No baixar da bandeira quadriculada para a incontestável
vitória de Nico Rosberg em Melbourne, a minha impressão é de que a prova ficou
devendo algo a mais para os fãs. Depois de uma classificação tão interessante,
com um grid atraente, eu esperava mais dessa primeira etapa. Mas um breve
raciocínio me fez enxergar as coisas de outro modo.
Quando as equipes se reuniram para os primeiros testes,
alguns comentários apareceram de que os pilotos não podiam usar toda a potência
dos novos motores exatamente para preservá-los naqueles primeiros dias. Até faz
sentido, pois nos oitos dias seguintes, no calor do deserto de Sakhir, eles
puderam acelerar ao máximo extraindo tudo, ou quase tudo, de seus propulsores. Em
Melbourne fiquei com a impressão de os pilotos estavam cautelosos demais,
arriscaram pouco em tentar alguma manobra de ultrapassagem. Outro fator que
deve ter contribuído – e muito – para isso, foi a preocupação com o consumo de
combustível que mais tarde ceifaria a segunda posição de Ricciardo. Salvo as
belas ultrapassagens de Bottas, o único a se arriscar de fato nessa corrida, é
que acabou sendo a salvação de um GP que poderia ter sido interessante.
Apesar disso a prova serviu para mostrar que a Mercedes
apresenta um bom carro neste início de temporada e que os seus motores são
fortes. Não dá para saber a real potência deles – ano passado rodou o boato de
que tinha em torno de 100cv a mais que Ferrari e Renault – mas percebe-se que
tem um bom desempenho e suas clientes estão bem servidas nesse quesito. A
Williams que o diga...
Aproveitando o gancho, Valtteri Bottas foi o grande nome do
dia em Melbourne com a sua série de ultrapassagens e após uma bela recuperação
após tocar o muro na décima volta, que acabou por estourar o pneu esquerdo
direito quando já estava na cola de Alonso. Recuperou-se bem e terminou em
sexto. Baseando-se no que Bottas fez durante as 58 voltas, dá para imaginar o
que teria conseguido Felipe Massa, caso este não tivesse ficado de fora logo na
largada quando Kobayashi o acertou. Mas o fato é que a Williams possui um bom e
que pode reservar a equipe bons resultados no decorrer do ano.
Além de Bottas, não posso esquecer-me de falar de Magnussen
e Kyyat que tiveram uma boa jornada em Melbourne. Enquanto que o dinamarquês
levou foi ao pódio pela primeira vez, conseguindo em alguns estágios pressionar
Daniel Ricciardo na luta pela segunda posição, Kvyat esteve no encalço de Kimi
Raikkonen e a frente do seu companheiro de Toro Rosso, Vergne. Daniil garantiu
um ponto que serviu também para colocá-lo na história da F1 como o piloto mais
novo a pontuar, superando Sebastian Vettel. Já Kevin Magnussen, além de ser o
primeiro dinamarquês a chegar ao pódio, mostrou qualidades que pode garantir a
ele um bom ano de estréia e também, quem sabe, colocar o sobrenome Magnussen
entre os melhores da categoria, algo que seu pai, Jan, deixou escapar nos anos
90.
Para os australianos ficou a frustração de um final de
semana que tinha sido perfeito para Daniel Ricciardo, que conseguiu se colocar
à frente de Vettel no grid e que passou toda a corrida na segunda colocação. O
rolo entre FIA e Red Bull com a história do fluxômetro, acabou por tirar os
dezoitos pontos que conquistara. Uma pena.
Apesar do temor de nenhum carro completar o GP – quanto exagero
– até que o número de pilotos que completaram o GP foi decente: catorze
chegaram ao final, sendo que dos oito abandonos 6 foram por problemas. Vettel e
Hamilton saíram logo no início, o primeiro mostrando que o motor Renault ainda
não tem toda força, apesar da bela corrida de Ricciardo que não apresentou
problemas, e outro, com um foguete nas mãos, teve uma avaria ainda nas
primeiras voltas, sendo forçado a se retirar.
Já a Ferrari não apresentou grande ritmo nessa prova e
parecia que tanto Alonso, quanto Raikkonen estavam pilotando caminhões – se alguém
da Ferrari ler isso – tamanha a dificuldade de ambos.
Quando os carros estiveram rodando pelo circuito de Sepang
nos dias 28, 29 e 30 de março, é que podemos continuar a analisar as coisas.
Como disse, a impressão que tive é que os pilotos estavam comedidos, receosos
em arriscar. Talvez numa pista permanente, com bons pontos de ultrapassagens,
eles possam tentar algo mais.