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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Anna Maria Peduzzi, a “Marocchina”

A Marocchina e seu Stanguellini durante a vistoria de alguma competição
dos anos 50.

Numa época em que o automobilismo era estritamente dominado por homens, ela se destacou de forma imponente. Anna Maria Peduzzi fez a sua carreira em carros Sport e durante seus quase trinta anos no automobilismo esta piloto italiana colecionou ótimos resultados, entre eles a primeira colocação na Mille Miglia de 1954 na classe 1500cc. Mas a sua carreira ficou reservada, apenas, em sua maioria, a corridas locais. Porém, teve boas performances em provas importantes da Europa.

Nascida em Olgiate em 1912, Anna Maria começou a sua vida automobilística em 1932 na mesma altura que se casou com Alessandro 'Franco' Gianfranco Maria Comotti, com quem acabou por dividir o volante de uma Alfa Romeo 6C em provas daquela década. Correndo em provas locais e subidas de montanha, o seu melhor resultado em 1932 foi justamente nesta última modalidade onde levou a sua Alfa Romeo 6C ao terceiro lugar em Gaisberg, na Áustria. A alcunha de “Marocchina” (menina marroquina, em italiano) surgiu nesta prova, quando ela foi registrada com este apelido - ao invés do seu nome - pelo fato de ter pele escura e cabelos negros. O que é estranho, pois Anna Maria tinha tinha uma pele parda. 

Já em 1934, e com algumas corridas no seu currículo, Anna Maria competiu pela primeira vez numa corrida de grande importância: dividindo a Alfa Romeo 6C com seu marido, eles participaram das Mille Miglia daquele ano correndo pela Scuderia Ferrari. O resultado foi perfeito: venceram na classe destinada a carros 1500cc e fecharam em 13º na geral. Ainda nos anos 30, a vida de Anna Maria Peduzzi foi um tanto atribulada: apesar de ainda competir regularmente em corridas locais, ela contraiu poliomielite que a forçou a deixar o automobilismo por um tempo, mas recuperou-se bem apesar de que a falta de força em seus braços foi uma seqüela adquirida da doença. Mas isso, ao menos, não impedia de competir. O outro fato que a fez sair de cena por um tempo foi o refúgio que seu marido, um anti-fascista assumido, fez em Paris assim que Mussolini fundou o império em 1936. Quando voltaram para a Itália, durante a Segunda Guerra, Franco quase foi executado pelos alemães quando estes o consideraram como um membro da resistência - o que de fato era, trabalhando junto aos aliados. Contando com o tempo em que ficou doente e mais a paralisação das competições pela Europa por causa da Segunda Guerra, Marocchina ficou 17 anos fora das competições.

O seu retorno foi em julho de 1952 quando participou de uma corrida em Nurburgring, a bordo de um Stanguellini Bialbero 750. Anna Maria venceu em sua classe destinada a carros de 750cc, mas foi desclassificada por ter sido recebido ajuda para retornar após uma rodada. Sem forças nos braços, decorrente da doença, a desclassificação foi criticada veemente, mas não voltaram atrás no veredicto. Apesar desse resultado perdido, Anna Maria disputou outras corridas no decorrer daquele ano, mostrando que estava em boa forma: ainda ao volante do Stanguellini, ela foi terceira na Coppa Ascoli; chegou em segunda na classe 750cc no circuito de Senigallia, em Ancona; no mês de setembro ela venceu o Trofeo Sardo pilotando na classe 750cc e foi quarta no Grand Prix de Bari algumas semanas depois. Um retorno em grande estilo.

Em 1953 ela continuou com o Stanguellini e disputou as suas duas corridas mais importantes no ano: a Mille Miglia e a Targa Florio. Na primeira, dividindo o carro com Franco Goldoni, terminou em terceiro na classe 750cc que contou com 63 participantes. Na Targa Florio a sorte não foi a mesma e ela abandonou após um acidente.

Já em 1954, ainda em posse do Stanguellini, competiu no Giro di Sicilia em parceria com Augusto Zocca, mas não completaram a prova. Competindo sozinha, ela foi terceira no Circuito de Santa Gorizia, venceu o Trofeo Sardo e terminou em quinta no Giro Della Calabrie, sempre na classe 750cc. Com Franco Goldoni, ela voltou a correr na Mille Miglia e Targa Florio, mas também não obteve sucesso e abandonou ambas. Ao final de outubro competiu nas 6 Horas de Castelfusano onde obteve um terceiro lugar na classe 750cc.


Para 1955 Anna Maria continuou com seu Stanguellini, que recebeu modificações podendo, assim, competir em outras categorias. Ela, com a compania de Augusto Zocca, correram a Mille Miglia e desta vez obtiveram o quinto posto na classe 750cc, ficando em 99º na classificação geral. No Circuito de Santa Gorizia ela repetiu o quinto lugar naquela classe e em Mugello ela foi, mais uma vez, quinta colocada em uma das duas corridas disputadas ali. Marocchina, enfim, subiu o desafio quando competiu na classe 1.100cc no Circuito di Reggio Calabrie e obteve um belo sétimo lugar, uma vez que seu carro era um 750cc. Tempo depois ela disputou o Giro Della Calabrie, mas não completou. Ela ainda disputou os 500 Km de Nurburgring, onde terminou em quarto na classe 750cc. Foi o último ano dela com o velho Stanguellini.

Em 1956 ela adquiriu um Ferrari 500 Testa Rossa 2000cc – único carro deste modelo vendido naquele ano para competição - com a qual competiu em provas grandes. Formando equipe com o belga Gilbert Thirion, a primeira corrida foi os 1000 Km de Monthlery no mês de junho. Eles venceram a classe 2000cc e fecharam em décimo no geral. No Grand Prix Supercortemaggiore, disputado em Monza, eles foram décimo no resultado global. Após estes bons resultados, Marocchina voltou a participar de corridas menores na Itália. Foi nona em Reggio Calabrie e não terminou no Circuito Di Sassari onde ocupou o quarto posto por um bom tempo. Na sua última corrida naquele ano, realizada em Roma, ela correu com um Stanguellini S1100 e terminou em oitava.

Em 1957 ela fez algumas provas locais, de menor importância e voltou em 1958 com a sua Ferrari e desta vez, preferiu correr em corridas maiores. Abriu os trabalhos com um décimo lugar no GP de Pergusa; na Targa Florio, correndo em parceria com Francesco Siracusa, ela fez a sua terceira tentativa que acabou por falhar mais uma vez.

Marocchina teve a sua primeira chance de correr fora dos domínios europeus, quando foi escalada para competir pela Ferrari nos 1000 Km de Buenos Aires válido pelo Mundial de Carros Sport. Não se sabe exatamente o que aconteceu, mas Anna Maria não foi e Gino Munaron e Luciano Mantovani conduziram o Ferrari 500 TR para o sexto lugar na geral naquela prova.

Em 1959 ela esteve ao volante de dois carros: continuou com o Ferrari 500 TR e adquiriu um OSCA 750. Com o Ferrari ela foi terceira na classe 2000cc na Copa Ambroeus, disputada em Monza e não terminou o GP de Messina. Competindo com o OSCA, ela foi terceira colocada na classe 750cc dividindo o carro com Giancarlo Rigamonti. Nesta altura, Anna Maria encontrava-se já com 47 anos de idade. Marocchina continuou competindo em 1960, mas agora sem a Ferrari. Correndo com um OSCA 1500 (mecânica de F2) e fazendo par com Francesco Siracusa, obteve o terceiro lugar na classe 1600cc na Targa Florio. O ano foi de poucas corridas para Marocchina e os registros apontam apenas mais uma participação dela naquele ano ao fazer parceria com Luiza Pozzoli num NSU Prinz de 600cc na Coppa Ascari, disputada em Monza. Elas ficaram em quinta na classe 600cc e 26ª no resultado final. A última competição de Anna Maria remonta a mesma Coppa Ascari, disputada em 1961, quando ela dividiu uma Alfa Romeo Giullieta com Alma Cacciandra. A dupla não completou a prova.

Apesar de Anna Maria nunca ter feito muitas provas importantes no decorrer da sua carreira de quase trinta anos, ela enfrentou, com certo sucesso, alguns bons pilotos de Grand Prix que já disputavam o Mundial de Pilotos. Maria Teresa De Fillipis, que foi a primeira mulher a correr na F1, foi sua rival no início dos anos 50 e foi constantemente batida por Marocchina. Olhando os seus bons resultados nos carros Sport, é de se imaginar o que poderia ter feito caso tivesse corrido na F1 daquela época. É uma especulação que, infelizmente, ficará na história.

Anna Maria Peduzzi faleceu em 23 de agosto de 1979 em Bergamo. 

sábado, 12 de novembro de 2011

Grande Prêmio da Venezuela, 1957

A internet nos reserva algumas surpresas. É engraçado que quando você está a procurar algo para fazer um post, ou seja lá o que for, acaba se deparando com um “achado”. Coloquei entre aspas mesmo, pois o Flavio Gomes, no seu blog, publicou uma foto - enviada pelo genial Humberto Corradino início do ano passado de uma prova de carros Sport disputada nas ruas de Caracas. Pois bem, nessa incursão que fiz ontem achei várias fotos dessa prova disputada nos dias 1, 2 e 3 de novembro de 1957 onde os melhores pilotos da F1 e do Mundial de carros Sport estiveram presentes: Phill Hill, Peter Collins, Mike Hawthorn, Oliver Gendenbien, Luiggi Musso, Wolfgang Von Trips, Maurice Trintignant, Jean Behra, Masten Gregory, Jo Bonnier, Stirling Moss e Tony Brooks.
A prova foi realizada num percurso de 9,933 metros montado nas ruas de Caracas. 37 carros – divididos em duplas - foram inscritos por 20 equipes (a Scuderia Madunina Venezuela inscreveu oito). Após os treinos, 32 carros, divididos em três grupos (acima de 2.000cc, até 2.000cc e até 1.500cc) partiram para a prova. Após um breve duelo entre os Ferraris e Maseratis de fábrica, a vitória ficou com a Scuderia Ferrari que dominou amplamente aquela corrida: Collins/Hill ficaram com a vitória, seguidos pelos seus companheiros Hawthorn/Musso, Von Trips/Seidl e Trintignant/Gendenbien. Os Maseratis, que haviam dominado os treinos com a pole de Moss/Brooks e com a segunda posição de Behra/Schell, tiveram um triste fim: todos os carros oficiais abandonaram a prova por causa de acidentes. O mais grave foi onde envolveram indiretamente dois Maseratis: Bonnier bateu em um poste de luz na 54ª volta e na passagem seguinte, próximo ao acidente anterior, Schell espatifou a outra Maserati contra um muro vindo a se incendiar metros depois. Bonnier e Schell saíram com alguns ferimentos, mas nada de grave. Para a Maserati foi uma triste despedida, uma vez que a equipe oficial estava abandonando as competições. 

Vários carros estiveram presentes nesta corrida em Caracas: na primeira foto o A.C Bristol #50 de Angel Dávilla/Juan Uribe (Colômbia Racing), vai à frente do Porsche 550RS #68 de Ed Crawford/Ed Hugus. O Porsche terminou na sétima posição, 11 voltas trás dos vencedores. O A.C Bristol terminou em 17º. Na segunda, um dos dois únicos OSCA da corrida: o de número 62 que aparece na foto, pilotado por Isabelle Haskell/Alejandro De Tomaso (Automobili OSCA), abandonaram na 14ª volta. O outro OSCA #76 (Monte Carlo Sport) da dupla Umberto Masetti/André Testut, completaram a corrida na 11ª posição.


A esquadra de Maranello: a primeira foto com as Ferraris perfiladas; na segunda imagem, Collins, Hawthorn e Gendebien já a postos em seus carros; na última foto, Hill e Collins celebram a vitória no GP da Venezuela.

O início do desaire da Maserati em Caracas: Masten Gregory bate e capota logo na primeira volta. Apesar da cena, Masten saiu ileso.

Os últimos Maseratis: Schell (com o carro em chamas) e Bonnier (batido no poste) eram os últimos Maseratis na prova.

OBS: Pelo pouco de informações que pude recolher sobre essa corrida na Venezuela, a verdade é que esta foi a terceira que foi realizada por lá. Outras duas edições foram realizadas no mesmo traçado em 1955 e 56, porém não consegui descobrir quem foram os vencedores. Esta corrida de 1957, por ter sido feita sob a chancela da FIA e contando pontos para o Mundial de Carros Sport, acabou por ser oficial e por isso recebeu o nome de I Gran Premio de Venezuela. Até onde pude apurar, outra edição, a 4ª, foi realizada em 1958 com a vitória ficando para Jean Behra pilotando uma Ferrari. O espaço fica aberto para quem souber de mais informações sobre essa(s) corrida(s) e também corrigir alguma informação. 

ADENDO: Com ajuda da Serena, venezuelana de coração brasileiro, deixo aqui um breve resultado dos GPs da Venezuela anteriores ao de 1957: em 1955 Eugenio Castelloti marcou a pole e Fangio foi o vencedor; em 1956 Fangio foi o pole (marcou também a melhor volta) e Stirling Moss venceu.

FOTOS: http://1viejasfotosactuales.multiply.com/journal/item/596

Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...