Para quem acompanha bem a temporada do WEC deste ano,
percebeu que as três principais fábricas da LMP1 tem tido o mais diverso dos
problemas em seus carros desde a prova de Silverstone. E para esta 24 Horas de
Le Mans, os olhos dos chefes destas equipes não estarão voltados apenas para os
seus rivais, mas também para as reações que os seus bólidos possam apresentar
durante todo o certame. Nos treinos realizados até aqui, Porsche e Toyota não
tem muito que reclamar da durabilidade de seus carros. Foram bem em todos os
estágios, mostrando boa velocidade. Já a Audi não pode dizer a mesma coisa: os
dois carros enfrentaram problemas e a quinta-feira, que poderia ser um bom
termômetro para saber em que condição está os dois R18, foi de chuva quase que
torrencial, atrapalhando bem a programação deles.
A Porsche apresentou novamente uma velocidade bem ao seu
estilo, cravando voltas extremamente velozes e fazendo pela segunda vez
consecutiva a primeira fila em Sarthe. Talvez se os dois últimos treinos – ou
apenas um deles – tivesse sido realizado em pista seca, poderiam ter baixado
muito mais do que os 3’19’’733 feito por Neel Jani com o 919 Hybrid #2 – aliás,
o suiço parece ter a mão do carro para este tipo de situação, uma vez que foi
dele a marca impressionante de 3’14 no qualy do ano passado, o que lhe valeu o
recorde absoluto do traçado francês. Assim como em 2015, aparenta que a Porsche
possa andar com seus dois carros bem próximos, tentando garantir a segurança um
do outro por conta de futuros ataques dos rivais.
A Toyota fez um bom trabalho até aqui. Dois carros muito bem
postados e com tempos próximos da Porsche. Também não dá para dizer o quanto
que possam estar à frente da Audi, sendo que o único duelo que tiveram
diretamente com eles foi nos treinos livres. Mas mesmo assim, a diferença para
os alemães foi pouca, o que sugere que vão lutar forte com os “Auto Union”. Mas
não podemos descartar a Toyota de um possível ataque à Porsche, uma vez que em
Spa os japoneses tiveram um ritmo bem satisfatório e poderiam muito bem ter
discutido – e vencido – o Audi R18 #8 na prova belga, caso o TS050 #5 não
tivesse pifado o motor. E a corrida em Spa tem sido um bom parâmetro nestes
últimos anos.
A Audi sofre lá o seu calvário: até apresentaram um bom
ritmo com o R18 #8 nos treinos livres, sendo superado pelos Porsches no final
do treino, mas uma saída de pista após a primeira chicane, o carro apresentou
uma lentidão incomum que foi logo descoberta: o sistema elétrico estava
afetado. O carro mal andou no primeiro classificatório e quando esteve em
pista, foi gradativamente ganhando performance, mas longe do que havia
apresentado mais cedo. E ainda teve o agravante de um problema nos freios...
Mesmo assim, conseguiu passar o seu gêmeo #7 na classificação para garantir um
quinto lugar no grid. O R18 #7 esteve bem discreto, talvez trabalhando mais
para a corrida, que no fim das contas é o que interessa. Mas eles tiveram seus
problemas também, com uma fuga de combustível ontem. O pior é que a chuva desta
quinta atrasou bastante qualquer avaliação em torno do desempenho dos carros
após estes problemas, o que adiciona mais uma dor de cabeça para a fábrica das
quatro argolas quando os carros partirem para prova. Mas uma coisa ficou certa
nos treinos de quarta, tirando pelo ritmo, é que o #8 deverá ser o coelho
deles.
Entre as equipes particulares, a Rebellion deve apresentar
um duelo caseiro, já que esta classe apresenta apenas os dois carros da equipe
suíça e mais o da By Kolles, que teve um principio de incêndio no treino livre
e pouco participou das demais práticas.
As demais classes
Apesar dos Orecas terem apresentado uma boa velocidade na
LMP2, não podemos descartar o bom andamento dos Alpine desde os treinos livres
o que sugere uma batalha bem interessante nesta classe do início ao fim, como é
de costume. Os Ligier, a primeira vista, terão que remar um pouco mais se
quiser entrar nessa batalha.
A LMGTE-PRO é a classe onde se repousam as melhores
expectativas de um duelo brutal pela vitória. O retorno da Ford com seus Ford
GT já era algo de se animar nesta classe, mas o após o passo que eles
apresentaram desde os treinos livres deixaram a concorrência de cabelo em pé e
também um tanto critica, tanto que a Corvette reclamou veemente do desempenho
de seus conterrâneos, uma vez que eles estavam muito acima do que poderiam
depois do BOP realizado antes do inicio dos treinos. A Ford conseguiu cravar a
primeira fila na PRO com tempos recordes, sendo o #68 conseguiu o tempo de 3’51’’185
e o #69
com a marca de 3’51’’497. Os outros dois Ford, #67 e #66, ficaram em
quarto e quinto respectivamente. Não fosse a intromissão da Ferrari 488 GTE da
AF Corse #51 na terceira colocação, o massacre dos carros americanos teria sido
ainda maior. A Ferrari também esteve em boa forma: além do carro da AF Corse em
terceiro, apareceu com outros dois na sexta e sétima colocação desta classe,
sempre com um ritmo muito superior aos de outros carros que costumam estar
brigando com eles pelas primeiras posições, como Porsche, Aston Martin e
Corvette. Esse desempenho assombroso da Ford e Ferrari fez com que a ACO
mexesse no Bop deles antes da prova de amanhã, fato inédito nas 24 Horas de Le
Mans: A Ford teve redução na pressão do seu bi-turbo e recebeu um lastro de
10kg; a Ferrari também teve teve redução no turbo e um aumento no lastro para
15kg e também um aumento extra no tanque de combustível para 4 litros; Corvette
teve uma abertura de 0,2mm no restritor de ar e mais dois litros no tanque de
combustível; Aston Martin sofreu abertura no restritor de ar de 0,4 mm e
aumento de dois litros no tanque; e a Porsche não recebeu nenhuma alteração.
Se havia uma disparidade entre estes carros, a corrida pode
nos mostrar um cenário bem mais competitivo após estas mudanças.
E na LMGTE-AM, a Aston Martin que sempre tem apresentado um
bom passo em Le Mans, talvez tenha que se preocupar com a Ferrari que
apresentou um ritmo bem satisfatório, como bem mostra a pole conquistada pelo
#61 da Clearwater Racing.
A verdade é que, para todas as classes, os duelos estarão
bem garantidos, mas só nos resta saber se quem vai escrever o seu nome na
história desta 84ª edição será um dos figurões de sempre (Porsche ou Audi) ou a
tão sonhada primeira conquista (Toyota). Ou até mesmo uma bela zebra suíça...
Quem sabe!