As melhorias apresentadas pela Ferrari nestes três últimos
GPs deram a equipe italiana a possiblidade de, enfim, enfrentar e até mesmo
superar a Mercedes. Isso foi muito bem traduzido pelas poles de Charles Leclerc
e suas vitórias, assim como a bela conquista de Sebastian Vettel em Singapura.
Em Sochi o cenário estava pronto mais uma vez para que a conquista da Rossa fosse
apenas uma questão de tempo, mas não foi bem assim.
É claro que a intromissão de Hamilton entre as duas
Ferrari – num momento que a primeira fila italiana parecia certa – precisava de
maiores cuidados exatamente pela longa reta do circuito russo, mesmo que o
piloto inglês saísse de pneus médios que tem uma aderência menor que os macios
usados pelo duo ferrarista. Um acordo feito antes da prova anular qualquer
ataque de Lewis foi feito entre Charles e Sebastian e quando a largada foi
dada, a saída de foguete de Vettel, ao pular de terceiro para primeiro, foi
amplamente festejada e elogiada, porém – como boa parte das coisas que
acontecem longe de microfones da imprensa e de ouvidos bem aguçados – soube-se
mais tarde que aquilo era parte da estratégia de neutralizar o piloto
britânico. Porém a outra parte do combinado era de Sebastian ceder a posição
para Charles ainda nas primeiras voltas. Mesmo com os engenheiros discutindo
isso a cada volta e indicando que Charles era o mais veloz, era Vettel quem
estava de “jato ligado” ao cravar uma série de voltas velozes estando na
liderança. Com uma diferença que chegou beirar os cinco segundos e com Leclerc
não aproximando, a troca jamais foi feita e isso foi o estopim para mais um
capitulo da pequena, mas intensa, guerra fria que deflagrou na equipe italiana.
As posições foram alteradas quando Vettel parou nos boxes na volta 27, quatro
voltas depois de Charles, ficando imediatamente atrás do piloto monegasco. O
pior de tudo é que a estratégia da Mercedes passava a funcionar, pois largando
de pneus médios a equipe alemã esperava deixar Hamilton mais tempo na pista
para ter pneus macios mais frescos. A ideia começou a melhorar quando Sebastian
estacionou na sua Ferrari com problemas na unidade de potência uma volta após sua
parada de box. Com o Virtual Safety Car acionado, tudo ficou mais fácil para
que Lewis parasse e voltasse ainda na liderança da corrida e, para completar a
estratégia, Bottas também foi aos boxes na mesma volta (29) mudando para os
macios. Ainda em regime de VSC, George Russel bateu a sua Williams forçand,
assim, a entrada do Safety Car que acabou sendo importante para que a Ferrari
chamasse Leclerc e mudasse os pneus médios para macios, dando ao piloto de
Mônaco a oportunidade de duelar de igual para igual contra os dois Mercedes. A
verdade é que após a relargada Charles não conseguiu chegar próximo o
suficiente de Valtteri Bottas para tentar a ultrapassagem nos trechos mais,
sendo que o último setor da equipe alemã era o melhor por conta do traçado mais
sinuoso – e Bottas também conseguia uma melhor tração na saída da última curva
do circuito, ajudando a anular qualquer tentativa de um uso mais eficaz da asa
móvel de Leclerc. Alheio a tudo isso e fazendo a sua parte, Lewis fez as voltas
velozes que precisava para abrir uma distância confortável para que pudesse se defender
de Charles caso este conseguisse passar por Valtteri. A espera do SC que tanto
a Mercedes almejava em Singapura, quando deixou Lewis por mais tempo na pista
para tentar o pulo do gato e não aconteceu, acabou desta vez dando tudo certo.
Apesar de uma grande melhoraria da Ferrari, especialmente nas classificações, o
ritmo de prova destas duas equipes é bem parelha e isso dá a Mercedes a
possibilidade de arriscar mais e tentar escapar de ficar encaixotado atrás dos
vermelhos. Infelizmente não tivemos a chance de observar como seria essa
estratégia com as duas Ferrari à frente, mas talvez a batalha fosse bem
interessante com um Lewis tentando conquistar a vitória a fórceps. Mas, se na
outra semana a estratégia “mercediana” foi um fiasco, essa correu tudo bem.
A corrida teve seu destaque, além do entrevero
ferrarista, a ótima atuação de Alex Albon, que escalou o pelotão largando de
15º até a quinta posição – isso sem contar no belo duelo contra Pierre Gasly.
Enquanto que Mercedes festeja mais uma vitória,
arrancada com uma bela estratégia e competência de seus pilotos que mantiveram
por mais um ano o domínio das Silver Arrows neste circuito, a Ferrari terá que
arrumar a casa até o GP do Japão para evitar que essa tempestade tome contornos
mais devastadores para o ambiente que já não é tão calmo assim – até mesmo
quando as coisas vão indo bem.