Deixemos de lado (por enquanto) todas essas rusgas com F1 e comissários, que tanto chateou o fã da
categoria com decisões tristes para esporte onde uma canetada decidiu uma vitória
sobre um lance questionável num momento onde os dois melhores pilotos dessa
década, tiveram seu primeiro confronto direto neste ano de 2019. Para piorar
ainda mais o clima, o GP francês, disputado na última semana, foi pavoroso e
isso ajudou ainda mais para aumentar as criticas sobre uma categoria que tem
sido dominada amplamente por uma equipe. A Fórmula-1 se encontra numa
encruzilhada, numa grande encruzilhada e o caminho a ser tomado tem ser
decidido logo, exatamente para não ficar apenas como uma categoria que vive dos
seus grandes dias sem fazer nada para melhorar.
Por outro lado, há dias bons para a categoria – mesmo que
seja escasso. O que vimos hoje em Zeltweg foi um confronto que já havia dado
seus ares no kart, quando Charles Leclerc e Max Verstappen eram as duas
estrelas e já despontavam como grandes promessas – um momento que mostra que
ainda se pode extrair algo bom nesse marasmo que tem tomado o campeonato mundial
até aqui, mas para isso é preciso uma má jornada da Mercedes para que isso seja
ativado. Ver estes dois jovens pilotos se enfrentando, mostra que teremos um futuro interessante onde a rivalidade será aflorada e explorada.
Se julgássemos pela largada e depois pelo ritmo apresentado
pelos ponteiros, era de esperar uma prova bem tranquila e uma primeira vitória
justa para Charles Leclerc, especialmente pelo enorme azar na corrida do Bahrein
e também pela magnifica pole conseguida no sábado. Seu ritmo de prova era muito
bom, conseguindo uma vantagem confortável para o duo da Mercedes e aumentando o
ritmo para quando fosse preciso. A corrida estava sob controle do jovem piloto
da Ferrari. Numa situação nenhum pouco confortável, se encontrava Max
Verstappen: tendo herdado a segunda posição de Hamilton – já que este largara
em quarto devido a punição recebida por atrapalhar Raikkonen na qualificação –
era esperado uma largada interessante ao lado de Charles, formando assim a
primeira fila mais jovem da história da F1 com média de 21 anos – superando a
média de 23 anos estabelecida por Hulkenberg e Vettel no grid do GP do Brasil
de 2010. Porém a sua saída foi ruim e despencou para sétimo. Precisou de paciência
para subir na classificação, conforme os pilotos que estavam à sua frente iam
parando. A sua parada de box para trocar os pneus médios para os duros na volta
30, foi como um passe de mágica: Verstappen só não teve um confronto direto
contra Hamilton - que parou na volta 31 quando estava liderando e voltou atrás
de Max – mas com os outros que iam a sua frente, o holandês fez subir as
apostas após duelar com Vettel pela terceira posição e vencer a disputa após
duas voltas bem ferrenhas; contra Bottas as coisas foram mais fáceis,
realizando uma ultrapassem sem resistência por conta do finlandês na curva
dois. Agora restava apenas Leclerc, que parecia bem contente com a diferença
que estabelecera sobre Valtteri e que agora era de Max. Talvez este tenha sido
um dos seus erros: com uma crescente de Max, que já era vista faltando 20
voltas para o fim, uma postura mais agressiva para tentar aumentar ou responder
as investidas de Verstappen podia ter protegido a sua posição. Mas isso não aconteceu
e quando a corrida estava com apenas quatro voltas para o fim, Max já estava na
cola de Charles para tentar algo improvável, se julgarmos pelo seu inicio desastroso.
Charles fez defesas perfeitas bloqueando bem as investidas de Max, mas o seu
vacilo acabou vindo na penúltima volta quando deixou um espaço na tomada para a
curva dois e Verstappen mergulhou – numa situação bem parecida que acontecera
na volta anterior, que Leclerc soube defender-se devido a melhor tração do Ferrari
sobre o Red Bull – para emparelhar, tocar rodas com o Ferrari de Leclerc e
assumir a liderança e levantar um mar laranja que foi transformado o circuito
do Red Bull Ring com a presença da torcida holandesa. Max venceu a sua melhor
corrida na categoria, com um furioso Leclerc em segundo e Bottas em terceiro. O
resultado oficial ainda foi eclipsado, mais uma vez, com a atuação dos
comissários que entenderam que houve um espaço deixado no lance da
ultrapassagem de Max sobre Charles, com o monegasco escapando para fora da
pista. Após um longo período de suspense, onde os dois lados foram ouvidos, o resultado
final foi mantido. Um alivio após tanta polêmica que se arrastou desde o GP
canadense.
Mas a corrida foi importante para colocar estes dois pilotos
em evidencia, já que a rivalidade foi iniciada desde os tempos de kart.
Independente que tenha sido ou não justo manter o resultado em prol de Max, a
corrida expôs uma situação que poderemos ver já na próxima década com estes
dois se digladiando pelas vitórias e títulos – isso sem contar com presenças de
Lando Norris, que fez o seu melhor final de semana na categoria, e até mesmo
George Russell, que mesmo limitado pelo Williams que tem, é um piloto muito
gabaritado.
Num momento que a categoria está perdida em sua identidade,
sem saber para onde seguir, essa disputa em Zeltweg pode mostrar ao menos que em
termos de material humano para um grande espetáculo, as coisas estão bem
encaminhadas. Agora resta a aqueles que cuidam da Fórmula-1 começar a mudar as
regras para que o panorama seja ainda melhor nos anos 2020 que se avizinham.
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