segunda-feira, 18 de novembro de 2013

GP do Brasil 2008: Estávamos lá - Parte 1

Um pouco da turma de 2008. Em pé, da esquerda para a direita: Arnaldo Florêncio, Roberto Chagas, Bruno Lima, Fábio Vieira, José Augusto Oliveira, Rubem Ferresi Jr., Rodrigo Fernandes, Marcelo Sanches e Paulo Abreu.
Agachados, da esquerda para a direita: Fabio Aguiar, Marco Camargo, Edison Fernandes, Felipe Antonio e Kaue Souza.
A foto é do Cristiano Carreira, que também fez parte da sinalização daquele GP do Brasil
O Grande Prêmio do Brasil de 2008 foi um daqueles momentos que ficará marcado para sempre no esporte a motor, como o dia em que o título de pilotos mudou de mãos em cerca de 30 segundos. Dois contendores que buscavam pela primeira vez o título mundial e cada um defendendo as suas trincheiras pelas duas equipes mais tradicionais - e rivais - da Fórmula-1: Lewis Hamilton e Felipe Massa foram protagonistas de uma mais belas temporadas da categoria e o GP final, no majestoso Interlagos, foi o palco para a decisão mais eletrizante da história.
No último dia 2 de novembro completou cinco anos daquela prova magistral e pedi para alguns dos meus camaradas de bandeiragem que estavam naqueles três dias em Interlagos, para contarem um pouco do que foi presenciar aquela corrida que tornou-se um dos clássicos do automobilismo mundial.
Os depoimentos estão divididos em duas partes.



André Peragine
"Aquela era a primeira corrida de Fórmula 1 em que eu trabalhava. E puxa, logo de cara uma decisão de título envolvendo Ferrari e McLaren! Pela diferença de pontos, poucos acreditavam que o Felipe Massa pudesse ser campeão, mesmo assim nós ferraristas estávamos torcendo por um milagre. A tensão começou antes da largada, quando começou a chover. E com poucas voltas, a chuva parou. O foco era no trabalho, e isso aumentava nossa apreensão. Lewis oscilava entre o quarto e o sétimo lugares, mas sabíamos que ele tinha carro para terminar entre os 5 primeiros, o que não nos animava muito. Até que a chuva veio novamente, e ele foi ultrapassado por Sebastian Vettel. Para aumentar a emoção, Timo Glock havia ficado na pista, e recebemos a informação de que Lewis era o sexto. Mas com o foco no trabalho, era impossível naquele momento liberar alguma emoção. E isso aconteceu logo após a bandeira quadriculada, quando começamos a comemorar o título. Naquele momento invadi a pista para agitar as bandeiras cumprimentando Felipe Massa e fiz sinal de positivo, ele levantou a viseira com os olhos marejados e sacudiu a cabeça em gesto negativo. Nesse momento, meu companheiro de posto me avisou que Hamilton havia passado Glock. Em uma mistura de emoções, comecei a chorar, liberando tudo o que havia ficado preso durante a corrida. Pode parecer algo bobo, mas são sensações que só quem ama o esporte a motor consegue entender." 

Edison Fernandes
"2008, Interlagos, GP Brasil de Formula 1, Posto 21, Final da volta de apresentação, começa a chover somente na pista, nas arquibancadas atrás do posto não chovia. O rádio estava com o Rubens e através dele veio a informação do adiamento da largada. Começava aí umas das provas que eu mais vibrei. Durante a corrida teve vários momentos de emoção, mas foi na ultima volta que chegou ao ponto máximo. Massa cruzou em primeiro, as almofadas usadas pela torcida nas arquibancadas eram arremessadas como se fossem confetes no carnaval, O Rubens não conseguia ouvir nada no rádio, ele me perguntava sobre a posição do Hamilton (Eu estava com um radio FM), eu também não conseguia ouvir. O Felipe e eu estávamos eufóricos, por que Massa era campeão.... Mas o Rubens começou a gritar... "não... não o Hamilton passou o Glock"... e vimos o campeonato fugir das mãos do Massa... tudo isso em questão de segundos...."

Bruno Lima
"GP do Brasil de 2008, realmente foi incrível eu estava trabalhando pela 1º vez na F-1 pela Speed-Fever, e fiquei na equipe do Resgate no famoso Muro do Berger ( inicio da reta oposta), lembro como se fosse hoje exatamente o que vivi naquele dia, tudo que fiz ... e é claro a corrida, naquele dia eu posso dizer que foi o mais emocionante na minha vida dentro do Autódromo de Interlagos e um dos mais marcantes da minha vida. Eu já havia assistido a F-1 nas arquibancadas Setor G, mas foi a primeira vez que fiz parte da equipe e estava do lado de dentro e uma das coisas de várias coisas que me emocionou aquele dia, foi inicio da corrida quando foi tocado o Hino Nacional. Você olha para todos os lados e vê aquela multidão em silêncio e logo em seguida cantando o hino e no final todos gritando...  esse momento realmente foi show! Lembro-me que o Massa na época tinha chance de ganhar o campeonato e estava disputando com o Hamilton, me lembro também que voltas antes da corrida chegar ao fim, fechou o tempo no autódromo e começou a chover e a galera nem tava se importando com a chuva e sim com a corrida que estava show, e me lembro que quando o Felipe passou na linha de chegada ele era campeão tanto que todos que estavam lá comemoraram, gritaram se emocionaram... maaaas, infelizmente, o Hamilton conseguiu fazer a ultrapassagem ( não lembro em cima de quem) e passou na linha de chegada na posição que ele precisava para ser campeão. Foi umas da últimas corridas que tive alguma emoção. Foi um dos últimos anos que você tinha vontade de acorda cedo ou ficar acordado na madrugada para assistir uma corrida..."

Marcio Silveira
"Foi histórico a minha segunda experiência de trabalhar na F1. Bom, tenho várias memórias pessoais, engraçadas, de amizade e companheirismo, mas dariam várias linhas. Revi as fotos daquele fim de semana e revivi toda aquela áurea, todo aquele ambiente diferente de tudo aquilo que presenciamos o ano inteiro. Estava num posto bem próximo da pista e me impressionava como os bólidos descendo a reta oposta, com a luz de chuva piscando. Mas a corrida foi fantástica. As arquibancadas estavam lotadas. A chuva que ia e voltada não desanimava ninguém. O Massa precisava vencer e torcer para que o Hamilton chegasse depois do quinto lugar. Eu estava convivendo com o barulho ensurdecedor dos carros a metros do posto e do MP3 no último volume para ouvir a narração da corrida. O brasileiro liderou toda a corrida, mas sempre com aquele gosto que “nada mais que a vitória” viria naquela tarde. No entanto, no fim da corrida, o Vettel passou o Hamilton na disputa pela quinta posição. Parecia mentira, mas o Massa poderia ser campeão!!!! Eu fui o único do posto a vibrar com a ultrapassagem do Vettel, tanto que na transmissão da TV aparece meu braço fora do posto vibrando na passagem do alemão. Os meus companheiros de posto não entenderam nada, mas não estava nem um pouco a fim de explicar. As voltas passavam e o fim da corrida brindaria um momento inesquecível. O Felipe Massa recebeu a bandeirada. O Hamilton em sexto. Era o título com vitória no Brasil!!! A Ferrari desceu o S do Senna e a arquibancada histérica, encobrindo o barulho dos carros , agora, em baixa rotação. Eu estava com o joelho operado, não podia pular o guard rail, mas meus companheiros de posto invadiram a pista, pularam e gritaram como se contagiassem com o rebuliço das arquibancadas. E o Massa era campeão quando passou no posto 1, no posto 2, 3, 4 e, quando se aproximava do posto que estava, veio pelo MP3 que o Timo Glock tinha perdido a posição na última curva e o inglês conseguiu o quinto lugar que precisava. Foi um gelo que me deixou anestesiado por alguns minutos. Depois de guardar o material disse “É por isso que gosto de corridas!!!!” enquanto o hino da Itália do pódio era acompanhado pelo meu parceiro de posto, ainda em êxtase pelo que tínhamos acabado de vivenciar. O gelo que senti antes de comemorar o título do Massa desabou em chuva enquanto descia a reta a pé, e descobri essa tão impressionante mesmo sem a torcida e sem os carros a toda."

Cristiano Carreira
"Lembro dos momentos eletrizantes daquela etapa como se fosse hoje. Estava no posto 1 e pouco se via da corrida, portanto a emoção era ouvir o que o Toninho dizia pelo rádio. Mas eu era um simples Blue Flag Marshall, portanto, nada de rádio. Só que era tanta bandeira azul no final da reta (inclusive para Barrichello e Button que ainda sofriam na fase pré-Brawn) que o responsável pelo posto me passou o rádio. Com isso, pude acompanhar um pouco da narração do terço final da corrida. Nas últimas voltas, Hamilton perdeu a posição para a Toro Rosso do Vettel e a vibração foi incrível no rádio e na arquibancada. Arquibancada essa que vibrava a cada volta percorrida pelo Felipe. Ouvi o entusiasmo com que o Toninho disse que naquelas posições (de HAM e MAS), o brasileiro seria campeão (para a minha tristeza que estava torcendo pela Mclaren). Quando Felipe cruzou a linha em 1º lugar, parecia que a torcida (e o rádio) entendeu que aquilo era um autorama onde, ao final do tempo, as posições e diferenças se mantinham. Vi chover almofadas da arquibancada localizada na entrada do S do Senna e ouvi palavras muito alegres no Rádio. Palavras e almofadas que duraram menos de um minuto. Já na volta da vitória, recebemos a comunicação do feito do Hamilton na junção (ou do 'não feito' do Glock), uma ultrapassagem que lhe dava o ponto necessário para o título, 500m adiante. Fiquei feliz pelo ocorrido, mas também impressionado como a torcida foi alterando seu comportamento conforme a notícia ia sendo passada de torcedor para torcedor. Hoje, 5 anos depois, vemos como aquele momento foi cruel para Massa, estava ali marcado o ponto alto de sua carreira. Também naquele instante, um jovem britânico finalmente garantia a entrada dele no hall dos campeões, feito esse que por muito pouco não veio merecidamente no ano de sua estréia." 

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