quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Os subterfúgios para criar uma emoção artificial

A ultrapassagem para o automobilismo é como o gol para o futebol. Um momento sublime que em um único lance pode ser imortalizado e também decisivo, dependendo da situação em que é efetuado. Como não se maravilhar, por exemplo, com a genial ultrapassagem de Mansell sobre o Berger no México, quando o leão pegou por fora o austríaco na curva Peraltada. Ou então as ultrapassagens de Gilles Villeneuve que em várias ocasiões, sempre surpreendia seus oponentes com manobras fantásticas. E ainda temos a ultrapassagem por fora de Piquet sobre Senna na Hungria, em 1986, quando o piloto da Williams freou além do limite e passou o Lotus de Senna contra-esterçando para não rodar. Por mais que hoje ainda tenha alguns momentos de brilhantismo puro por parte de alguns pilotos para efetuar estas manobras, a F1 entra num processo de criar subterfúgios para que estes momentos não sejam apenas fruto do esforço do piloto que vai atrás tentando bater seu oponente. A volta do KERS e a criação da asa móvel vão mascarar as ultrapassagens neste ano, deixando-as totalmente artificiais.
A asa-móvel já foi experimentada no final dos anos 60 e pelo fato de quebrarem fácil, em determinada velocidade, foram banidas. Agora elas voltam com a intenção de "melhorar o espetáculo" proporcionando um número maior de ultrapassagens. Mas o uso dela é um tanto desleal, pois apenas o piloto de trás é que vai poder usar o dispositivo quando estiver há 1 segundo do seu oponente, ou seja, o da frente vai ter que se virar para segurar o piloto de trás com maior velocidade. No início dos anos 2000, algumas equipes chegaram a utilizar asas flexíveis, algo parecido com o que Ferrari e Mclaren chegaram usar nas últimas temporadas, mas assim como nos anos 60, estas também se quebraram em treinos e corridas obrigando a FIA intervir antes que acontecesse o pior. O KERS é o mais conhecido e já foi usado na temporada de 2009 por algumas equipes. Mclaren, Ferrari e BMW usaram esse recurso e por um instante parecia ter sido um tiro na água. Os resultados foram fracos na primeira parte da temporada, mas após alguns acertos na parte aerodinâmica estas equipes passaram a ter ótimos desempenhos, em especial a Mclaren que teve um melhor aproveitamento ao conquistar duas vitórias e importunar as equipes dominantes da época, BrawnGP e Red Bull. O reaproveitamento da energia gasta nas freadas era armezanada e transformada em potência extra para o motor, que gerava entre 60 a 80cv a mais. Não é a toa que Hamilton deitou e rolou na segunda parte do mundial com uma série de ultrapassagens. Agora esses dispositivos estarão de volta à categoria.
Confesso que a implementação dessas opções de ajuda aos pilotos, não passa de um desespero da FIA em ver a F1 mais competitiva. Digo isso, pois nos últimos anos a maior crítica dos fãs e especialistas da categoria, é esse marasmo que se encontra em algumas provas da categoria. Quem não cochilou ao ver a prova de abertura do ano passado, quando se constatou apenas uma ultrapassagem real na corrida? Não ficamos muito satisfeitos, mas ao decorrer do ano, com a ajuda da chuva e também por algum desgaste de pneus em algumas ocasiões, tivemos ótimas provas. Vide o GP do Canadá que consumiu os pneus dos líderes em apenas 7 voltas, obrigando-os a trocá-los o que embaralhou bastante a corrida. A chuva também foi bem vinda nas provas da Austrália, Malásia e China onde as disputas, pelo fato dos pilotos de ponta terem largado do fundo (Malásia) ou terem caído para o fundo por causa de algum problema (Austrália e China), animaram essas provas a ponto de serem consideradas as melhores do ano. Por falar em chuva, me lembrei de uma idéia que Max Mosley, no seu último ano de mandato na FIA, chegou a ter que era molhar partes da pista para que os pilotos tivessem um grau maior de dificuldade, pois estariam correndo com pneus de pista seca e ao passarem nestes trechos teriam que tirar o pé e isso aumentaria mais a disputa. Outras idéias propostas como a utilização de um chassi único para todas as equipes e motores de produção corrente, também entraram na pauta. Por mais que essa idéia (a de utilização de motor e chassi idêntico) possa ser bem vista por aqueles que querem competitividade, querendo que a categoria tenha uma política parecida com a da Indy e NASCAR, a filosofia da F1 é a do “faça você mesmo” que vem desde os primórdios do automobilismo, quando os ricaços do início do século 20 bancavam a construção de seus bólidos.
Uma alternativa que pode aumentar a emoção das corridas são os novos pneus da Pirelli. A fábrica italiana, que volta a categoria após 20 anos, promete fazer compostos que obriguem os pilotos a fazerem até dois pit-stops. Em 2010, quando a F1 passou a fazer apenas a troca de pneus, o número de pit-stops foram de apenas um na maioria dos GPs. A única exceção, que eu me lembre, ficou por conta do GP do Canadá devido ao alto desgaste dos pneus moles. Uma idéia, ainda relacionada aos pneus, que eu partilho com o jornalista Claudio Carsughi, da Radio Jovem Pan AM e SporTV, é da diminuição da largura dos pneu. A idéia que ele defende é que com pneus mais estreitos estes perderiam muito mais área de contato com o asfalto, diminuindo o poder de frenagem. Olhando bem para esta idéia, realmente poderia resolver os problemas da falta de ultrapassagens. Vale lembrar que os freios foram os componentes que mais cresceram de performance nos últimos 16 anos. Isso explica em parte como os pilotos de hoje deixam para frear mais dentro da curva, quase que esterçando o volante. Em outros tempos, sem toda essa tecnologia, os pilotos do passado tinham que frear com antecipação deixando uma chance para o piloto que vinha atrás arriscar algo.
Asas Móveis e KERS serão as principais armas para que o campeonato deste ano não seja um marasmo, mas a sensação de teatro montado será sentido em todos os GP deste ano. Infelizmente

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