quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Os 20 anos da primeira vitória de Schumacher na F1


Schumacher comemorando a primeira das suas 91 vitórias, em Spa 1992
(Foto: Getty Images)

Aquele alemão queixudo, de cabelo com corte típico dos anos oitenta que pouca gente conhecia, a não ser alguns que acompanhavam o Mundial de Sport Protótipos, estreou e fez algum barulho na F1 quando levou o Jordan ao sétimo lugar do grid do GP da Bélgica de 1991. Um feito notável, uma vez que ele nunca tinha corrido por lá e Willy Webber, seu empresário, jurou de pé junto que o seu garoto conhecia a pista belga muito bem. Enganou direitinho e caso o câmbio não quebrasse após virar a La Source depois da largada, Michael poderia muito bem ter se dado ao luxo de tentar algo muito melhor naquela prova, pois o desempenho do Jordan naquela pista foi tão bom que Andrea De Cesaris chegou a discutir a vitória com Ayrton Senna. Passado um ano, ele voltou e venceu em Spa como se tivesse marcado hora e lugar para que a sua primeira vitória acontecesse lá. Foi astuto ao trocar os pneus na hora certa em que a pista secava e teve a sorte de as Williams sofrerem problemas mecânicos. Venceu bem e convenceu toda a crítica que já via nele um futuro vencedor de Grandes Prêmios. Para Flavio Briatore, que tinha desalojado Pupo Moreno um ano antes para dar lugar a Michael, o investimento estava dando resultado e para Schumacher a caminhada para algo maior estava apenas começando.

Aquela vitória na tarde molhada de 30 de agosto parece agora, vinte anos mais tarde, o início de algo grandioso que na época era difícil de perceber: o domínio de um cara só. Apesar de que Ayrton ainda estivesse por lá, outros ases tinham, ou estavam deixando a categoria: Piquet pendurou o capacete em 1991 e foi respirar outros ares; Prost estava num ano sabático após ter sido escorraçado pela Ferrari ao final de 91, mas já arquitetava por debaixo dos panos a sua volta à F1 pela Williams que Mansell acabara de levar aos títulos de Pilotos e Construtores. Este último também caiu fora para 93, indo se divertir na IndyCar. Senna também estivera envolvido num vai ou racha quanto à sua permanência na categoria e na McLaren, que foi resolvido apenas na temporada de 93. Ou seja, a velha guarda, mesmo tendo Senna e Prost no comando ainda em 1993, começava a pensar na aposentadoria. Os novatos não eram tão promissores e também não estavam em grandes equipes: salvo Alesi que ainda era uma esperança do automobilismo francês, onde depositavam as fichas apostando que seria o substituto de Prost. Schumacher era o único que estava numa equipe, que de fato, tinha condições de vencer corridas. Jean estava na Ferrari, era jovem, rápido, brigador, mas a equipe italiana passava por uma crise técnica e administrativa pavorosa. Michael também era veloz e ousado, mas estava numa equipe muito mais bem organizada e era o Team oficial – se é que podemos dizer assim – da Ford na F1 sendo que todas as especificações dos HB e novidades passavam pela equipe ítalo-inglesa. O corpo técnico também era dos bons: Rory Byrne e Ross Brawn acharam em Schumacher o cara perfeito, o piloto por excelência, para desenvolver os bem sucedidos Benettons que saiam de suas mesas de projeto. E apesar da aparição de Barrichello, Christian Fittipaldi, Damon Hill e a volta de Mika Hakkinen, se alguém ainda quisesse apostar algo, Alesi e Schumacher encabeçariam a lista.

Mas Michael, como disse antes, era o mais bem apanhado tecnicamente. O seu talento floresceu ainda mais em 93, apesar de ter conquistado apenas uma vitória e em 1994, com um carro melhor ou do mesmo nível que a Williams, ele apareceu forte nas primeiras etapas ao derrotar Senna e tomar conta do resto do campeonato quando o brasileiro morreu. Michael, apesar de todas as controvérsias ao redor do desempenho do seu Benetton B194 - e também das suspensões e desqualificações que tivera -, ganhou o mundial daquele ano. O pupilo da Mercedes tinha chegado ao topo em dois anos e meio e daí em diante não pararia mais e a figura de ídolo que ele construiu nos anos 90 motivou os garotos alemães a começarem a competir e isso de ajuda muito o automobilismo em qualquer parte do mundo.

Os alemães tiveram uma época de ouro com os resultados das imbatíveis Mercedes e Auto Union na segunda metade dos anos trinta. Rudolf Caracciola, Bernd Rosemeyer, Hans Stuck, Manfred Von Brauschitsch e Hermann Lang eram os nomes que haviam elevado a Alemanha à potência automobilística de competição que foi quase dizimada após a Segunda Guerra Mundial. Mesmo com a volta da Mercedes em alto estilo ao mundo das corridas, com títulos na F1 e nas principais provas européias, ainda faltava-lhes um grande piloto e até a sua saída em 1955, motivada pela tragédia de Le Mans, este não havia aparecido. Wolfgang Von Trips, que parecia ser o piloto primeiro alemão a ser campeão do mundo, acabou falecendo num acidente em Monza 1961, justamente quando decidia o título contra seu companheiro de Ferrari Phil Hill. Os alemães esperariam por mais 23 anos até que Stefan Bellof, que tinha talento suficiente para tal conquista, aparecesse e desaparecesse feito um raio ao morrer em Spa-Francorchamps num a prova válida pelo Mundial de Sport Prototipos em 1985. Michael apareceria seis anos depois, lá mesmo em Spa, como a mais nova esperança de um piloto alemão de chegar ao olimpo. E este conseguiu.

Michael atingiu números inimagináveis e suas conquistas motivaram os garotos. Da mesma forma que os títulos de Emerson, Nelson e Ayrton influenciaram garotos que decidiram apostar no automobilismo e tentar a sorte de um dia, quem sabe, chegar à F1, a “Schumachermania” também criou uma legião de meninos que ingressaram no kart na segunda metade dos anos 90 e que agora estão na F1: Vettel, Hulkenberg, Rosberg, Glock (que não é tão garoto assim) e todos, ou quase todos, tiveram sucessos nas categorias por onde passaram. A presença constante de Schumacher no topo da F1 foi vital para que o automobilismo alemão voltasse a ser uma das forças do cenário em termos de pilotos, e não apenas entres as fábricas. Aliás, aí está um fator interessante para que o automobilismo de alguns países pegue pra valer: a falta de um piloto vencedor, que motive os jovens também a competirem. Mas para isso as Confederações precisam estar engajadas e aproveitar o momento para incentivar ainda mais a prática do esporte motorizado, com parcerias para criações de novas categorias – monopostos e turismo – com preços acessíveis para os novos participantes e divulgação em massa para que o público possa lotar as pistas para prestigiar e apoiar os novos valores que vão aparecer. O caminho traçado por Michael Schumacher está tendo continuidade com Vettel, que ainda reinará por muito tempo como melhor piloto alemão na categoria e com o passar do tempo, é bem provável que apareçam outros pilotos alemães tão bons quanto o Sebastian e o velho Michael. 

A história de sucesso do automobilismo alemão, que deveria ter tido início pelas mãos de Bellof durante os anos 80, foi abreviada em Spa e reaberta lá mesmo em 91, com a estréia de Michael e confirmada pelo mesmo um ano depois no mesmo local. E de quebra ele completará 300 GPs neste fim de semana em... Spa-Francorchamps.
De fato, um lugar especial para ele.

    

3 comentários:

  1. Apesar das controversias que muitos colocam para o KAISER, ele na minha opinião ele sempre será o melhor de todos os tempos , contra números senhores nada se pode fazer e temos que reverenciar este GÊNIO, da F1 não dizendo que ñ tivemos ótimos pilotos na categoria mas o KAISER foi soberano !!!

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  2. Apesar das controversias o KAISER sempre será o soberano da F1 "Na minha opinião" pois contra números não temos argumentos sei que tivemos monstros na F1 como Senna, Prost, Piquet, Mika, Mansell, mas ele sempre será o melhor de todos os tempos independente de argumentos furados que usam na minha opinião , os números estão ai para serem mostrados e comprovar tudo isso e Spa e seu circuito favorito !!!

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  3. Muito bom !!! Falando do KAISER sempre terá repercussão !!!

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