, Lewis Hamilton se encontrava com exatos quatro segundos de atraso para o piloto finlandês que até ali fazia uma corrida primorosa e com um ritmo suficiente que fazia boa parte dos que assistiam acreditar que pudesse sair da pista de Ímola com a vitória. A sua pole no sábado tinha sido uma bela amostra do ânimo que o finlandês estava, e a sua bela largada, contando, também, com a subida de Max para a segunda posição, dava a ele a oportunidade de tentar doutrinar aquela tarde no velho e estreito circuito Enzo e Dino Ferrari. Porém, é preciso dizer que duvidar das capacidades de Hamilton nem sempre é recomendável. Com a pista livre e aproveitando-se do resto de vida útil de seu pneu médio - enquanto que Bottas e Max tinham trocado para os duros - , Lewis abriu uma bela sequência de voltas velozes - incluindo, claro, as voltas rápidas - para procurar se distanciar o máximo de seus dois rivais e tentar voltar na frente. Já salvava 28 segundos (precisava de 29 para tentar voltar na liderança) quando a quebra do motor do Renault de Ocon antes da "Variante Alta" obrigasse o uso do Virtual Safety Car que acabou ajudando e muito o hexacampeão, que pode fazer sua troca e ainda voltar na liderança com três segundos de vantagem sobre Valtteri. Foi um desempenho digno dos tempos de Michael Schumacher, que fazia o mesmo com total primor para livrar-se dos oponentes quando via que não conseguiria na pista.
A corrida ainda teria o abandono de Max Verstappen com pneu estourado um pouco antes de chegar na "Villeneuve", o que deixou seu Red Bull encalhado na brita e forçando a entrada do Safety Car. Foi uma tremenda decepção, uma vez que tinha feito uma bela ultrapassagem sobre Bottas que errara na "Rivazza" e abriu a oportunidade para que Max conseguisse efetuar a ultrapassagem. Com a entrada do SC, que foi alongada com o acidente de George Russell na "Acque Mineralli", os dois Mercedes ainda foram aos boxes para trocar para os macios, mas sem chance de haver uma disputa direta entre os dois companheiros de equipe. Daniel Ricciardo ainda salvou mais um pódio para a Renault, em mais uma grande tarde para o australiano e a equipe francesa. A Ferrari teve em Charles Leclerc o seu melhor e ficou em quinto, enquanto que um péssimo Pit Stop acabou com as chances de Vettel poder arrendar alguns pontos, já que chegou a ficar em quarto por um tempo devido as estratégias. Quem pode sorrir um pouco foi a Alfa Romeo, que se beneficiou do SC para conseguir colocar seus dois pilotos na casa dos pontos, com Raikkonen terminando em nono e o Giovinazzi em décimo. A tarde não foi feliz para Gasly, que ganhou bastante atenção ao usar um capacete inspirado no layout clássico usado por Ayrton Senna, e Russell: enquanto o francês, que fizera uma bela classificação ao largar em quarto, abandonou a prova ainda no início com problemas no motor, o inglês da Williams estava no caminho para marcar seus primeiros pontos na categoria quando rodou sozinho na "Acque Mineralli" e bateu.
Este GP da Emilia Romagna não apenas deu a Hamilton a vitória de número 93 na carreira, como também confirmou de vez a conquista da equipe no Mundial de Construtores pela sétima vez consecutiva e ultrapassa a marca da Ferrari, que conquistou seis em seguida de 1999 até 2004. Sem dúvida alguma um dos maiores domínios da história da categoria desde a sua criação em 1950 - isso, sem contar, na sua primeira passagem no biênio 1954/55 que já foi um aperitivo do que poderia ter sido pelos anos seguintes caso eles não saíssem da categoria ao final de 1955.
Para coroar de vez estes fabulosos números, agora só falta o Mundial de Pilotos que pode ser sacramentado na Turquia.
Os festejos de Lewis Hamilton após sair do carro foram os mais efusivos. Um pouco antes disso, quando estava na sua volta da vitória, já agradecera a equipe por aquela oportunidade que tivera de integrar a equipe no já distante ano de 2013, quando apostou num projeto que era apenas duvidoso. A dúvida virou todo esse cartel que ele e Mercedes construíram tijolo por tijolo, especialmente a partir de 2014 quando iniciaram essa impressionante caminhada. Nada mais justo em reconhecer e agradecer.
A melhor parte de tudo isso ficou reservada ao abraço que dera em seu pai Anthony assim que o encontrou. Quantas vezes esta cena deve ter acontecido tanto frente as câmeras quanto longe delas, onde pai e filho puderam transpor toda alegria e frustração após um final de semana de corrida, seja nos karts, categorias de base e na própria Fórmula-1, desde o seu primeiro pódio na Austrália em 2007, na primeira - e imponente - vitória no Canadá no mesmo ano ou até mesmo no sofrido GP do Brasil de 2008, que coroou Lewis campeão pela primeira vez.
Mas antes que esta festa fosse feita, o GP de Portugal, no belíssimo circuito de Portimão, com seu layout a moda antiga que alia um traçado seletivo com uma topografia desafiadora com as suas subidas e descidas, foi mais uma masterclass de Hamilton que precisou tirar o pé na primeira volta quando viu a leve chuva que caíra logo após a largada num dos trechos; recuperar a liderança mais tarde ultrapassando com tranquilidade Valtteri Bottas e ampliando gradativamente a liderança antes e depois do pit-stop para vencer de uma forma absurdamente autoritária e brilhante. Foi de um nível espetacular, conseguindo até lidar com as câimbras que passaram a lhe incomodar na perna direita.
Para o GP de Portugal, que retornou ao calendário de forma pontual, foi a oportunidade de ver a história acontecer mais uma vez assim como em outras tantas que já conhecemos da história desta corrida lusitana. Porém, assim como Alain Prost no glorioso Estoril em 1987, quando o francês assumiu a liderança de maior vencedor de GPs da categoria ao superar Jackie Stewart, agora foi a vez de Lewis Hamilton chegar a espetacular marca de 92 vitórias e se isolar como o maior vencedor.
Entre abraços e agradecimentos, a história vai sendo feita. E o melhor é presenciar tudo mais uma vez.
A foto de um dos pódios mais legais da década de 90 com o veterano de guerra e tricampeão Nelson Piquet reencontrando a vitória ladeado pelos debutantes em pódio: o batalhador Roberto Pupo Moreno, saboreando o momento, e Aguri Suzuki, o herói local, que tornava-se o primeiro japonês a chegar ao pódio de uma corrida na Fórmula 1. "É um resultado excelente para todos que confiaram em mim. Antes de subir a mais pódios vou melhorar o meu inglês", assim comentava um sorridente Aguri Suzuki.
Aquele 21 de outubro de 1990 é eternamente lembrado pelo famoso acidente entre Ayrton Senna e Alain Prost, com o piloto brasileiro resolvendo as desavenças de um ano antes - que explodiu de vez exatamente ali em Suzuka - com uma entrada por trás no Ferrari de Prost, que fizera uma melhor largada. A não mudança na posição do pole e também o fato de não haver punição para o piloto que evitasse a chicane, coisa que foi o estopim da edição de 1989, foram a gota d'água para o famoso "show" que ele chegou falar para Gerhard Berger antes de irem para o grid.
Mas o momento especial se deu após o GP, quando Nelson Piquet voltou ao lugar mais alto do pódio após três anos sem vitória - e fazendo as suas costumeiras anedotas, quando "se apresentou" a todos na coletiva ao dizer "Boa tarde, o meu nome é Nelson Piquet..." - e recebendo um grande abraço carregado de lágrimas de seu velho amigo da época da Camber Roberto Pupo Moreno, que chegara ao segundo lugar naquele GP logo na sua estréia pela Benetton em substituição ao acidentado Alessandro Nannini. Foi uma grande oportunidade para que ele mostrasse o seu real valor, já visto nas categorias de acesso e em outras situações na Fórmula 1, principalmente após a sofrida passagem pela EuroBrun naquele ano de 1990. "Dedico o meu segundo lugar ao Alessandro Nannini pois apenas estou a dar continuidade ao trabalho que ele realizou este ano e também ao Nelson pelo tanto que ele me ajudou no início da minha carreira. Foi ele quem me mostrou o caminho do automobilismo internacional, e agora posso dizer que já o achei. Tudo se passou tão depressa que nem realizei ainda bem o que se passou. Fiquei surpreendido até comigo próprio.", essa foi a fala de um Roberto Moreno feliz e até ali realizado, que parecia ter encontrado a oportunidade que tanto procurou pelos anos 80.
Um momento de sentimentos extremamente variados e aflorados que completa seus exatos 30 anos.
*As falas foram retiradas do anuário "Fórmula 1 1990/1991 do Francisco Santos"
Os novos Lancia D50 durante os preparativos para o GP da Espanha de 1954, realizado em Pedralbes.
O decorrer de 1954 foi bem problemático para a Lancia que demorou em estrear o D50, deixando o então bicampeão do mundo Alberto Ascari a deriva por todo mundial e tendo que fazer provas pela Maserati - onde não se adaptou ao 250F - e depois pela Ferrari no GP da Itália, desfilando a sua velocidade pura e discutindo a vitória com Juan Manuel Fangio e Stirling Moss.
A chegada da Lancia em Pedralbes foi regada de expectativa e isso foi aumentando quando Ascari fez a pole com 1 segundo de vantagem sobre a Mercedes de Fangio. Isso deixara uma grande impressão, uma vez que desde a estréia da equipe alemã em Reims jamais haviam perdido uma pole por uma diferença tão grande.
Na corrida as dez primeiras voltas foram alucinantes por parte de Ascari, mas problemas na embreagem o fizeram abandonar na volta 10. Luigi Villoresi, com o Lancia #34, já havia abandonado na volta dois com os freios danificados.
Por mais que aquela apresentação em Pedralbes desse uma oportunidade de ver alguém desafiar de fato a Mercedes em 1955, aquele ano foi desastroso para a Lancia: apesar de boas apresentações em Buenos Aires e em Monte Carlo, a morte de Alberto Ascari acabou por jogar uma pá de cal nas pretensões da Lancia e os problemas financeiros vieram a tona, a ponto da equipe participar pela última vez em Spa-Francorchamps com Eugenio Castellotti - que fizera a pole e boa prova até abandonar com problemas no câmbio quando era quarto.
Toda estrutura da Lancia foi repassada para a Ferrari e em 1956 o D50 acabou por dar a Juan Manuel Fangio a chance de conquistar o seu quarto título mundial.
A icônica foto de Rudolf Caracciola (#35) e Bernd Rosemeyer (#31) da então nova bancada do circuito de AVUS em 1937 (Foto: Ullstein Bild) |
Houve um período da década de 1930 que a competição tomou contornos interessantes. A corrida armamentista entre Mercedes e Auto Union teve um crescimento estratosférico exatamente no ano de 1937 quando ambas fábricas passaram apostar alto em carros extremamente velozes e a quebra de recordes, seja em auto estradas ou em pistas fechadas, tomaram um rumo espetacular chamando atenção do público e imprensa que passaram a esperar cada vez mais proezas vindas dos dois lados.
Há de se
ressaltar que para a Mercedes o ano de 1937 era de retomada, já que o ano
anterior a equipe havia sido dominada amplamente pela Auto Union e Bernd
Rosemeyer. As principais corridas de 1936 foram vencidas por Rosemeyer com a
Auto Union, enquanto que Rudolf Caracciola com seu Mercedes conseguiram apenas
duas vitórias (Mônaco e Tunisia) e acabaram por perder o título para Rosemeyer
que venceu em Nurburgrig (duas vezes), Copa Accerbo, Suiça e Itália, isso sem
contar num impressionante Tazio Nuvolari que esteve em grande forma em 1936 ao
conseguir vencer quatro corridas, frente ao domínio quase que absoluto dos alemães.
Enquanto que a Auto Union e Rosemeyer gozavam do grande sucesso naquela
temporada – inclusive Bernd que já estava no patamar de grande ídolo do
automobilismo alemão naquela época – a Mercedes tinha muito que lamentar após
uma temporada abaixo do que vinha apresentando nos últimos anos. A perda do Dr.
Hans Nibel, então projetista da equipe, no decorrer do ano de 1934 após sofre
um infarte, foi um fator a se considerar e Max Sailer, que substituiu Nibel
para 1935 manteve todo projeto de Nibel em grande nível, tanto que Rudolf Caraccioa foi campeão daquele ano com a W25, mas para 1936 não conseguiu repetir o sucesso do finado projetista e a Mercedes retirou-se do campeonato na metade para tentar concentrar-se para 1937.
A
chegada de Rudolf Uhlenhaut já em 1936 para comandar as pranchetas da Mercedes deu uma
lufada de ar fresco e foi vital para que a equipe chefiada pelo folclórico
Alfred Neubauer voltasse forte para a temporada de 1937. Enquanto que a Auto
Union optou em aperfeiçoar o formidável Type C, que havia dominado a temporada
de 1936, a Mercedes partiu para trabalhar um carro totalmente novo que seria o
primeiro sob os trabalhos de Uhlenhaut – há de se destacar que Rudolf, apesar
de engenheiro formado, ainda não havia estado a frente de um projeto para
concepção de um carro de corrida, porém a sua habilidade em testar carros deu a
ele uma ótima base de percepção para entender melhor o comportamento dos carros
de corrida e transferir para estes as soluções que fosse preciso para a melhora.
O W125 tinha uma suspensão melhorada, muito melhor que a rígida que foi usada
no W25 do ano anterior – Uhlenhaut chegou testar esse carro assim que passou a
fazer parte do recém criado departamento técnico da Mercedes, percebendo que
este era um dos problemas que haviam mais afetado o W25. Além da melhora da
suspensão no W125, o chassi era mais rígido e o motor era um oito cilindros em
linha de 5,6 litros que podia variar, dependendo da configuração a ser usada,
de 560 até 640 cv. O GP de Tripoli abriu o calendário dos Grandes Prêmios de
1937 e a força do novo Mercedes W125 foi mostrada com uma exibição
incontestável de Hermann Lang no veloz traçado que permeava o Lago Mellaha,
onde o novo recruta da equipe chefiada por Neubauer ganhou a corrida sem ser
ameaçado e com uma média de 217,8Km/h, 8 Km/h mais veloz que marca alcançada
por Achille Varzi no ano anterior. A próxima etapa era em Avus, um evento usado
para a divulgação oficial dos carros alemães frente a torcida e oficiais
nazistas.
Com o
retorno do circuito de AVUS ao calendário, este mostrava uma nova seção que
tornaria o circuito não apenas veloz, como também o encravaria de vez nos
livros de história por ser um dos mais populares do motorsport em todos os tempos:
a criação da curva norte com uma bancada de 43,5 graus de inclinação faria com
que as velocidades fossem ainda mais altas numa pista já caracterizada por
velocidades bastante elevadas. A vitória de Luigi Fagioli na edição de 1935,
pilotando pela Mercedes Benz, foi uma amostra de como a pista de AVUS já era
extremamente rápida quando o italiano alcançou a vitória com a média de 238,5
Km/h e levou o esguio circuito localizado em Berlim a ser o mais veloz do mundo
na ocasião. A expectativa com a nova bancada era de que a pista ficasse ainda
mais rápida e assim o antigo recorde fosse pulverizado. Para esta prova de 1937
estava programado três baterias, sendo duas de sete voltas e os quatro melhores
destas duas baterias iam para a terceira decisiva que teria oito voltas. As
premiações, em seu total, estavam em torno de 32.000 Reich Marks com o vencedor
da prova final levando 12.000 Reich Marks – mas isso só aconteceria se caso ele
tivesse vencido uma das baterias anteriores. Nas duas baterias os vencedores
levariam 2.000 Reich Marks e o segundo de cada uma em torno de 1.000 Reich
Marks.
Detalhe da nova curva inclinada de AVUS, que foi apelidada de "Curva da Morte" |
Quandos
os treinos oficiais começaram para valer, Bernd Rosemeyer deu mais uma prova
que como seriam as coisas naquele reformulado AVUS ao atingir o tempo de 4’04’’2
numa média assombrosa de 284,31 Km/h. Mas o que valeu foi o recorde que valeu
foi apenas o estabelecido na qualificação onde Fagioli chegou ao tempo de 4’08’’2
(média de 279,73 Km/h), marcando assim a pole para a corrida 2. Para estas
corridas houve uma pressão por parte Alfred Neubauer que chegou cogitar que se
caso Luigi Fagioli e Rudolf Caracciola caíssem no mesmo grupo que disputaria
uma das baterias, a Mercedes não participaria. Essa atitude de Neubauer
remontava à prova de Trípoli onde Fagioli e Caracciola tiveram um sério
desentendimento que surgiu durante a corrida, quando o piloto alemão bloqueou
deliberadamente seu ex-companheiro de Mercedes por boa parte da prova. Quando a
corrida terminou, Luigi foi até os boxes da Mercedes e arremessou um martelo de
rodas que por muito pouco não acertou a cabeça de Rudolf. Toda essa situação
ainda tinha origens em acontecimentos de quando Fagioli e Caracciola eram da
Mercedes e frequentemente o italiano era desalojado de sua posição para dar
lugar a Rudolf, segundo os mandos de Alfred Neubauer. A animosidade entre os
dois só aumentou desde então, principalmente após a Eifelrennen de 1935 depois
que Luigi estacionou o carro após longa discussão com Alfred, exatamente por
este pedir ao italiano que desse passagem a Caracciola.
A disputa entre Rosemeyer e Caracciola, a com a vitória ficando para o piloto da Mercedes na corrida 1 (Foto: Ullstein Bild) |
Havia expectativa
de que pudesse ter até duas paradas para trocas de pneus, principalmente pelo
conjunto velocidade/ calor que poderiam deteriorar os pneus. Por isso, houve
instrução para do chefes da Mercedes e Auto Union para que seus pilotos
cuidassem bem da borracha – o que ajudou bastante, pois acabaram não
necessitando de pararem nos boxes. Dessa forma, Rosemeyer e Caracciola
continuaram apenas a comboiar os outros dois carros alemães, mas não demorou
muito para que os dois grandes pilotos alemães colocassem a o ritmo de suas
duas maquinas mais potentes a prova: enquanto que Bernd assumia a liderança na
volta dois, resistindo aos ataques iniciais de Von Delius, que mais tarde
seriam rechaçados pelo melhor ritmo do carro de Rosemeyer, Caracciola apareceu
para a batalha na próximo da abertura da volta cinco quando superou Bernd na
temível e ultraveloz Nordkuve com a sua já famosa bancada inclinada.
Ainda na
última volta Seaman e Von Delius ainda alimentavam esperança em conseguir atacar
os dois principais pilotos, mas no decorrer do trajeto Caracciola e Rosemeyer
aumentaram a velocidade e abriram boa diferença que os deixaram sozinhos na discussão
de quem seria o vencedor daquela primeira bateria. Inicialmente Rosemeyer
chegou assumir a liderança, mas Caracciola conseguiu contornar melhor a entrada
da Nordkurve e isso que lhe deu a oportunidade de emparelhar com seu rival e
ter uma ligeira vantagem na saída dessa e cruzar a linha de chegada com a
diferença de sete décimos de diferença para Bernd – que enfrentava problemas no
motor de seu Auto Union que operava com apenas 13 cilindros –, numa disputa que
deixou a multidão em pé por aquelas voltas finais. Von Delius terminou em
terceiro, Seaman foi o quarto e Balestrero, sem chance alguma contra os carros
alemães, ficou na última posição com duas voltas de atraso.
Manfred Von Brauchitsch liderando o Auto Union de Rudolf Hasse e o Mercedes de Hermann Lang durante a segunda prova (Foto: Heritage Images) |
Apesar
de uma boa largada, imitando o que fizera Seaman e Von Delius na primeira
bateria, Hasse assumiu a liderança, mas antes do término daquela primeira volta
acabou sendo superado por Fagioli que estava bem mais rápido – mostrando que o
ritmo daquela segunda corrida era bem maior que o da primeira. Porém, o infeliz
italiano não teria muito tempo para saborear a primeira colocação já que seu
Auto Union apresentou problemas de câmbio e isso facilitou a ultrapassagem de
Brauchitsch, que assumiu a liderança na segunda volta para não largar mais.
A
segunda posição virou uma batalha entre o problemático Auto Union de Fagioli e
o Mercedes de Hermann Lang, que havia deixado o Auto Union de Hasse para trás –
ainda que este último ainda acompanhasse de perto a contenda entre estes dois.
A
situação tornaria-se dramática na quarta volta quando Fagioli abandonou com o
câmbio quebrado e Lang teve um dos pneus estourado numa da das grandes retas,
mas a habilidade do piloto alemão foi tremenda para conseguir segurar o carro e
levá-lo até os boxes para trocar o pneu danificado.
Sem
adversários a altura, a conquista de Manfred Von Brauchitsch foi a mais
tranquila daquelas duas corridas de classificação, mas ainda existia a batalha
pela segunda posição: Lang conseguiu diminuir a distância que o separava de
Hasse e na volta final, já na Nordkurve, por muito pouco não houve um acidente
quando Hasse e Lang bateram rodas, num momento em que o piloto da Auto Union
mudou de direção e isso obrigou Hermann Lang a frear forte. Dessa forma, Hasse
acabou por ficar em segundo e Lang em terceiro Após a prova Hasse desculpou-se
com Lang pela manobra, dizendo que não tinha visto a chegada do piloto da
Mercedes – Alfred Neubauer acabou por reclamar com a direção de prova e isso
foi determinante para que Hasse fosse realocado atrás de Lang no grid. A quarta
posição foi para Lászlo Hartmann e a
quinta para Luigi Soffietti.
Hermann Lang acabou por vencer a prova final em AVUS (Foto: Ullstein Bild) |
A
primeira baixa da Mercedes veio através de von Brauchitsch que abandonou ainda
no complemento da primeira volta com
problemas de câmbio. A corrida ainda teve o Rosemeyer que apresentou um pneu destruído
na segunda volta e teve que fazer os reparos nos boxes auxiliares localizados
na curva sul. Mas a grande mudança viria após o complemento da terceira volta
com o abandono de Rudolf Caracciola por conta de uma quebra de câmbio.
A
liderança passava para Hermann Lang que anteriormente travou boa disputa contra
seu companheiro de Mercedes Richard Seaman, mas agora ele teria a companhia de
Von Delius já que Seaman acabou perdendo rendimento e isso obrigaria o inglês ir
para os boxes fazer sua troca de pneus.
A
corrida foi controlada por Lang até o final, mesmo com Von Delius tentando uma
última cartada nas voltas finais, mas sendo rechaçado pelo piloto da Mercedes
que chegou cravar a última volta coma a marca de 4’18. Ernst Von Delius
terminou em segundo e Rudolf Hasse em terceiro. Apesar de ter pneus mais novos
e com um desempenho bem melhor que Rosemeyer, que estava com seu motor
defeituoso, Seaman não conseguiu a quarta colocação e na disputa contra o
piloto da Auto Union ele acabou por destruir mais uma vez seus pneus e teve que
se contentar com o quinto lugar. Hartmann ficou em sexto. A premiação
conquistada por Hermann Lang foi repartido entre os demais da equipe Mercedes,
que iniciava da melhor forma possível aquele ano de 1937 frente a Auto Union
que era a sua principal rival.
Essa
vitória de Hermann Lang teve a média horária de 261,8 Km/h pulverizando o
antigo recorde que era de Fagioli já mencionado acima (238,5 Km/h) feito em
1935. Essa prova de AVUS ficou por duas décadas como a mais veloz da história
até que a corrida de Monzanapolis, que reuniu europeus e americanos numa
disputa no anel externo do circuito de Monza. Na ocasião, Jim Rathmann chegou à
média de 271 Km/h na edição de 1958.
Bernd Rosemeyer e a multidão em AVUS: cerca de 300 a 400 mil pessoas estiveram presentes para prestigiar o evento (Foto: Max Ehlert) |
(Foto: Mercedes/ Twitter) |
Quando Michael Schumacher encerrou a sua primeira passagem na Fórmula-1 estabelecendo em Xangai o incônico recorde de 91 vitórias, era quando unânime que essa marca demoraria um bom tempo para ser igualada ou, até mesmo, jamais seria igualada. Realmente a imaginação daquele momento, com o melhor piloto dos últimos 12 anos da categoria estabelecendo tal marca e com todos sabendo de suas qualidades, era quase batata apostar que ninguém a médio prazo chegaria naquelas 91 vitórias. Alguns até apostavam que passaria algumas gerações para que isso acontecesse.
A verdade é que nestes últimos 14 anos a categoria se transformou e viu até mesmo Schumacher retornar brevemente para integrar e ajudar a Mercedes a trabalhar naqueles primeiros anos que durou de 2010 até 2012, para ser substituído por Lewis Hamilton. O garoto pródigo da Inglaterra já era um campeão mundial, mas os anos difíceis na Mclaren sugeriam que ele pudesse mudar de ares para se reencontrar e lá foi Hamilton apostar numa jornada que tanto poderia dar certo quanto errado.
Bom, a história de todo esse movimento foi visto por todos onde uma equipe passou a dominar a categoria a partir de 2014 e um piloto passou a mostrar do que era feito, conseguindo confirmar o talento que já muito bem conhecido, mas que levava a luz da dúvida após algumas temporadas complicadas com a Mclaren.
Chegar a essa marca de 91 vitórias não apenas engrandece Lewis Hamilton como também faz lembrar de Michael Schumacher em seus melhores momentos. Schumacher e companhia foram importantes para a Mercedes naqueles primeiros anos e a chegada de Hamilton a partir de 2013, ao lado de Nico Rosberg, ajudaram a lapidar a pedra preciosa que estava em suas mãos. Nico saiu assim que conquistou seu título, mas Hamilton continuou para ampliar as suas marcas e chegar a essa que é a segunda estatística mais importante da categoria. Uma pena que Michael Schumacher não pode estar em condições de ver isso e passar o bastão para Hamilton, mas a imagem de Mick Schumacher ao levar o capacete de seu pai para Lewis foi sem dúvida um dos grandes momentos desta temporada, representando o grande respeito a este momento e também a Lewis.
Por outro lado haverá sempre aqueles que destacaram que as marcas alcançadas por ambos foi por conta do grande carro que teve em mãos. Será sempre uma grande falta de respeito até mesmo para aqueles que estão por trás dos tapumes e nas fábricas, trabalhando 24 horas por dia e nem sempre com folgas para que tudo seja melhorado cada vez. E partir deles, passando pelos mecânicos presentes a cada corrida, engenheiros, chefes de equipe, equipe de pit-stop até chegar nos feedback valiosos que os pilotos dão, que transformam essas pequenas engrenagens na grandes conquistas. E claro: as melhores equipes vão atrás dos melhores pilotos, exatamente para extrair o melhor de tudo isso e contribuir ainda mais, com seu talento, conhecimento e experiência, para que todas as áreas sejam melhoradas.
Apesar de domínios serem chatos na maioria das vezes, são momentos como o de hoje que acabam valendo a pena e dando a entender que não é apenas o piloto que senta lá e conquista, mas cada personagem que faz o seu melhor em sua área para que isso se torne o melhor. Imagina isso por uma década completa.
Lewis chegou a vitória 91 e sem dúvida alguma estará isolado no topo da tabela de maior vencedor da história da categoria. Um momento espetacular para o esporte, fãs e história.
(Foto: Mercedes/ Twitter) |
As fotos retratam o pós acidente que Jacky Ickx sofreu na 15 volta do GP dos EUA de 1976 onde o seu Ensign foi de frente no guard-rail da curva "The Boot". A dianteira do carro chegou atravessar a parte de baixo da barreira fazendo com que fosse cortada. O carro foi ricocheteado de volta para a pista onde teve um princípio de incêndio. Ickx saiu do carro mancando e com leves queimaduras e ferimentos nos pés, naquela que poderia ter tido um destino parecido com o de Cevert e Koinigg. Segundo Emerson Fittipaldi que estava logo atrás, o estrondo do Ensign batendo na barreira metálica foi tamanho que ele pôde ouvir.
A corrida foi vencida por James Hunt que batalhou contra Jody Scheckter por toda a prova. Essa conquista deu ao inglês a diminuição da diferença para Lauda, que era de oito pontos e caiu para apenas três. Niki terminou em terceiro, com Jody em segundo.
Hoje completa exatos 44 anos do GP em Watkins Glen, então penúltima etapa do Mundial de 1976.
Emerson Fittipaldi durante o GP dos EUA de 1970: o início de uma saga (Foto: Motorsport Images) |
É sempre bom relembrar datas importantes e quando elas completam aniversários redondos, nos fazem pensar o quanto aquele momento foi emblemático para formar uma opinião, formar uma legião de fãs, mudar o conceito em alguma área, mudar o comportamento da sociedade, abrir uma série de oportunidades. Aquele distante 4 de outubro em Watkins Glen, quando Emerson Fittipaldi cruzou a linha de chegada para vencer seu primeiro GP na Fórmula-1, foi o momento que rompeu o dique e o que se viu em seguida foi uma avalanche de uma modalidade que pouca gente assistia e que em pouco tempo passou a ser um dos assuntos mais comentados da história esportiva nacional.
A vitória de Emerson Fittipaldi aconteceu num momento importante do esporte brasileiro, justamente quando o público ainda estava de ressaca do fabuloso tricampeonato de futebol. Foi interessante juntar aquele entusiasmo da conquista da Copa do Mundo do México e apresentar ao povo, ainda mais aquele que não tinha grande apreço ao esporte bretão - que certamente adotou o automobilismo como o "seu esporte de cabeceira" -, uma modalidade onde a tecnologia e velocidade estavam aliados e ter um piloto brasileiro vencendo, ajudou a dar um impulso para aquela categoria que tinha já seus vinte anos de existência, mas que aqui era conhecida apenas por um nicho que conquistara a sua solidez no decorrer da década de 60. E a partir dessa solidificação que surgiu Emerson Fittipaldi e outros que viriam em seguida.
A vitória em Watkins Glen ajudou a dar uma importância a Fórmula-1 por aqui que foi sendo construída quilômetro por quilômetro pelo mesmo Emerson e que mais tarde teria a companhia de seu irmão Wilson Fittipaldi e de seu contemporâneo José Carlos Pace, formando assim uma "segunda expedição brasileira" na categoria, algo como fizera Chico Landi, Gino Bianco, Hermano Da Silva Ramos, Fritz D'Orey... O GP extra-campeonato realizado em Interlagos no ano de 1972 foi um tremendo sucesso, mostrando que a chance de aquilo dar certo por aqui só dependia de um resultado maior, que veio ao final da temporada com a espetacular vitória de Emerson Fittipaldi no GP da Itália que o coroou Campeão do Mundo pela primeira vez. Um momento que pode ser sentido por gerações sempre que ouvirem a inesquecível narração do Barão Wilson Fittipaldi, que narrou a conquista de seu filho Emerson em Monza.
O resultados que se seguiram apenas deram continuidade ao sucesso crescente que deu vida a idéia da formação da equipe brasileira Copersucar Fittipaldi, que entre críticas desconstrutivas, problemas financeiros, bons resultados e muita força de vantagem, aguentou até o início dos anos 80. Isso sem contar nos "herdeiros" de Emerson - Nelson Piquet e Ayrton Senna - que continuaram a aumentar o legado brasileiro de títulos até 1991. José Carlos Pace, Rubens Barrichello e Felipe Massa também ajudaram aumentar o número de vitórias até a derradeira, no distante GP da Itália de 2009 vencido por Barrichello.
A verdade é que hoje completa-se 50 anos que o Brasil descobriu a Fórmula 1 e os demais caminhos que levam a outras categorias. É dia de celebrar um acontecimento que criou uma legião de pessoas que curtem automobilismo no seu todo com paixão e admiração, e que continuam a semear o automobilismo por todos os cantos. O que podemos dizer é que se caso não tivesse acontecido nada daquilo, era bem difícil que estejamos aqui falando disso com entusiasmo.
O dia 4 de outubro tem que ser celebrado sempre por essa geração e pelas que ainda virão.
A primeira fila para a primeira Eifelrennen realizada no então novo circuito de Nurburgring, em 19 de junho de 1927. A Mercedes tomou conta da primeira fila tripla que contou dois Mercedes Benz S para Adolf Rosenberger (#1) e a estrela alemã em ascenção Rudolf Caracciola (#2). O terceiro Mercedes Benz K foi conduzido por Von Mosch (#3). A prova foi vencida por Caracciola após 3 Horas e 33 minutos de corrida e de quebra ainda fez a melhor volta, com o tempo de 17min 11s para cobrir os 28km de extensão do circuito que usou sua extensão total ao juntar o Nordschleife e o Südschleife. Um dia antes foi realizada uma prova de motos, que foi vencida por Tony Ulmen com um Velocette.
A Eifelrennen - Corridas de Eifel, numa tradução livre - teve o seu inicio em 1922 quando foi criada em inspiração a já clássica prova Targa Florio, usando vias publicas de cidades e vilarejos da região de Eifel. A corrida não tinha classes divididas, permitindo qualquer tipo de veiculo para a competição - desde carros, passando pelas motos e bicicletas com motor. As condições do traçado, que já era precário, piorou conforme o passar do tempos onde a lama era uma constante. Outro fator que contribuiu para que carros e motos corressem separadamente, foi o aumento em acidentes fatais - mas isso continuou mesmo com a separação das duas modalidades no decorrer dos anos.
A idealização do circuito de Nurburgring - que era um desejo já antigo do automobilismo alemão desde a derrota das equipes alemãs frente a FIAT na "Kaiserpreis" (Prêmio Kaiser) de 1907, prova vencida por Felice Nazzaro - apareceu após as primeiras edições da Eifelrennen e em setembro de 1925 foi inciada a construção do complexo para em junho de 1927, quase dois anos depois, a pista receber a primeira prova de carros da sua história que foi a Eifelrennen. No ano seguinte, a parte sul do circuito, a Südschleife, foi usada para a realização da prova, fato que voltaria a se repetir em 1931, 1958 e 1968.
A Eifelrennen sumiu do mapa nos anos 80, mais precisamente em 1984, após a inauguração do circuito Grand Prix uma vez que a tradição da prova era para os fórmulas - a corrida fez parte do calendário da Fórmula 2 de 1964 até 1983 e antes disso ficou no calendário da Fórmula-Júnior de 1959 até 1963 -, mas realizado no Nordschleife. Sem os fórmulas no velho "Green Hell", a corrida não foi realizada, porém ela retornou em 1986 como parte do DTM e foi vencida por Volker Weidler com um Mercedes Benz E190.
O último Eifelrennen remonta a 2003 quando a Fórmula 3000 realizou a sua etapa no circuito Grand Prix e a vitória ficou para o italiano Gianmaria Bruni.
Para este ano de 2020, para compor o calendário da Fórmula-1, a pista de Nurburgring retorna ao Mundial com uma corrida intitulada como Grande Prêmio de Eifel, como uma clara homenagem a famosa Eifelrennen, nos dias 9, 10 e 11 de outubro.
A vitória que coroou Rudolf Caracciola como Campeão Europeu de 1935, no GP da Espanha realizado em Lasarte. Este foi a corrida final do Campeonato Europeu de Pilotos de 1935.
A principio a corrida parecia desenhada a favor da Auto Union - que levara quatro Type B para Bernd Rosemeyer, Hans Stuck, Achille Varzi e Paul Piestch, que ficou de fora como piloto reserva - que conseguiu bons tempos nos testes, principalmente com Rosemeyer. Para a Mercedes - que levou três W25, sendo dois modelos B para Luigi Fagioli e Manfred Von Brauschitsch e um A para Rudolf Caracciola - os testes foram apenas para acerto. A classificação foi inexistente para esta etapa, onde usaram o sistema de sorteio e formaram um grid interessante com os 14 participantes onde a primeira fila foi feita com Jean Pierre Wimille (Bugatti T59) na pole, Bernd Rosemeyer em segundo e Achille Varzi em terceiro; Tazio Nuvolari, que estreava a nova Alfa Romeo 8C-35, em oitavo; na penúltima fila aparecia Manfred Brauschitsch, Marcel Lehoux (Maserati 6C-34) e Rudolf Caracciola .
A prova teve um dominio da Auto Union iniciado por Rosemeyer que ficou na liderança em parte da primeira volta, até que Hans Sutck assumiu o comando. Essa prova foi caótica devido as más condições do traçado espanhol que em vários pontos soltava pedras, e isso ocasionou várias quebras de para-brisas que levou os pilotos a substituírem as peças quebradas. Achille Varzi foi quem se deu pior com esta situação, uma vez que precisou parar no box com o rosto levemente cortado pelos estilhaços de vidro do seu para-brisa e acabou entregando o comando para Paul Piestch - que largaria em oitavo, mas acabou nem comparecendo ao grid. Varzi retornaria ao comando do Auto Union e até com boa velocidade, mas uma quebra de transmissão o fez abandonar na volta 23.
Hans Stuck liderou a prova até a 12ª volta com boa vantagem sobre Caracciola e mesmo com o piloto da Mercedes conseguindo em algumas situações descontar a vantagem, Stuck mantinha o controle da corrida. Porém, naquela mesma volta, o seu Auto Union apresentou problemas de embreagem o que obrigou a sua ida aos boxes. Perdeu a liderança para Caracciola e ainda retornou, para abandonar no final da volta 13 com a embreagem quebrada.
Para Rudolf Caracciola, que havia escalado bem o pelotão na primeira volta ao ultrapassar sete carros, lhe restou apenas manter a liderança e vencer o GP espanhol com uma trinca da Mercedes no pódio, tendo Luigi Fagioli (que vencera a edição de 1934, escrita brevemente aqui no blog) em segundo e Manfred von Brauschitsch em terceiro.
Este GP foi o derradeiro da Espanha, que voltaria a sediar outra corrida apenas em 1951 quando fez parte do novo Campeonato Mundial de Pilotos da recém criada Fórmula-1.
(Foto: Toyota) |
Vencer em Sarthe tem sempre um gosto diferente. É sinal que
conseguiu passar por todos os percalços para chegar ao topo e vencer seus
melhores adversários, seja na base de total competência ou até mesmo na sorte
de estar no momento certo que um problema possa aparecer ao seu rival e
aproveitar a oportunidade de escrever seu nome na história. A Toyota passou
pelas mais variadas situações até chegar a sua primeira conquista em Le Mans:
os dolorosos problemas que enfrentou em 98 e 99 tiraram deles duas
oportunidades de ouro de vencer a grande prova com o seu icônico GT-One, que
talvez tenha até ganho grande fama por ter ficado no quase em Le Mans quando
estava próximo de entrar para a já gloriosa galeria de vencedores das 24 Horas
de Le Mans. Isso sem contar no primeiro dissabor que sofreram já em 1994.
A retomada do Mundial de Endurance a partir de 2012
significou, também, mais uma chance para que a Toyota voltasse à classe
principal do Endurance e renovasse as suas esperanças de um dia conquistar Le
Mans. Passou próximo em 2014, 2017 e em 2016 a apunhalada naquela fatídica penúltima
volta foi um golpe de misericórdia que ainda é sentida toda vez que é assistido
um vídeo ou lido algo sobre aquele dia. Mas a recompensa ainda viria. Cedo ou
tarde, mas viria.
As últimas edições das 24 Horas de Le Mans acabaram indo
para a Toyota, que pode, enfim, sair da incomoda fila e enterrar de vez seus
fantasmas que tanto assombravam em Le Mans, porém temos que reconhecer que a
falta de uma grande equipe deixou de abrilhantar estas conquistas. As saídas de
Audi e Porsche do cenário da LMP1 Hibrida mostrou o real fosso que sempre
separou as fabricantes das equipes particulares, como é o caso da Rebellion e
isso trouxe uma grande polêmica em torno das vitórias da Toyota terem sido as
mais fáceis da história por conta de não haver com quem se confrontar. Uma
certa repulsa sobre a Toyota existiu nestas últimas edições causada exatamente
pela falta dessa competitividade, onde o desejo de muitos era ver a Toyota não
completar para que outra equipe particular vencesse.
Eu entendo perfeitamente o desejo dos fãs em não ver um domínio
se expandir de forma torne aquilo chato, enjoativo – como tão bem conhecemos na
Fórmula-1, principalmente nos últimos anos. Deve ter sido espetacular
presenciar a conquista da Rondeau em 1980 ao desbancar a Porsche, ou então ver
a mesma Porsche perder para a Jaguar em 1988 após um período inabalável de
conquistas em Sarthe de 1981até 1987, coroando e mitificando seus lendários 956
e 962. Sem dúvida alguma, quem presenciou estes dois momentos, devem ter
festejado bastante. Mas sobre a situação atual, o ranço chega ser um tanto
chato tratando a Toyota como a grande vilã de um regulamento criado para
privilegiar as fabricantes e sem dar um respaldo para as particulares – que como
todos nós sabemos, é quem constroí as bases para que o automobilismo, seja ele
de topo ou não, consiga alcançar o sucesso. As grandes fabricantes dão um bom
retorno de mídia, mas são as particulares que levam o piano quando as coisas
vão de mal a pior. Se caso a ACO/ FIA tivessem pensado mais nessa turma, talvez
não ficássemos restritos a Rebellion como única particular a sobreviver até
este 2020 como uma das equipes originais que alinharam para a primeira corrida
dessa retomada do Mundial de Endurance em 2012, na já distante 12 Horas de
Sebring.
Para a Toyota só restou aproveitar bem a oportunidade e
cravar suas três conquistas e, mesmo que alguns azares tenham acompanhado os
tripulantes do carro #7, as conquistas de Kazuki Nakajima e Sebastien Buemi –
falando especialmente destes dois – foi louvável, uma vez que fazem parte do
projeto desde 2012.
Para a Toyota foi o fechamento de um período que parecia
mais uma vez fadado aos azares, mas que termina da melhor forma possível. Mesmo
que alguns torçam o nariz.
LMP1: A terceira para a Toyota
(Foto: Toyota) |
Apesar de todo favoritismo da Toyota existia uma ponta de
esperança de que a Rebellion pudesse dar algum combate aos japoneses. Os
treinos levantaram essa hipótese com o bom andamento dos carros #1 e #3 da
equipe suíça e a Hyperpole, com uma sensacional volta de Gustavo Menezes a
bordo do R13 #1, gerou mais expectativa de que uma possível disputa pudesse
acontecer em algum momento.
Mas a largada e a primeira volta foi o único momento que a
Rebellion pode, de fato, confrontar a Toyota quando Bruno Senna tentou eclipsar
o Toyota #7 de Mike Conway até a chegada da Dunlop quando o Toyota deixou o
Rebellion a cargo do gêmeo #8 conduzido por Sebastien Buemi. Até a conclusão da
primeira volta, Senna e Buemi duelaram fortemente pela primeira posição, com o brasileiro
conseguindo rechaçar os ataques nas longas retas. Mas o melhor contorno do
TS050 na parte sinuosa acabou por pegar o carro suíço e dar a Toyota a dobrinha
desde o inicio da prova. Assim acabava qualquer chance da Rebellion tentar algo
contra a equipe japonesa.
A Toyota tinha apenas o trabalho de abrir distancia para os suíços
e deixar que a corrida ficasse nas mãos de uma de seus dois trios, que se
revezaram na liderança em todas as paradas de box e em algumas situações onde
disputaram diretamente a liderança. Porém, a Toyota sofreu dois sustos que
poderiam ter jogado por terra a oportunidade de vencer pela terceira vez em
Sarthe: primeiramente o #8 que teve de fazer reparos na parte de refrigeração
dos freios (que foi feito durante o regime de SC na sétima hora) e voltou ainda
em segundo e depois o #7 que teve de mudar o turbo na 13ª hora de prova com a
corrida em andamento, fazendo perder quase meia hora nos boxes e ficando quatro
voltas de atraso para o Rebellion #3 que ia em terceiro. Um tremendo desastre
para o trio formado por Kamui Kobayashi/ Jose Maria Lopez/ Mike Conway.
Mas os problemas não ficaram restritos a Toyota, sendo que a
Rebellion teve que mudar a sessão dianteira do #1 e acabou perdendo a segunda
posição para o #3 e que seria retomado já na hora final, quando #3 apresentou
problemas na embreagem assim que Louis Deletraz assumiu o carro no lugar de
Romain Dumas – que fizera um belo stint ao rechaçar os ataques de Gustavo
Menezes – causando certo atraso na saída deste dos boxes. E as coisas pioraram
quando o mesmo Deletraz escapou na Indianapolis e precisou ir aos boxes para
fazer reparos e assim perdeu o terceiro posto para o Toyota #7 que conseguiu
subir ao pódio. Para a Rebellion, que fez a sua última aparição nas 24 Horas de
Le Mans, foi uma grande pena não ter ido com seus dois carros para os três
primeiros. Mas o grande trabalho de Bruno Senna/ Norman Nato/ Gustavo Menezes
foi louvável desde os treinos e de quebra ainda arrendou a melhor volta da
corrida feita por Bruno Senna. Uma despedida digna de uma das equipes mais
queridas do campeonato.
Já a ByKolles vinha numa corrida decente, sem grandes problemas até que uma asa solta jogou o carro contra a barreira de pneus da Curva Dunlop. Eles abandonariam mais tarde.
Para Toyota foi a sua
terceira conquista consecutiva e também para Kazuki Nakajima e Sebastien Buemi,
dois caras que fazem parte do projeto desde 2012.
LMP2: Uma grande vitória para a United Autosport
(Foto: United Autosport) |
A prova foi bem disputada, diga-se. Até ao anoitecer algumas
equipes estiveram batalhando pela liderança e sempre contra os dois carros da United
Autosport que chegou a ter #22 e o #32 disputando ferozmente a liderança em
várias ocasiões. Conforme seus rivais iam caindo no decorrer da horas, a United
ia ficando cada vez mais isolada com as duas primeiras posições bem sólidas.
Racing Team Nederland – que chegou disputar a liderança nas primeiras horas –
High Class – que esteve muito bem, principalmente quando Kenta Yamashita estava
ao volante – Jackie Chan DC Racing – que teve a bizarra desclassificação por
conta de um de seus pilotos que usado o whatsapp para se comunicar com a equipe
após o carro ter ficando parado em um dos trechos do circuito, sendo que única
comunicação a longa distância que pode ser feita é por via rádio – foi alguma
das equipes que tiveram hipóteses de tentar ameaçar o domínio da United nesta
edição.
Porém a United perderia seu #32 por problemas, sendo
recolhido para os boxes e voltando para a prova após longo período de reparos e
isso deixou o #22 exposto ao possível ataque do #38 da JOTA Sport que esteve
por muito tempo em terceiro lugar. Esse suspense durou até próximo do fim da
corrida, quando o #38 estava com três segundos de atraso e fez muitos pensarem
que completaria a prova sem fazer mais uma parada de box. Para alivio de todos,
o carro da JOTA Sport foi aos boxes e garantiu ao trio do #22 a chance de ter
umas voltas finais de maior tranquilidade para vencerem em Sarthe.
Nesta prova tivemos dois pontos interessantes para ser
destacados: o grande trabalho do trio feminino formado por Tatiana Calderon/
Sophia Flörsch/ Beitsker Visser que conduziram o Oreca 07 #50 da Richard Mille
até o nono lugar. Foi a primeira participação delas em Sarthe. E o outro
destaque que ficou por conta do Signatech Alpine #36 de Andre Negrão/ Thomas
Laurent/ Pierre Ragues que conseguiram se recuperar do vazamento de água que
foi constatado logo na primeira volta que fez perderem muitas voltas para o
reparo. Chegaram em quarto na classe e com três voltas de atraso para os
vencedores da P2. Não fosse o problema, talvez a história podia ter sido
diferente para o desfecho na LMP2.
LMGTE-PRO: Aston Martin vence a batalha contra a Ferrari
(Foto: Aston Martin) |
Apesar do esvaziamento dessa categoria ter deixado um pouco menos atrativa do que nos últimos anos, a disputa de Aston Martin e Ferrari foi o ponto alto. Os treinos já denunciavam a grande forma dos dois carros da Aston (#95 e #97) e isso trazia a desconfiança se haveria alguém para desafiá-los. A Porsche deu o ar da graça com seu novo 911 RSR-19 que teve um baixo rendimento no primeiro treino e depois reagiu, para chegar até a pole position através do #91 com uma bela volta de Gianmaria Bruni.
Mas a corrida foi outra história e logo Aston Martin e
Ferrari deixaram os Porsche para trás, que mostraram estar sem ritmo algum para
acompanhar a velocidade dos carros ingleses e italianos. Até mesmo os Ferrari
da Weathertech e Risi Competizione estiveram na cola da Porsche, que fez uma
das edições mais apagadas da marca nessa classe em tempos. A falta de
desenvolvimento do novo carro foi sentido.
O decorrer das horas mostrou que a batalha se daria entres o
dois Ferrari da AF Corse (#51 e #71) e entre o Aston Martin Vantage #97. Se os
Ferrari conseguiam um melhor contorno de curva, o Aston Martin conseguia na
velocidade de reta, como ficou bem visto em algumas situações. Em certa parte
da noite, Daniel Serra ficou com o Ferrari #51 encaixotado no Aston Martin #97
conduzido na situação por Harry Tincknell - que fez uma grande jornada nesta
edição – sem conseguir ameaçar pelo simples fato do carro inglês ter uma ótima
velocidade de reta e também por tracionar melhor nas saídas de curva. A única vantagem
dos Ferrari era nas freadas, como chegou acontecer em algumas situações onde
eles chegaram superar o Aston Martin. Mas sem grande aproximação ou erro,
ficava difícil conseguir algo.
A Ferrari perdeu o #71 com pneu furado ainda nas retas da
Hunaudières e isso fez perder muito tempo, deixando o #51 no mano a mano. Todos
os seis pilotos se confrontaram entre si e sempre com vantagem para o trio da
Aston Martin #97 formado por Maxime Martin/ Alex Lynn/ Harry Tincknell. O ritmo
forte do trio do #97 e mais a troca de freios por parte do Ferrari #51 fez
aumentar a diferença e isso foi crucial para que a Aston chegasse a vitória com
muito mais tranquilidade, sendo a diferença entre eles chegou a quase uma volta
de vantagem.
Foi uma grande conquista para a Aston Martin, que havia
ficado com o gosto amargo em 2019 quando dominou os treinos e todos esperavam
que eles fossem os grandes favoritos e acabaram sucumbindo. Mas desta vez,
salvaram a vitória com o #97 e ficaram em terceiro com o #95, formado por Nick
Thiim/ Marco Sorensen/ Richard Westbrook. Daniel Serra/ Alessandro Pier Guidi/
James Calado ficaram em segundo.
LMGTE-AM: Vitória da Aston Martin através da TF Sport
(Foto: TF Sport) |
O favoritismo da Aston Martin em Le Mans se estendeu até essa classe. Era impossível não apontar que o carro #98 de Paul Dalla Lana/ Ross Gunn/ Augusto Farfus não levasse a vitória aqui. E se não fosse eles, certamente a TF Sport com seu Aston Martin #90, pilotada pelo trio Salih Yoluc/ Charles Westwood/ Jonathan Adam, pegariam essa oportunidade. E foi o que aconteceu: mesmo com estes dois carros se revezando na dianteira da classe – fora algumas intervenções dos Porsche da Project 1 e Dempsey Proton e do Ferrari da AF Corse, que se aproveitavam dos períodos de parada de boxe para tirar uma casquinha da liderança – a liderança na geral ficou sempre se revezando entre eles, até que o #98 teve sérios problemas de suspensão e precisou ir aos boxes durante a noite onde acabou sendo recolhido para o conserto.
Com o caminho aberto, o Aston Martin #90 construiu uma boa
vantagem para os demais que acabou sendo o suficiente para que não fosse
atrapalhado no período do último Safety Car e mantivesse a grande diferença
sobre os demais que chegou beirar quase uma volta. Foi a primeira vitória da TF
Sport em Le Mans.
Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...