A grande vitória de Jose Froilan Gonzalez em Silverstone, no GP da Grã-Bretanha de 1954. Foi uma tarde sublime para o piloto argentino, que chegava a sua segunda - e derradeira - vitória na Fórmula-1.
Tinham
se passado duas semanas do GP francês quando a Fórmula 1 foi para Silverstone,
onde seria realizado o GP da Grã Bretanha. Porém, a grande expectativa girava
em torno do desempenho da Mercedes já que a apresentação da equipe alemã em
Reims ainda estava bem fresca na memória dos que viram aquela estréia para lá
de auspiciosa. Por outro lado, conhecendo bem o histórico da equipe alemã, era
de se esperar até mesmo um domínio amplo deles no campeonato ao julgar pela
corrida feita por Juan Manuel Fangio e Karl Kling em Reims, onde os dois não
tiveram adversários e puderam conduzir os seus W196 com total tranquilidade enquanto se
revezavam na liderança. O circuito de Silverstone, com suas longas retas, era
mais uma oportunidade da Mercedes mostrar o seu poder de fogo, mas o resultado
final acabou por ser bem diferente.
Ao
contrário do que foi nas últimas corridas, a lista de inscritos para este GP
britânico foi bem satisfatória principalmente pela presença das equipes
britânicas que alinharam 12 carros de um total de 32. A Cooper teve seis carros
– variando entre modelos T23 e T24 –, todos inscritos de forma particular: Bob
Gerard inscreveu em seu nome um T23, assim como Peter Whitehead que inscreveu
um T24; a Gould’s Garage foi inscrita por Horace Gould, que correu com um T23;
a Equipe Anglaise contou com Alan Brown para pilotar um T23; entre os Cooper, a
Ecurie Richmond foi a única a inscrever dois carros (T23) que foram pilotados por
Eric Brandon e Rodney Nuckey. A Connaught teve cinco carros modelos A e a
exemplo da Cooper, eram todos de caráter particular: Leslie Marr e Bill
Whitehouse inscreveram um carro cada em seus respectivos nomes; Sir Jeremy
Boles inscreveu um que foi pilotado por Don Beauman; a Ecurie Ecosse correu com
Leslie Thorne; e Rob Walker Racing Team teve John Riseley Prichard. Ainda no
campo das equipes britânicas, Tony Vandervell aproveitou a etapa de Silverstone
para estrear a sua equipe, o Team Vanwall. O carro foi construído por John
Cooper que teve como base um Ferrari 500 que Vandervell chegou a inscrever em
algumas provas no passado e o motor também sofreu uma forte inspiração, pois
foi baseado no das motos Norton e que foi construído pela empresa de Tony, a Vandervell
Productions. O nome da equipe foi uma junção dos nomes de Vandervell e da sua
fábrica de rolamentos, a Thinwall – que já havia usado este nome na sua equipe
quando esta utilizava chassi Ferrari, chamada de “Thinwall Special”. O único
carro foi pilotado por Peter Collins.
Já
entre as equipes regulares, a Ferrari teve seus três carros oficiais e três
particulares: Jose Froilan Gonzalez, Mike Hawthorn e Maurice Trintignant
pilotaram os modelos 625 para a equipe oficial, enquanto que três modelos 500
ficaram para a Ecurie Rosier (que contou com Louis Rosier e Robert Manzon) e a
Scuderia Ambrosiana que entregou o carro a Reg Parnell; a Maserati teve o maior
número de carros neste GP, sendo sete modelos 250F e dois A6GCM: os modelos
250F oficiais ficaram para Onofre Marimon, Luigi Villoresi e Alberto Ascari,
que continuava na sua espera pelo Lancia D-50; entre os particulares, Roberto
Mieres inscreveu um modelo A6GCM, exemplo seguido por Harry Schell; Sir Alfred
Owen inscreveu sua equipe a Owen Racing Organization e arrendou um 250F para
Ken Wharton; Stirling Moss estava de volta ao grid com a sua 250F, correndo
pela equipe de seu pai; a Gilby Engineering teve Roy Salvadori no comando; e
Principe Bira inscreveu uma 250F. A Mercedes – ou Daimler Benz, como queiram –
levou apenas dois W196 de chassi “Streamlined” – o mesmo que foi usado na
estréia em Reimas – que foram conduzidos por Juan Manuel Fangio e Karl Kling.
Por último, a Gordini que levou três modelos T16 para Andre Pilette, Jean Behra
e Clemer Bucci.
Além
da Vanwall, essa corrida foi a de estreia para Don Beauman, Clemar Bucci, Ron
Flockhart (que pilotou o Maserati de Principe Bira por duas voltas), Horace
Gould, Leslie Marr, John Riseley-Prichard, Leslie Thorne e Bill Whitehouse.
Mais uma pole para Fangio
A
qualificação em Silverstone não foi nada mais que um passeio para Juan Manuel
Fangio, que esteve no comando das ações colocou um segundo de vantagem sobre
Gonzalez na luta de pela pole position ao anotar 1’45’’0 contra 1’46’’0 de seu
compatriota. Mike Hawthorn ficou com o terceiro lugar e Stirling Moss com o
quarto melhor tempo. Os dez primeiros foram completados por Jean Behra, Karl
Kling, Roy Salvadori, Maurice Trintignant e Principe Bira. A Maserati não teve
tempo hábil para preparar seus carros, uma vez que chegara atrasada para a
qualificação. Apenas Onofre Marimon é que teve uma chance de marcar tempo, o
que lhe deu o 28º lugar – ficando cerca de 17 segundos de atraso para o melhor
tempo de Fangio. Villoresi, Ascari e Mieres, que não conseguiram marcar tempo,
foram autorizados a largar das últimas posições.
Festa de Gonzalez em Silverstone
Após
uma qualificação onde Fangio havia destruído a concorrência parecendo estar num
nível acima dos demais, talvez as principais dúvidas é de quem seria o segundo
colocado naquela corrida. Mas as coisas começaram a ficar diferentes quando
outro argentino apareceu na ponta da corrida após a largada: Jose Froilan
Gonzalez assumiu a liderança aproveitando-se da má partida de Fangio e foi
seguido por Hawthorn, enquanto que o compatriota da Mercedes aparecia em
terceiro.
Gonzalez
parecia estar inspirado na sua vitória de 1951, quando deu a Ferrari e ele a
primeira conquista na Fórmula 1, ao imprimir um ritmo fortíssimo e abrir
diferença sobre Hawthorn que passava a receber pressão de Fangio que parecia
recuperar a velocidade no seu W196. Mas o campeão de 1951 teve outras coisas
mais para se preocupar naquela tarde em Silverstone: o chassi aerodinâmico com
Mercedes atrapalhava bastante que ele pudesse enxergar a borda das curvas de
Silverstone e com isso passou a acertar os tambores de demarcavam as curvas.
Dessa forma, além de danificar a lateral dianteira do carro, ele também perdia
velocidade, mas ainda sim teve tempo para conseguir passar por Mike para
assumir o segundo lugar.
Além
do brilhantismo de Gonzalez, que liderava de forma imponente, Stirling Moss foi
a outra estrela dessa corrida ao mostrar mais uma vez suas qualidades, mas
agora de posse de um carro bem melhor como era o caso do Maserati 250F. Ele,
junto de Hawthorn, passaram a batalhar pela terceira colocação e isso deixou o
publico inglês em polvoroso ao presenciarem seus dois jovens pilotos numa
grande disputa de posição. Moss venceu a batalha e foi à caça de Fangio, que
neste momento passava a ser presa fácil porque além dos tambores, o carro
passou apresentar problemas no câmbio e com isso Stirling passou pelo argentino
e assumia o segundo lugar.
A
prova teve um breve momento de chuva, o que ajudou ainda mais a Gonzalez
mostrar sua classe naquela Ferrari 625 ao continuar intocável na frente até
conseguir a vitória, algo que não acontecia desde o próprio GP da Grã Bretanha
de 1951. O outro grande nome da corrida, Stirling Moss, veio abandonar a
corrida na volta 80 após uma quebra de eixo no Maserati e isso fez com que Hawthorn
subisse para segundo e a terceira posição ficasse para Onofre Marimon – o jovem
argentino fizer uma das melhores largadas da história ao ultrapassar na
primeira volta dezenove carros, o que o levou da 28ª posição para a 9ª numa das
mais notáveis primeiras voltas da história da categoria. Juan Manuel Fangio
conseguiu levar a sua Mercedes até o quarto lugar, mesmo após todos os
problemas enfrentados. Maurice Trintignant fechou as posições pontuáveis ao
terminar em quinto. Nada mais que sete pilotos marcaram a melhor volta deste GP
(Gonzalez, Hawthorn, Marimon, Fangio, Moss, Behra e Ascari) e isso aconteceu
pelo fato da cronometragem marcar apenas os segundos inteiros – o tempo da
melhor volta ficou em 1 minuto e 50 segundos, o que levou a CSI a voltar ao que
era usado até o GP francês onde os décimos eram contados.
O desempenho de Gonzalez foi notável naquela tarde nublada em Silverstone, onde ele liderou todas as 90 voltas e ainda colocou voltas em quase todos, sobrando apenas Mike Hawthorn que terminara mais de um minuto de desvantagem. Esse GP marcou a derradeira aparição para Alan Brown, Reg Parnell e Peter Whitehead.
Pela segunda vez em sua carreira, Froilan Gonzalez havia derrotado as Mercedes - a primeira acontecera na Copa Peron de 1951. E mais uma vez com estilo.
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