domingo, 29 de setembro de 2019

GP da Rússia – De bandeja


As melhorias apresentadas pela Ferrari nestes três últimos GPs deram a equipe italiana a possiblidade de, enfim, enfrentar e até mesmo superar a Mercedes. Isso foi muito bem traduzido pelas poles de Charles Leclerc e suas vitórias, assim como a bela conquista de Sebastian Vettel em Singapura. Em Sochi o cenário estava pronto mais uma vez para que a conquista da Rossa fosse apenas uma questão de tempo, mas não foi bem assim.
É claro que a intromissão de Hamilton entre as duas Ferrari – num momento que a primeira fila italiana parecia certa – precisava de maiores cuidados exatamente pela longa reta do circuito russo, mesmo que o piloto inglês saísse de pneus médios que tem uma aderência menor que os macios usados pelo duo ferrarista. Um acordo feito antes da prova anular qualquer ataque de Lewis foi feito entre Charles e Sebastian e quando a largada foi dada, a saída de foguete de Vettel, ao pular de terceiro para primeiro, foi amplamente festejada e elogiada, porém – como boa parte das coisas que acontecem longe de microfones da imprensa e de ouvidos bem aguçados – soube-se mais tarde que aquilo era parte da estratégia de neutralizar o piloto britânico. Porém a outra parte do combinado era de Sebastian ceder a posição para Charles ainda nas primeiras voltas. Mesmo com os engenheiros discutindo isso a cada volta e indicando que Charles era o mais veloz, era Vettel quem estava de “jato ligado” ao cravar uma série de voltas velozes estando na liderança. Com uma diferença que chegou beirar os cinco segundos e com Leclerc não aproximando, a troca jamais foi feita e isso foi o estopim para mais um capitulo da pequena, mas intensa, guerra fria que deflagrou na equipe italiana. As posições foram alteradas quando Vettel parou nos boxes na volta 27, quatro voltas depois de Charles, ficando imediatamente atrás do piloto monegasco. O pior de tudo é que a estratégia da Mercedes passava a funcionar, pois largando de pneus médios a equipe alemã esperava deixar Hamilton mais tempo na pista para ter pneus macios mais frescos. A ideia começou a melhorar quando Sebastian estacionou na sua Ferrari com problemas na unidade de potência uma volta após sua parada de box. Com o Virtual Safety Car acionado, tudo ficou mais fácil para que Lewis parasse e voltasse ainda na liderança da corrida e, para completar a estratégia, Bottas também foi aos boxes na mesma volta (29) mudando para os macios. Ainda em regime de VSC, George Russel bateu a sua Williams forçand, assim, a entrada do Safety Car que acabou sendo importante para que a Ferrari chamasse Leclerc e mudasse os pneus médios para macios, dando ao piloto de Mônaco a oportunidade de duelar de igual para igual contra os dois Mercedes. A verdade é que após a relargada Charles não conseguiu chegar próximo o suficiente de Valtteri Bottas para tentar a ultrapassagem nos trechos mais, sendo que o último setor da equipe alemã era o melhor por conta do traçado mais sinuoso – e Bottas também conseguia uma melhor tração na saída da última curva do circuito, ajudando a anular qualquer tentativa de um uso mais eficaz da asa móvel de Leclerc. Alheio a tudo isso e fazendo a sua parte, Lewis fez as voltas velozes que precisava para abrir uma distância confortável para que pudesse se defender de Charles caso este conseguisse passar por Valtteri. A espera do SC que tanto a Mercedes almejava em Singapura, quando deixou Lewis por mais tempo na pista para tentar o pulo do gato e não aconteceu, acabou desta vez dando tudo certo. Apesar de uma grande melhoraria da Ferrari, especialmente nas classificações, o ritmo de prova destas duas equipes é bem parelha e isso dá a Mercedes a possibilidade de arriscar mais e tentar escapar de ficar encaixotado atrás dos vermelhos. Infelizmente não tivemos a chance de observar como seria essa estratégia com as duas Ferrari à frente, mas talvez a batalha fosse bem interessante com um Lewis tentando conquistar a vitória a fórceps. Mas, se na outra semana a estratégia “mercediana” foi um fiasco, essa correu tudo bem.
A corrida teve seu destaque, além do entrevero ferrarista, a ótima atuação de Alex Albon, que escalou o pelotão largando de 15º até a quinta posição – isso sem contar no belo duelo contra Pierre Gasly.
Enquanto que Mercedes festeja mais uma vitória, arrancada com uma bela estratégia e competência de seus pilotos que mantiveram por mais um ano o domínio das Silver Arrows neste circuito, a Ferrari terá que arrumar a casa até o GP do Japão para evitar que essa tempestade tome contornos mais devastadores para o ambiente que já não é tão calmo assim – até mesmo quando as coisas vão indo bem.

sábado, 28 de setembro de 2019

Foto 805: Rudolf Caracciola, 60 anos atrás



Há 60 anos morria em Kassel, na Alemanha, o piloto alemão Rudolf Caracciola. Considerado como um dos maiores de sua época, ele foi o piloto oficial da Mercedes nos períodos entre as duas guerras e foi campeão europeu de pilotos nos anos de 1935, 37 e 38. Nascido em Remagen, Alemanha, em 30 de janeiro de 1901, Otto Wilhelm Rudolf Caracciola iniciou sua carreira automobilística em 1922 correndo com um carro particular. Em 1925 juntou-se à Mercedes e ganhou sua primeira corrida importante no mesmo ano, o GP da Alemanha disputado em AVUS. Sua carreira prolongou-se por trinta anos até abandonar as pistas após se acidentar numa corrida em Berna, 1952, quando ele estava voltando as competições depois de outro acidente que sofrera em Indianápolis quando um pássaro lhe acertou o rosto nos treinos para as 500 Milhas de 1946. A seguir algumas fases importantes da carreira de Rudolf Caracciola “Caratsch” (apelido dado pela torcida alemã).




MILLE MIGLIA 1931 - Na famosa prova italiana eram os pilotos da casa quem mandavam. Caracciola se apresentou para essa prova, ao lado do seu co-piloto Wilhelm Sebastian, com uma Mercedes SSKL de 7.000cc e 1,5 toneladas. Os italianos deram de ombros, afinal não colocavam fé de que os alemães fossem páreo para os Alfa- Romeo de 2.300cc de Nuvolari, Borzacchini e Arcangeli. Caracciola ignorou a lógica e pilotou o que pôde, andando acima do limite de sua Mercedes para garantir uma vitória histórica para os alemães na Mille Miglia – com direito a recorde na ocasião –, no que se configurou a primeira derrota dos italianos nesta prova. Ele tinha calado o público.







RELAÇÃO DE PAI E FILHO - Alfred Neubauer, diretor esportivo da Mercedes, tinha uma relação fortíssima com Caracciola de longa data, mais precisamente de 1929, quando a Mercedes estava para sair das competições devido a crise. Caracciola prometeu voltar à equipe assim que esta regressasse aos grandes prêmios que aconteceu em 1934. Com o retorno da Mercedes em 1934 Caracciola só estreou no GP da França, em Montlhery, pois ainda se recuperava do acidente sofrido em Mônaco um ano antes durante os treinos em que quebrara a perna direita. Essa relação era tão forte que acarretou alguns problemas na Mercedes: alguns pilotos eram proibidos de atacar Rudolf caso estivessem mais velozes tanto que Luigi Fagioli, um dos melhores pilotos italianos na época, foi vítima algumas vezes disso – inclusive chegando agredir Caracciola em Trípoli 1936. Ele não aguentou tal situação e no ano seguinte partiu para a rival Auto Union.




(A foto é de Nurburgring 1939 vencida por Caracciola)

A CORRIDA DE CARACCIOLA - Vencer uma corrida em casa é sempre fantástica e a sensação é indescritível, mas naquela época vencer o GP da Alemanha era obrigação. Rudolf venceu essa prova por seis vezes (1926, 28, 31, 32, 37 e 39): em 1926, 28, 31, 37 e 39 foram vitórias conquistadas pela Mercedes, enquanto que a de 1932 foi pela Alfa Romeo, no famoso intervalo que a fábrica alemã tomou até o seu retorno triunfal em 1934. 



(A foto é do GP de Mônaco de 1936)

REGENMEISTER- O mestre da chuva, assim era conhecido Caracciola por sua perícia em pista molhada. A tal alcunha foi criada no GP da Alemanha de 1926 quando conseguiu recuperar-se de uma péssima largada – seu Mercedes teve problemas para pegar e seu mecânico Eugen Salzer precisou descer para empurrar, mas nesta altura já haviam perdido grande terreno para os adversários. Porém a chuva e a névoa tomaram conta do circuito de AVUS e Caracciola aproveitou a chance para descontar a desvantagem para os demais e assumir a liderança debaixo de um torrencial aguaceiro acompanhado pela densa névoa - essa corrida ficou marcada pela morte de três cronometristas que tiveram a casa de cronometragem acertada pelo carro de Rosenberger que liderava a prova. Rudolf Caracciola, junto de Eugen Salzer, venceu o GP alemão e devido a sua fabulosa condução naquelas condições acabou recebendo da imprensa o apelido de “Regenmeister”. Outra de suas famosas exibições na chuva aconteceu em Mônaco 1936 quando disputou roda a roda com Nuvolari, outro gênio em piso molhado, a vitória no GP monegasco daquele ano. Por mais que estivesse com uma Mercedes, ele não teve sossego com os ataques de Nuvolari e sua Alfa-Romeo até que este abandonasse a prova com problemas deixando assim caminho livre para a vitória de Caracciola. A chuva era tanta que os pilotos da Auto Union estavam usando a segunda marcha para percorrer o traçado todo. 




OS RIVAIS- Qualquer piloto que tenha certo destaque acaba por ter seus rivais. Caracciola não era diferente. Nos anos trinta os mais próximos eram Tazio Nuvolari, Luigi Fagioli e Bernd Rosemeyer. Com Nuvolari ele dividiu os carros da Alfa Romeo no ano de 1932 e acabou tendo que entregar, em algumas situações, vitórias para o piloto italiano. Vendo que não tinha condições, acabou comprando uma Alfa P3 e dividindo o volante com seu amigo e piloto Louis Chiron em 1933. Na estréia dos dois no carro, Caracciola sofreu seu grave acidente e ficou de fora da temporada até o ano de 34. Nessa época ele voltou à Mercedes e tinha como um dos seus companheiros, o italiano Luigi Fagioli e ambos não nutriam nenhuma simpatia um com o outro. E as coisas pioraram quando Neubauer começou a fazer jogo de equipe favorável à Caracciola, assim Fagioli também saiu da equipe. A outra rivalidade foi curta, mas mexeu com a nação alemã: Rosemeyer se destacava mais e mais ao volante de sua Auto Union e este tinha uma pilotagem muito mais atirada do que a de Caracciola, o que acabou conquistando os alemães e isso se prolongou até 1938 quando numa tentativa de quebra de velocidade no trecho Frankfurt-Darmstadt, Rosemeyer morreu quando seu carro foi apanhado por ventos laterais e jogado para fora da pista. Ele tentava bater o recorde que Caracciola tinha estabelecido horas antes que era de 432Km/h. ( Da esquerda para a direita as fotos: Nuvolari, Fagioli e Rosemeyer)


Mônaco 1933, logo após o seu acidente na curva da Tabacaria


OS ACIDENTES- Na sua carreira Caracciola teve três graves acidentes. O primeiro aconteceu em 1933 em Mônaco quando seu carro perdeu o freio e ele bateu de frente na curva da Tabacaria quebrando a perna direita, fazendo com que ficasse de fora do resto do campeonato. A segunda foi em 1946 quando tentou correr as 500 Milhas de Indianápolis. Durante os treinos um pássaro bateu em seu rosto e Rudolf ficou em coma por 10 dias com sério risco de morte, mas acabou escapando para voltar seis anos depois quando a Mercedes também voltava às competições. Em 1952, durante um treino em Berna, pilotando o modelo 300SL da Mercedes, ele escapou e bateu de frente numa árvore que acabou por quebrar a sua perna esquerda. Depois disso ele nunca mais voltou a pilotar.

Caracciola retirou-se das competições definitivamente, mas continuou ligado a Daimler-Benz como vendedor. Problemas de saúde apareceram já no inicio de 1959, que pioraram no decorrer do ano quando foi diagnosticado com cirrose. Em 28 de setembro daquele ano Caracciola acabou sucumbindo a uma insuficiência hepática, vindo falecer na cidade de Kessel aos 58 anos.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Foto 804: Jonathan Palmer, Brands Hatch 1983



Uma bela oportunidade para o recém campeão da Fórmula 2 de 1983 estreando pela Williams, no GP da Europa daquele ano.
A equipe de Frank Williams alinhou um terceiro carro para Jonathan Palmer que classificou-se em 25o, enquanto que o campeão de 1982 Keke Rosberg ficava em 16o e Jacques Laffite não conseguia um lugar no grid.
Curiosamente Jonathan foi o melhor da Williams, mesmo que tenha terminado o GP europeu, disputado em Brands Hatch, duas voltas atrás do vencedor Nelson Piquet. Palmer fechou em 12o e Keke Rosberg abandonou na volta 43 por conta de problemas no motor.
A partir de 1984 Palmer passou a correr pela equipe RAM.

domingo, 22 de setembro de 2019

GP de Singapura - Vettel is back

Não é nenhuma novidade que os últimos meses para Sebastian Vettel não foram aquele mar de rosas. Inúmeros textos tentando decifrar o porquê da sua maré de altos e baixos - mais baixos, diga-se - foram escritos, mas somente o próprio piloto alemão é que poderia dizer o que de fato tem acontecido neste período. Pior: o vai e vem de aposentar e desaposentar Sebastian a cada corrida, já era um dos principais esportes de seus detratores. E para piorar, a crescente de Charles Leclerc só fazia reforçar ainda mais as ferozes críticas ao tetracampeão. Porém um território onde ele sempre foi soberbo foi palco para que ele reencontrasse a vitória.
É verdade que a princípio esta pista não favorecia a Ferrari, mas as melhorias para o carro italiano lhe deram uma sobrevida para este circuito. Por outro lado a corrida mais parecia um duelo particular entre Leclerc e Hamilton, numa extensão do que acontecera em Monza quinze dias antes. Mas as paradas de box é decidiu a corrida quando Vettel foi para a sua troca e colocou os pneus duros. Apesar da parada de Charles Leclerc ter sido na volta seguinte, o melhor ritmo de Sebastian foi o suficiente para que ele ficasse a frente de Charles quando este saiu dos boxes. Lewis Hamilton ainda ficou na pista, tentando alongar ao máximo seus pneus macios - e ao mesmo tempo esperando que um Safety Car aparecesse, algo que não aconteceu naquelas voltas.
A verdade é que a corrida decidiu-se no melhor trato de Vettel com os pilotos que iam a sua frente - como Stroll, Gasly, Ricciardo e Giovinazzi - e que ainda teriam que parar nos boxes. Superou estes pilotos com mais rapidez, enquanto que Leclerc acabou se atrapalhando com alguns - especialmente com Stroll, onde ficou em torno de três voltas para conseguir superar o canadense. Mesmo após superar estes pilotos e contando com três intervenções do SC, Charles não conseguiu aproximar-se de forma que o colocasse em total chance de ultrapassar Vettel. Sebastian conseguia uma melhor tração na saída do primeiro S e tinha um melhor rendimento no segundo setor, que dava a ele uma situação mais confortável para manter Leclerc longe e minar aos poucos as chances do piloto monegasco. Foi uma vitória no melhor estilo que consagrou Sebastian em seus tempos de ouro na Red Bull: liderando com força e dosando a diferença para o segundo, sem dar nenhuma possibilidade.
Para o líder do campeonato, a corrida foi bem atípica. Por mais que tenha tentando tomar as rédeas da corrida ao escolher ficar mais tempo na pista, sabia-se que o ritmo de sua Mercedes não seria o suficiente para que pudesse voltar na frente ou próximo das Ferrari a ponto de tentar um ataque. Ensaiou um ataque a Max Verstappen já nas voltas finais, mas sem sucesso. Já o piloto holandês foi bem mais comedido na sua pilotagem, preocupando-se apenas em terminar nos pontos e não se meter em confusão. Fechou em terceiro.
Numa corrida que foi apenas morna, esta acabou por ser o palco onde Sebastian Vettel voltou ao círculo dos vencedores. Bom para Ferrari, que conquista a sua terceira vitória consecutiva - fato que não acontecia desde 2008 -, para a Fórmula 1 e para os fãs de Vettel, que puderam extravasar um turbilhão de emoções que já estava engasgado há mais de um ano.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Foto 803: Jody Scheckter, 40 anos atrás

A imagem de um grande momento para Ferrari, tiffosi e Jody Scheckter.
Neste 9 de setembro completou 40 anos da conquista do título de Scheckter e também da sua vitória no GP da Itália, que coroou um grande ano para a equipe italiana que vencera 6 corridas (três com Scheckter e outras três com Gilles Villeneuve), apostando na confiabilidade do conjunto 312T que chegava a quarta geração de um projeto vitorioso iniciado por Mauro Forghieri, após um período negro que a equipe passou na parte técnica - que consequentemente afetou os resultados de pista - e que começou a ser dissipada a partir de 1974 e consolidada a partir de 1975, com o primeiro título da equipe num intervalo de onze anos.
Essa conquista marcaria, também, o último de um V12 da equipe italiana assim como deixaria a Ferrari imersa num longo período sem título de pilotos que seria quebrado apenas em 2000, quando Schumacher venceu o seu primeiro título pela Scuderia.
Um dia de festa que foi revivido neste final de semana, quando Scheckter pôde voltar ao circuito italiano para dar algumas voltas com a sua 312T4 para as comemorações dos 40 anos do seu título.
Um dia para lá de especial para os italianos ali presentes.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

GP da Itália: Um novo ídolo para os tiffosi



Sem dúvida que o maior sonho de quase todos os pilotos é correr pela Ferrari e em seguida conquistar a dobradinha vitória em Monza/ Titulo Mundial. Dessa forma, Charles Leclerc já realizou dois destes três sonhos com uma atuação brilhante que lhe rendeu uma conquista arrebatadora no clássico circuito italiano e automaticamente conquistou a fanática torcida italiana.
Passados mais de 24 horas desta grande conquista e mesmo estando a milhares de quilômetros, conseguimos imaginar como foi aquela tarde de 8 de setembro que ainda carregava desde Spa-Francorchamps a carga emotiva pela perda do jovem Anthoine Hubert – que foi homenageado no pódio da F2 ao tocar a Marselhesa – e depois pelas voltas que Jody Scheckter deu com a sua Ferrari 312T4 no circuito italiano em comemoração aos 40 anos do seu título mundial, conquistado ali mesmo em Monza com direito a vitória e dobradinha com seu saudoso amigo Gilles Villeneuve que levou a torcida italiana ao delírio no já distante dia 9 de setembro de 1979. Isso sem contar com a enorme festa que foi feita durante a semana por conta dos 90 anos de história da Scuderia. Ou seja: uma conquista da Ferrari naquele território seria apenas o toque final de uma semana para lá de emotiva.
Mas Charles Leclerc fez ainda mais: encarnou o espirito combativo da equipe italiana e duelou fortemente com Lewis Hamilton, sempre respondendo aos ataques do piloto inglês. No mais incisivo deles, quando Lewis conseguiu o vácuo na saída da Curva Grande e fez a tentativa para a Chicane Della Roggia, Leclerc fechou bem a passagem deixando para o piloto da Mercedes a chance de ir para a área de escape para evitar uma rodada ou batida. O lance fez a torcida vibrar nas arquibancadas. Tal duelo fez lembrar o de Fernando Alonso e Michael Schumacher em 2005 na pista de Imola, quando o então emergente e futuro campeão mundial Alonso se defendeu dos ataques ferozes de Schumacher por um bom número de voltas até vencer aquele GP de San Marino, dando a ele o reconhecimento de grande piloto. Depois que Hamilton ficou sem como atacar por conta do desgaste de pneus, foi a vez de Bottas tentar o ataque que acabou sendo inofensivo devido os erros do piloto finlandês.
A corrida ainda mostrou uma Renault consistente com seus dois carros, onde Ricciardo e Hulkenberg tiveram uma disputa caseira. Sem a presença da Red Bull, que sofreu com a falta de potência do motor Honda e ainda viu Max Verstappen largar de último por causa de troca de motor e, para piorar, ainda teve uma escapada dele logo após a largada para se livrar de um possível acidente. Mas ainda assim, saiu com a asa dianteira quebrada. Vettel também teve seu dia para esquecer, após rodar na Ascari e voltar de forma perigosa que poderia ter causado um tremendo acidente com Lance Stroll – que acabou escapando e ficando atravessado na entrada da reta oposta e também voltando perogosamente, forçando Gasly escapar pela gravilha para não acertá-lo ao meio. Sebastian despencou de quarto para o fundo do pelotão e ainda tomou um Stop&Go por conta do incidente, enquanto Stroll foi punido com o Drive Through.
A conquista de Charles Leclerc não apenas o colocou no panteão de pilotos que conseguiram vencer em Monza com a Ferrari, como também pôde dar a equipe italiana uma conquista que não vinha desde 2010. Um grande dia para a Ferrari, tiffosi e especialmente para Leclerc, de quem as pessoas esperavam muito e que agora tem visto que o garoto de Mônaco é realmente um dos grandes talentos dos últimos anos.


segunda-feira, 2 de setembro de 2019

GP da Bélgica – Sentimentos


Charles Leclerc teve duas boas oportunidades de vencer nesta sua primeira temporada com um carro competitivo: inicialmente em Sakhir, onde fez uma apresentação de gala com direito a pole position e um ritmo alucinante que fez a Ferrari acreditar que aqueles problemas em Melbourne tinham sido circunstanciais – o que se revelaria um triste engano –, mas problemas no motor fez com que o jovem piloto de Mônaco ficasse com o gosto amargo de uma vitória que lhe escapou por muito pouco. Alguns perrengues (leia-se GPs) se passaram até que Charles voltasse a ter uma nova oportunidade de vencer, agora na Áustria e tudo caminhava-se bem se não fosse um daqueles finais de semana em que seu velho rival de época de kart – Max Verstappen – resolveu tirar um belo coelho da cartola e lhe aplicar uma dolorosa ultrapassagem nas voltas finais, lhe roubando uma possível primeira vitória. Mais uma vez a chance tinha se esvaído e Leclerc precisaria esperar por outra oportunidade – talvez outra chance tenha sido mais clara no caótico GP alemão, onde poderia ter enfrentando Max e, quem sabe, ter lhe dado o troco, mas acabou sendo uma das vitimas da ultima curva de Hockenheim. Fica para uma próxima...
No voltar da pausa de meio de temporada já com o GP da Bélgica esperava-se uma Ferrari forte e isso confirmou-se já nos treinos, onde o duo ferrarista sempre esteve à frente da concorrência com no mínimo cinco décimos de vantagem. Sebastian Vettel tinha feito o melhor tempo no primeiro treino livre e Charles Leclerc assumiu o comando de todas as atividades, chegando até uma respeitável pole position onde conseguiu cravar sete décimos sobre Sebastian Vettel, que suara o macacão para conseguir livrar o segundo lugar que parecia ficar com Lewis Hamilton na única oportunidade que a Mercedes teve de furar a bolha ferrarista nos treinos. Uma primeira fila vermelha seguida por outra prateada, onde estes últimos haviam mostrado um ritmo de prova bem interessante nas simulações feitas na sexta na parte final do segundo treino livre. A corrida prometia ser interessante, mesmo sabendo da superioridade da Ferrari nos trechos mais velozes (1 e 3) contra a Mercedes, que levava a melhor na segunda parcial.
Todo aquele clima de euforia pela espera do dia seguinte, acabou sendo ensombrado quando a tragédia se abateu sobre o autódromo belga na segunda volta da corrida 1 da Fórmula-2: a escapada de Giuliano Alesi, ocasionado por um furo de pneu já no topo da Eau Rouge/ Radillion, desencadeou o processo que levou ao brutal acidente que levaria a vida de Anthoine Hubert, de 22 anos, quando este bateu na proteção de pneus e teve seu carro ricocheteado de volta e pêgo em cheio pelo carro de Juan Manuel Correa que não teve tempo de tentar escapar. Com a noticia da morte de Hubert, que fora anunciada uma hora e meia após ele ter deixado o circuito para um hospital em Liége, a perspectiva de um final de semana espetacular para Leclerc dava lugar a um sentimento triste pela perda de uma promessa do automobilismo francês que despontava na categoria de acesso. Anthoine era amigo de longa data de Charles, desde a época do kart e junto de Esteban Ocon e Pierre Gasly, eram tidos como os “Quatro Mosqueteiros”. Foi um duro golpe para uma geração que já havia perdido Jules Bianchi, seu principal expoente em 2015 após longos meses no hospital decorrente ao acidente em Suzuka 2014, em quem depositavam as esperanças do ressurgimento dos pilotos franceses na categoria. E agora, mais uma vez, a tragédia veio abreviar a carreira de mais uma promessa francesa..
Ainda com os sentimentos aflorados, era hora de se baixar a viseira e fazer o seu melhor: Charles Leclerc esteve impecável na tarde belga e nem mesmo uma breve escapada após a reta Kemmel e a perigosa aproximação de Lewis Hamilton não abalaram a confiança de Leclerc que agarrou a chance e a transformou na sua tão esperada vitória, num final de semana que tinha tudo para ter sido a mais perfeita. Dominar um tetracampeão mundial pelos três dias é de levantar o ânimo de qualquer piloto que ainda está procurando seu lugar ao sol. As duas derrotas anteriores tinham sido exorcizadas e Charles pôde, enfim, comemorar – ainda que sem grandes exaltações devido aos acontecimentos das últimas 24 horas – a sua tão sonhada primeira vitória e, guardadas devidas proporções, a conquista de Charles Leclerc fez recordar outra triste corrida que também foi ganha sob o céu cinzento da tragédia quando Jochen Rindt venceu o GP da Holanda de 1970 e teve que passar por várias voltas no local onde seu amigo Piers Courage perdera a vida num acidente com o De Tomaso da equipe Williams na volta 22 – inclusive foi onde Rindt alimentou seu desejo de abandonar a competição ao final daquela temporada.
A mistura amarga da vitória e tragédia esteve presente neste GP, que nos alertou mais uma vez de como o motorsport é apaixonante, ingrato e cruel com todos. A vida segue e as lembranças de quem se foi ficarão marcadas para sempre.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Foto 802: Hockenheim, 25 anos atrás


Um enrosco que eliminou 11 carros na largada; o famoso e tenso incêndio no Benetton de Jos Verstappen durante o reabastecimento; um raro abandono de Michael Schumacher; Williams na corrida, mas fora de combate; uma primeira fila ferrarista que não acontecia desde o GP de Portugal de 1990; e para finalizar, uma grande vitória de Gerhard Berger dando a Ferrari uma vitória após 59 GPs, desde a conquista de Alain Prost em Jerez De La Frontera em 1990 - e para o próprio Berger, uma conquista que não vinha desde Adelaide 1992.
Um 31 de julho inesquecível para os tiffosi.
Há exatos 25 anos.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

GP da Alemanha - Roda Gigante



Há dias que as coisas não andam bem. Isso é algo que faz parte do cotidiano e este GP alemão foi uma amostra de como as coisas podem caminhar mal e de uma hora para outra dar certo, e também fazer o caminho inverso. No sábado uma desastrosa atuação da Ferrari tirou seus dois carros de combate na classificação, sendo que Vettel nem participou por causa de problemas no turbo e Leclerc, que conseguira avançar para o Q3, nem participou por causa de problemas na injeção de combustível. Uma ducha bem gelada numa classificação de prometia ser das melhores deste ano devido a grande proximidade que eles tinham em relação a Mercedes. Esta última conseguiu cravar a pole com Hamilton, sem grandes oposições e Max Verestappen conseguiu quebrar uma possível dobradinha da equipe alemã ao se meter entre os dois carros prateados. Apesar de ser uma corrida que se desenhava para a Mercedes, é sempre algo a se considerar quando se tem um piloto como Verstappen ao lado.
Porém  a corrida foi outra coisa: dificilmente alguém apostaria numa tarde tão caótica para a Mercedes e seus pilotos, principalmente após um inicio tão sólido por parte de Hamilton que vinha abrindo uma boa vantagem, inicialmente para Bottas e depois para Max – que se recuperara da má largada. Mas a escolha de pneus slick para uma pista que volta e meia parecia secar e depois molhar, foi o convite para uma tarde para ser tomada como grande lição aos anfitriões: Lewis relutou em trocar para slick, mas acabou aceitando a ideia e quando o fez, não conseguiu segurar o carro na última curva do circuito e batendo na barreira de pneus e danificando a asa dianteira. Foi o inicio de uma série de trapalhadas, começando pelo corte de caminho que o inglês deu na entrada de box – que já havia feito em 2018 e não resultado em nada, ao contrário deste ano que acabou tomando cinco segundos de punição – e depois na casa de loucos que a Mercedes se transformou assim que o inglês chegou para a sua troca, uma vez que não estavam preparados para aquilo. Para uma equipe que tanto blefou nos pitstops, não souberam lidar com o imprevisto e isso custou mais de 50 segundos. Um desastre que foi maior após o abandono de Valtteri Bottas, que não foi capaz de superar Lance Stroll na luta pelo terceiro lugar e acabou rodando e batendo na curva 1 – lugar onde Hamilton fizera algo parecido, mas que escapara ileso. Uma corrida que prometia ser uma grande festa pelos 125 anos de automobilismo e também de envolvimento da Mercedes na competições, acabou por ser a mais desastrosa da fabrica alemã – que desembolsou 25 milhões de euros para a manutenção da corrida – neste seu período vitorioso que se iniciou em 2014.
A exemplo das duas Mercedes, Charles Leclerc também teve – apesar de pequena – uma hipótese de conseguir algo maior nesta corrida. Seu ritmo era bom, conseguindo até se aproximar de Max e Bottas, mas o seu erro no mesmo local onde mais tarde Hamilton viria errar, custou uma boa oportunidade de tentar uma vitória – visto o que aconteceu ao duo da Mercedes em seguida. É claro que não dá para adivinhar as coisas, mas ao olhar o que aconteceu depois certamente deve bater um remorso daqueles.
Alheio a tudo isso e seguindo uma cartilha onde a cautela é primordial, Sebastian Vettel fez uma prova de recuperação muito boa. Mas temos que dizer que, mesmo fazendo uma bela largada, o piloto alemão passou boa parte da corrida encaixotado na Alfa Romeo de Kimi Raikkonen sem conseguir esboçar um ataque. Após uma escapada de Raikkonen no famigerado local é que Vettel pôde subir para sétimo, mas mesmo assim ainda não conseguira entrar na casa dos cinco primeiros devido as paradas de box que o jogava para o meio do pelotão. Sebastian soube bem duelar com os pilotos pelas posições, arriscando as ultrapassagens em locais de segurança como no hairpin, onde a asa móvel é acionada e também escapando das armadilhas. E como ele bem disse, soube aproveitar-se dos cuidados que os demais a sua frente vinham tendo com os slicks para ultrapassá-los e subir para a segunda posição, voltando ao pódio desde o polêmico GP do Canadá. Uma tarde bem diferente daquela de um ano atrás, onde quase todos indicam que foi onde se iniciou o seu inferno astral – apesar de eu discordar e apontar o GP da Itália como inicio dessa fase complicada.
O bom desempenho de outros pilotos também foi destaque: Sainz vem crescendo de produção junto a Mclaren e neste GP ficou ainda mais evidente sendo um dos que poderiam ter conquistado um pódio; Stroll também conseguiu seu brilhareco com uma boa leitura da prova por parte de seu engenheiro e também com um bom trabalho do próprio Lance, que soube suportar as investidas de Bottas; Alex Albon  continua a fazer seu caminho com boa apresentações e a exemplo de Sainz e Stroll, também teve certa chance de conseguir um pódio neste GP e foi mais uma demonstração do talento que o jovem tailandês reserva.
Max Verstappen continua a arrancar suspiros da grande massa laranja que vem acompanhando o piloto holandês nas corridas e também outros que tem se afeiçoado ao piloto, devido a sua bravura ao volante do Red Bull. Ainda mais neste ano, onde suas apresentações tem tido um misto inteligente de agressividade e cuidado na hora de atacar e finalizar as manobras de ultrapassagem e neste GP foi ainda mais evidente com ele tendo total paciência para atacar Valtteri e mesmo após a sua rodada, que poderia ter custado a futura vitória. A sua condução neste tipo de condições só faz ainda mais aflorar o seu talento e esta corrida foi a prova do amadurecimento do jovem holandês que chegou a sua oitava conquista na Fórmula-1.
E para encerrar, Daniil Kvyat foi ao pódio com uma atuação brilhante ao perceber junto de seu engenheiro que as condições de pista davam para pôr os slicks e arriscar. Foi uma manobra que lhe valeu o pódio e que podia muito bem ter lhe rendido um segundo lugar, algo que ficou distante quando teve em Sebastian Vettel um oponente difícil de segurar. Mas o terceiro lugar foi uma vitória importante para um piloto que esteve em dias bem complicados naquele ano de 2016 e que ficou quase que de lado, conseguindo uma vaga de piloto de testes na Ferrari e depois voltando para socorrer a Toro Rosso neste ano e que talvez possa até mesmo retornar a Red Bull, de onde acabou saindo por baixo após os acontecimentos do GP da Rússia de 2016. Um resultado importante que, somado ao nascimento de sua filha com Julia Piquet no sábado, foi sem dúvida um grande final de semana para a vida de Kvyat.
A Red Bull também tem o que festejar, pois três pilotos que fazem ou fizeram parte de seu plantel foi ao pódio – isso sem contar em Sainz e Albon, que chegaram em quinto e sexto. Foi um dia espetacular para o programa da Red Bull.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Volta Rápida, 10 Anos


E este espaço chegou aos dez anos. É uma marca importante para um blog que nos últimos anos tem passado mais tempo em regime de Safety Car do que com o pé cravado para continuar atualizando sempre as postagens. Mas nem sempre bate aquele ânimo de escrever um texto bacana ou até mesmo, quando a mente consegue formular um artigo interessante, não é fácil transferir para o papel o que foi idealizado. A pessoa que vai ler o texto precisa ser envolvida pelo que está lendo; abrir o apetite com um inicio saboroso e depois devorar o texto como se fosse um prato suculento de um restaurante. Assim precisam ser os textos, mas ultimamente não tenho tido essa "pegada” para entregar um trabalho bem feito. Então, se for para fazer qualquer porcaria, é melhor nem perder tempo na frente do computador ou tela de um celular. Isso tem me deixado afastado deste espaço, mas ainda consegui apresentar alguns textos sobre os GPs da Fórmula-1 e também sobre as 24 Horas de Le Mans, corrida tal que passei a acompanhar com mais atenção a partir de 2010. E isso tem trazido bons resultados para o Volta Rápida.
Mas o blog me trouxe boas oportunidades. Quando escrevi para a extinta Revista Speed, no biênio 2012/13, foi um ponto alto nessa vida de “blogueiro de automobilismo”. Quando este tipo de chance aparece, é sinal que o trabalho vem sendo bem feito e isso é gratificante. Porém, tentei navegar por outros mares dessa internet como gravar podcasts ou até mesmo vídeos, mas isso precisa de uma grande desenvoltura e isso é algo que não tenho mesmo. Sou melhor com as palavras escritas do que com as faladas. Mas foram pequenas tentativas que me fizeram chegar a essa conclusão e de todo modo, foi um aprendizado.
Aprender é que mais conseguimos neste meio. Sabemos um pouco sobre este mundo apaixonante e complexo do motorsport, mas estamos longe de saber tudo sobre esta modalidade. Sempre aparecerá novas coisas e também novidades sobre fatos que julgávamos saber de cabo a rabo. E é aí que está a graça do negócio: ir coletando os dados para podermos refazer nossas opiniões ou apenas fortalecer as que já proferimos. Este período tem sido bastante produtivo. Escrever também nos trás bons amigos, colegas que nos trás um bom feedback do que estamos fazendo. Criamos laços e isso fortalece a cada comentário positivo e até mesmo uma critica construtiva, que nos faz rever conceitos, opiniões e mudar a forma de abordar certos assuntos.
Desde 2010 que o Volta Rápida não está sozinho, quando criei a pagina do blog no Facebook; o perfil no twitter e depois de alguns anos, por volta de 2015 ou 2016, apareceu a pagina da Triple Crown que cuida das três corridas que encabeçam as jóia do automobilismo (Indy 500, 24 Horas de Le Mans e GP de Mônaco). Esta ultima tem um maior volume de postagens entre abril e junho, mas mesmo assim faz seu sucesso, enquanto que a página do Volta Rápida tem o trabalho feito durante todo o ano. E já esquecendo do perfil no instagram, onde coloco algumas fotos que já fiz no autódromo de Interlagos e também o resultado de algumas competições no stories do perfil.
Apesar de toda inatividade deste blog nos últimos anos, é sempre bom chegar a tais marcas e conseguir ficar uma década com este blog é um acontecimento e tanto. Só tenho mesmo que agradecer a todos que incentivaram desde o inicio. E apesar de ter pensando várias vezes em encerrar o blog, continuarei aqui mesmo que seja em marcha lenta. Afinal, tenho muito que aprender aqui.
Obrigado a todos e que venha mais outra década!

domingo, 21 de julho de 2019

Foto 801: Muito além de Vettel


A complexidade de um ser humano é medida nas condições da qual ele convive. Se for um ambiente bem organizado, as chances de sucesso são enormes e isso também passa pela sua força de vontade em querer vencer na vida. Agora, se o ambiente for um caos, as coisas tendem a ser mais difíceis. Pode até conseguir vencer, mas nem sempre a força de vontade, o otimismo, será suficiente para tal conquista.
Para Sebastian Vettel as coisas tem sido mais ou menos assim nos últimos doze meses. É claro que uma boa parte das pessoas apontam que o caldo entornou mesmo já na sua escapada em Hockenheim, quando estava liderando com folga. Porem temos que lembrar que Vettel ainda teve duas situações onde pilotou bem: na Hungria tinha condições de sobra para conquistar uma vitória, mas a mudança de tempo na classificação que ajudou as Mercedes a marcarem a primeira fila, dificultou a tarefa e esta tornaria-se ainda mais impossível quando teve em Bottas um bloqueio efetivo que possibilitou Hamilton fazer uma grande diferença e caminhar para uma importante vitória. Para Vettel restou ultrapassar Valtteri na marra para conquistar a segunda colocação. Na Bélgica talvez tenha sido o grande sopro de esperança ferrarista quando Sebastian desafiou e venceu Hamilton com autoridade, numa corrida onde a Ferrari esteve bem acima da Mercedes. Com uma vitória dessa, era impossível não ter um clima de euforia para Monza e isso foi inflado quando a Ferrari fez 1-2 na classificação. Mas o balde de água gelada na possível festa dos tiffosi já iniciou na tomada da chicane Roggia, quando Vettel foi superado por Hamilton e acabou rodando ao tocar no inglês. Já a Mercedes conseguiu vencer e iniciar uma arrancada importante para a conquista do quinto título de Lewis. O turbilhão no qual se encontrou Sebastian iniciou-se em Monza.
Os erros de Sebastian, que viriam a seguir em sequência, acabou gerando uma enorme carga de piadas e críticas em torno do desempenho do piloto alemão. As suas tentativas de recuperar as posições a fórceps sempre terminaram com algum erro, mas a verdade é que para Sebastian Vettel foi o que restou frente uma inoperância da Ferrari na segunda metade da temporada, que já fora deflagrada na segunda parte do mundial de 2017 que também o privou de batalhar pelo título. Somando os erros de Vettel, mais a queda técnica da Ferrari e a batalha de poder entre Arrivabene e Binotto - que intensificou após a morte de Sergio Marchionne - a  equipe virou uma casa de loucos e isso foi refletido nos resultados até Abu Dhabi.
As esperanças foram renovadas na pré-temporada com um desempenho para lá de animador, principalmente quando comparado com os da Mercedes. Apesar de três situações onde os carros foram bem - Bahrein, Canadá e Áustria - a vitória não veio e nas demais etapas, o desempenho foi bem abaixo. Vettel teve sua grande oportunidade em Montreal, mas a decisão para lá de polêmica na sua já famosa escapada e retorno na frente de Hamilton, que lhe valeu os cinco segundos mais odiados da história da categoria, tirou-lhe uma vitória. Este é outro ponto que tem desagradado imensamente Sebastian - e toda comunidade que acompanha a categoria - que tem sido o excesso de punições por qualquer que seja o lance e este de Montreal é um fator que deixou o piloto transtornado - como foi bem visto nas trocas de placas - e que certamente contribui para um desânimo.
Depois dessa decepção, os resultados de Vettel tem sido abaixo dos conseguidos por Charles Leclerc nas últimas três corridas: da França até Inglaterra, Vettel largou todas elas atrás de Charles e a pontuação na soma destas foi de 48 para o monegasco e apenas 23 que conquistou, já que não conseguiu terminar entre os dez primeiros em Silverstone. Exatamente nesta prova britânica é onde as críticas em torno de seu desempenho voltou com força, por conta do incidente com Max Verstappen que tirou a chance do holandês ir ao pódio e a dele também, de conseguir marcar mais alguns pontos.
O bombardeio é forte. Tentar defender as ações de Vettel na pista, também tem sido uma tarefa hercúlea e os fãs sabem disso. Mas creditar os fracassos apenas a Vettel, como uma boa parte tem feito, é um grande erro.  Quando se está em situações de desvantagem, o piloto tende a resolver as coisas no braço e quando sai errado, suas qualidades são postas em xeque. Isso é o que tem afetado bastante o comportamento de Sebastian, que procurou elevar o otimismo da equipe através de suas atuações - mesmo que, na sua maioria, tem sido um fracasso. A chegada de Charles à equipe, um piloto festejado na academia da Ferrari e que muitos apostam em seu sucesso, era uma aposta para despertar em Sebastian aquele piloto que fizera aquele sucesso estrondoso na Red Bull e também aquele piloto que chegou muito bem em 2015, renovando o oxigênio da clássica equipe. Mas, descontando a sua grande atuação em Montreal, Vettel não tem feito um bom campeonato até aqui enquanto que Leclerc tem conseguido, aos poucos, elevar a sua pilotagem e medir forças com o piloto alemão.
O caos técnico da equipe, que não conseguiu entender tudo deste promissor SF90 para que seus dois pilotos possam, enfim, dar combate a Red Bull e principalmente Mercedes, também contribui para que as coisas não andem bem no clima geral da equipe. Ou seja: não dá para se fazer milagres com uma equipe tão desorganizada tecnicamente e politicamente. Isso sem contar nas críticas pesadas que a  fanática imprensa italiana tem feito ao piloto alemão desde o ano passado e que intensificou após o GP bretão, sem que a Ferrari desse um respaldo ao piloto alemão que tão bem faz seu papel em colocar o lema de "ganhamos juntos, perdemos juntos" em voga. Talvez esse episódio mostre exatamente a falta de apoio da Ferrari, que apenas vê seu piloto jogado aos leões e tranca as portas e joga a chave fora, esperando que ele reaja.
Esse combo de situações no qual Vettel está imerso e que a cada etapa parece puxá-lo mais baixo nessa areia movediça que se encontra há um ano - ou quase -, sempre dá margem para especulações: para alguns a sua aposentadoria está próxima, enquanto que outros sugerem um ano sabático para esperar todos os movimentos do mercado de pilotos - que promete ser intenso de 2020 para 2021, já que ano que vem os contratos de boa parte se encerrará (incluindo o dele e de Hamilton) - e ver para onde pode ir. Um local onde ele conhece bem e é tido como piloto exemplo, seria importante: uma volta de Sebastian à Red Bull é sempre colocada nas rodas de conversa e sinceramente, seria uma boa para ele poder dar continuidade a sua trajetória na categoria. É um caminho que será muito bem observado.
Esta segunda parte de campeonato que se avizinha será vital para as pretensões de Vettel. Se a equipe se achar e conseguir uma reação que possa, ao menos, dar a seus pilotos uma oportunidade de terminar o campeonato de forma decente, talvez o cenário nebuloso em torno do piloto alemão possa clarear para 2020 para que possa terminar seu contrato no próximo ano. Agora resta saber como ficará a situação caso nada avance ou piore, pois casos assim tendem a ser sustentáveis e um rompimento amigável é o melhor a fazer.
Chega ser melancólico observar a carreira de um piloto que foi alçado a um novo "Schumacher" entrar numa descendente que já entra para doze meses e ver as sua qualidades serem questionadas. Mas existem provações que nos é impostas pela vida. Se Vettel vai superar mais essa, não sabemos. Mas os seus números estão lá, encravados na história e isso não poderá ser mudado.
E o apoio daqueles que o amam e admiram, não irá faltar. Seja lá qual for  a sua escolha.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

GP da Grã Bretanha – Emoções Mil em Silverstone

(Foto: Reuters)
A Fórmula 1 não costuma transmitir emoção para com aqueles que fizeram sua história, mas nesta etapa inglesa a homenagem rendida a Frank Williams pelos seus 50 anos de categoria e também pelos exatos 40 anos da primeira vitória da Williams na F1 foi bem bacana naquela volta que o inglês deu ao lado de Lewis Hamilton, que o levou a duas voltas pelo  circuito inglês num Mercedes de rua. Outra homenagem foi em memória de Charlie Whiting, falecido antes da abertura deste mundial na Austrália, que contou com uma cerimônia reunindo pilotos atuais e antigos da F1 que trabalharam com ele. Para a corrida, Justin, o filho de 12 anos de Charlie, foi convidado a acionar as luzes vermelhas para a largada.
Não esperava muito deste GP bretão. Numa Fórmula 1 tão bipolar que se tornou, já estava preparado para pegar uma corrida bem morna (apenas para ser otimista onde as Mercedes dominariam amplamente. Mas acabou por ser uma corrida extremamente agradável, onde os pilotos do pelotão dianteiro e intermediário se entregaram a batalhas interessantes.
Iniciando pela batalha das primeiras voltas entre os dois pilotos da Mercedes, Bottas e Hamilton brindaram o público naquelas voltas iniciais onde o inglês tentou como pôde superar o finlandês que soube bem defender-se e depois aplicar uma “re-ultrapassagem” no inglês quando este conseguiu superá-lo na Woodcote e depois acabou tomando o troco na Copse. Foram voltas bem intensas, com ambos lutando de forma franca. Não tão distante deles, o duelo que se iniciou no GP austríaco continuou forte na pista inglesa: Charles Leclerc e Max Verstappen se encontraram e dessa vez Leclerc esteve mais atento aos ataques do holandês, conseguindo defender-se de forma correta e mesmo após ambos irem juntos ao box, o duelo se manteve em alto nível com Charles recuperando a posição – perdeu após um belo trabalho de box da Red Bull que entregou Max rapidamente a frente – depois de um pequeno erro de Verstappen. Infelizmente a escapa de Antonio Giovinazzi, que deixou o Alfa Romeo na brita, forçou a entrada do SC e foi neste momento que Hamilton, que já liderava a prova após a ida de Bottas ao box, foi para o seu pit stop e conseguiu voltar na frente do finlandês. A Ferrari acabou demorando chamar Charles para o box – coisa que foi feita de imediato pela Red Bull com Max – e o monegasco teve que fazer mais uma volta e perder a posição para Verstappen. As coisas seriam decididas algumas voltas após a saída do SC, quando Max passou por Gasly e conseguiu aproximar-se de Vettel – que se beneficiara da entrada do SC para chegar ao terceiro posto -  e efetuar a ultrapassagem na Hangar. Infelizmente um erro de calculo por conta de Vettel pôs fim a um possível pódio de Verstappen, quando o piloto alemão acertou a traseira do Red Bull e ambos indo parar na brita. Conseguiram voltar para pista, com Sebastian tendo a sua corrida inteiramente prejudicada – e tomando em seguida uma punição de dez segundos – e com Max com um carro bem desequilibrado, que ainda o deixou em condições de terminar em quinto. Menção honrosa para a Mclaren que fez um belo trabalho através de seus dois pilotos e com Carlos Sainz duelando com Daniel Ricciardo por um período da corrida pela sexta posição.
Lewis Hamilton acabou por vencer o GP, a sua sexta conquista que o torna o maior vencedor do GP bretão – superando Jim Clark e Alain Prost que somam cinco - e também a 80ª de sua carreira na categoria. Hamilton ainda carregou a bandeira britânica na sua volta de desaceleração, em mais um momento bacana desta corrida.
Para uma categoria que teve dois GPs decepcionantes em sequencia, estas duas últimas foram para mostrar que ainda existe um pouco de emoção neste reino “mercediano”.

domingo, 30 de junho de 2019

GP da Áustria – Uma prévia para a próxima década


Deixemos de lado (por enquanto) todas essas rusgas com  F1 e comissários, que tanto chateou o fã da categoria com decisões tristes para esporte onde uma canetada decidiu uma vitória sobre um lance questionável num momento onde os dois melhores pilotos dessa década, tiveram seu primeiro confronto direto neste ano de 2019. Para piorar ainda mais o clima, o GP francês, disputado na última semana, foi pavoroso e isso ajudou ainda mais para aumentar as criticas sobre uma categoria que tem sido dominada amplamente por uma equipe. A Fórmula-1 se encontra numa encruzilhada, numa grande encruzilhada e o caminho a ser tomado tem ser decidido logo, exatamente para não ficar apenas como uma categoria que vive dos seus grandes dias sem fazer nada para melhorar.
Por outro lado, há dias bons para a categoria – mesmo que seja escasso. O que vimos hoje em Zeltweg foi um confronto que já havia dado seus ares no kart, quando Charles Leclerc e Max Verstappen eram as duas estrelas e já despontavam como grandes promessas – um momento que mostra que ainda se pode extrair algo bom nesse marasmo que tem tomado o campeonato mundial até aqui, mas para isso é preciso uma má jornada da Mercedes para que isso seja ativado. Ver estes dois jovens pilotos se enfrentando, mostra que teremos um futuro interessante onde a rivalidade será aflorada e explorada. 
Se julgássemos pela largada e depois pelo ritmo apresentado pelos ponteiros, era de esperar uma prova bem tranquila e uma primeira vitória justa para Charles Leclerc, especialmente pelo enorme azar na corrida do Bahrein e também pela magnifica pole conseguida no sábado. Seu ritmo de prova era muito bom, conseguindo uma vantagem confortável para o duo da Mercedes e aumentando o ritmo para quando fosse preciso. A corrida estava sob controle do jovem piloto da Ferrari. Numa situação nenhum pouco confortável, se encontrava Max Verstappen: tendo herdado a segunda posição de Hamilton – já que este largara em quarto devido a punição recebida por atrapalhar Raikkonen na qualificação – era esperado uma largada interessante ao lado de Charles, formando assim a primeira fila mais jovem da história da F1 com média de 21 anos – superando a média de 23 anos estabelecida por Hulkenberg e Vettel no grid do GP do Brasil de 2010. Porém a sua saída foi ruim e despencou para sétimo. Precisou de paciência para subir na classificação, conforme os pilotos que estavam à sua frente iam parando. A sua parada de box para trocar os pneus médios para os duros na volta 30, foi como um passe de mágica: Verstappen só não teve um confronto direto contra Hamilton - que parou na volta 31 quando estava liderando e voltou atrás de Max – mas com os outros que iam a sua frente, o holandês fez subir as apostas após duelar com Vettel pela terceira posição e vencer a disputa após duas voltas bem ferrenhas; contra Bottas as coisas foram mais fáceis, realizando uma ultrapassem sem resistência por conta do finlandês na curva dois. Agora restava apenas Leclerc, que parecia bem contente com a diferença que estabelecera sobre Valtteri e que agora era de Max. Talvez este tenha sido um dos seus erros: com uma crescente de Max, que já era vista faltando 20 voltas para o fim, uma postura mais agressiva para tentar aumentar ou responder as investidas de Verstappen podia ter protegido a sua posição. Mas isso não aconteceu e quando a corrida estava com apenas quatro voltas para o fim, Max já estava na cola de Charles para tentar algo improvável, se julgarmos pelo seu inicio desastroso. Charles fez defesas perfeitas bloqueando bem as investidas de Max, mas o seu vacilo acabou vindo na penúltima volta quando deixou um espaço na tomada para a curva dois e Verstappen mergulhou – numa situação bem parecida que acontecera na volta anterior, que Leclerc soube defender-se devido a melhor tração do Ferrari sobre o Red Bull – para emparelhar, tocar rodas com o Ferrari de Leclerc e assumir a liderança e levantar um mar laranja que foi transformado o circuito do Red Bull Ring com a presença da torcida holandesa. Max venceu a sua melhor corrida na categoria, com um furioso Leclerc em segundo e Bottas em terceiro. O resultado oficial ainda foi eclipsado, mais uma vez, com a atuação dos comissários que entenderam que houve um espaço deixado no lance da ultrapassagem de Max sobre Charles, com o monegasco escapando para fora da pista. Após um longo período de suspense, onde os dois lados foram ouvidos, o resultado final foi mantido. Um alivio após tanta polêmica que se arrastou desde o GP canadense.  
Mas a corrida foi importante para colocar estes dois pilotos em evidencia, já que a rivalidade foi iniciada desde os tempos de kart. Independente que tenha sido ou não justo manter o resultado em prol de Max, a corrida expôs uma situação que poderemos ver já na próxima década com estes dois se digladiando pelas vitórias e títulos – isso sem contar com presenças de Lando Norris, que fez o seu melhor final de semana na categoria, e até mesmo George Russell, que mesmo limitado pelo Williams que tem, é um piloto muito gabaritado.
Num momento que a categoria está perdida em sua identidade, sem saber para onde seguir, essa disputa em Zeltweg pode mostrar ao menos que em termos de material humano para um grande espetáculo, as coisas estão bem encaminhadas. Agora resta a aqueles que cuidam da Fórmula-1 começar a mudar as regras para que o panorama seja ainda melhor nos anos 2020 que se avizinham.

Foto 1041 - José Carlos Pace, 1000km de Osterreichring 1972

  (Foto: David Phipps/ 4Quatro Rodas) Não é tão fácil ingressar numa equipe de ponta de uma grande categoria, e a coisa parece ainda mais co...