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terça-feira, 31 de maio de 2016

100ª Indy 500: O direito de arriscar

Ao fechar a fabulosa prova de número 100 da Indy 500, lembrei-me da corrida de 2012 quando Takuma Sato arriscou o tudo ou nada contra Dario Franchitti na abertura da última volta jogando-se por dentro da curva 1 e tentando a ultrapassagem na marra. O que sobrou para a coragem do japonês foi o muro e para Dario, a conquista de sua terceira e última vitória em Indianápolis. Para muitos, naquela ocasião, foi uma loucura desnecessária tentar algo ainda faltando quase que 90% da volta final para arriscar. Mas por outro lado, é assim que as coisas precisam ser feitas: provas como a Indy 500, que podem dar a glória maior para um piloto, precisam ser encaradas dessa forma. Ainda mais por pilotos que encontram essa rara chance. Takuma foi um caso desses: depois daquele final espetacular, ele teve mais alguma oportunidade de vencer a tradicional prova? Não! Apesar de que ainda deva correr outras edições, acredito que ele fez o certo naquela oportunidade.
Nesta centésima edição tivemos exemplos muito bons para se lembrar: Carlos Muñoz esteve bem próximo de conseguir a vitória, pois havia aparecido muito bem nas voltas finais como um foguete. Ele fez o certo: administrou bem a sua corrida por todo certame e foi atacar na hora que precisava de fato, que são nas últimas 50, 30, 20 voltas. É neste momento que as estratégias vão para o espaço e acelerar passa ser o quesito principal. Mas o estrategista de Muñoz, assim como de outros tantos, tiveram aquele medo de ficarem pelo caminho sem etanol e o mandaram para os boxes realizar um Splash & Go. Seria necessário naquela altura, faltando 6, cinco voltas para o fim? Particularmente imaginava que um piloto que passou parte da corrida ali pelo meio do pelotão apenas "cozinhando o galo", teria combustível suficiente para não precisar de uma parada extra. Outros pilotos que estavam em situação parecida com a de Carlos também precisaram fazer o mesmo: até certo momento imaginei de Scott Dixon faturaria a prova, pois não figurou nenhuma vez entre os três primeiros, vindo aparecer numa quinta posição há exatas cinco voltas para o fim. Mas ele teve que entrar para o seu pit-stop, assim como Tony Kanaan que esteve mais uma vez espetacular nesta Indy 500 e era sério candidato a vencer pela segunda vez no "Brickyard". Helio Castroneves era outro que havia feito uma corrida bem tática, conseguindo aparecer entre os primeiros na metade da prova e ficar com grandes chances de vencer - e até formar uma dobradinha com Tony -, mas os problemas na asa traseira após um toque de Townsend Bell no boxes e que foi agravado por Hildebrand em uma das relargadas, forçaram a sua ida ao box para trocá-la. Talvez até pudesse arriscar algo nas voltas finais, mas acabou sendo mais um a ir aos boxes.
Após uma série de pilotos ir aos boxes, surgiu a figura de Alexander Rossi. O novato foi muito bem em sua primeira experiência em Indianápolis ao se colocar em 11º no grid de largada e na corrida fez o "feijão com arroz": nada de especial, apenas cuidando bem do equipamento e se livrando das armadilhas que uma prova dessa proporciona. Mas quando a liderança apareceu para ele faltando cinco voltas, Bryan Herta apenas o mandou se segurar na pista como podia e Rossi, mesmo após ter dito que o carro estava falhando, passou a economizar o máximo possível para não ficar totalmente sem combustível naquelas voltas finais. Foi tanto que a duas voltas do fim, diminuiu drasticamente seu ritmo. A sua diferença para Josef Newgarden e posteriormente Muñoz era bem confortante, tanto que quando abriu a volta final estava com mais de uma reta de vantagem para eles. Ou seja: era apenas deixar o carro rolar na "banguela" para chegar a um triunfo histórico para o jovem americano. Para Carlos Muñoz, restou apenas as lágrimas e frustração.
Foi um final sensacional, sem dúvida. Devemos sempre lembrar que Rossi pilotou ano passado em algumas provas pela Manor na F1 e que agora estava ganhando uma das provas mais importantes do mundo. Tanto ele, quanto Herta, arriscaram algo que tinha tudo para dar errado, mas que na verdade era preciso quando viram que os grandes favoritos limparam a dianteira da prova por conta da dúvida se teriam ou não etanol suficiente para chegar ao fim.
Do mesmo modo que fizera Takuma Sato em 2012, arriscando o que deveria para tentar uma vitória, eles também arriscaram. Mas desta vez deu tudo certo. 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Indy 500: A vez de Tony Kanaan


A tão sonhada vitória: Tony de punho fechado, festejando a sua primeira vitória nas 500 Milhas de Indianápolis
(Foto: Randy Ballinger/Reuters)

A temporada de 2004 para Tony Kanaan na Indy tinha sido ambígua: se de um lado ele conquistara um título inédito para o automobilismo brasileiro, por outro ele ainda se ressentia da chance que tivera de vencer as 500 Milhas de Indianápolis. Ele estava no encalço de Buddy Rice, que liderava a prova, quando a chuva caiu no mítico circuito. Na ocasião a chuva caiu na volta 178 e a bandeira vermelha foi dada 180ª passagem e junto a dela a corrida encerrada. A possibilidade de vencer a sua primeira Indy 500 tinha ido pelo ralo. Outras chances apareceram e foram igualmente frustradas por problemas que o limaram da corrida ou contratempos que o impediram de chegar a esta sonhada vitória.
A sua transferência para a KV Racing, um time de médio porte, foi entendido por muitos como um passo atrás em sua carreira, mas Tony sempre esteve forte na condução deste carro: abdicou do seu tradicional número 11 pelo 82 em 2011, devido o apoio da Lotus a equipe KV e esteve muito bem em Indianápolis naquele ano com o número que foi imortalizado por Jim Clark em 1965, que venceu a edição das 500 Milhas daquele ano e em 2012 ficou longe da vitória, mas não baixou os braços em momento algum. Outro duro golpe ele receberia este ano ao disputar a São Paulo Indy 300 e sua equipe errar feio nas contas do combustível – o que te sido corriqueiro neste time da KV – e lhe tirar a chance de vencer na pista de rua do Anhembi. O choro foi incontrolável. Página virada e agora era a vez da prova mais importante: a Indy 500.
Tony fez um bom pole Day e não teve problemas em colocar seu carro na 12ª colocação. Para a maioria que não acompanha essa prova isso seria uma péssima posição de largada, mas uma corrida que por muito pouco não premiou pilotos que saíram da última colocação – como Kevin Cougan em 1980 e Scott Goodyear em 1992 – a posição de largada é o que pouco importa. Tendo um carro veloz e extremamente eficiente para andar no tráfego, você passa a ter ótimas chances de vencê-la.
Se a F1 tem sido uma prova de economia por parte dos pneus, esta edição 97 das 500 Milhas de Indianápolis foi uma prova de economia, com a maioria optando por andar no vácuo do carro à frente para poupar combustível. O máximo que algum piloto conseguia abrir era meia reta, sendo tragado pelo pelotão logo depois. Uma verdadeira luta de vácuo. Ryan Hunter-Reay, o novato Carlos Muñoz, Eddie Carpenter, AJ Allmendinger, Tony Kanaan, Marco Andretti e Helio Castroneves, eram os pilotos a se revezarem na liderança da corrida e Kanaan, junto de Andretti, foram os que estiveram mais vezes na primeira posição, trocando-à volta a volta.
A corrida transcorreu tranquilamente, tanto que os acidentes de Hildebrand e Saavedra não demoraram a ser resolvidos pelo resgate e a prova retornou ao seu ritmo normal. Mas como manda o figurino são as últimas 50 ou 30 voltas que importam, com os pilotos a fazerem as suas últimas paradas de box e começarem a colocar a estratégia principal em prática: pé cravado até o fim. Desse modo é que Tony partiu co tudo para cima de Hunter-Reay e assumiu a ponta, mas logo foi ultrapassado pelo norte-americano. Na briga direta apareciam, além dos dois, Carlos Muñoz e Marco Andretti. Uma disputa direta entre a equipe Andretti contra a KV de Tony Kanaan. Batalha que deixou a arquibancada de pé e que nitidamente torcia pelo piloto brasileiro.
Mas o acidente de Graham Rahal na saída na curva dois, indo bater no muro interno quando faltavam sete voltas para o fim, parecia indicar que as coisas demorariam a ser resolvidas. Hunter-Reay era o líder e Tony o segundo. Os destroços e o carro de Rahal tinham sido retirados a tempo e a relargada foi dada, faltando três voltas para o fim. Friamente Tony conseguiu pôr em prática sua relargada foguete e saiu de trás do carro de Ryan como um “dragster” e junto dele trouxe Muñoz, que serviu para atrasar um pouco o piloto americano. Os ponteiros já estavam na metade da reta oposta quando as bandeiras amarelas foram mostradas: Dario Franchitti tinha encontrado o muro após a relargada. Tony viu as luzes amarelas piscando, mas não tirou o pé do acelerador e tirou rapidamente mais uma volta, ficando apenas duas para o fim. Desse modo o resgate não teria tempo hábil para retirar o carro de Franchitti e a relargada ser autorizada. A bandeira branca ainda foi dada sob o regime do Pace Car e a dupla quadriculada mais famosa do automobilismo mundial, foi dada a Tony. A derrota de 2004 tinha ficado de vez no passado.
No Victory Lane, ele foi recebido com o beijo da esposa e com os abraços e cumprimentos do time da KV Racing e ele pôde, enfim, tomar e se banhar com o leite da vitória. Depois festejou com seu amigo e ex-companheiro de equipe Alessandro Zanardi – que depois ele presentearia com o capacete que acabara de usar na vitória -  com Jimmy Vasser, chefe da sua equipe, que rasgou elogios ao piloto brasileiro. Uma tarde histórica em Indianápolis, que infelizmente foi preterida pelo futebol. A festa só foi vista pela internet, já que a Bandeirantes não quis limar pelo menos meia hora de um jogo que não valia muita coisa – afinal era apenas a primeira rodada do campeonato – para mostrar a premiação de Tony em Indianápolis. Uma pena.
Mas muito mais que essa conquista de Tony tenha sido a sétima de um piloto brasileiro nas 500 Milhas de Indianápolis – ele se junta a Emerson Fittipaldi (1989 e 93), Helio Castroneves (2001, 02 e 09) e Gil de Ferran (2003) – ela foi nada mais que a concretização de um trabalho que foi iniciado ainda no Kart com o apoio de seu pai, que morreu quando Kanaan ainda era criança. E todos os dissabores que ele sofreu nestas últimas edições e porque não dizer, nestes últimos anos, foi recompensado agora. 
Agora TK, como ele é chamado nos EUA, entrou de vez na vasta lista dos senhores que venceram no Brickyard. Merecido.
(Foto: AP Photo/ Michael Conroy)

Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...