Falar sobre testes de pré-temporada torna-se um verdadeiro
tiro no escuro, onde se sabe que você apenas atira, mas não sabe onde vai
acertar a bala. Dificilmente você saberá qual o cronograma adotado pelas equipes
para vários estágios dos dias e tudo que escreverá, ou dirá, é apenas um
achismo. Mas se acerta também, pode se vangloriar e até mesmo seguir uma vida
de vidente. Vai-se ganhar dinheiro com isso, ou não, é outra história.
Mas a verdade é que nestes tempos, onde o dinheiro anda
contado e as informações andam quase que na velocidade da luz, pouco sentido
faz em ficar enganando com voltas voadoras apenas para ganhar manchetes. É
claro que, para uma equipe média/pequena, isso é um trunfo bem manjado e sempre
tem algum que acredita – ou finge que acredita – para acabar apoiando
financeiramente e ter o nome de sua empresa estampando as laterais de um carro
de corrida, mesmo que esta se arraste no final do pelotão por todas as corridas
do ano. Mas uns minutinhos – ou segundos – de exposição televisiva vão bem, não
é mesmo? Portanto, aqueles primeiros dias onde a Ferrari e Sauber comandaram
como quis, mostraram o quanto que os seus carros estão bem melhores para esta
temporada, tanto que continuaram a andar bem nos oito dias que se seguiram em
Barcelona, mas não com a mesma intensidade. Afinal de contas, estavam a
trabalhar velocidade de ponta para os seus respectivos carros, coisa que
continuou forte para o time suíço enquanto que a Ferrari partiu para outros programas
de acerto. Porém, a confiabilidade alcançada por ambas, foi o ponto alto para o
trabalho dos dois teams que apresentaram pouquíssimos problemas.
Os dias iniciais de testes tendem a pregar boas peças, mas
também nos deixam algumas dúvidas que são respondidas parcialmente à medida que
avançam os dias de trabalhos. A Mercedes apresentou quatro dias de longa
quilometragem em Jerez, para depois iniciar uma tímida escalada nos tempos de
voltas nos quatro primeiros dias em Barcelona e no fim mostrar a real força do
seu carro. A Williams fez um trabalho semelhante, mas em escala menor, já que
não andou tanto assim em Jerez e que depois mesclou long runs na primeira parte
em Barcelona para andar forte na segunda bateria na pista espanhola. Aliás, os
carros com motor Mercedes continuam muito bem, como mostraram a Lotus e Force
India: se o time de Enstone até fez bons tempos com Maldonado e Grosjean, dando
a impressão que o carro deste ano possa ser bem melhor que o fiasco de 2014, a
Force India testou nos quatro dias iniciais em Barcelona com o modelo de 2014,
para depois passar ao que será usado este ano e ter uma boa jornada com Nico
Hulkenberg e Sergio Perez, que computaram 295 voltas em três dias desta última
bateria sem grandes problemas.
Para as clientes Renault foi um período que mais pareceu uma
continuidade de 2014, do que algo novo a ser festejado. Na verdade a Toro Rosso
é quem pode sorrir um pouco mais, pois o seu carro apresentou poucos problemas
e Sainz Jr. e Verstappen fizeram boa quilometragem especialmente em Jerez e na
primeira semana em Barcelona. A Red Bull continuou com alguns problemas de
confiabilidade, mas não tanto quanto na pré-temporada de 2014. Porém é algo que
precisa melhorar bastante e, pelo que parece, a potência do motor Renault ainda
não é das melhores.
Para a McLaren, neste início de nova parceria com a Honda,
os problemas apareceram aos montes, mas os pilotos elogiaram o MP4-30 o que já
algo animador frente às enormes dores de cabeça que o time tem enfrentado.
Mercedes: Pode não
ter dominado amplamente os dias de testes, optando mais pela qualidade que a
quantidade e isso ficou claro nas duas únicas vezes em que colocaram seus
carros na primeira posição. Rosberg e Hamilton surpreenderam a concorrência ao
fazer tempos ainda melhores quando usavam os mesmo tipos de pneus que os
demais, ou até mesmo diferente, como foi o caso de Hamilton para Massa no
sábado ao cravar o primeiro tempo com dois décimos de avanço sobre o brasileiro
utilizando os macios contra os super macios do piloto da Williams.
Fica evidente que estão acima dos demais neste ano, numa clara continuação de
2014. Mas a parte mecânica e elétrica ainda apresenta problemas aqui e acolá,
que podem muito atrapalhar um pouco a equipe germânica.
Williams: Ao
passo que apresentou nestes últimos quatro dias, onde resolveu fazer o mesmo
que a Mercedes, liberando seus pilotos para mandarem ver, a equipe inglesa
apresentou uma forma muito positiva credenciando-a a ser a segunda equipe neste
momento, com uma ligeira vantagem sobre Ferrari e Red Bull. Tanto Massa, quanto
Bottas elogiaram ao máximo este novo FW37 exatamente pela sua velocidade e
confiabilidade. E isso é algo animador para eles que perseguiram – e que
continuarão neste ano – uma vitória em 2014.
Aparentemente já começam muito bem, diferente do ano passado onde foram
melhorando gradativamente até fechar como segunda equipe mais veloz.
Ferrari: A
atmosfera dentro da Ferrari é percebida há quilômetros de distância e isso é
fruto das mudanças radicais na parte técnica da equipe, feitas no segundo
semestre de 2014. A chegada de Sebastian Vettel e outros profissionais também
ajudam nisso e os resultados são bons até aqui: além da já conhecida
confiabilidade, o carro parece ser bom e isso traz para eles um ânimo que já deixou
o chefe Maurizio Arrivabene animado a ponto de colocar uma meta que é vencer
duas corridas no ano, e caso vençam até quatro GPs, ele correria descalço.
A Ferrari inverteu o processo ao cravar ótimos tempos em Jerez e depois
trabalhar ativamente no desenvolvimento do carro nas duas últimas sessões de
treinos.
Acredito que este será um bom ano para a Ferrari, mas não dá para garantir que
vencerão uma ou duas corridas nesta temporada. Mas a freqüência nos pódios pode
ser mais constante.
Sauber: Podemos
chamá-los de surpresa nestes testes? Até que sim, mas ainda vamos esperar para
vê-los nas primeiras provas da temporada. Mas uma coisa não pode negar: a
confiabilidade que se viu nestes carros azuis da Sauber chegou a surpreender e
pouco foram as reclamações de Ericsson e Nasr sobre o comportamento do carro,
que parece ter agradado bastante seus pilotos.
Eles viraram ótimos tempos desde Jerez, o que fez a maioria desconfiar de ser
um “blefe” de pré-temporada. Mas passado todo esse tempo e na maioria das vezes
se colocando entre os quatro melhores de cada dia, fica um pouco difícil
acreditar que tenha sido apenas um jogo de cena. Talvez as coisas tenham
melhorado por lá.
Toro Rosso: A
equipe com dupla mais nova da categoria fez um trabalho muito bom ao ganhar uma
larga quilometragem e com bons tempos feitos por Sainz Jr. e Verstappen. Porém,
problemas apareceram nesta última semana, mas nada que seja grave a ponto de
preocupar a equipe.
Apesar destes contratempos no final dos testes, o carro tinha apresentado uma
boa confiabilidade.
Lotus:
Imaginava-se que as coisas poderiam piorar para eles, mas até aqui, nestes
testes, tudo fluiu bem demais. A melhora na troca do Renault pelo Mercedes, foi
evidente e seus pilotos trataram de fazer os melhores tempos em três dias da
segunda bateria de testes, sendo duas com Maldonado e uma com Grosjean. E o
carro parece muito melhor que o de 2014, o que traz à equipe a chance de voltar
a brigar constantemente pelos pontos.
E contando com dois caras rápidos – e de vez em quando afoitos – a Lotus passa
ter uma ótima chance de brilhar novamente.
Red Bull: A única
coisa que chamou a atenção da critica nestes teste, foram a camuflagem usada
pelo time. Fora isso, nada de especial na equipe que dominou a F1 até 2013.
Tiveram alguns problemas na MGU-K nesta semana que limitaram bastante o
trabalho, o que preocupa um pouco.
Mas ano passado estiveram numa situação bem pior e conseguiram uma atuação
sensacional em Melbourne. Mas agora a concorrência parece ser mais pesada.
Force India: Para
quem andou muito pouco com o carro desta temporada, até que as coisas foram
boas para eles. De início, usaram o bólido de 2014 para coletar dados e nestes
últimos três dias entregaram para Hulkenberg e Perez o carro de 2015, que já
colecionou uma boa distância sem ter problemas.
Mas ainda sim a equipe vive dias delicados devidos os problemas financeiros.
Mclaren: Não
seria fácil, mas tão não imaginavam que seria tão difícil! Os dias da McLaren
foram sofríveis e o único onde puderam ver sorrisos e ouvir suspiros de – um
breve – alívio foi na última sexta-feira, quando Button completou 101 voltas
sem apresentar nenhum problema crônico. Mas o calvário voltaria nestes últimos
dois dias.
Foi baixa a quilometragem da equipe, que ainda perdeu
Fernando Alonso para esta última sessão devido ao misterioso acidente da semana
passada. E a presença dele para Melbourne ainda é dúvida.
Mas algumas coisas positivas podem ser tiradas destes doze
dias de testes: o carro, segundo os pilotos, em especial Button e Magnussen que
conduziram o do ano passado, é muito melhor a ponto de Jenson classificá-lo
como “de outra categoria”, o que dá uma idéia de como era o antigo bólido.
Outra coisa que chamou a atenção foi o fato de andarem com a potência do motor
Honda reduzida, exatamente para evitar problemas ainda maiores. O melhor tempo
obtidos por eles em Barcelona, foi pelas mãos de Magnussen que anotou 1’25’’225.
Ok, uma marca que chega a ser mais de dois segundos mais lenta que os tempos da
Mercedes, mas que leva a crer que quando o motor estiver em ordem e sua
potência for elevada, as coisas podem melhorar bastante.
Vão apanhar muito neste início, pagando um preço por iniciar o projeto agora,
mas será bem interessante vermos onde poderão chegar neste 2015.
E isso me lembra a 2009, com uma péssima primeira parte de
mundial e depois com uma segunda parte sensacional por parte deles.