No último dia 2 de novembro completou cinco anos daquela prova magistral e pedi para alguns dos meus camaradas de bandeiragem que estavam naqueles três dias em Interlagos, para contarem um pouco do que foi presenciar aquela corrida que tornou-se um dos clássicos do automobilismo mundial.
Os depoimentos estão divididos em duas partes.
André Peragine
"Aquela
era a primeira corrida de Fórmula 1 em que eu trabalhava. E puxa, logo de cara
uma decisão de título envolvendo Ferrari e McLaren! Pela diferença de pontos,
poucos acreditavam que o Felipe Massa pudesse ser campeão, mesmo assim nós
ferraristas estávamos torcendo por um milagre. A tensão começou antes da
largada, quando começou a chover. E com poucas voltas, a chuva parou. O foco
era no trabalho, e isso aumentava nossa apreensão. Lewis oscilava entre o
quarto e o sétimo lugares, mas sabíamos que ele tinha carro para terminar entre
os 5 primeiros, o que não nos animava muito. Até que a chuva veio novamente, e
ele foi ultrapassado por Sebastian Vettel. Para aumentar a emoção, Timo Glock
havia ficado na pista, e recebemos a informação de que Lewis era o sexto. Mas
com o foco no trabalho, era impossível naquele momento liberar alguma emoção. E
isso aconteceu logo após a bandeira quadriculada, quando começamos a comemorar
o título. Naquele momento invadi a pista para agitar as bandeiras
cumprimentando Felipe Massa e fiz sinal de positivo, ele levantou a viseira com
os olhos marejados e sacudiu a cabeça em gesto negativo. Nesse momento, meu
companheiro de posto me avisou que Hamilton havia passado Glock. Em uma mistura
de emoções, comecei a chorar, liberando tudo o que havia ficado preso durante a
corrida. Pode parecer algo bobo, mas são sensações que só quem ama o esporte a
motor consegue entender."
"2008, Interlagos, GP Brasil de Formula 1, Posto 21, Final da volta
de apresentação, começa a chover somente na pista, nas arquibancadas atrás do
posto não chovia. O rádio estava com o Rubens e através dele veio a informação
do adiamento da largada. Começava aí umas das provas que eu mais vibrei.
Durante a corrida teve vários momentos de emoção, mas foi na ultima volta que
chegou ao ponto máximo. Massa cruzou em primeiro, as almofadas usadas pela
torcida nas arquibancadas eram arremessadas como se fossem confetes no
carnaval, O Rubens não conseguia ouvir nada no rádio, ele me perguntava sobre a
posição do Hamilton (Eu estava com um radio FM), eu também não conseguia ouvir.
O Felipe e eu estávamos eufóricos, por que Massa era campeão.... Mas o Rubens
começou a gritar... "não... não o Hamilton passou o Glock"... e
vimos o campeonato fugir das mãos do Massa... tudo isso em questão de
segundos...."
"GP do
Brasil de 2008, realmente foi incrível eu estava trabalhando pela 1º vez na F-1
pela Speed-Fever, e fiquei na equipe do Resgate no famoso Muro do Berger (
inicio da reta oposta), lembro como se fosse hoje exatamente o que vivi naquele
dia, tudo que fiz ... e é claro a corrida, naquele dia eu posso dizer que foi o
mais emocionante na minha vida dentro do Autódromo de Interlagos e um dos mais
marcantes da minha vida. Eu já havia assistido a F-1 nas arquibancadas Setor G,
mas foi a primeira vez que fiz parte da equipe e estava do lado de dentro e uma
das coisas de várias coisas que me emocionou aquele dia, foi inicio da corrida
quando foi tocado o Hino Nacional. Você olha para todos os lados e vê aquela
multidão em silêncio e logo em seguida cantando o hino e no final todos
gritando... esse momento realmente foi
show! Lembro-me que o Massa na época tinha chance de ganhar o campeonato e
estava disputando com o Hamilton, me lembro também que voltas antes da corrida
chegar ao fim, fechou o tempo no autódromo e começou a chover e a galera nem
tava se importando com a chuva e sim com a corrida que estava show, e me lembro
que quando o Felipe passou na linha de chegada ele era campeão tanto que todos
que estavam lá comemoraram, gritaram se emocionaram... maaaas, infelizmente, o
Hamilton conseguiu fazer a ultrapassagem ( não lembro em cima de quem) e passou
na linha de chegada na posição que ele precisava para ser campeão. Foi umas da
últimas corridas que tive alguma emoção. Foi um dos últimos anos que você tinha
vontade de acorda cedo ou ficar acordado na madrugada para assistir uma corrida..."
"Foi
histórico a minha segunda experiência de trabalhar na F1. Bom, tenho várias
memórias pessoais, engraçadas, de amizade e companheirismo, mas dariam várias
linhas. Revi as fotos daquele fim de semana e revivi toda aquela áurea, todo
aquele ambiente diferente de tudo aquilo que presenciamos o ano inteiro. Estava
num posto bem próximo da pista e me impressionava como os bólidos descendo a
reta oposta, com a luz de chuva piscando. Mas a corrida foi fantástica. As
arquibancadas estavam lotadas. A chuva que ia e voltada não desanimava ninguém.
O Massa precisava vencer e torcer para que o Hamilton chegasse depois do quinto
lugar. Eu estava convivendo com o barulho ensurdecedor dos carros a metros do
posto e do MP3 no último volume para ouvir a narração da corrida. O brasileiro
liderou toda a corrida, mas sempre com aquele gosto que “nada mais que a
vitória” viria naquela tarde. No entanto, no fim da corrida, o Vettel passou o
Hamilton na disputa pela quinta posição. Parecia mentira, mas o Massa poderia
ser campeão!!!! Eu fui o único do posto a vibrar com a ultrapassagem do Vettel,
tanto que na transmissão da TV aparece meu braço fora do posto vibrando na
passagem do alemão. Os meus companheiros de posto não entenderam nada, mas não
estava nem um pouco a fim de explicar. As voltas passavam e o fim da corrida
brindaria um momento inesquecível. O Felipe Massa recebeu a bandeirada. O
Hamilton em sexto. Era o título com vitória no Brasil!!! A Ferrari desceu o S
do Senna e a arquibancada histérica, encobrindo o barulho dos carros , agora,
em baixa rotação. Eu estava com o joelho operado, não podia pular o guard rail,
mas meus companheiros de posto invadiram a pista, pularam e gritaram como se
contagiassem com o rebuliço das arquibancadas. E o Massa era campeão quando
passou no posto 1, no posto 2, 3, 4 e, quando se aproximava do posto que
estava, veio pelo MP3 que o Timo Glock tinha perdido a posição na última curva
e o inglês conseguiu o quinto lugar que precisava. Foi um gelo que me deixou
anestesiado por alguns minutos. Depois de guardar o material disse “É por isso
que gosto de corridas!!!!” enquanto o hino da Itália do pódio era acompanhado
pelo meu parceiro de posto, ainda em êxtase pelo que tínhamos acabado de
vivenciar. O gelo que senti antes de comemorar o título do Massa desabou em
chuva enquanto descia a reta a pé, e descobri essa tão impressionante mesmo sem
a torcida e sem os carros a toda."
Cristiano Carreira
"Lembro dos momentos eletrizantes daquela etapa como
se fosse hoje. Estava no posto 1 e pouco se via da corrida, portanto a
emoção era ouvir o que o Toninho dizia pelo rádio.
Mas eu era um simples Blue Flag Marshall, portanto, nada de rádio.
Só que era tanta bandeira azul no final da reta (inclusive para
Barrichello e Button que ainda sofriam na fase pré-Brawn) que o
responsável pelo posto me passou o rádio.
Com isso, pude acompanhar um pouco da narração do terço final da
corrida.
Nas últimas voltas, Hamilton perdeu a posição para a Toro Rosso do Vettel
e a vibração foi incrível no rádio e na arquibancada. Arquibancada essa
que vibrava a cada volta percorrida pelo Felipe.
Ouvi o entusiasmo com que o Toninho disse que naquelas posições (de HAM e
MAS), o brasileiro seria campeão (para a minha tristeza que estava
torcendo pela Mclaren).
Quando Felipe cruzou a linha em 1º lugar, parecia que a torcida (e o
rádio) entendeu que aquilo era um autorama onde, ao final do tempo, as
posições e diferenças se mantinham.
Vi chover almofadas da arquibancada localizada na entrada do S do Senna e
ouvi palavras muito alegres no Rádio. Palavras e almofadas que duraram
menos de um minuto.
Já na volta da vitória, recebemos a comunicação do feito do Hamilton na
junção (ou do 'não feito' do Glock), uma ultrapassagem que lhe dava o ponto
necessário para o título, 500m adiante.
Fiquei feliz pelo ocorrido, mas também impressionado como a torcida foi
alterando seu comportamento conforme a notícia ia sendo passada de
torcedor para torcedor.
Hoje, 5 anos depois, vemos como aquele momento foi cruel para Massa,
estava ali marcado o ponto alto de sua carreira. Também naquele
instante, um jovem britânico finalmente garantia a entrada dele no hall
dos campeões, feito esse que por muito pouco não veio merecidamente no
ano de sua estréia."
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