Alberto Ascari durante o GP britânico de 1953 (Foto: irishmirror) |
Que excitante havia sido aquela etapa da
França de semanas atrás. O confronto entre a velha guarda (Fangio) contra a
nova geração (Hawthorn), tinha ganhado contornos épicos a ponto daquela
corrida, por conta do duelo destes dois pilotos, ser chamada de "Corrida
do Século". E não era para menos: com aquela disputa visceral com várias
trocas de posições nas últimas trinta voltas, o público presente tinha sido
brindado com uma exibição de gala da mais alta qualidade. Ferrari e Maserati
tinham ficado no mesmo nível, o que facilitou esse duelo assim como a disputa
pela terceira posição entre Gonzalez e Ascari onde o argentino acabou levando a
melhor.
Agora as atenções estavam voltadas para Silverstone, cujo lugar, com uma boa
série de retas, seria um lugar perfeito para que o duelo entre a irmandade do
esporte a motor italiana pudesse dar continuidade a grande disputa. E para os
ingleses seria uma boa oportunidade para poderem torcer por seu herói Mike
Hawthorn.
Mesmo sabendo de suas limitações frente a Ferrari e Maserati, as equipes inglesas foram em peso para o seu GP caseiro ao colocar um bom contingente para esta etapa: a HWM levou quatro modelos 53 para Lance Macklin, Peter Collins, Duncan Hamilton e Jack Fairman; a Connaught teve cinco carros, sendo três modelos UMA oficiais que ficaram sob cuidados de Principe Bira, Ken McAlpine e Roy Salvadori. Os outros dois Connaught particulares eram de Tony Rolt – inscrita por Rob Walker, que tornaria-se uma das mais populares equipes particulares da categoria até os anos 70 – e outro pela Ecurie Ecosse, que foi pilotada por Ian Stewart; a Cooper não entrou como equipe oficial, o que prejudicou a participação de Stirling Moss por não terem tido tempo de recuperar o carro danificado em Reims, mas isso não impediu a equipe de ter seis carros inscritos de forma particular: Ken Wharton e Bob Gerard inscreveram dois T23 em seus nomes, enquanto que a Ecurie Ecosse alinhou um T20 para Jimmy Stewart (irmão de Jackie Stewart); Alan Brown pilotou um T23 da RJ Chase; Peter Whitehead esteve com um T24 da Atlantic Stable; e Tony Crook inscreveu por conta própria um T20. Todos o Cooper inscritos utilizavam motores Bristol.
A Ferrari alinhou o habitual modelo 500, o que jogou por terra a expectativa criada de que a equipe alinharia um novo carro para esta etapa inglesa. Além destes modelos 500 para Alberto Ascari, Luigi Villoresi, Giuseppe Farina e Mike Hawthorn, Louis Rosier levou o seu já tradicional Ferrari Azul inscrito pela sua equipe Ecurie Rosier. A Maserati continuou com seu modelo A6GCM e seu esquadrão de sempre com os argentinos Juan Manuel Fangio, Jose Froilan Gonzalez, Onofre Marimon e o italiano Felice Bonetto. Emmanuel de Graffenried alinhou o quinto Maserati de forma particular.
Também era esperado um passo da Gordini que pretendia
aproximar-se mais da “Irmandade Italiana”, onde os boatos indicavam um novo
motor L8 para a equipe francesa a partir daquele Grande Prêmio. Mas a Gordini
apareceu em Silverstone com o seu tradicional motor L6 para empurrar o Tipo 16.
Ao contrario de Reims onde levaram quatro carros, apenas três foram inscritos
para Jean Behra, Harry Schell e Maurice Trintignant. Louis Chiron voltou a
inscrever-se com o seu OSCA modelo 20, mas o experiente piloto de Mônaco não
compareceu para aquele GP britânico.
Chuva e pole para Ascari
Estes treinos em Silverstone foram marcados pelas
fortes chuvas que caíram no circuito desde a quinta-feira, quando os trabalhos
iniciaram. Peter Whitehead até ensaiou uma zebra ao fazer o melhor tempo na
quinta com o seu Cooper, conseguindo colocar dois segundos de vantagem sobre Mike
Hawthorn. Mas a possível zebra desapareceria na sexta quando, ainda com chuva,
Ascari aumentou o ritmo e se impôs para cravar a pole com uma marca um segundo
melhor que a de Froilan Gonzalez, que fechou em segundo. Mike Hawthorn venceu a
disputa contra Fangio e se colocou em terceiro, dois décimos mais lento que
Gonzalez – o que lhe valeu uma série de cumprimentos dos integrantes da Ferrari
e um abraço do chefe da equipe Nello Ugolini. Fangio, Farina, Villoresi e
Marimon fecharam as sete primeiras posições habituais para as duas equipes
italianas. Os Gordini de Trintignant e Schell apareceram seguida e Tony Rolt,
com seu Connaught, fechou os dez primeiros. Whitehead acabou ficando em 14º
no grid, sendo o melhor dos
particulares.
Ascari vence de ponta a ponta
Apesar de um inicio impressionante de Fangio, que
pulara de quarto para primeiro assim que contornou a Copse, este não conseguiu
dar continuidade na liderança da prova quando escapou e caiu na tabela de
classificação. Assim foi o único momento onde Alberto Ascari não foi líder
neste GP bretão, conseguindo maximizar o poder de fogo do Ferrari 500 naquele
dia a seu gosto. Porém não teve tranquilidade por um tempo, onde Gonzalez
esteve em seu encalço por uma série de voltas e com grandes chances de assumir
a liderança, mas sempre com Alberto respondendo as ações do argentino. Foi uma
reedição do duelo que ambos tiveram em Reims semanas antes, onde Froilan
Gonzalez acabou por superar o italiano ao desalojá-lo da terceira posição. Mas
desta vez era a liderança da corrida que estava em jogo e após uma exibição
abaixo do que já era conhecido na França, agora era uma questão de honra para
Ascari mostrar que ainda tinha as coisas sobre controle. Trocaram as melhores
voltas por um bom tempo até que o Maserati do argentino apresentou vazamento de
óleo, o que lhe valeu uma bandeira de box. Gonzalez foi a contragosto tanto que
chegou discutir com os comissários sobre tal decisão, o que lhe custou duas
voltas de desvantagem para Ascari. Froilan Gonzalez conseguiu recuperar-se na
corrida para terminar em quarto.
Outro de quem se esperava muito – principalmente a
torcida local – e não conseguiu grande coisa, foi Hawthorn. Depois de uma
qualificação sensacional onde ganhou ainda mais a confiança da Ferrari, o
piloto inglês teve um sábado atribulado que iniciou ainda na largada ao
despencar de terceiro para sexto. As coisas piorariam quando ele rodou forte na
Woodcote e caiu na classificação, mas o golpe final nas suas pretensões para o
seu GP caseiro foi quando chegou nos boxes e descobriu um vazamento de óleo que acabou sendo o causador de sua
rodada na volta anterior. A exemplo de Gonzalez, Mike viu sua oportunidade
arruinada ao perder três voltas, mas conseguiu retornar ao GP para terminar em
quinto após um belo duelo com Tony Rolt, que vinha em bom ritmo com seu
Connaught e enfrentou de igual para igual Mike. Porém é preciso salientar que
Hawthorn acabou herdando duas posições que podiam tê-lo deixado de fora da casa
dos pontos: Marimón estava em boa forma nesta corrida em Silverstone, brigando
fortemente contra Farina pela quinta posição já havia umas voltas quando o
motor do seu Maserati estourou. Quase que no mesmo instante, foi a vez de
Villoresi dar adeus ao GP por problemas no eixo do Ferrari. Isso possibilitou a
ida de Froilan Gonzalez para terceiro, mas que foi logo superado por Farina.
Além de Tony Rolt, outro destaque no pelotão
intermediário foi Jimmy Stewart: o piloto escocês foi muito bem na sua primeira
aparição no campeonato mundial, mostrando que não era apenas o seu macacão
xadrez que chamava atenção. Jimmy, que havia diputado freneticamente contra
Bira as posições naquele GP e vencido o desafio, ia a frente de Felice Bonetto, que tivera de
fazer três paradas nos boxes – coisa que alguns fizeram, no máximo, apenas uma
parada para reabastecimento – quando acabou rodando na curva Copse no momento
que a chuva era forte em todo circuito, já no final do GP e ficando de fora.
Como já foi mencionado, a chuva que havia caído nos
treinos de quinta e sexta voltou logo no final da corrida. Enquanto que muitos
diminuíram a velocidade quando a tempestade – acompanhada por granizo – chegou,
Ascari continuou apertando o ritmo até conseguir abrir uma diferença de um
minuto sobre Fangio que havia herdado a posição de Gonzalez quando este teve o
seu vazamento de óleo. Mas o argentino não chegou ser uma grande ameaça a
Alberto, o que facilitou ainda mais o trabalho do italiano.
Ascari passou para vencer o GP da Grã-Bretanha
seguido por Fangio – que foi o único a não levar volta de Alberto – Farina,
Gonzalez e Hawthorn fechando as posições pontuáveis. Bonetto conseguiu ainda
uma sexta colocação enquanto que Principe Bira levou o Connaught ao sétimo
lugar, sendo o melhor dos carros ingleses. O melhor entre os particulares foi Ken
Wharton que terminou em oitavo com o Cooper.