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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A tragédia de Dundrod, 1955



A terceira vitória: Stirling Moss comemora o seu terceiro triunfo no circuito irlandês
(Foto: emercedesbenz.com)

Para aqueles que tiverem acesso aos livros de história do Mundial de Carros Esporte, verá que as batalhas entre Mercedes, Jaguar e Ferrari na temporada de 1955, foram das mais ferrenhas do motorsport de todos os tempos. Os duelos entre  Jaguar e Mercedes, principalmente, foram o ponto alto daqueles tempos, onde tanto os ingleses quanto os alemães, conseguiam extrair o máximo de tecnologia para a construção de seus carros. A disputa hipnótica que estava acontecendo em Le Mans foi uma prova disso: a eficiência mecânica dos Mercedes 300SLR sendo postos a testes frente a velocidade pura dos elegantes Jaguares D-Type, fazendo daquela disputa totalmente uma loteria e que poderia ser decidida na última hora numa chegada cinematográfica... Ou decidida por uma quebra, tamanha era o ritmo brutal que as duas fábricas colocaram naquelas horas iniciais. Mas o terrível acidente entre Lance Macklin e Pierre Levegh, que levou outras oitenta vidas, devido os destroços do Mercedes de Levegh que voou por sobre a arquibancada principal, ensombrou a competição. Apesar das várias discussões que aconteceram no decorrer das horas pós-acidente, a Mercedes tomaria a decisão de retirar seus carros do certame. Por mais que essa decisão tenha afetado diretamente as suas duas duplas, que estavam com chances de sair de Sarthe com a segunda conquista para a marca em três anos, acabou por ser a mais correta frente ao que havia acontecido no inicio da noite. A Jaguar também receberia essa sugestão da Mercedes, mas deu de ombros, deixando para que a dupla Mike Hawthorn e Ivor Bueb vencesse as 24 Horas de Le Mans.
Após todos estes acontecimentos, o Mundial voltaria três meses depois, para a disputa do Tourist Trophy – que estava noseu Jubileu de Ouro na época – em Dundrod, na Irlanda.
A pista irlandesa situada ao leste de Belfast, já era bem conhecida pelos pilotos do Mundial de Sportscar devido a outras duas visitas em 1953 e 54. As provas pelos quase 12 km do traçado de Dundrod, encravado numa zona rural, era de ruas bem estreitas que mal cabiam um carro. Por outro lado era bem
O traçado de Dundrod
veloz e isso era o que mais assustava: pela proximidade de barrancos, arbustos, árvores, cercas de arame farpado e de madeira, ladeavam aquela estreita pista, qualquer escapada em alta velocidade teria proporções bem dramáticas. Isso sem contar nas várias curvas com pontos cegos, curvas velozes feitas em descida... E por aí vai. John Fitch, piloto americano da Mercedes, era um dos críticos ferrenhos daquele circuito.
O Tourist Trophy se deu nos dias 15, 16 e 17 de setembro - existe uma confusão de datas dessa corrida, onde em alguns lugares ela indica ter sido no dia 17 e outros no dia 18. A maior parte confirma o dia 17 - e reuniu 55 carros para os treinos, sendo que cinqüenta é que obtiveram lugar no grid de largada. A Mercedes levou três 300SLR para Juan Manuel Fangio/ Karl Kling (#9), Stirling Moss/ John Fitch (#10) e Wolfgang Von Trips/ André Simon (#11). A Jaguar levou apenas um D-Type #1 para esta prova que foi conduzido por Mike Hawthorn/ Desmond Tettirington. A Ferrari, que defendia a liderança no Mundial de Marcas, levou três carros: Eugenio Castellotti/ Piero Taruffi (#4); Umberto Maglioli/ Maurice Trintgnant (#5) e Olivier Gendebien/ Masten Gregory (#6). Alguns nomes que fariam sucesso na F1 nos anos seguintes, também estiveram presentes nessa prova: Colin Chapman dividiu o volante da sua Lotus Climax Mark IX com Cliff Allison e obteve a segunda colocação na classe S1.1 e a 11ª posição no geral; Jack Brabham esteve presente no fim de semana, quando dividiria o Cooper Clima T39 com Jim Mayers.
Os treinos foram de domínio da Mercedes, especialmente com Moss/ Fitch, que conseguiram a pole position, mas em segundo aparecia o solitário e temido Jaguar de Hawthorn/ Tettirington. Em terceiro o Ferrari de Gendebien/ Gregory, seguido pelo Mercedes de Fangio/ Kling. As três melhores fábricas da competição dividindo as quatro primeiras colocações. Certamente, para o público que estaria presente no dia seguinte e mais a imprensa, aquele Jubileu de Ouro do Tourist Trophy tinha tudo para ser um dos melhores. Mas infelizmente não foi...
O dia da corrida amanheceu com tempo quente, mas a previsão para o momento em que a corrida se desenvolveria era de chuva. Os contratempos já começaram no treino de aquecimento, quando Gendebien sofreu um acidente e destruiu o seu Ferrari, impossibilitando a sua participação na corrida de logo mais. Masten Gregory, que dividiria a Ferrari com o belga, não ficou a pé: conseguiu uma vaga no Porsche 550 Spyder junto de Carroll Shelby e o resultado final foi a vitória na classe S1.1 e a 10ª colocação no geral.
 A largada foi feita no estilo Le Mans e Moss aproveitou bem a ocasião para fazer uma bela partida, deixando toda a confusão para trás e imprimindo um ritmo forte naquele início. Mas aquela volta inicial foi de uma carnificina total: Visconde Du Barry, um daqueles ricaços que alugavam carros de corridas para se divertir, acabou por correr com uma Mercedes 300SLR na classe S3.0 sendo o único privado daquele grupo de elite, mas a sua pilotagem era a pior possível: uma largada que atrasou um bom número de competidores, formou atrás dele um grande comboio que resultou na tragédia quando Jim Mayers (Cooper Climax) tentou ultrapassá-lo numa seção de curvas em descida. Na manobra, o inglês perdeu o controle de seu Cooper e voou de encontro a um poste de concreto onde o carro explodiu e o piloto morreu instantaneamente. Com os fiscais de pista sinalizando incansavelmente, alertando o perigo ao outros competidores, as coisas pareceram piorar quando sete carros também se acidentaram nas proximidades do local onde Mayers perdera a vida. Infelizmente Bill Smith, pilotando um Connaught, teve destino semelhante ao e Jim quando seu carro caiu sobre os destroços do Cooper. Smith morreria horas depois. Num curtíssimo espaço de tempo, cerca de duas voltas, e dois acidentes mortais no mesmo local. A sombra da tragédia de meses antes em Le Mans estava de volta em Dundrod. Du Barry continuou na prova até a 39 volta, quando foi recebeu bandeira preta por causa sua lenta condução. Segundo fiscais de pista, o Visconde chegou a estar fumando enquanto conduzia o carro...
A corrida voltou a sua “normalidade”, com o duelo entre Mercedes e Jaguar a reeditar a batalha que ambas travaram em Le Mans meses antes: uma verdadeira caça de gato e rato, onde Hawthorn, na tentativa de não deixar a Mercedes de Moss escapar, cravava voltas velozes e entre elas a melhor da corrida: 4’42’’0. Mas
Mike Hawthorn estava próximo da conquista do Tourist Trophy, quando
o motor do Jaguar o deixou na mão
(Foto: Graham Gauld)
Stirling não contava com um pneu estourado no seu Mercedes, onde a borracha passou a dechapar e danificar toda a lateral traseira direita. Moss conseguiu levar o carro ao box, onde foi reparado, mas a liderança tinha ido para as mãos da dupla da Jaguar e agora a distância era bem maior. Moss e Fitch passaram a imprimir um desempenho alucinante para descontar toda essa desvantagem. E foi neste momento que a previsão confirmou-se e toda a pista já estava tomada pela chuva. Mais um pouco de drama numa corrida caótica e traumática até ali. Na volta 35 a morte voltou rondar a prova quando Richard Mainwaring, com um Elva Climax, perdeu o controle e saiu da pista e capotou. Sem conseguir sair rapidamente de um carro em chamas, o piloto acabou por morrer ali mesmo. Uma terceira morte era demais para um evento que tinha tudo para ser o mais festivo...
A batalha entre Mercedes e Jaguar continuou pelas voltas que se seguiram, sempre com a dupla da Mercedes a cravar voltas velozes e a dupla da Jaguar a rechaçar qualquer tipo de ameaça. A vitória parecia garantida para a Jaguar quando, na volta 81, Mike Hawthorn encosta o carro com o motor quebrado. A vitória cairia no colo de Moss - a terceira dele naquele traçado - e Fitch, coroando um fim de semana perfeito para a Mercedes que ocupara as outras duas posições com Fangio/ Kling e Von Trips/ Simon. Foi um breve consolo para a fábrica alemã aquela vitória após os eventos de Sarthe.
Para o esporte, que ainda vivia com a tragédia de Le Mans, a corrida em Dundrod foi para esquecer. 


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Foto 297: RAC Tourist Trophy, Dundrod 1955

Moss e sua Mercedes 300 SLR em Dundrod, 1955
Apesar do circuito de rua mais famoso da Irlanda seja o traçado utilizado para o Tourist Trophy, que acontece anualmente na Ilha de Man, o país possui outro belo traçado: situado no condado de Antrim, a pista de Dundrod - que a exemplo da pista da Ilha de Man, também utiliza vias públicas - teve a sua primeira corrida em 1950 com uma etapa para carros esporte e com vitória de Stirling Moss a bordo de um Jaguar XK120 - vitória que ele repetiria no ano seguinte com uma versão C do Jaguar XK120.
A pista irlandesa, no seu início, tinha 11.934Km de extensão e em 1965 sofreu uma pequena redução para 11.910Km. O World Sports Car Championship realizou três edições na pista irlandesa entre 1953 e 1955, tendo como vencedores Peter Collins/ Pat Griffith em 1953 (Aston Martin DB3S); Gerard Laureau/ Paul Argmac em 1954 (DB-Panhard) e Stirling Moss/ John Fitch em 1955 (Mercedes-Benz 300 SLR).
A prova de 1955 foi a quinta e penúltima etapa do WSCC e, como já foi dito, contou com a vitória da Mercedes de Moss e Fitch, seguidos pelo outros dois Mercedes 300 SLR da dupla Juan Manuel Fangio/ Karl Kling e Wolfgang Von Trips/ Andre Simon/ Karl Kling. Esta prova reviveu as imagens da tragédia de meses antes em Le Mans: três pilotos perderam a vida durante as primeiras 34 voltas das 84 que foram realizadas naquele dia. Ainda na primeira volta Jim Mayers (Cooper T39) bateu em um pilar de concreto explodindo o seu carro de imediato - o que ocasionou a morte instantânea do piloto - e como não bastasse, William Smith (Connaught AL/SR) acabou por ser atingido neste acidente, vindo falecer mais tarde. Quando a chuva apertou por quase todo o circuito, alguns acidentes se sucederam e entre eles Richard Mainwaring (Elva-Climax) veio falecer após um acidente na volta 34. Após esta prova, o RAC Tourist Trophy voltou a fazer parte do calendário do WSCC em 1958 no circuito de GoodWood e ano passado o troféu do RAC Tourist Trophy foi dado aos vencedores das 6 Horas de Silverstone. Coube à Allan McNish/ Tom Kristensen/ Loic Duval (Audi R18 e-tron quattro) receber o mítico troféu.
Já a pista de Dundrod, atualmente, sedia a Ulster Grand Prix que é destinada a motos e tem sua realização desde 1922.

Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...