A tão sonhada vitória: Tony de punho fechado, festejando a sua primeira vitória nas 500 Milhas de Indianápolis (Foto: Randy Ballinger/Reuters) |
A temporada de 2004 para Tony Kanaan na Indy tinha sido
ambígua: se de um lado ele conquistara um título inédito para o automobilismo
brasileiro, por outro ele ainda se ressentia da chance que tivera de vencer as 500 Milhas de
Indianápolis. Ele estava no encalço de Buddy Rice, que liderava a prova, quando
a chuva caiu no mítico circuito. Na ocasião a chuva caiu na volta 178 e a
bandeira vermelha foi dada 180ª passagem e junto a dela a corrida encerrada. A
possibilidade de vencer a sua primeira Indy 500 tinha ido pelo ralo. Outras
chances apareceram e foram igualmente frustradas por problemas que o limaram da
corrida ou contratempos que o impediram de chegar a esta sonhada vitória.
A sua transferência para a KV Racing, um time de médio
porte, foi entendido por muitos como um passo atrás em sua carreira, mas Tony
sempre esteve forte na condução deste carro: abdicou do seu tradicional número
11 pelo 82 em 2011, devido o apoio da Lotus a equipe KV e esteve muito bem em
Indianápolis naquele ano com o número que foi imortalizado por Jim Clark em
1965, que venceu a edição das 500 Milhas daquele ano e em 2012 ficou longe da
vitória, mas não baixou os braços em momento algum. Outro duro golpe ele
receberia este ano ao disputar a São Paulo Indy 300 e sua equipe errar feio nas
contas do combustível – o que te sido corriqueiro neste time da KV – e lhe
tirar a chance de vencer na pista de rua do Anhembi. O choro foi incontrolável.
Página virada e agora era a vez da prova mais importante: a Indy 500.
Tony fez um bom pole Day e não teve problemas em colocar seu
carro na 12ª colocação. Para a maioria que não acompanha essa prova isso seria
uma péssima posição de largada, mas uma corrida que por muito pouco não premiou
pilotos que saíram da última colocação – como Kevin Cougan em 1980 e Scott
Goodyear em 1992 – a posição de largada é o que pouco importa. Tendo um carro
veloz e extremamente eficiente para andar no tráfego, você passa a ter ótimas
chances de vencê-la.
Se a F1 tem sido uma prova de economia por parte dos pneus,
esta edição 97 das 500
Milhas de Indianápolis foi uma prova de economia, com a
maioria optando por andar no vácuo do carro à frente para poupar combustível. O
máximo que algum piloto conseguia abrir era meia reta, sendo tragado pelo
pelotão logo depois. Uma verdadeira luta de vácuo. Ryan Hunter-Reay, o novato
Carlos Muñoz, Eddie Carpenter, AJ Allmendinger, Tony Kanaan, Marco Andretti e
Helio Castroneves, eram os pilotos a se revezarem na liderança da corrida e
Kanaan, junto de Andretti, foram os que estiveram mais vezes na primeira
posição, trocando-à volta a volta.
A corrida transcorreu tranquilamente, tanto que os acidentes
de Hildebrand e Saavedra não demoraram a ser resolvidos pelo resgate e a prova
retornou ao seu ritmo normal. Mas como manda o figurino são as últimas 50 ou 30
voltas que importam, com os pilotos a fazerem as suas últimas paradas de box e começarem
a colocar a estratégia principal em prática: pé cravado até o fim. Desse modo é
que Tony partiu co tudo para cima de Hunter-Reay e assumiu a ponta, mas logo
foi ultrapassado pelo norte-americano. Na briga direta apareciam, além dos
dois, Carlos Muñoz e Marco Andretti. Uma disputa direta entre a equipe Andretti
contra a KV de Tony Kanaan. Batalha que deixou a arquibancada de pé e que
nitidamente torcia pelo piloto brasileiro.
Mas o acidente de Graham Rahal na saída na curva dois, indo
bater no muro interno quando faltavam sete voltas para o fim, parecia indicar
que as coisas demorariam a ser resolvidas. Hunter-Reay era o líder e Tony o
segundo. Os destroços e o carro de Rahal tinham sido retirados a tempo e a
relargada foi dada, faltando três voltas para o fim. Friamente Tony conseguiu
pôr em prática sua relargada foguete e saiu de trás do carro de Ryan como um
“dragster” e junto dele trouxe Muñoz, que serviu para atrasar um pouco o piloto
americano. Os ponteiros já estavam na metade da reta oposta quando as bandeiras
amarelas foram mostradas: Dario Franchitti tinha encontrado o muro após a
relargada. Tony viu as luzes amarelas piscando, mas não tirou o pé do
acelerador e tirou rapidamente mais uma volta, ficando apenas duas para o fim.
Desse modo o resgate não teria tempo hábil para retirar o carro de Franchitti e
a relargada ser autorizada. A bandeira branca ainda foi dada sob o regime do
Pace Car e a dupla quadriculada mais famosa do automobilismo mundial, foi dada
a Tony. A derrota de 2004 tinha ficado de vez no passado.
No Victory Lane, ele foi recebido com o beijo da esposa e
com os abraços e cumprimentos do time da KV Racing e ele pôde, enfim, tomar e
se banhar com o leite da vitória. Depois festejou com seu amigo e
ex-companheiro de equipe Alessandro Zanardi – que depois ele presentearia com o
capacete que acabara de usar na vitória -
com Jimmy Vasser, chefe da sua equipe, que rasgou elogios ao piloto
brasileiro. Uma tarde histórica em Indianápolis, que infelizmente foi preterida
pelo futebol. A festa só foi vista pela internet, já que a Bandeirantes não
quis limar pelo menos meia hora de um jogo que não valia muita coisa – afinal
era apenas a primeira rodada do campeonato – para mostrar a premiação de Tony em Indianápolis. Uma
pena.
Mas muito mais que essa conquista de Tony tenha sido a
sétima de um piloto brasileiro nas 500 Milhas de Indianápolis – ele se junta a
Emerson Fittipaldi (1989 e 93), Helio Castroneves (2001, 02 e 09) e Gil de
Ferran (2003) – ela foi nada mais que a concretização de um trabalho que foi iniciado
ainda no Kart com o apoio de seu pai, que morreu quando Kanaan ainda era
criança. E todos os dissabores que ele sofreu nestas últimas edições e porque
não dizer, nestes últimos anos, foi recompensado agora.
Agora TK, como ele é chamado nos EUA, entrou de vez na vasta
lista dos senhores que venceram no Brickyard. Merecido.
(Foto: AP Photo/ Michael Conroy) |