Há dias que as coisas não andam bem. Isso é algo que faz
parte do cotidiano e este GP alemão foi uma amostra de como as coisas podem
caminhar mal e de uma hora para outra dar certo, e também fazer o caminho
inverso. No sábado uma desastrosa atuação da Ferrari tirou seus dois carros de combate
na classificação, sendo que Vettel nem participou por causa de problemas no
turbo e Leclerc, que conseguira avançar para o Q3, nem participou por causa de
problemas na injeção de combustível. Uma ducha bem gelada numa classificação de
prometia ser das melhores deste ano devido a grande proximidade que eles tinham
em relação a Mercedes. Esta última conseguiu cravar a pole com Hamilton, sem
grandes oposições e Max Verestappen conseguiu quebrar uma possível dobradinha
da equipe alemã ao se meter entre os dois carros prateados. Apesar de ser uma
corrida que se desenhava para a Mercedes, é sempre algo a se considerar quando
se tem um piloto como Verstappen ao lado.
Porém a corrida foi
outra coisa: dificilmente alguém apostaria numa tarde tão caótica para a
Mercedes e seus pilotos, principalmente após um inicio tão sólido por parte de
Hamilton que vinha abrindo uma boa vantagem, inicialmente para Bottas e depois
para Max – que se recuperara da má largada. Mas a escolha de pneus slick para
uma pista que volta e meia parecia secar e depois molhar, foi o convite para
uma tarde para ser tomada como grande lição aos anfitriões: Lewis relutou em
trocar para slick, mas acabou aceitando a ideia e quando o fez, não conseguiu
segurar o carro na última curva do circuito e batendo na barreira de pneus e
danificando a asa dianteira. Foi o inicio de uma série de trapalhadas,
começando pelo corte de caminho que o inglês deu na entrada de box – que já
havia feito em 2018 e não resultado em nada, ao contrário deste ano que acabou
tomando cinco segundos de punição – e depois na casa de loucos que a Mercedes
se transformou assim que o inglês chegou para a sua troca, uma vez que não
estavam preparados para aquilo. Para uma equipe que tanto blefou nos pitstops,
não souberam lidar com o imprevisto e isso custou mais de 50 segundos. Um
desastre que foi maior após o abandono de Valtteri Bottas, que não foi capaz de
superar Lance Stroll na luta pelo terceiro lugar e acabou rodando e batendo na
curva 1 – lugar onde Hamilton fizera algo parecido, mas que escapara ileso. Uma
corrida que prometia ser uma grande festa pelos 125 anos de automobilismo e
também de envolvimento da Mercedes na competições, acabou por ser a mais
desastrosa da fabrica alemã – que desembolsou 25 milhões de euros para a
manutenção da corrida – neste seu período vitorioso que se iniciou em 2014.
A exemplo das duas Mercedes, Charles Leclerc também teve –
apesar de pequena – uma hipótese de conseguir algo maior nesta corrida. Seu ritmo
era bom, conseguindo até se aproximar de Max e Bottas, mas o seu erro no mesmo
local onde mais tarde Hamilton viria errar, custou uma boa oportunidade de
tentar uma vitória – visto o que aconteceu ao duo da Mercedes em seguida. É
claro que não dá para adivinhar as coisas, mas ao olhar o que aconteceu depois
certamente deve bater um remorso daqueles.
Alheio a tudo isso e seguindo uma cartilha onde a cautela é
primordial, Sebastian Vettel fez uma prova de recuperação muito boa. Mas temos
que dizer que, mesmo fazendo uma bela largada, o piloto alemão passou boa parte
da corrida encaixotado na Alfa Romeo de Kimi Raikkonen sem conseguir esboçar um
ataque. Após uma escapada de Raikkonen no famigerado local é que Vettel pôde
subir para sétimo, mas mesmo assim ainda não conseguira entrar na casa dos
cinco primeiros devido as paradas de box que o jogava para o meio do pelotão.
Sebastian soube bem duelar com os pilotos pelas posições, arriscando as
ultrapassagens em locais de segurança como no hairpin, onde a asa móvel é
acionada e também escapando das armadilhas. E como ele bem disse, soube
aproveitar-se dos cuidados que os demais a sua frente vinham tendo com os
slicks para ultrapassá-los e subir para a segunda posição, voltando ao pódio
desde o polêmico GP do Canadá. Uma tarde bem diferente daquela de um ano atrás,
onde quase todos indicam que foi onde se iniciou o seu inferno astral – apesar de
eu discordar e apontar o GP da Itália como inicio dessa fase complicada.
O bom desempenho de outros pilotos também foi destaque:
Sainz vem crescendo de produção junto a Mclaren e neste GP ficou ainda mais
evidente sendo um dos que poderiam ter conquistado um pódio; Stroll também
conseguiu seu brilhareco com uma boa leitura da prova por parte de seu
engenheiro e também com um bom trabalho do próprio Lance, que soube suportar as
investidas de Bottas; Alex Albon
continua a fazer seu caminho com boa apresentações e a exemplo de Sainz
e Stroll, também teve certa chance de conseguir um pódio neste GP e foi mais
uma demonstração do talento que o jovem tailandês reserva.
Max Verstappen continua a arrancar suspiros da grande massa
laranja que vem acompanhando o piloto holandês nas corridas e também outros que
tem se afeiçoado ao piloto, devido a sua bravura ao volante do Red Bull. Ainda
mais neste ano, onde suas apresentações tem tido um misto inteligente de
agressividade e cuidado na hora de atacar e finalizar as manobras de
ultrapassagem e neste GP foi ainda mais evidente com ele tendo total paciência para
atacar Valtteri e mesmo após a sua rodada, que poderia ter custado a futura
vitória. A sua condução neste tipo de condições só faz ainda mais aflorar o seu
talento e esta corrida foi a prova do amadurecimento do jovem holandês que
chegou a sua oitava conquista na Fórmula-1.
E para encerrar, Daniil Kvyat foi ao pódio com uma atuação
brilhante ao perceber junto de seu engenheiro que as condições de pista davam
para pôr os slicks e arriscar. Foi uma manobra que lhe valeu o pódio e que
podia muito bem ter lhe rendido um segundo lugar, algo que ficou distante
quando teve em Sebastian Vettel um oponente difícil de segurar. Mas o terceiro
lugar foi uma vitória importante para um piloto que esteve em dias bem
complicados naquele ano de 2016 e que ficou quase que de lado, conseguindo uma
vaga de piloto de testes na Ferrari e depois voltando para socorrer a Toro
Rosso neste ano e que talvez possa até mesmo retornar a Red Bull, de onde
acabou saindo por baixo após os acontecimentos do GP da Rússia de 2016. Um
resultado importante que, somado ao nascimento de sua filha com Julia Piquet no
sábado, foi sem dúvida um grande final de semana para a vida de Kvyat.
A Red Bull também tem o que festejar, pois três pilotos que
fazem ou fizeram parte de seu plantel foi ao pódio – isso sem contar em Sainz e
Albon, que chegaram em quinto e sexto. Foi um dia espetacular para o programa
da Red Bull.