Paulo Alexandre Teixeira, o Speeder76, dispensa maiores apresentações: com o seu Continental Circus há quase dez anos no ar, é uma das referências na blogosfera dedicada ao Motorsport.
E hoje é ele quem nos conta sobre um GP do Brasil muito especial, que aconteceu há 25 anos.
"Nunca coloquei os pés num autódromo brasileiro, apesar da minha admiração por Jacarépaguá e Interlagos, situados em cidades diferentes e que, de uma certa forma, marcaram o automobilismo da minha infância, na década de 80. Especialmente numa altura em que os “testes no Rio” eram uma referência e a corrida era sempre a primeira do calendário.
distanciando-se de
Alain Prost. Parecia que era desta, a vingança de Senna sobre Prost, pois os
eventos de Suzuka tinham sido escassos meses antes, e essa sede era enorme. E
com a situação do país, então, teria sido mais um motivo de orgulho de um povo
que se via humilhado a cada encrenca que acontecia.
E hoje é ele quem nos conta sobre um GP do Brasil muito especial, que aconteceu há 25 anos.
Grande Prêmio do Brasil, 1990
(Foto: Agência Estado) |
"Nunca coloquei os pés num autódromo brasileiro, apesar da minha admiração por Jacarépaguá e Interlagos, situados em cidades diferentes e que, de uma certa forma, marcaram o automobilismo da minha infância, na década de 80. Especialmente numa altura em que os “testes no Rio” eram uma referência e a corrida era sempre a primeira do calendário.
Para recordar alguma corrida em
especifico pra o espaço do Paulo, vou recuar um quarto de século no tempo. Digo
isto por alguns motivos, um deles um pouco mais pessoal: quando esta semana
folheava um livro antigo na minha biblioteca, descobri um recorte de jornal de
1989 onde se mostrava um desenho de Interlagos antes do definitivo, onde se
mostravam, entre outras coisas, uma chicane do tipo “Bus Stop” de Spa-Francochamps
pouco depois da Curva 3. Tudo isto antes de Ayrton Senna ter entrado em cena e
feito o famoso “S” com o seu nome.
Nunca tinha visto Interlagos, e
no alto dos meus 14 anos, tinha altas expectativas sobre ele. Os mais velhos
falavam bem dela, de como era desafiadora para os carros e para os pilotos, e
no verão brasileiro, era penalizador para os motores e restantes componentes do
carro. E em 1990, sem Alain Prost no caminho, toda a gente dizia que iria ser
um “passeio” para ele, o nativo de São Paulo, que tinha começado a andar no
kartódromo ao lado da pista, em tenra idade.
Para piorar as coisas, seguia bem
de perto a atualidade brasileira: Collor estava no poder e tinha congelado
tudo, desde o salário até as pensões, numa tentativa (vã) para controlar a
inflação. Havia expectativas altas, pois ele tinha sido eleito recentemente, e
parecia que tentava controlar o “dragão” (como vocês chamam à inflação) mas com
os piores métodos possíveis. E para melhorar as coisas, o ódio do brasileiro a
Jean-Marie Balestre, o presidente da então FISA era ao ponto de gozar na cara
deles, afirmando que eles não tinham dinheiro “nem para atirar tomates contra a
sua cara”. Balestre, o arrogante francês, sendo… Balestre.
E tudo estava encaminhado para
aí: Senna tinha feito a pole-position e liderava a prova,
Mas surgiu um japonês pelo
caminho… e as coisas complicaram-se. Não tanto por culpa de Satoru Nakajima,
mas sim por causa da já lendária falta de paciência para os retardatários. Foi
o que tinha acontecido ano e meio antes em Monza, quando Jean-Louis Schlesser
estava no caminho de Senna, e este estragou as coisas impedindo uma vitória da
McLaren a cem por cento e proporcionou uma lendária dobradinha à Ferrari,
apenas um mês após a morte do Commendatore. Bico danificado e trocado e no
final, Alain Prost comemorava a sua sexta (e última) vitória no Brasil, ainda
por cima na casa do seu “nemesis”. E perante um público que sentiu tudo isso
como nova humilhação.
Mas no ano seguinte, as coisas
foram totalmente diferentes. E em circunstâncias que tiveram o seu quê de
épico."
Muito bom o texto do Paulo.
ResponderExcluirGostaria de ver mais impressões de estrangeiros sobre nossa corrida.