Um ano após a espetacular chegada entre Al Unser Jr. e Scott
Goodyear na edição 76 das 500
Milhas de Indianápolis a expectativa era de uma corrida
ainda mais imprevisível do que a de 1992: Os Penskes de Emerson Fittipaldi e do
recém promovido e então jovem Paul Tracy, estavam em boa forma naquela
temporada. Do outro lado, num desempenho tão bom quanto, estava a Newman-Haas
com a sua dupla formada pelo atual campeão da F1 Nigel Mansell e o velho Mario
Andretti. Correndo por fora, mas não com tantas chances, aparecia Bobby Rahal
(atual campeão da CART), atual vencedor das 500 Milhas Al Unser Jr.,
Raul Boesel, Danny Sullivan e o sempre veloz e perigoso em provas de oval Arie
Luyendyk.
Apesar do aparente favoritismo pendendo para os carros de
Penske e Newmann-Haas, as demais não poderiam ser descartadas: Bobby Rahal,
atual campeão da CART, tinha formado a sua equipe em parceria com Carl Hoogan,
chamando-a de Rahal-Hoogan Racing e de imediato absorveram toda a estrutura da
Truesports, equipe pela qual Rahal tinha ganho o campeonato e Indy 500 de 1986.
Na Galles, equipe que vencera com Al Unser Jr a Indy 500, “Little Al” e Danny
Sullivan foram mantidos, mas a Galmer não era mais a fornecedora de chassi para
a equipe, sendo preterida pela Lola. Um terceiro carro foi destinado para Kevin
Cogan, exclusivamente para a disputa das 500 Milhas. Na Chip
Ganassi a presença de Arie Luyendyk significava uma chance de bom desempenho em
Indianápolis, uma vez que o piloto holandês tinha vencido em 1991 e em outras
edições conseguira bons resultados.
Entre os novatos para esta corrida, a estrela principal era
Nigel Mansell. O piloto britânico havia mostrado as suas credenciais na prova
de abertura disputada em
Surfers Paradise, na Austrália, quando venceu após duelar com
Emerson Fittipaldi. Mas pagou caro pela sua inexperiência nos ovais ao
subestimar a velocidade deste ao bater forte em Phoenix, durante os treinos
para esta corrida e tomar uma pancada de um dos pneus na cabeça vindo a causar
uma concussão na coluna. Foi operado e isso forçou a perder a prova de
orientação para novatos em Indianápolis (ele acabou sendo liberado pela USAC
para disputar a prova, já que a entidade entendeu que o piloto tinha
experiência suficiente). Nelson Piquet também estava de volta ao templo após um
ano do seu terrível acidente que quase lhe custou os pés. Os outros novatos eram
o sueco Stefan Johansson, o francês Stéphan Gregoire e o americano Robby
Gordon, que faria dupla com a lenda AJ Foyt.
Enquanto que alguns estreavam, nomes famosos que fizeram
parte de Indianápolis nas últimas décadas ficavam de fora: Gordon Johncock e
Rick Mears haviam se aposentado após a temporada de 1992; Tom Sneva também
saíra de cena ao final do ano anterior, mas ainda tentou um lugar para correr
em Indianápolis, mas não obteve sucesso; Michael Andretti, que colecionou
dissabores no Brickyard, estava agora a serviço da McLaren na Fórmula-1. Al
Unser Sr., Mario Andretti e AJ Foyt ainda eram os elos que ligavam a categoria
a uma distante época onde os pilotos desafiavam as altas velocidades do
Indianápolis Motor Speedway em carros de motores dianteiros e depois em bólidos
de extremamente potentes e letais, tanto quanto uma dose de eutanásia. Para os
dois primeiros, esta era a última participação numa edição desta prova – se bem
que Mario ainda se classificara para a corrida de 1994, mas não chegou a largar
devido a problemas com o sistema de combustível. AJ Foyt, a exemplo de seus
dois velhos rivais, chegou a treinar em Indianápolis, mas um acidente do seu
novato companheiro de equipe Robby Gordon antes do Pole Day, o fez mudar de
idéia. AJ tinha acenado com a possibilidade de se aposentar em 1991, mas
decidiu seguir em frente e o acidente de Robby fez florescer essa idéia
novamente. Foyt entrou no seu carro para a sua volta, mas a fez de forma lenta
e ao sair do carro disse que a sua carreira de piloto tinha terminado. Alegou
que o acidente de Robby Gordon pela manhã o fez ver que não conseguiria gerir
uma equipe e pilotar ao mesmo tempo e se quisesse o sucesso da equipe, ele
teria que gastar 110% dos seus esforços fora do cockpit. Chegava ao fim a
carreira de uma das maiores lendas do automobilismo americano e mundial,
detentor de quatro Indy 500, uma Daytona 500, uma 24 Horas de Le Mans e de 35
largadas ininterruptas nas 500
Milhas de Indianápolis iniciada em 1958.
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Tom Carnegie entrevistando o então recém aposentado AJ Foyt em Indianápolis, 1993 |
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A volta de Nelson Piquet à Indianápolis: abandono na 31ª e desejo realizado |
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Luyendyk, Andretti e Boesel na primeira fila para a Indy 500 de 1993 |
Devido os acidentes do ano anterior algumas melhorias foram
feitas no Indianápolis, como a criação de uma pista de rolamento e colocação de
uma faixa de grama entre ela e a pista de forma que os pilotos não mergulhassem
até ela para fazer o tangenciamento. Dessa forma, as altas velocidades
alcançadas em 1992 não voltariam a se repetir e o velho Speedway se tornaria um
pouco mais lento.
A briga pela pole position foi dividida entre Luyendyk,
Mario Andretti e Raul Boesel, com os três a se revezarem nesta posição. No
final da tarde de 15 de maio, Arie Luyendyk cravou a pole com a marca de 223,967 mph (358.347Km/h) e foi seguido por Mario Andretti e Raul Boesel
formando assim a primeira fila. Al Unser Jr. garantiu a quinta posição; Emerson
Fittipaldi a nona colocação e Nigel Mansell a oitava posição. Stefan Johansson
era o melhor dos “Rookies” e tinha garantido uma ótima sexta posição. Nelson
Piquet, com o carro vermelho da Menards, garantiu a 13ª colocação e o veterano
de Indianápolis, Al Unser Sr., saíra em 23º. A decepção ficara por conta de
Bobby Rahal que não conseguira achar o acerto do seu carro e acabou ficando de
fora após várias tentativas frustradas.
O dia da corrida, ao contrario do
ano anterior que fora realizado sob um céu cinzento e de clima frio, agora
seria feito sob céu azul e sol. Mas havia uma possibilidade de chuva perto do
fim da corrida, que acabou não se concretizando.
A bandeira verde foi sinalizada e a
77ª Edição das 500 Milhas
de Indianápolis teve o seu início Raul Boesel saindo feito um raio e partindo
para ganhar a primeira colocação da reta oposta, deixando Arie e Mario na briga
pela segunda posição. A corrida transcorreu sem problemas até a 16ª volta
quando Jim Crawford rodou na saída da curva 2, mas não bateu. As bandeiras
amarelas foram mostradas e neste instante um pelotão se encaminhou para os
boxes, deixando a liderança a cargo de Kevin Cogan. Raul Boesel tinha sido um
destes que entraram nos boxes, mas ao sair dos pits ele estava atrás de Mario
Andretti na pista de rolamento. Como estava mais rápido, acabou ultrapassando o
piloto americano. Quando a relargada foi dada na volta 21, a punição foi dada á
Boesel pela manobra na saída dos boxes. Com isso, o piloto brasileiro pagou a
punição e despencou no pelotão.
Danny Sullivan bateu na volta 31,
numa altura que seu companheiro de Galles, Al Jr. liderava. A bandeira mais uma
vez foi mostrada e neste instante Nelson Piquet abandonara também, devido o
motor fundido. Após o período de bandeira amarela, a verde foi mostrada e o que
se viu depois foi uma batalha caseira entre Andretti e Mansell pela segunda
posição, com o “Leão” a ganhar disputa contra a “Raposa” e depois indo a ganhar
a liderança de Luyendyk. Mas nem pôde desfrutar dessa posição, já que teve que
entrar nos boxes em
seguida. A liderança voltaria para o seu comando após uma
série de pit-stops em bandeira verde.
Após algumas amarelas devido a
detritos e acidentes, a corrida chegava ao seu fim e cenário apontava a
liderança nas mãos de Mansell, seguido por Emerson Fittipaldi e Arie Luyendyk.
Emerson tinha passado todo o mês de maio trabalhando constantemente no carro
para a corrida e tinha naquele momento estava com um bom bólido ao seu comando,
mas não havia liderado uma volta sequer. Raul Boesel, que estava em franca
recuperação quando sofreu um stop-and-go por ter entrado nos pits quando este
estava fechado no momento do acidente de Robby Gordon, estava em quarto. Uma recuperação
magistral.
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Raul Boesel com o Lola-Ford da Dick Simon: não fosse as punições, talvez tivesse ganho a prova |
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Nigel Mansell esteve muito bem, mas pagou pela inexperência nos ovais e também sua agressividade ao volante.
Foi o primeiro estreante a completar as 500 Milhas de Indianápolis desde Donnie Allison, em 1970. |
Na volta 182 Lynn St. James bateu
seu carro na curva quatro, forçando outra bandeira amarela. Mas esta foi curta
e quando os carros passaram para abrir a184ª passagem, a bandeira verde foi
mostrada. Mansell partiu na frente e estava crente que havia conseguido uma
distância para Emerson e Arie, mas ele ficou surpreso quando viu que os dois
estavam colados no seu Lola-Ford. Nigel ainda tentou se defender dos ataques de
Emerson na reta oposta colocando o carro na linha interna, mas o brasileiro,
com maior experiência nos ovais, o passou por fora e de carona trouxe o
“Holandês Voador” Arie Luyendyk que assumiu o segundo posto. O sonho de vencer
a Indy 500 na sua estréia começava a desmoronar.
E as coisas tornar-se-iam ainda pior
quando Mansell, na tentativa de alcançar Arie, acabou tocando o seu carro no
muro da curva dois na 192ª volta. As bandeiras amarelas foram mostradas e
faltando cinco para o fim, a verde de agitada. Emerson, que havia construído
uma boa vantagem para Luyendyk nas voltas anteriores, começou a se afastar
rapidamente do holandês. Ele venceu a corrida com 2,8 segundos de avanço sobre
Arie. Mansell chegou em terceiro e Boesel, na sua espetacular escalada pelo
pelotão, terminou em quarto mostrando que tinha carro para ganhar aquela prova se
não fosse as punições. As três primeiras posições foram dominadas por pilotos
estrangeiros, fato que não acontecia desde 1917 e com a quarta posição de
Boesel, essa foi a primeira vez que nenhum americano chegava no Top Four. Mario
Andretti foi o americano melhor colocado, terminando em quinto. Para Mansell
o que lhe restou foi o prêmio de melhor estreante na Indy 500 e ao final do ano
o título da CART
No Victory Lane, Emerson Fittipaldi
não bebeu o tradicional leite que é servido ao vencedor da prova desde 1936.
Ele preferiu beber o suco de laranja que vinha de suas plantações do interior
de São Paulo, a fim de fazer propaganda, e isso gerou pesadas críticas da
imprensa, torcida e por parte dos tradicionalistas. Nem mesmo segurar a garrafa
ele quis, rejeitando-a algumas vezes enquanto procurava beber o suco.
Reza a lenda que esta quebra de tradição por parte de
Fittipaldi lhe rendeu vaias na semana seguinte em Milwaukee, quando a Indy se
reuniu para realizar uma etapa por lá e que até hoje, mesmo após ter explicado o
porquê daquela sua atitude, alguns torcedores ainda olham torto para o “Emmo”.
Tanto que quando foi convidado a pilotar o Corvete que foi o Pace Car na edição
de 2008, alguns ainda o vaiaram.
Ainda que o próprio Emerson tenha passado perto de vencer em
94 e de seu sobrinho Christian tenha ficado em segundo em 1995, outro piloto
brasileiro só venceria a Indy 500 oito anos depois com Helio Castroneves,
pilotando para a Penske.