quarta-feira, 30 de abril de 2014

O Paletti da nossa geração





Há cerca de dois anos, quando eu estava a preparar um texto contando um pouco sobre a biografia de Ricardo Paletti para a Revista Speed, morto durante a largada para o GP do Canadá de 1982, deparei-me com algumas similaridades entre o jovem piloto italiano e também outro piloto que procurava realizar o seu sonho de correr na F1: assim como Paletti, Roland Ratzenberger trilhou o seu caminho para chegar à categoria máxima para, infelizmente, encontrar a morte.

Apesar do desejo incontrolável de chegar à F1, sabe-se que a condição financeira de ambos era bem diferente: enquanto que Ricardo tinha o apoio do pai, que era um representante da Pioneer na Itália e isso já ajudaria a levantar um bom dinheiro para alcançar o seu objetivo, Ratzenberger foi daqueles pilotos que trabalhou duro para conseguir sobreviver no automobilismo sem ter grande apoio financeiro. Por outro lado, ao contrário de Paletti, que subiu rapidamente para a F1, Roland vagueou por inúmeras categorias, o que lhe deu toda a experiência necessária para que pudesse chegar à categoria.

Ambos estrearam por equipes pequenas: Paletti pela Osella e Roland pela Simtek. Até mesmo os percalços para tentar classificar-se para os GPs, foram parecidos: Ricardo ainda teve a oportunidade de levar o seu Osella a dois grids de largada – o famoso GP de San Marino e depois onde perderia a vida, no GP do Canadá. O piloto austríaco aproveitou a experiência adquirida no Japão, onde correu de F-3000, JTCC e JSPC, para conseguir uma vaga na última fila do grid para o GP do Pacífico, realizado em Aida. A diferença é que Paletti ainda ficou na F1 por oito corridas, mesmo que tivesse inúmeros contratempos que o deixaram de treinos ou até mesmo de corridas – um bom exemplo disso foi em Detroit, onde ele havia conseguido tempo para largar, mas devido um problema irreversível no carro de seu companheiro, Jean Pierre Jarier, a Osella acabou repassando seu carro para o francês e o jovem italiano teve que se contentar em ver a corrida dos boxes...

Infelizmente os dois encontraram a morte exatamente após poucas corridas depois de suas estréias: Paletti morreu na oitava corrida da temporada de 1982, enquanto que Ratzenberger veio quando tentava se classificar na terceira corrida de 1994. Outra coincidência foram os fatos que marcaram aqueles dois anos: enquanto que em 1982 a F1 vivia sob a intensa luta pelo poder entre FISA e FOCA pelo controle da categoria, 1994 estava numa fase onde os pilotos reclamavam do quanto que aqueles carros estavam inguiáveis e, consequentemente, perigosos logo após o banimento dos recursos eletrônicos. O desaparecimento de Gilles Villeneuve e Ayrton Senna, nestes respectivos anos, acabou por deixar estas duas personagens deslocadas no tempo de forma injusta. E conforme os anos vão se passando, são poucos aqueles que se lembram destes dois pilotos que tinham a paixão e o sonho de estar na F1 como desejo principal.

Outra faceta que liga Paletti à Ratzenberger são as boas referências. Eram dois pilotos tranqüilos e esforçados ao máximo, isso sem contar que, quem conviveu com os dois, tem ótimas lembranças. Apesar da timidez, Ricardo era visto como um cara legal, de fácil convivência. Roland também era assim, e tinha um ótimo humor. A sua camaradagem também era destacável, assim como a preocupação com os demais pilotos. O acidente de Fuji, durante a prova de F-3000 onde o piloto Anthony Reid sofreu um sério acidente que chegou a arracar-lhe o capacete, Roland percebeu o quanto que era ineficiente o trabalho dos comissários e junto de um jornalista japonês, ajudou a escrever uma matéria para uma revista falando sobre isso. Ironicamente ele seria vitima dessa falta de segurança alguns anos depois, bem longe de Fuji...

Depois destes vinte anos daquele final de semana negro em Ímola, as lembranças ainda são revividas com força. Fotos, vídeos, depoimentos... Tudo voltará com força. Os passos serão recontados várias vezes. Do mesmo modo que Paletti, Ratzenberger, infelizmente, será esquecido aos poucos, não apenas por ele ter morrido 24 horas antes de Senna, mas também porque as gerações estão se renovando. Dificilmente alguém se lembrará deles daqui algumas décadas, mas caberá a nós, que vivemos ao menos em alguma das duas épocas, em manter viva a imagem de dois caras que lutaram para realizar o seus sonhos e que acabaram por perdê-las exatamente no lugar onde mais queriam estar. 

Ratzenberger se preparando para a sua única participação na F1, no GP do Pacífico, em Aida

Foto 328: Relembrando Ímola (2)


"Estava assistindo o treino classificatório que, convenhamos, estava chato pra caramba! Ayrton havia cravado a pole na sexta-feira com mais de meio segundo de vantagem para Michael Schumacher. O alemão baixara para três décimos essa diferença durante a classificação do sábado. Talvez tivesse um embate entre os dois... Talvez.
Por volta de 20 minutos de treino, a câmera corta rapidamente para a zona da Curva Villeneuve/ Acqua Mineralli. Uma Simtek parada no meio da písta, bem destruída. Antigamente, ao contrário dos dias de hoje, você conseguia reconhecer o piloto rapidamente pelo capacete. Por mais que os capacetes de Ratzenberger e Brabham fossem parecidos - devido a cor branca -, foi imediato saber que era Roland que havia espatifado o seu carro na entrada da Villeneuve. Com a cabeça totalmente voltada para frente e com o piloto imóvel no carro, era de assustar e principalmente por ver que existia um pouco de sangue saindo na parte superior da viseira. Certamente nada ia bem...
Foi atendido ainda na pista, reanimado e logo em seguida levado ao hospital Maggiore. Toda aquela cena para tentar reanimar o piloto em pista foi mostrado ao vivo - daí que as transmissões passaram a cortar as imagens em casos de graves acidentes.
O treino foi reiniciado um bom tempo depois, mas poucos pilotos se arriscaram a volta à pista.
Foi a primeira vez que passei o dia todo grudado em um rádio em busca de informações, até que a notícia da morte de Ratzenberger foi anunciada.
No dia seguinte o fim de semana negro continuaria. E de novo eu ficaria grudado no rádio. Pela segunda vez..."

Foto 327: Ratzenberger (3)

Outra prova clássica do Endurance teve a participação de Roland Ratzenberger: em 1992 ele dividiu o volante do Porsche 962 #52 do Team 0123 com Hurley Hailwood, Eje Elgh e Scott Brayton - este último viria a morrer durante os treinos para a Indy 500 de 1996, quando já estava com a pole assegurada.
O quarteto terminou na terceira colocação, nesta que foi a única aparição dele em Daytona.

Foto 326: Ratzenberger (2)

Ratzenberger também se aventurou no mundo do Endurance. Aliás, foi onde mais teve participações correndo no Mundial de Sport Protótipos com o Porsche da equipe Brun e depois pela Toyota, especialmente pelo time japonês SARD no JSPC.
Roland participou de cinco edições das 24 Horas de Le Mans - 1989/1993 - sendo que a melhor colocação foi em na sua última participação, quando terminou em quinto com o Toyota 93 C-V da SARD carro que ele dividiu com Mauro Martini e Naoki Nagasaki.
Ele estava inscrito para correr na edição de 1994 pela mesma equipe onde ele dividiria o espaço novamente com Mauro Martini e mais Jeff Krosnof - um velho conhecido dos tempos do Japão e que viria a morrer dois anos depois durante a prova de Toronto na extinta CART. Para o seu lugar foi chamado Eddie Irvine, seu amigo da época da F-Nippon.
Como homenagem, o seu nome ficou gravado como quarto integrante da equipe. O quarteto terminou em segundo na ocasião.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Foto 325: Ratzenberger (1)

Com  o  fim do WTCC em 1987 Roland Ratzenberger rumou para o BTCC, onde pilotou o BMW M3 da equipe Demon Tweeks no Grupo B.
O melhor resultado de Ratzenberger foi uma vitória em Thruxton, em 30 de maio. Ele encerrou o campeonato do Grupo B na quarta colocação com 26 pontos e foi 13º no geral.

Foto 324: Relembrando Ímola (1)


"Estava na quarta série naquele ano de 1994. Estudava das sete da manhã até o meio dia, e da escola para a minha casa era uma caminhada de sete minutos. Costumava dizer que em um pulo já estava dentro de casa.
Como nos demais finais de semana que tinha F1, chegava em casa nas sextas-feiras e ia logo para frente da TV assistir o Globo Esporte - naquela época o programa começa em torno de 12:15. Não me lembro bem se eles abriram o jornal com a notícia do Barrichello, mas acabou sendo a grande notícia do dia: Rubens havia saído forte na penúltima chicane do circuito de Ímola e espatifado sua Jordan contra o alambrado.
Me lembro bem cena, tanto que soltei um "PUTA QUE PARIU"  assim que assisti a cena. Mas tratei aquilo como mais um acidente de percurso, ainda mais quando soube que o piloto brasileiro havia machucado a mão e quebrado o nariz. Confesso que ele saiu no lucro...
24 horas mais tarde, ou um pouco mais que isso, a sorte não estaria ao lado de Roland Ratzenberger..."

sábado, 26 de abril de 2014

WEC: Uma grata surpresa

Passado quase uma semana da abertura do Mundial de Endurance, que se deu no último dia 20 com a realização das 6 Horas de Silverstone, ainda impressiona bastante como a Toyota esteve em grande forma na pista inglesa frente aos dois times que mais foram comentados como possíveis vencedores nesta etapa de abretura: Audi e Porsche.
E porque considerar como grata surpresa um time que está envolvido no campeonato desde 2012? A diferença das duas últimas temporadas em relação a esta, é que a Toyota parece ter conseguido um salto de qualidade e confiabilidade que não havia alcançado nos dois últimos anos. Enquanto que em 2012 eles entraram quase de última hora no mundial, disputando o certame à partir de Le Mans (em Sebring eles ainda não estavam prontos, enquanto que em Spa a estréia foia adiada após os TS030 ter sofrido um acidente nos testes em Paul Ricard) e obtendo uma rápida adaptação, que rendeu aos
nipônicos três vitórias - Interlagos, Fuji e Xangai - trazendo uma expectativa de que em 2013 eles seriam uma grande adversária para a Audi. Infelizmente, devido um a mal acerto do TS030 Hybrid e claro, a rápida reação do alemães com o R18 e-tron Ultra, deixaram-nos para trás nas primeiras corridas. Se bem que o protótipo japonês havia mostrado boa velocidade, mas a falta de confiabilidade também foi um percalço para eles que conseguiram algo de interessante apenas no dilúvio de Fuji e no deserto do Bahrein. Uma reação que veio tardia para eles. 
O programa de desenvolvimento do TS040 foi praticamente ultra-secreto: enquanto que Porsche e Audi mostravam ao mundo as suas jóias, destrinchando que quase toda a mecânica de seus protótipos - principalmente a Porsche -, a Toyota preferiu ficar escondida e trabalhar incessantemente em pistas escondidas, bem longe dos olhares da imprensa. Os japoneses só mostraram a cara na semana dos testes em Paul Ricard, e ainda assim com um desempenho bem discreto se comparado ao furacão que foi a Porsche e Audi na pista de Le Castellet. 
Em Silverstone as coisas mudaram de figura com a ótima pole alcançada pelo Toyota #7 TS040, com uma pífia diferença de cinco milésimos para o Audi #1. O mais impressionante foi o que eles conseguiram no domingo: enquanto que as duas equipes alemãs estavam um pouco perdidas com as mudanças de tempo na pista inglesa, os dois Toyotas esbajavam velocidade e confiabilidade durante as seis horas de corrida - que foi encerrada minutos antes devido a forte chuva. Certamente tem aqueles que acreditam que caso a prova tivesse sido realizada com o tempo seco, as coisas teriam sido totalmente diferente. Ao que parece, mesmo nos períodos de pista seca, a Toyota esteve em grande forma e mesmo com a breve presença do Audi #1 na segunda posição, este não pareceu ser páreo para os carros azuis. Muito menos a Porsche, que perdeu um de seus carros ainda na segunda hora de corrida e o outro ficou em terceiro, sem ser uma grande ameaça aos japoneses. 
Apesar da Porsche ainda apresentar uma falta de ritmo, o que é normal para um carro totalmente novo, ainda sim foi um belo resultado e a esperança é que estejam em boa forma com até Le Mans. Para a Audi, que não ficava de fora de uma prova desde a Petit Le Mans de 2011, essa foi catastrófica: os dois carros ficaram de fora devido a acidentes e as estratégias de box foram erradas, o que colaborou um pouco para que a equipe e pilotos ficassem embananados durante a prova. Certamente eles irão para Spa para tirar essa diferença para a Toyota e apagar a má impressão deixada em Silverstone. 
Semana que vem ocorrerá a segunda etapa na Bélgica com realização das 6 Horas de Spa. É de se esperar um duelo interessante entre as três grandes fábricas, mas pelo que foi visto em Silverstone com o desempenho da Toyota com o seu motor de 1000hp, será um desafio e tanto para os alemães tentarem alcançá-los.      

As marcas de Ímola

A foto é do genial Rainer Schlegelmich (extraído do livro "Driving to Perfection") tirada da reta de Ímola após uma das largadas. ...