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Por um nariz: Al Unser Jr. cruza a linha na frente de Scott Goodyear na mais ferrenha chegada
da Indy 500 |
Michael Andretti desfilava certa arrogância naquele fim de
semana em Indianápolis. Segundo ele, o desempenho dos motores Ford era muito
superior aos demais principalmente frente aos Chevrolet, seus principais concorrentes:
“O motor Ford tem mais força que o Chevy
e deveremos ganhar até três milhas por hora em cada volta. Mas a única maneira
segura de saber isso é olhando para o computador. Naquela velocidade não dá
para sentir o torque.” De certa forma, apesar de sua empáfia, ele tinha
razões para acreditar que a corrida seria uma briga particular entre os carros
com motores Ford.
O Ford tinha sofrido algumas modificações visando retomar a
supremacia em Indianápolis, que tinha sido perdida para os Chevrolet ao final
dos anos 80. O novo Ford, batizado de Cosworth XB, foi um dos mais rápidos
durantes os treinos daquele mês de maio, perdendo apenas para os Buick V8 do
Team King Racing conduzido por Roberto Guerrero, que veio marcar a pole e
quebrar o recorde do circuito ao andar na casa de 230MPH. As duas primeiras
filas eram formadas por carros com motores Buick e Ford Cosworth. O melhor dos
Chevrolet aparecia na terceira fila, na oitava posição com Danny Sullivan da
equipe Galles. No “Carburation Day”, do dia 21 de maio, Mario Andretti cravou o
melhor tempo e logo em seguida mais outros três carros com motor Ford ficaram
nas posições seguintes, mostrando a real força dos propulsores. Mas a corrida é
longa e imprevisível. Bem típico da Indy 500.
O dia da prova estava com a temperatura baixa, devido uma
frente fria que chegara da noite anterior. Isso era horroroso para uma
tentativa de esquentar os pneus com aquele tempo como se comprovou horas
depois, quando Roberto Guerrero, então pole-position, rodou em plena reta
oposta quando tentava aquecer os pneus de seu Lola-Buick. O resultado foi uma
batida no muro interno que danificou a suspensão dianteira, impedindo-o de
voltar para a prova (igualando, assim, Cliff Woodbury em 1929 e Pancho Carter
em 1985). Bizarrice total. Mas ele não foi o único. O novato Phillipe Gache fez
mesmo, mas retornou aos boxes e pôde continuar na prova até a volta 61, quando
bateu e abandonou de vez.
Aliás, aquela 76ª Edição da Indy 500 foi uma das mais
acidentadas em boa parte por causa da temperatura baixa do dia da prova. Se nos
treinos nada mais que quatro pilotos se acidentaram com gravidade (Pancho
Carter, Hiro Matsushita, Nelson Piquet e Jovy Marcelo – que viria morrer após
este acidente) na corrida outro punhado de pilotos também visitaram o Hospital
Metodista de Indianápolis: Mario Andretti, Jeff Andretti, Rick Mears, Emerson
Fittipaldi e Jim Crawford passaram alguns dias na cama do hospital devido às
fraturas e escoriações.
A corrida, em si, foi de domínio quase que enjoativo de
Michael Andretti que imprimiu um ritmo diabólico enquanto esteve em pista.
Mesmo com as interrupções por parte de bandeiras amarelas provenientes de
acidentes ou incidentes, ele estava pronto para retomar a velocidade e
disparar na frente rumando para sua possível primeira vitória no Brickyard.
Mais atrás, de modo compassivo, Al Unser Jr e Scott Goodyear que estavam
a escalar o pelotão sobrevivendo as armadilhas impostas pelo mal aquecimento
dos pneus. Al Jr, que largou em 12º, encontrava-se numa liderança momentânea na
volta 144 depois de uma série de pit stops, mas perderia em seguida para Michael
quando entrou para fazer sua parada. Goodyear vinha mais atrás, mas já entre os
dez melhores.
Na volta 166 volta, Michael mostrou o quanto estava decidido
a vencer: cravou a melhor volta em 229.118 MPH. Talvez aquilo fosse um excesso
de arrogância, uma vez que naquela altura ele tinha mais de dez segundos de
avanço sobre o segundo colocado Al Unser Jr. Mesmo após a última parada de box,
que aconteceu entre as voltas 171-177, Andretti voltou com uma margem ampliada
para 23 segundos sobre Scott Goodyear, que agora ocupava a segunda colocação.
Ou seja, a vitória estava mais do que garantida.
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Enquanto que Mario Andretti saiu com alguns dedos quebrados após bater de frente... |
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...Al Unser Sr. foi o terceiro, na corrida que consagrou seu filho. |
Mas quando foram pegar o leite na geladeira para deixar no
ponto para que Michael pudesse bebê-la no “Victory Circle”, o infeliz parou seu
carro branco no gramado com problemas no motor... Ford Cosworth. A empáfia de
Michael de antes da prova, tinha terminado com a pressão do óleo em níveis
alarmantes. Foi um dia doloroso para a família Andretti, em todos os sentidos.
Mas ainda tinha a corrida, ora! E que final, que
final! As últimas oito voltas foram de total perseguição de Goodyear contra Al
Unser Jr., que havia ultrapassado o piloto canadense antes da quebra de
Michael. Todos nas arquibancadas estavam de pé para ver aquele final.
Para Scott Goodyear aquilo era um prêmio. Havia largado em
último, após seu companheiro de equipe Walker, Mike Groff ter classificado seu
carro – ambos trocaram de carros, com Goodyear a pilotar o de Mike Groff e vice
versa. Porém já havia sido dito que eles voltariam ao seus carros originais
depois da classificação. O problema é que Scott batera o carro de Groff no
último dia de treinos do “Bump Day” e este último conseguiu qualificar o carro
#15 na 26ª colocação. Com a troca, Goodyear assumiu o carro acabou tendo que
largar em 33º. Em relação a Al Unser Jr. a chance de vencer a sua primeira 500 Milhas de Indianápolis voltara para ele, afinal este havia
perdido a chance de vencer em 1989 quando bateu no muro durante uma perseguição
a Emerson Fittipaldi.
Goodyear tentou por duas vezes ultrapassar Al Jr., e foi na
segunda que, por muito pouco ele não conseguiu. Emparelhou com Al Jr. na reta
principal, mas não teve motor suficiente para conseguir passar na frente. Assim
Al Unser Jr. vencia a sua primeira Indy 500 por uma mísera diferença de 0’043
segundos. Um piscar de olhos, ou menos disso.
Enquanto que Little Al entrava para a história, Michael
lamentava os acontecimentos daquele dia: “Este
lugar é cruel, muito cruel. Primeiro aconteceu o acidente com papai, depois com
Jeff. Eu sabia que Jeff estava mal. Eu sabia que ainda tinha um trabalho duro
para fazer, mas realmente era impossível manter a concentração. E eu nunca tive
um carro tão perfeito na mãos.” Michael, naquela ocasião, tinha tornado-se
o terceiro piloto a liderar mais voltas (160) na Indy 500 a não levar a vitória.
O outro piloto era... Mario Andretti, que havia liderado 170 voltas em 1987.
Família azarada.
Por outro lado, a família Unser não tinha do que reclamar:
Al Jr havia ganhado sua primeira Indy 500, a oitava do clã (Al Unser Sr. tinha
4 vitórias e o tio Bobby Unser outras 3). A outra coincidência era de que a
prova tinha sido disputada pela 3ª vez na sua história em um dia 24 de maio, e
os vencedores nestas datas eram... da família Unser: Bobby Unser venceu em 1981
e Al Unser Sr vencera em 1987. Azar para uns, sorte para outros.
Al Unser Jr. ainda venceu outra edição da Indy 500, em 1994,
quando disputou diretamente contra Emerson Fittipaldi a vitória quando eram
parceiros de Penske. Scott Goodyear teve a sua segunda chance em 1995. Venceria
se não tivesse cometido a idiotice de ter entrado nos boxes quando nem tinham o
chamado, deixando assim a primazia para Jacques Villeneuve.