Mostrando postagens com marcador Martin Donnelly. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Martin Donnelly. Mostrar todas as postagens

domingo, 28 de setembro de 2025

Foto 1045 - Um ato de Deus

(Foto: Sundayworld.com)

A primeira vista, a impressão é de que as noticias seriam as mais terríveis e isso era totalmente compreensível: como seria possível uma pessoa sobreviver a uma pancada tão impressionante, seguido de ser lançado à alguns metros de distância do restara do seu carro? A imagem do corpo inerte e retorcido de Martin Donnelly impressiona até hoje e naquele período, há exatos 35 anos quando faltavam dez minutos para o fim da primeira qualificação para o GP da Espanha de 1990 em Jerez de La Frontera, foi um dos momentos que impactou uma geração que ainda não tinha visto nada parecido na Fórmula-1. Algo dessa magnitude, apenas oito anos antes com o triste desfecho da vida de Gilles Villeneuve, também, nos momentos finais da qualificação para o GP da Bélgica de 1982. 

O relato de Roberto Pupo Moreno, que havia ficado de fora da qualificação e estava junto dos amigos de Donnelly, que acompanhavam a sessão com vista para a curva 14 onde aconteceu o acidente, transmite o drama que foi aquele momento: "Sim, eu estava na curva. Fiquei olhando para ele o tempo todo. Foi incrível porque eu vi que ele estava vindo, então o segui por todo o circuito. Eu o vi da curva lenta, e aumentando as marchas, e ele estava absolutamente plano em nossa direção, e então eu pude ver que ele não virou, e o motor não parou. Como piloto, eu estava dirigindo com ele quase com os meus olhos. Eu tinha visto que ele não tinha virado antes da curva e estava em aceleração máxima. No momento em que ele não virou, minha respiração parou completamente, porque eu sabia o que iria acontecer a seguir. Eu simplesmente vi uma explosão, pedaços voando para todos os lados. Eu o vi caído no chão e fechei os olhos, porque realmente pensei que ele estivesse morto." declarou Moreno ao site Motorsport Retro.

A partir deste momento, o trabalho médico entrou em ação ainda que tenha demorado um pouco a chegar no local. Segundo os relatos do Doutor Sid Watkins em seu livro "Viver nos Limites", a pista de Jerez não oferecia atalhos para que pudessem chegar mais rápido ao local - e juntando isso ao fato de não terem um carro médico mais rápido, coisa que ele também reclamou, e de não saberem o local exato do acidente, aqueles minutos eram bem arriscados. Essa demora em chegar à Donnelly gerou a necessidade de irem buscar um carro mais potente e isso foi feito na manhã do sábado, quando foram buscar um Porsche 911 em Madrid para tal. Infelizmente as coisas não iam bem naquele final de semana e o responsável em trazer o carro acabou se acidentando na estrada quando estava ao volante do Porsche. Mas ele salvou-se com uma perna quebrada. 

O atendimento à Donnelly pela equipe de Sid Watkins
(Foto: AFP)

Donnelly foi atendido ainda na pista e levado ao centro médico do circuito para continuar os procedimentos. Derek Warwick, companheiro de Martin na Lotus e que havia sofrido um mega acidente no complemento da primeira volta do GP da Itália realizado algumas semanas, foi até o local visitar o seu colega:  
"É claro que não havia nada que eu pudesse fazer. Ele deu sinais de me reconhecer. Mas tudo o que eu pude fazer foi desejar-lhe boa sorte e dizer que todos estavam pensando nele.", comentou Warwick que no dia seguinte ainda pensou em não correr aquele GP justamente com as lembranças bem frescas na memória de seu acidente em Monza e depois do que acontecera com Martin Donnelly: “No sábado de manhã me tinha ainda decidido a correr, mas Frank Dernie e Steve Hallam (responsáveis pelo Lotus 102) garantiram-me terem modificado algumas partes do carroque eventualmente poderiam ter sido a causa da falha mecânica e isso foi garantia suficiente para mim. Não poderia desapontar tanta gente que trabalhou muito.", declarou Derek ao anuário "Fórmula-1 1990/1991" do Francisco Santos.

 

Ayrton Senna acompanhou todo processo

Sid Watkins e Ayrton Senna em conversa após o acidente de Donnelly
(Foto: Sutton Images)

Ayrton Senna, que estava na batalha pelo título daquela temporada contra Alain Prost, esteve presente em quase todo momento em que Sid Watkins e sua equipe faziam os procedimentos para recuperar a consciência de Donnelly. Senna comentou sobre o acidente, reproduzido no anuário "Fórmula-1 1990/1991" do Francisco Santos: "O acidente foi muito triste para todos nós. Fui ao local onde o Martin estava no chão, e quando vi as consequências imediatas do acidente, com os meus próprios olhos, sozinho, foi muito... dificil de aguentar, de entender e absorver tudo, e depois ter de partir para outra. Depois fui para o caminhão da equipe (Mclaren) e pedi para ficar sozinho uns momentos, para pensar, quieto. Vivi momentos muito especiais, a rebuscar tudo dentro de mim". 

Em todos aqueles anos na categoria, essa era a primeira vez que o piloto brasileiro estava face a face com a morte, mesmo que antes disso tenha visto alguns acidentes impressionantes desde a sua estréia na categoria em 1984. Mas desta vez, sendo um dos nomes mais importantes da categoria e tendo um título mundial na bagagem, ele assumiria um posto importante nas discussões pela segurança na categoria - inclusive, tendo que lidar com outros acidentes preocupantes no decorrer dos anos. Ainda em seu livro "Viver Nos Limites", Sid Watkins relata o momento em que Senna o procurou no sábado para saber os detalhes do atendimento à Martin: "Na manhã seguinte as noticias ainda eram boas e eu estava esperando à saída dos boxes que começassem os treinos da manhã de sábado quando Senna veio ter comigo. Encostando-se ao muro do boxes disse-me que tinha assistido à reanimação e, no seu estilo sério, fez-me perguntas sobre as técnicas (de reanimação) aplicadas. Tinha verificado que o tubo tinha sido metido aparentemente de forma errada, ao contrário, e depois tinha sido rodado, e que queria saber porque razão anatômica se tinha procedido dessa forma. Mostrei-lhe o estojo e ele mostrou-se intrigado com o aparelho, e também perguntou porque razão tinha metido o dedo na boca de Martin antes de meter a tubagem. Disse-lhe que era para procurar um buraco entre os dentes". Numa dessas tristes ironias da vida, quatro anos depois Sid Watkins estaria na mesma situação com o mesmo Ayrton, tentando salvá-lo naquele terrível 1º de maio em San Marino...

(Foto: Ercole Colombo)
Vinte anos após estes acontecimentos e já sabendo de tudo que acontecera nos momentos pós acidente, Martin Donnelly falou de suas impressões sobre Ayrton Senna: “Uma das coisas que me impressionou desde o acidente foi o Ayrton naquele fim de semana. Para mim, ele era um amigo distante", comentou ele ao site Motorsport Retro em 2011. "Ayrton foi andando até onde eu tinha caído. Isso é o
mais incrível para mim. O Ayrton assistiu a tudo isso, viu tudo em primeira mão, segurando meu capacete e possivelmente me vendo morrer em um acidente. Ele viu todas as agulhas, seringas e a traqueostomia. Depois, voltou para a garagem, colocou o capacete de volta, com a viseira abaixada, e com apenas 10 minutos restantes, fez a volta mais rápida de Jerez naquela pista. Como você desliga a emoção do que acabou de ver que está ali – na sua mente – e então faz esse tipo de trabalho?"
, frisou Donnelly. 

Ayrton cravou a pole para aquele GP no que consistiu na sua 50ª conquista neste quesito. Essa volta é uma das mais impressionantes da sua carreira: "A de hoje foi inacreditável para mim, porque depois do acidente de ontem com Donnelly, vivemos momentos muito tristes para todos nós. Como sabem, eu fui ao local do acidente. Depois de me recolher até pensei em não andar mais ontem, mas saí e fiz um tempo que até poderia ter-se mantido como pole até agora. Mas, hoje tive uma sensação dentro de mim de que alguém (leia-se Prost) iria bater meu o meu tempo, e que eu queria a minha 50ª pole teria que melhorar esse tempo. Aí fiz essa volta... não foi o meu máximo... até porque houve dois pilotos (Olivier Grouillard e Nelson Piquet) me fizeram perder tempo", comentário que foi reproduzido no livro "Ayrton Senna do Brasil" escrito pelo Francisco Santos. Na corrida, ele não teve melhor sorte ao abandonar na volta 52 por conta de um furo no radiador. 


O acidente e a recuperação

Martin Donnelly em processo de recuperação
(Foto: Getty Images)

Uma escapada naquela curva 14 que é feita de pé cravado não é nada interessante e foi isso que constataram quando viram o acontecido com Donnelly. A quebra de um dos braços do amortecedor fez com que ele não tivesse mais controle do carro, indo parar imediatamente contra o guard rail da veloz curva 14. "Se tivesse durado mais um milissegundo, a última curva (Ferrari) tinha uma grande caixa de brita e uma grande barreira de pneus. OK, provavelmente teria sido doloroso, mas o carro não teria se partido ao meio." comentou Donnelly ao "Beyond The Grid" em 2022. 

Sid Watkins encontrou Martin com o rosto bem azulado, o que indicava a falta de oxigênio: “Eu não estava respirando porque engoli minha língua”, disse Martin e a partir daí, como foi relatado antes, Sid tratou de procurar ventilar o mais rápido possível o piloto. "Mas, entre o acidente e o Sid chegar até mim e avaliar o que estava acontecendo, foram 11 minutos e meio. Então, o cérebro... as pessoas dizem que me afetou. Acho que a esposa concordaria!

Sid abriu minha viseira e viu que eu estava com um tom azul-claro. Ele pegou dois tubos, inseriu-os no meu nariz, me estabilizou respirando novamente com o oxigênio, cortou as tiras e me entregou o capacete. Ele me levou de volta ao Centro Médico e depois me levou de avião para Sevilha.”

“Acho que meu acidente foi por volta de 42G. Ele sabia por experiência própria que meus órgãos entrariam em choque e não funcionariam. Então, era importante me tirar de Sevilha, de volta para Heathrow, de volta para a Inglaterra, para o hospital dele, o Royal London Hospital, em Whitechapel. Voltei para lá na terça-feira à noite e, como ele previu, na quarta-feira, meus rins, meus pulmões... tudo simplesmente parou de funcionar. Fiquei em um respirador por sete semanas. Fiz diálise renal todos os dias durante três horas e, como a situação estava delicada, o capelão do hospital veio e me deu a extrema-unção. Duas vezes na mesa de operação, meu coração parou. Eles tiveram que se afastar, colocar os cabos de ligação antigos, me dar um choque e me trazer de volta. Então, três vezes, Sid me trouxe de volta (no primeiro atendimento na pista).

Martin ainda lutou contra um problema na perna esquerda que foi gravemente afetada correndo, inclusive, o risco de ser amputada, situação que foi descartada por conta do atendimento correto e rápido, mas que também teve a intervenção de Sid Watkins e de uma pessoa que fez a tradução do inglês para o espanhol ainda em Sevilha. “Este rapaz, Deus o abençoe, traduziu entre espanhol e inglês. Foi uma luta intensa, com gritos. Ele ficou traumatizado tentando traduzir o que Sid estava dizendo para os cirurgiões, e eles disseram 'não, temos que amputar esta perna', por causa da quantidade de sangue que eu estava perdendo. Sid tirou o cinto da própria calça e colocou em volta da minha perna para estancar o sangramento e salvar a perna. Se ele tivesse chegado uma hora, meia hora depois, aquela perna teria sido removida.” relembrou Donnelly, que devido as cirurgias - incluindo uma outra que aconteceria semanas depois por conta da perfuração de uma das artérias - sua perna esquerda ficou 2,5cm mais curta.

Ele ainda tentaria uma ajuda com Willi Dungel, o homem que ajudou no retorno de Niki Lauda após o acidente de Nurburgring em 1976. "Eu pensei que se ele conseguia consertar a Niki em seis semanas, conseguiria me consertar em dois meses, certo?”, comentou Donnelly, mas as coisas seriam bem mais complicadas, como ele mesmo relatou em seguida: "Claro que eu não imaginava o quão difícil seria. Fiquei lá (na Áustria) 13 semanas fazendo fisioterapia e hidroterapia durante oito horas por dia. Voltei para o Reino Unido para as operações e depois voltei para a clínica. Foi muito difícil. Eles finalmente disseram: 'Martin, não podemos fazer mais nada pelas suas pernas'."

Donnelly em seu teste com a Jordan em 1993
(Foto: Motorsport Magazine)
Apesar da sua vontade em voltar às Fórmula 1, Donnelly sabia que era bem complicado. Ele ficou ao lado de Mika Hakkinen em algumas provas da temporada de 1991 e continuou com a equipe - pela qual
ele havia acertado na manhã do acidente uma extensão do contrato para 1991 - virando um embaixador da Lotus. Em 2011 ele reencontrou o Lotus 102 no Festival de Goodwood onde pôde conduzi-lo no trajeto e ser aplaudido pelo público. Voltando ao passado, ele ainda teve contato com um Fórmula-1 em 1993 quando Eddie Jordan lhe proporcionou a condução no Jordan em Silverstone.

Ainda quando estava com a mentalidade de tentar voltar para a categoria, Donnelly recebeu um importante conselho de um dos cirurgiões que cuidaram dele: "O cara lá de cima estava tentando te dizer. Eles te trouxeram de volta à vida três vezes. Você tem uma família, você tem uma vida. Deixe para lá." - mesmo não voltando à Fórmula 1, Martin teve algumas passagens por outras categorias incluindo o RallyCross em 1992; passagem com vitória na Fórmula Classic em 1995 e também em duas provas da Elise Trophy em 2007, isso sem contar participações em outras provas e categorias.

Juntanto o conselho com o desfecho de Ayrton Senna, Martin descartou de vez o sonho de voltar à Fórmula-1. “A morte de Ayrton em 1994 foi o último prego no caixão. Ele teve uma vida ótima, três vezes campeão mundial — quem sou eu comparado a ele? Então, me concentrei no meu próprio negócio.", completou Donnelly.

Como bem disse Derek Warwick, "Para Martin Donnelly, ter sobrevivido ao acidente foi um ato de Deus." e essa segunda chance tem que ser muito bem aproveitada.

Vida longa a Martin Donnelly.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Foto 852: Martin Donnelly, Mônaco 1990


Martin Donnelly contornando a Lowes, durante o GP de Mônaco de 1990.
Na ocasião o piloto irlandês conseguiu uma boa qualificação, ao colocar o Lotus na 11a posição enquanto que Derek Warwick ficou em 13o. Infelizmente a corrida para Donnelly não durou muito, já que abandonou na volta 6 por problemas de câmbio quando ocupava a décima posição. Porém o duelo entre Donnelly e Warwick nas classificações em 1990 foi bem equilibrado: até a prova de Estoril Warwick vencia por 7x6, até que veio o infeliz GP da Espanha.
Martin Donnelly completa hoje 56 anos.


terça-feira, 26 de março de 2019

Foto 713: Martin Donnelly, Paul Ricard 1989

Martin Donnelly com o Arrows Ford durante o GP da França de 1989, que marcou a estréia do piloto irlandês na F1.
Martin largou na 14a colocação e terminou a prova em 12o, três voltas atrás do vencedor Alain Prost.
O piloto irlandês completa hoje 55 anos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Os 25 anos do Bi: O troco - Final



A volta por cima da McLaren e uma vitória para Thierry Boutsen e Williams

Os desempenhos que foram apresentados nas últimas quatro provas e mais as queixas de Ayrton Senna e Gerhard Berger, fizeram com que a McLaren trabalhasse intensamente no intervalo de quinze dias entre o GP britânico e alemão. Não podiam deixar que a Ferrari tomasse conta de um campeonato que parecia caminhar facilmente para as mãos de Senna. Revisão na suspensão dianteira, melhorias na aerodinâmica e mais a evolução que foi entregue pela Honda para o seu motor, deu a equipe de Woking a chance de ao menos confrontar a Ferrari de igual para igual numa sequência de pistas que favoreciam muito os carros italianos, especialmente em Hockenheim, Spa e Monza.
Em Hockenheim, para a disputa do GP da Alemanha, os treinos classificatórios voltaram “ao normal” tendo a dobradinha Senna/ Berger na primeira fila. De impressionar mesmo foi o ritmo alcançado pelos dois ponteiros com Ayrton a colocar 1,5 segundos sobre o Ferrari de Prost, que aparecia em terceiro, e quase dois sobre Mansell, o quarto - pelo menos na classificação o ritmo dos carros vermelho e branco tinha sido mais satisfatório. Ricardo Patrese e Thierry Boutsen fecharam a terceira fila para a Williams. Piquet saía em sétimo e Gugelmin em 14º. Roberto Moreno enfrentou uma série de problemas em seu EuroBrun, como o principio de incêndio causado por um curto circuito e mais tarde uma carenagem danificada durante a volta rápida e um furo no pneu que o prejudicaram na sua tentativa de passar na pré-qualificação.
Bem diferente do que acontecera nas etapas anteriores onde o McLaren mostrava-se instável em curvas de alta, Senna não teve problemas e conseguiu fazer uma prova tranqüila e nem mesmo a ameaça de Nannini que, por conta de uma escolha de pneus mais duros, estava à frente do piloto brasileiro quando este saiu do box e que mais tarde o superaria na briga pela vitória quando o italiano ficou sem pneus. Mas antes disso, foram 16 voltas com o Senna a estudar como passaria o Benetton afinal de contas ele não poderia ficar muito tempo no vácuo, pois desgastaria demais os pneus, aumentaria a temperatura do motor e a turbulência causada fazia com que perdesse a dianteira. A Onyx de J.J.Lehto acabou ajudando o piloto brasileiro: Nannini atrapalhou-se para tentar ultrapassar o finlandês e Ayrton aproveitou a oportunidade de passá-lo na freada da última chicane e encaminhar-se para a sua quarta vitória no ano e igualar Fangio na tabela de vitórias, ao chegar ao 24ª triunfo da carreira. Para a Benetton, mesmo com os problemas na temperatura do óleo do carro de Nannini a aumentar consideravelmente, o piloto italiano conseguiu chegar em segundo. Piquet também estava em boa situação quando abandonou a prova na 23ª volta por problemas no motor, numa altura que ocupava a terceira colocação.
A Ferrari, que tão bem andou nas últimas etapas, acabou cometendo uma série de erros que foi desde a regulagem do carro para a corrida – com o uso de asas menores para diminuir o arrasto, o motor chegou ao seu limite rapidamente fazendo com que batesse no limitador e não conseguisse usar toda a potência necessária – e falhas nas paradas de box, onde chegaram a perder até 14 segundos para trocar os pneus do carro de Alain que terminaria em quarto. Mansell abandonou na 15ª volta após uma escapada.
Senna e Nannini tiveram a companhia de Berger no pódio, enquanto que Prost foi o quarto, Patrese o quinto, e Boutsen o sexto. Gugelmin abandonou a corrida com o motor avariado na 12ª volta.
A prova da Hungria testemunhou o momento onde nem McLaren e muito menos a Ferrari foram as protagonistas: a Williams estava em grande forma como ficou evidenciado na classificação, com a dobradinha que a equipe conquistara na classificação a direito de primeira pole para Boutsen na categoria. Com Patrese saindo ao lado e numa pista de difícil ultrapassagem, as coisas poderiam acabar bem para a equipe de Frank Williams. Berger e Senna ficaram com a segunda fila, com o austríaco a tomar quase um segundo de Boutsen e o brasileiro ficando a um segundo da marca. Mansell e Alesi apareciam na terceira fila, enquanto que Prost era apenas o oitavo. Piquet ficava em nono e Gugelmin em 17º. Moreno ficava de
fora mais uma vez, barrado por problemas na EuroBrun.
A exemplo que fizera Ayrton em Hockenheim, Boutsen manteve-se na liderança desde a largada com certa folga, mas não perdera em nenhum momento o comando do GP. Teve algumas ameaças de Nannini e de Senna no final por conta do desgaste dos pneus, tanto que Ayrton tentou o bote no final da corrida, mas sem sucesso deixando assim que Thierry vencesse a primeira dele no ano e a terceira na carreira.
Senna teve uma corrida atribulada por conta do desgaste dos pneus que o forçaram parar na 22ª volta para trocá-los, e assim caiu para nono. Recuperou-se bem a ponto de ameaçar a conquista de Boutsen, mas por outro lado teve a mancha do erro devido a sua impetuosidade ao tentar passar Nannini na luta pela segunda colocação e jogar o Benetton para fora da pista quando tentou a manobra na chicane – nos dias de hoje, seria punido no ato. Por outro lado foi um resultado satisfador, já que Alain Prost não completara o GP quando escapou e bateu na entrada da reta por causa do bloqueio nas rodas. 
Berger e Mansell protagonizaram uma cena idêntica e, curiosamente, no mesmo local onde acontecera o enrosco entre Senna e Nannini. Após mais uma batalha, onde o terceiro lugar era o prato principal, Berger foi afoito e bateu em Mansell limando os dois automaticamente do GP. Melhor para Nelson Piquet que ganhou duas posições de presente e foi ao pódio. Patrese terminou em quarto, Derek Warwick garantiu mais dois pontos para a Lotus e Eric Bernard foi o sexto.     
Spa-Francorchamps, com o seu visual peculiar e traçado desafiador, deixou os melhores pilotos da atualidade com a chance de discutir diretamente a vitória naquela pista.
A McLaren monopolizou a primeira fila, sempre com Senna na pole. Prost e Boutsen ficaram na segunda fila, com Mansell e Nannini na terceira. Piquet saía em oitavo, enquanto que Gugelmin  era o 14º. Moreno sofria horrores com a EuroBrun que chegava ao ponto de não ter dinheiro para desenvolver o carro, tanto que a Coloni – que mudara dos doze cilindros da Subaru para os V8 da Ford em Hockenheim – já conseguia passar à frente. A EuroBrun só não era pior que a piada da Life, que demorou a ligar o motor por 50 minutos...
A prova teve três largadas: a primeira foi por conta de um enrosco de Piquet e Mansell, onde o brasileiro tocou na traseira do Ferrari que rodou ficando atravessado na entrada da La Source. Para completar, Nelson também levaria uma batida por trás de Suzuki e as Lotus batiam entre si. Isso forçou uma segunda largada e nessa Piquet, Mansell e  Warwick pegaram os carros reservas. Donnelly ficou de fora por conta de ter apenas um carro reserva e este estar sendo usado por Derek e Suzuki teve o carro reserva destruído no warm-up, o impossibilitava a sua participação. A segunda largada foi normal até o início da segunda volta, quando Martini e De Cesaris bateram na Kemmel e mais atrás Paolo Barilla espatifou a sua Minardi na subida da Eau Rouge, mas sem conseqüências para o piloto italiano.
Na terceira largada - essa sim sem nenhum problema - Ayrton partiu para o comando de uma prova que venceria sem maiores dificuldades. Talvez a presença de Prost pudesse ter lhe dado algum trabalho, pois o francês estava rápido o suficiente para isso como havia mostrado após superar Berger na luta pela segunda colocação e descontar uma desvantagem de cinco segundos para Senna. As paradas de box e o trabalho para superar os retardatários é que decidiram a prova à favor de Senna: enquanto que a McLaren fez um bom trabalho de pit e o piloto brasileiro soube negociar bem as ultrapassagens, Prost teve uma má paragem por conta do mal trabalho da Ferrari e quando estava para superar os retardatários, perdeu tempo com Alboreto. Somando isso ao tempo perdido no pit-stop, foram dez segundos de atraso para Senna. Este último teve apenas trabalho de administrar bem a vantagem e vencer com três segundos de diferença sobre Alain.   
Berger e Nannini travaram um belo duelo pela terceira colocação, mas antes disso a FISA, diante do que aconteceu em Hungaroring, alertou Ron Dennis que seus dois pilotos fizessem mais uma daquelas manobras seriam punidos de imediato. Talvez isso tenha deixado Berger mais comedido na luta contra Alessandro, mas ele admitiria que o Benetton era bem mais veloz em reta e por isso ficava difícil de se aproximar. Mas devido uma atrapalhada de Nannini em tentar passar por Caffi, Berger consegue emparelhar com ele e travar uma disputa que durou algumas curvas, onde o italiano conseguiu se defender bem. Mas com os pneus desgastados, ficava difícil segurar as investidas de Gerhard até que Nannini errou na Eau Rouge e o austríaco passou por ele. Piquet foi o quinto e Gugelmin chegou ao primeiro ponto no mundial, ao terminar em sexto.
As imagens que ficaram mais claras na etapa da Itália foi do acidente brutal de Warwick logo no término da primeira volta e do aperto de mão de Senna e Prost durante a coletiva de imprensa após a corrida, numa breve reconciliação dos dois rivais.Mas a verdade é que a corrida italiana foi uma continuidade da batalha que tinha sido vista em Spa quinze dias antes.
Desta vez ambos estavam na primeira fila, com um pole que Senna arrancara de Prost nos minutos finais e jogando um balde d’água fria nos tiffosi, que acabaram por aplaudir a tremenda volta que Ayrton conseguira para aquela pole. Berger e Mansell, os dois lutadores de sempre, estavam na segunda fila e Alesi com Boutsen na terceira. Piquet e Gugelmin formaram a quinta fila enquanto que Moreno, para variar, ficava encalhado na pré-qualificação.
Apesar de uma largada limpa com os dois Mclarens a pular na dianteira e Prost levar uma bela ultrapassagem de Alesi na freada para a chicane Roggia, o acidente de Warwick assustou quando ele saiu com tudo para fora da Parabólica e bateu forte, desintegrando o carro. Derek saiu sozinho e com a adrenalina a mil, saiu para pegar o carro reserva. Infelizmente ele não completaria a prova, abandonando-a
na 15ª volta com problemas de embreagem.
Na segunda largada o cenário repetiu-se da mesma forma, com os McLaren a partindo melhor e Alesi assumindo o terceiro posto. Mas o francês da Tyrrell, com a sua pilotagem extremamente agressiva, acabou rodando na primeira chicane na abertura da quarta volta quando estava aproximando-se de Berger. Alain voltou ao terceiro lugar e na 21ª volta é que passa por Berger que começara a enfrentar problemas nos freios. Daí e diante é que começou o duelo à distância dos dois postulantes, com Senna a aumentar a diferença de 3,5 segundos para 7,8 e administrar essa vantagem até o final da corrida, com ambos a fazerem a melhor volta constantemente em resposta ao outro. Porém Alain teria novamente um golpe de azar, como acontecera na Bélgica, ao perder tempo com os retardatários e desta vez foi De Cesaris que o fizera perder três segundos.
Além de Senna e Prost, Berger também foi ao pódio mesmo com os problemas nos freios, até porque Mansell, que fechara em quarto, não tinha condições de atacá-lo por problemas no acelerador. Patrese foi o quinto e Nakajima o sexto. Azar para as duas Benettons: quando Nannini foi ao box efetuar a sua parada, um problema na embreagem fez com que o motor apagasse e logo em seguida apareceu Piquet com um pneu furado e com isso o atraso foi inevitável e seus dois pilotos acabaram de fora da casa dos pontos, com Piquet em sétimo e Nannini em oitavo. Gugelmin abandonou com o motor estourado na 24ª volta.
Após um período onde a Ferrari aproveitou bem os problemas da McLaren para cravar três vitórias com Prost, Senna e McLaren reagiram a tempo e consegguiram derrotar a Ferrari e Prost em dois territórios que mais parecia favorável ao carro italiano. Isso foi mais que importante para as pretensões do brasileiro rumar ao bi-campeonato, tanto que Senna agora somava dezesseis pontos a mais que Prost (72x56) na tabela de pontos. Berger ainda era o terceiro com 37; Boutsen o quarto com 27 e Piquet o quinto com 24.


A reação de Prost, o acidente em Suzuka e o GP 500 para Nelson Piquet
          
Estoril presenciou uma prova estonteante por parte da Ferrari que pela primeira vez no ano oferecia ao seu par de pilotos um carro extremamente bem acertado, que deixou Prost e Mansell um passo à frente das Mclarens nesse GP português. A começar pela disputa pela pole, onde Mansell respondeu à altura todas as tentativas de Prost e Senna em tomar-lhe a posição de honra. A verdade é que o piloto brasileiro não estava tão à vontade com esse carro em Estoril, tanto que por mais que tentasse, não conseguiu baixar da casa de 13’6 na classificação ocupando assim a terceira posição e tendo Berger ao seu lado. Prost é quem deu combate à Mansell, mas este estava mais veloz e garantiu a sua terceira pole no ano e a Ferrari voltava a ter dois carros na primeira fila desde o GP da Grã-Bretanha de 1988. A terceira fila era dividida entre Patrese e Piquet. Mauricio Gugelmin garantiu o 14º lugar. Já Moreno, não tem muito que fazer, a não ser esperar por dias melhores...
A corrida poderia ter sido um passeio das duas Ferraris se não fosse ímpeto exagerado de Mansell a espremer Prost contra o muro no melhor estilo “Senna-Estoril 1988”, quando o brasileiro fez a mesma manobra contra Alain. Mas o “Il Leone” pediria desculpas após a corrida, mas naquele momento os estrago estava feito: as duas Mclarens cortaram por fora e viraram a curva com a dobradinha Senna/ Berger, enquanto que Mansell seguia em terceiro e Prost caía para quinto ao ser ultrapassado por Piquet. Apesar do ceticismo frente aquele cenário, Mansell – que quase pôs tudo a perder quando bateu rodas com o Ligier de Phillippe Alliot, no momento que estava a colocar uma volta nele – recobrou a sua pilotagem e passou por Ayrton na 49ª volta, numa manobra que lembrou o de 1989 quando os dois se enroscaram e saíram da prova. Mas desta vez Senna estava mais consciente e viu que não valia a pena lutar contra um carro que
naquele momento estava muito superior à ele. Prost conseguiu recuperar-se ao passar por Berger que enfrentava problemas de câmbio na 58ª volta e começou alcançar Ayrton, quando a prova foi interrompida na 62ª passagem devido o acidente de Caffi que machucara os tornozelos e ficara impossibilitado de sair sozinho do carro. Para Senna foi um alívio e para Prost uma frustração, pois havia perdido mais dois pontos para o seu rival e agora a desvantagem subia para 18 no mundial. Essa prova renderia um bocado de reclamações por parte do francês, que chegou a dizer que “a equipe não tem direção nem organização para fazer um trabalho de equipe” e completou ao falar que “estava decepcionado com a Direção Esportiva da equipe que desperdiçou todo o trabalho feito pela equipe técnica”. De fato a paciência de Prost, que havia passado tanto tempo numa equipe tão bem organizada como a Mclaren, estava a explodir na equipe italiana. Mas a verdade é que isso aconteceria um ano depois...
Berger ainda conseguiu sustentar-se na quarta colocação, com Piquet chegando em quinto e Nannini em sexto. Para a Williams a prova foi bem atribulada, dentro e fora da pista: Patrese teve uma escapada e primeira curva e precisou trocar os pneus por duas vezes e Boutsen abandonou com problemas no motor na volta trinta. A equipe ainda tomaria um susto nos boxes, quando uma explosão deixou um mecânico machucado e Frank Williams caiu de sua cadeira por conta disso.  
Na Espanha, no travado circuito de Jerez De La Frontera, o susto e preocupação deram o tom daquele fim de semana: Martin Donnelly, ainda na primeira tomada de tempos, estava em sua volta rápida quando saiu direto para o guard-rail da curva Ferrari – que era feita de pé cravado – e destruiu totalmente a sua Lotus
ao bater. A pancada foi tão forte – num guard rail montado cerca de dois, três metros da pista – que o Donnelly foi projetado com banco e tudo para o meio da pista. A cena parecia de uma de uma bomba que acabara de explodir, com o Lotus apenas com a traseira quase que inteira e a frente inexistente e mais à frente, o corpo de Donnelly ainda amarrado ao banco. Apesar de toda a brutalidade, Martin ainda estava vivo e o Dr. Sid Watkins com sua equipe médica rapidamente o imobilizaram e o levaram para o Hospital Virgen Del Rocio, em Sevilha, onde foi diagnosticado várias fraturas nas pernas, pulmão perfurado, queixo fraturado e outros problemas mais. Porém Martin acabaria por salvar-se, felizmente.
Após toda essa tensão, os pilotos continuaram a classificação e Senna, no sábado, cravava mais uma pole, a 50ª da sua carreira, enquanto que teve um Alain Prost decidido que muito pouco não ficou com a primeira posição. Mansell e Alesi, que fizera um ótimo treino, eram os donos da segunda fila. Berger e Patrese estavam na terceira fila, com Boutsen e Piquet na quarta. Gugelmin aparecia em 12º e Moreno fica na pré, mais uma vez.
A disputa entre Senna e Prost decidiu-se nos boxes, mas não antes do francês passar 24 voltas atrás do piloto brasileiro por conta de não ter pontos claros de ultrapassagem nos outros pontos da pista. Apenas na reta dos boxes é que poderia conseguir algo, mas a melhor aceleração do motor Honda dava a chance de Ayrton abrir naquele trecho. Mas quando começaram as paradas de box, é que Alain deu o bote: ele parou na volta 24 e Senna na 25, mas o trabalho da Ferrari foi mais eficiente e quando Ayrton saía dos boxes as duas Ferrari iam à sua frente, mas ainda deu tempo dele recuperar-se sobre Mansell que descuidara após
deixar Prost passar. Alain alcançou e passou por Piquet, que liderava naquele momento e foi abrindo grande vantagem sobre Ayrton. O piloto brasileiro agüentaria bem no segundo posto até que um furo no radiador deu cabo a sua corrida na volta 53, deixando caminho aberto para que a Ferrari fizesse uma dobradinha que não acontecia desde o GP da Itália de 1988. Alessandro Nannini salvou um belo terceiro lugar, seguido por Boutsen, Patrese e Suzuki. Gugelmin terminou em oitavo e Piquet abandonou na volta 47 com problemas elétricos.
A diferença entre Senna e Prost caía para nove pontos (78x69) e o campeonato teria o seu primeiro “Match Point” num terreno que ambos conheciam bem: Suzuka.
Os últimos três anos de GP do Japão tinham sido de decisões: em 1987 as coisas resolveram-se ainda nos treinos quando Mansell espatifou a sua Williams nos esses e não pôde correr, adiantando o título para Nelson Piquet; em 1988 a fabulosa recuperação de Ayrton Senna após uma péssima largada, aonde ele veio a conquistar o seu primeiro mundial; e 1989, bem... Esse todos já sabem bem de que forma terminou e a verdade é que o mundial de 1990 mais pareceu uma continuação daquele desfecho de um ano antes, do que apenas um novo campeonato que partira do zero. E mais uma vez os dois protagonistas do ano anterior estavam frente à frente para o tal duelo, mas com a vantagem pendendo para Senna ao contrário que tinha sido em 89. Agora Prost era o franco atirador.
O GP de 1990 poderia render um livro, um filme talvez, tamanha tensão e pormenores que rolou durante aquela semana a começar pela quarta-feira quando os pilotos solicitaram a mudança da posição do pole para a parte mais limpa (a da esquerda), onde a tração é muito melhor. Para a Federação Japonesa estava tudo ok, mas a FISA interveio e não permitiu a troca, o que já enfureceu Ayrton e apesar de todos os pedidos do piloto brasileiro para a tal mudança, ela foi ignorada pelos homens da FISA – leia-se Jean Marie Balestre. As coisas pareceram piorar quando os comissários indicaram aos pilotos que, se caso passassem por sobre a faixa de entrada dos boxes, os mesmos seriam punidos, e para completar o quadro de recomendações – e isso foi o que mais enfureceu Ayrton – qualquer piloto que escapasse a chicane poderia voltar pelo atalho. Para Senna foi a gota d’água! Se um ano antes ele havia feito isso e tinha sido desclassificado, porque agora as coisas seriam diferentes? Até mesmo Nelson Piquet questionou essa mudança de regras, utilizando o exemplo do incidente do ano passado. Após isso, Ayrton deixou o briefing dos pilotos, mas não chegou a ouvir a os comissários que voltaram atrás dizendo que os pilotos deveriam voltar pelo lugar onde tinham escapado.
No sábado Senna anotara a sua 51ª pole e teria ao seu lado no domingo a presença de Prost, que sairia na parte mais aderente. Mansell e Berger formavam a segunda fila, com Boutsen e Piquet na terceira. Roberto Pupo Moreno foi chamado para substituir Alessandro Nannini, que dias antes sofrera um acidente de helicóptero e tivera uma parte do braço decepado, e agora saía em oitavo. Mauricio Gugelmin largaria em 15º. Jean Alesi não participou deste GP devido um acidente que sofrera na sexta-feira, quando o Tyrrell teve problemas na suspensão e bateu na primeira curva. As fortes dores no pescoço impossibilitaram-no de continuar no resto do fim de semana e consequentemente, na corrida. Outro piloto que fazia o seu retorno era Johnny Herbert, que substituía Martin Donnelly na Lotus. Não houve pré-qualificações, pois a EuroBrun e Life estavam de fora do restante do campeonato devido a falta de dinheiro – o que não faria falta também, uma vez que estavam apenas para fazer número e mais nada. Com isso a Coloni, AGS e Osella partiram direto para a classificação, mas não obtiveram nenhum lugar no grid.
Toda aquela animosidade gerada desde o GP do Japão de 1989 parecia ter se concentrado todo no GP daquele ano. Tudo que acontecera desde aquele dia em 1989, passando pelos julgamentos que aconteceram posteriormente, com as juras da FISA em suspender Ayrton caso ele fizesse algo de errado nos seis meses seguintes – ou nos três GPs que estavam em vigência naquele período, que eram os da Austrália (89), EUA e Brasil (90) – mais todas as reuniões e que aconteceram durante aquela semana em Suzuka, foram postas naquela largada. Quando a largada foi autorizada, Prost ganhou terreno como era de se esperar, mas Ayrton ganhou velocidade até a entrada da primeira curva. Alain abriu para o tangenciamento correto da curva, Senna mergulhou por dentro... e o choque entre os dois, onde os dois carros desapareceram no meio da densa poeira da caixa de areia da curva 1. O campeonato já estava decidido daquela forma a favor de Ayrton. As frustrações e tensões dos últimos meses tinham sido resolvidas em poucos metros.
A corrida transcorreu normalmente, apesar da espera por uma batalha entre os dois melhores pilotos da atualidade ter sido encerrada de uma forma não positiva para o esporte. Berger parecia ter agora a grande chance de vencer a sua primeira corrida pela McLaren, mas escapara na mesma curva 1 devido aos destroços do acidente de uma volta atrás. Mansell assumiu a dianteira e também parecia certo de uma vitória tranqüila, devido o seu grande passo frente as Benettons de Piquet e Moreno. Mas a sua parada para a troca de pneus foi desastrosa, não por parte da equipe, mas sim por ele, que arrancou com tudo e quebrou a transmissão. O caminho ficava aberto para a vitória de Piquet, a primeira dele em três anos – a sua última conquista tinha sido no GP da Itália de 1987 – uma segunda colocação para o bravo Roberto Moreno, que havia passado horrores durante o ano com aquele carro da EuroBrun durante a fase da “degola” que eram as pré-qualificações, e agora ele tinha um carro minimamente competitivo e mostrara de fato as suas qualidades. Completando o pódio, para a alegria do restante do público que ficara após o acidente da largada, Aguri Suzuki levara o seu Larrousse Lamborghini ao terceiro lugar. Ele era o primeiro japonês a conquistar o tal feito e ainda por cima em Suzuka. Não haveria melhor lugar para esse feito. Sem dúvida foi o melhor pódio da década de 90.
Completaram os sei primeiros, Patrese, Boutsen e Nakajima, que salvou um ponto para a Tyrrell – imaginem o que teria sido caso Alesi tivesse participado da corrida, uma vez que o seu trabalho nos treinos estava excelente ao marcar um tempo que o deixaria na terceira colocação no grid. Gugelmin abandonou na quinta volta devido a problemas no motor.
Quinze dias se passariam até a chegada do GP da Austrália no belo circuito citadino de Adelaide, onde a corrida de número 500 da F1 foi realizada. Apesar dos festejos pela tal marca, onde campeões mundiais de outras épocas estiveram presentes – como James Hunt, Jackie Stewart, Denny Hulme, Jack Brabham e Juan Manuel Fangio – o assunto decorrente era sobre o desfecho do mundial em Suzuka, onde os dois protagonistas falaram sobre o caso agora com o sangue mais frio e os pensamentos mais organizados: “Depois de duas semanas de repouso ainda continuo a ver o caso da mesma forma: foi um acidente de corrida, inesperado para mim naquelas circunstâncias. Mas aconteceu, e não havia muito que eu pudesse fazer no momento em que realizei que ia dar naquilo  quando o Prost decidiu voltar para a trajetória. Foi muito triste terminar a corrida assim.
Acho que quem não poderia arriscar, o que fez na hora errada. Ele abriu e sabia que eu tinha de tentar passar por dentro. Tentei e ele fechou a porta. Sei que estava numa posição difícil. Se entrasse por fora, eu o passaria por dentro na aproximação. Se fechasse demasiado a curva sairia por fora, e eu o passaria nessa altura. Deveria ter mantido a trajetória, porque tinha um carro muito melhor que o meu e muitas voltas para ganhar a corrida.
Mas tudo começou errado quando não quiseram trocar o lado da ‘pole position’”. Essa foi a fala de Ayrton Senna durante o fim de semana do GP australiano, ainda defendendo o seu ponto de vista onde para ele o acidente foi de corrida, mas que Prost poderia ter “colaborado” para não acontecer aquilo. Alain também falou, como era de esperar: “Estou absolutamente seguro que ele me bateu deliberadamente. 100% seguro. Foi numa curva que faço de pé em baixo, em 5ª marcha, e o que ele fez foi cortar a curva e bater na minha traseira. Vejam bem que ele não me bateu na roda, mas sim no meio do aerofólio traseiro, sem mesmo bater na roda. Literalmente empurrou-me por trás! Por isso não quero falar mais a este respeito, porque de nada serve para mim, para a F1 ou para o esporte. Tudo é muito ruim. Chegou a um ponto em que é muito difícil trabalhar e, como disse no Japão, isso pode-me levar a abandonar. Tenho filhos, um com 9 anos, e será muito desagradável sentir que ele pode pensar que estou a proceder de modo errado no esporte. Quero ver como as coisas podem e como a FISA pode controlar este tipo de acidentes, para me decidir continuar, até porque gostaria muito de continuar com a equipe Ferrari.” É de entender a revolta de Prost com tudo que aconteceu em Suzuka, mas por outro lado as movimentações nos bastidores em 89 lá mesmo no Japão, poderiam ter sido evitadas e talvez as conseqüências vistas quinze dias atrás em Suzuka, jamais teriam acontecido. Como se diz, toda ação gera uma reação.
Voltando ao fim de semana de Adelaide, Ayrton fez a 52ª pole da sua carreira e a décima na temporada. Berger fechou a primeira fila para a McLaren, enquanto que Mansell e Prost monopolizavam a segunda para a Ferrari. Alesi, recuperado do acidente em Suzuka, era o quinto com Patrese em sexto. Piquet e Moreno eram os donos da quarta fila e Gugelmin era o 16º.
Teoricamente a corrida poderia ter ficado nas mãos de Ayrton Senna, que comandou a prova num ritmo alucinante por 61 voltas. Era um ritmo tão brutal, que naquela altura do GP ele colocava sobre Nelson Piquet, o segundo, 27 segundos de vantagem. Mas aquele ritmo teria conseqüências para os pneus macios que resolver utilizar para aquela prova – aliás, foi a escolha da maioria do grid – quando a borracha começou a desgastar-se e aliando isso aos problemas de freios que ele tinha há várias voltas, tudo tornou-se ainda mais difícil. Senna abandonou na volta 61 por conta dos pneus, freios e um erro na troca de marchas. Talvez uma troca de pneus tivesse lhe dado uma sobrevida naquela prova.
Piquet foi o dono da tarde em Adelaide: senão bastasse a sua ótima performance até ali, assumiu a liderança quando Senna saiu da prova e agora teria que administrar bem os pneus e tentar cuidar do ímpeto de Nigel Mansell, que vinha num ritmo sensacional após ter trocado os pneus na volta 47. “Il Leone” ganhou terreno e um erro de Nelson, ao escapar num dos trechos do circuito, permitiu a aproximação de Nigel. Foi uma batalha interessantíssima pelas quatro voltas restantes, com Piquet a conseguir domar o seu velho rival. Mas Nigel... é Nigel. Não entregaria fácil aquela derrota até que tentou numa última cartada passar Piquet e Modena – que levava uma volta do brasileiro – no final da grande reta. Mansell até que conseguiu, mas passou reto após bloquear as rodas e deixou o caminho aberto para Nelson vencesse a sua segunda prova no ano e escrevesse seu nome como mais um vencedor de provas centenárias na F1. Mansell fechou em segundo, Prost em terceiro, Berger em quarto, Boutsen em quinto e Patrese em sexto. Moreno foi o sétimo e Gugelmin abandonou após uma escapada na volta 27.
O mundial de pilotos terminou com Ayrton Senna na liderança, 78 pontos; Prost em segundo com 71; Piquet e Berger empatados com 43, mas com a vantagem para o piloto brasileiro por ter duas vitórias; Mansell o quinto com 37 e Boutsen e sexto com 34. Roberto Moreno foi o 11º com 6 pontos e Mauricio Gugelmin fechou na 18ª posição com um ponto. No mundial de construtores a McLaren chegou ao terceiro campeonato consecutivo ao marcar 121 pontos contra 110 da Ferrari; em terceiro apareceu a Benetton com 71; em quarto a Williams com 57; em quinto a Tyrrell com 16 e sem sexto a Larrousse com 11.
Por mais que o desfecho pelo título mundial não tenha sido dos mais exemplares, o mundial de 1990 foi dos melhores. O equilíbrio oferecido por McLaren e Ferrari, com breves intromissões de Williams, Tyrrell, Benetton e até mesmo da Leyton House, foram importantes para tirar monopólio – que não estava a ser insosso, muito pelo contrário – das duas grandes e dar a disputa um interesse ainda maior. São nessas situações onde os protagonistas podem perder pontos e, consequentemente, os campeonatos.
Ayrton Senna e Alain Prost estiveram em grande forma, tendo passado por problemas e por fases sensacionais sem que as desperdiçassem. Também foi importante para vermos o surgimento e Jean Alesi, que já havia feito uma corrida de estréia em Paul Ricard um ano antes com muita segurança e arrojo, que foram confirmados com sua fabulosa exibição em Phoenix e no decorrer do mundial. Seria uma atração e tanto observá-lo a partir de 1991 nos carros da Ferrari. Nelson Piquet retomou o gosto pela pilotagem, agora com um carro mais decente, após dois terríveis anos na Lotus. As suas duas vitórias no campeonato, especialmente a de Adelaide, apenas mostrava que o velho tri-campeão ainda sabia bem como comandar a dianteira de uma corrida. Para Roberto Pupo Moreno, que havia passado quase todo ano no sofrimento com a EuroBrun, as duas corridas finais foi uma bela oportunidade que ele agarrou com as duas mãos e o seu pódio em Suzuka foi o presente pelo esforço de uma carreira cheia de percalços. A
Williams começaria ali em 1990 uma evolução que seria muito bem vista em 91, com um carro com a assinatura de Adrian Newey e a bravura de um Nigel Mansell agora com o tratamento de primeiro piloto. O horizonte que se desenhava para eles era dos mais promissores.
A McLaren e Senna teriam um ano ainda mais trabalhoso para 1991.

GP dos EUA 2025 - Video

 Um breve comentário sobre a qualificação para a Sprint Race que definiu o grid de largada. A prova será neste sábado, a partir das 14 Horas...