Certa vez alguém comparou Jack Brabham e
Nelson Piquet. Não apenas pelo fato deles terem sido tri-campeões do mundo, ou
até mesmo pelo fato de terem sido campeões pela Brabham. Mas o modo dos dois
levarem o automobilismo de competição, aquele puro sem qualquer tipo de
oba-oba, onde os carros eram tão brutos e selvagens quanto um cavalo e eles
procurando o máximo para domá-los. Ou seja, aquele
automobilismo das antigas, onde o piloto tinha um olho na pista e outro para a
garota do lado de fora. Época em que as perguntas inteligentes eram respondidas
de forma correta e com brilhantes, enquanto que as idiotas tinham respostas sarcasticamente históricas. Isso, sem contar, que os dois sobrenomes foram de fácil relação nos início dos anos 80 e perdura até hoje. Impossível não lembrar de Piquet e não mencionar Brabham em uma conversa.
Começaram cedo a se envolver com os carros,
se iniciando ainda na adolescência; foram campeões nos seus respectivos países
e rapidamente ganharam a Europa para mais tarde conquistar os seus títulos
mundiais na Fórmula-1. Turrões, de forte opinião e com humor negro, se
destacaram não apenas pela pilotagem precisa, mas também por serem ótimos
acertadores de carros. Também formaram parcerias piloto-projestista que lhe
renderam bons frutos – Jack Brabham e Ron Tauranac, além de serem sócios na
equipe Brabham, ergueram a equipe até o primeiro título mundial em 1966, para
depois torná-la uma das maiores da categoria. Coincidentemente, após dez anos
da aposentadoria de “Black Jack” (apelido que foi lhe dado devido ao seu humor
negro), Nelson Piquet e Gordon Murray, exatamente na equipe Brabham, reeditaram
essa parceria que rendeu ao piloto brasileiro seus dois primeiros títulos
mundiais.
Tentaram também a sorte nas 500 Milhas de
Indianápolis algumas vezes, mas sem obter sucesso. A coincidência entre eles
continua quando olhamos para a prole: cada um tem três filhos que estão
envolvidos com automobilismo. Geoff correu nos anos 80 nos EUA onde fez
carreira na Indy e na IMSA enquanto que Gary e David Brabham chegaram à F1, mas
sem obter sucesso. Pelo lado de Nelson Piquet, ele teve a oportunidade de
pavimentar o caminho de Nelsinho à categoria máxima até a metade dos anos 2000.
Geraldo Piquet é piloto da Fórmula Truck e agora Pedro Piquet, que começou neste
ano a trilhar a sua história no mundo dos monopostos, é o mais novo do clã a
tentar chegar à F1. Nelson Piquet é um
fã confesso de Jack Brabham, a quem ele admira pelo fato de ter conquistado um
mundial de pilotos pilotando o próprio carro, feito que dificilmente será
igualado nesta F1 de hoje. E vale lembrar que o velho Jack foi quem indicou
Nelson a Bob Sparshot no final dos anos 70, para que ele contratasse o piloto
brasileiro para a sua equipe BS. Certamente Brabham deve ter ficado feliz
quando viu Piquet vencendo dois mundiais na equipe que levava o seu nome.
Jack morreu. Chegou ao fim da vida de 88
anos ontem na sua casa em Gold Coast, na Austrália numa altura em que a
terceira geração dos Brabham começa a ganhar destaque no automobilismo mundial
com a presença de Matthew – filho de Geoff – que está a ganhar destaque na Indy
Lights enquanto que Sam – filho de David – está iniciando suas atividades na
F-Ford na Grã-Bretanha.
E para aquele cara que sobreviveu a uma das
épocas mais cruéis do automobilismo, onde pilotar era como “fumar um charuto cubano numa
banheira cheia de gasolina” – frase de Graham Hill – e conseguiu chegar
a um título mundial pilotando o seu próprio carro, aqui fica o nosso respeito e
admiração.