“Não existe outro circuito no mundo como Interlagos. É o segundo mais comprido, menor apenas que Nurburgring, e os seus 7.9 km de retas e curvas são compreendidos numa área relativamente pequena. Para os espectadores, portanto, é o circuito ideal. Já para os pilotos, ele parece uma combinação de três outros circuitos: Kyalami, Silverstone e Watkins Glen Mas uma coisa é certa: não há a menor possibilidade de a corrida ser monótona”.
Essas foram as palavras de Jody Scheckter após o GP do Brasil de 1977. E ele tinha razão. O velho Interlagos era fantástico, desafiador e dava aos pilotos a chance de mostrar o quanto eles eram bons nos quase 8 km de subidas e descidas, curvas velozes e travadas do autódromo paulistano.
Louis Romero Sanson, engenheiro britânico, construiu o autódromo de Interlagos durante os anos trinta no mesmo tempo que fez, também, o projeto de urbanização daquela região. O nome de Interlagos, que significa “entre - lagos” (ele foi construído entre as represas Billings e Guarapiranga) foi escolhido pela filha de Sanson. A pista foi entregue em 1940, mas já em 1939, Manoel de Teffé e outros pilotos fizeram uma pequena corrida no futuro autódromo. Foram gastos naquela construção 7.200 m3 de pedras, 135 km de arame farpado e 470 m3 de madeira para fazer os camarotes. Até então um empreendimento gigantesco.Dr. Euzébio de Queiroz Matoso, então diretor da Auto Estradas de Interlagos e seu fundador Louis Romero Sanson, realizaram seus sonhos em 12 de maio de 1940 quando o GP Cidade de São Paulo inaugurou a nova casa do automobilismo paulista e nacional. Os portões foram abertos e pagava quem quisesse, afinal com o redor do terreno do autódromo ladeado de arame, ficava difícil de coibir a entrada de pessoas. A arrecadação foi de 5.000 contos de réis, uma fortuna na época. Na corrida inaugural, a vitória ficou com Arthur Nascimento Jr com Alfa-Romeo, seguido por Chico Landi pilotando uma Maserati.
Dez anos depois de sua inauguração, Dr. Sanson vendeu a área do autódromo de Interlagos, que era de 1,600.000 m2, para o grupo organizador que cuidaria dos festejos do IV Centenário da Cidade de São Paulo e assim esperava-se que para 1954, ano do 4º centenário, a pista recebesse melhorias. Isso não veio e controle do autódromo passou para o governo municipal.
Antes da grande reforma de 1966, Interlagos foi o celeiro para o grande desenvolvimento do automobilismo nacional nos anos 60 tanto no âmbito de competição quanto no de carros de rua. Todas as melhorias que eram encontradas nas pistas eram repassadas para os carros populares. Isso foi importante para erguer lendas automobilísticas como DKV-Vemag, Willys, Volkswagen, Ford entre outros. Ases do volante como Camilo Christofáro, Bird Clemente, Christian Heins, Fritz D’orey, os irmãos Fittipaldi, Luis Pereira Bueno, José Carlos Pace, foram uns dos que se formaram em Interlagos e fizeram história.
O GP do Brasil foi sediado em Interlagos até 1980, com uma interrupção em 78 quando a F1 foi para Jacarepaguá para realizar a prova. Com a pista já em estado crítico e com a prefeitura não querendo colocar dinheiro para mais uma reforma, o GP do Brasil mudou de endereço indo para o Rio de Janeiro a partir de 1981, onde a prova ficou até 1989. Foi uma década difícil para o belo autódromo, que ficou mal cuidado neste período.
Durante o ano de 1989 Interlagos ganhou a chance de sediar novamente o GP do Brasil, mas para isso tinha que adequar a pista à nova realidade da F1. Com obras feitas em quatro meses e sob a supervisão de Ayrton Senna, o velho traçado deu lugar a um menor. As curvas 1,2 retão oposto, curva 3, ferradura, Sargento e Laranja, deixaram de existir. A reta dos boxes foi ligada por um “S” em descida á curva do Sol, e todo esse traçado, passando pela antiga subida do lago até a saída da antiga ferradura, passaram a ser feitas na “contramão”, e assim a curva do Laranja passou a se chamar Laranjinha. O miolo se manteve quase o mesmo e a curva a junção foi recuada alguns metros. Naquele mesmo ano o circuito passou a se chamar José Carlos Pace, em homenagem ao grande piloto e busto foi colocado na entrada do autódromo.
Por mais que alguns entusiastas reclamem até hoje desta mudança, Interlagos foi elogiado ao máximo pela FIA e pilotos.
Sem mais nenhuma interrupção, Interlagos tem sediado grandes provas da F1, como as vitórias de Senna em 91 e 93; de Massa em 2006 e 2008; as decisões de títulos de 2005, 2006, 2007,2008 e 2009, todas com grande dose de suspense e emoção.
Por mais que Interlagos ainda tenha problemas na sua infra-estrutura, como infiltrações na torre de controle, alguns buracos em telas, pequenas rachaduras no asfalto, a drenagem que tem sido péssima entre outros, o autódromo recebe anualmente pequenas alterações por pedidos de Charlie Whiting, inspetor e diretor de provas da FIA, tornam a pista utilizável para a F1 e outras categorias internacionais.
Em época de circuitos insossos que se espalham ano a ano pelo mundo, Interlagos contínua sendo uma das grande maravilhas do calendário da F1.
Alonso e Schumacher em 2005: O piloto espanhol ganhou seu primeiro campeonato do mundo em Interlagos naquele ano, quando disputou o título contra Raikkonen.