Existe uma aura em torno do nome e imagem de Stefan Bellof
nestes últimos trinta anos. As marcas alcançadas por este alemão até a idade de
27 anos queira nas categorias de base, queira no World Sportscar Championship, onde
a sua estrela brilhou intensamente e que serviu de base para a sua projeção para
o mundo do motorsport, nos dá o total entendimento deste frisson que
ainda resiste aos dias atuais. O seu precoce desaparecimento num dos trechos
mais temíveis do esporte a motor, a Eau Rouge, quando resolveu desafiar Jacky
Ickx numa manobra ousada e arriscada, ainda rende discussões sobre a sua
coragem ou loucura em tentar efetuar algo que hoje, devido um pouco mais de
juízo dos atuais competidores, tem sido feito com total sucesso, mas que ainda
sim gera aquele frio na espinha só de ver a imagem.
Nestas três décadas de sua morte, o nome de Bellof ganhou o
mesmo status de outros competidores que deixaram as pistas cedo demais e,
devido a essas circunstâncias, geram muitas imaginações do que poderiam ter
sido. Jovens pilotos como Guy Moll e Bernd Rosemeyer – anos trinta –, Ricardo
Rodriguez – anos 60 –, Tony Brise e Tom Pryce – anos 70 – Gilles Villeneuve –
anos 80 – só para citar alguns, geram muita curiosidade do que poderiam ter
alcançado caso tivessem sobrevivido, num momento em que as suas carreiras começavam a florescer. Os
sucessos alcançados pela Porsche no WSC no inicio dos anos 80, incluindo a sua
fabulosa volta em Nurburgring no ano de 1983, naquela que foi a última aparição
dos protótipos no colossal traçado, ainda rende admiração por ser o recorde
oficial da pista alemã. O título mundial na categoria, conquistado em 1984,
ainda sob os serviços da Porsche, coroou o talento que tão bem havia mostrado no
ano anterior, ao desafiar senhores do calibre de um Jacky Ickx, Derek Bell,
Hans Joachim Stuck e outros. Mas o seu desempenho na Fórmula-1, especialmente
em Mônaco 1984 e Portugal 1985, em condições adversas, que é onde os pilotos mostram
suas armas, é que deu ao piloto nascido em Giessen o status de grande promessa.
Mas Bellof teria chegado ao olimpo na categoria máxima?
Difícil de saber... É claro que os pensamentos é que ele tivesse chegado a um
título mundial, talvez, quem sabe, pela Ferrari, com quem estava apalavrado
para a temporada de 1986. Mas a impressão é que, além de travar ótimos
duelos com os grandes daquela época na F1, Bellof atingisse um nível parecido
ou maior até mesmo que o alcançado por Gilles Villeneuve. Pelos depoimentos de
pessoas que conviveram com ele, a sua personalidade era bem parecida com a do
piloto canadense: extrovertido, leal e destemido, uma mistura que cativava
muito Enzo Ferrari, que viveu numa época em que os pilotos tinham a áurea de
heróis e a coragem indubitável ao volante de carros sem nenhuma segurança,
talhavam a imagem de semideuses pelo público. Olhando por esta ótica e
analisando a carreira de Stefan desde as categorias menores, passando pelo
endurance até chegar na F1, não seria de estranhar o que ele poderia ter feito
com aqueles carros vermelhos. A paixão que os tiffosi teriam por ele, seria
algo estratosférico e até mesmo os não tiffosi o amariam imensamente.
A certeza que fica após trinta anos de seu desaparecimento,
é que Bellof teria sido um dos grandes da F1 e mesmo que o título mundial não
viesse, a sua imagem seria eternizada de qualquer forma. A sua morte em
Spa-Francorchamps, num ano triste para a competição, que perdera Manfred
Winkelhock semanas antes na etapa de Mosport, serviu apenas para que todos seus
feitos ficassem ainda mais encravados na história. Seu desaparecimento foi um
duro golpe para o automobilismo alemão. E para os amantes do motorsport também.